101 dias de Weapons of the Gods - Iron Monkey Rulez!

fDisclaimer: Este artigo contém spoilers em relação a filmes. Se ainda não os viram, e não quiserem saber mais, "move along." Para além disso, esta entrada reflecte a minha pessoalíssima opinião sobre a qualidade dos filmes em questão, por isso nada de comparações. Gostos não se discutem.

O Zé deu-se ao trabalho de me arranjar cinco filmes wuxia: Iron Monkey, A Chinese Ghost Story, e Once Upon a Time in China I, II, e III. Deixei para o fim os três últimos porque na lista de filmes recomendados para WoG, não vinham incluídos. Mais para a frente explicarei porquê. Comecei pelo Iron Monkey.

Realizado no já distante ano de 1993 por Yuen Woo Ping, quem os aficionados do género reconhecem como sendo o coreógrafo das cenas de luta de Drunken Master, Crouching Tiger & Hidden Dragon, a trilogia Matrix, Kill Bill 1 e 2, etc. A história é simples: no séc. XIX, na China, uma província é governada por oficiais corruptos. O povo vive na miséria e apenas um herói mascarado conhecido como Iron Monkey luta contra as injustiças, roubando aos ricos para dar aos pobres. Uma espécie de Robin Hood lá da China.

Nota: A versão que eu vi era, em termos de traduções, mesmo mázinha. 20% das vezes as legendas passavam demasiado rápido e muitas coisas eram obviamente mal traduzidas até porque as frases eram demasiado incongruentes algumas das vezes. Isto num género já de si um bocado "out there."

A primeira coisa que me puxou logo foi a veia humorística do filme. Não era uma comédia no verdadeiro sentido da palavra, mas bastante light-hearted. O filme abre com uma sequência espectacular em que o Iron Monkey faz um assalto à mansão do governador, fechado no seu quarto, com as nove (9!!!) concubinas, e guardado por guardas e 4 monges de Shaolin. Em termos de WoG, os guardas seriam os minions e os monges uns oponentes de baixo rank.

Esta sequência dá logo o tom do filme. Um combate típicamente wuxia com saltos acrobáticos, golpes impossíveis e troca de galhardetes. Num dos golpes, o Iron Monkey salta por cima da cabeça de um dos monges e suspenso no ar, começa a pontapear a cara e nunca do monge, num movimento de tesoura, e continuando suspenso, roda e pontapeia as orelhas de cada lado. Noutro exemplo, os monges conseguem atirar uma rede para cima do Iron Monkey, este consegue cortar as cordas e usando lightfoot sobre para o telhado alguns 15 metros acima. Logo aqui, vi que o filme tinha pernas para andar. A sequência foi emocionante e divertida e já não dei o "dinheiro" por mal empregue.

A partir daqui, o filme descreve as peripécias do Iron Monkey, que é na verdade o médico da cidade. As coisas complicam-se quando chega à cidade Wong Fei Hung (com 10 anos de idade) e o pai. Sendo este filme realizado depois de Once Upon a Time in China (OUTC) é uma prequela deste porque, para quem sabe, Wong Fei Hunt é o herói de OUTC já com 20 e tal anos. Mas adiante.

Pai e filho chegam no momento em que o governador manda prender toda a gente que tenha alguma relação com o Iron Monkey, e neste caso qualquer coisa serve de desculpa, desde ter Monkey ou Iron no nome, defender o Iron Monkey, ou apenas ter um ar suspeito. Aqui a definição de suspeito é muito lassa. Pai e filho são presos com outras pessoas. O governador acaba por prender Wong Fei Hung, ordenando ao pai que encontre Iron Monkey se quer ver o filho de novo. É que o pai (Wong Key-Ying) é também um monge de shaolin e como tal sabe kung fu, daqueles de subir paredes e tal.

Devo desde já dizer que nunca tinha visto tanto tipo de kung fu num só filme. Apesar de 90 minutos de duração, o filme tem wire-fu, paper-fu, culinary-fu, umbrella-fu, pole-fu, tile-fu e tudo e mais algum fu. Para os entendidos, o substantivo à frente do fu indica que tipo de objecto é usado durante esse combate de fu. Por exemplo, numa sequência, Wong Fei Hung acaba por ser libertado e deambula pela cidade sem o pai (que está entretido a procurar o Iron Monkey). Dá de caras com uns rufias e no combate que se segue defende-se e ataca com o seu guarda-chuva, hence, umbrella-fu.

As coisas complicam-se quando chega à cidade o novo governador que vem substituir o outro mais as suas nove concubinas, não cheguei a perceber bem se as concubinas passam de governador em governador ou se ficam só com um. Numa das entradas mais divertidas e espectaculares de qualquer vilão wuxia. Senão vejam, o governador chega na sua liteira à mansão, mas em vez de sair normalmente e sentar-se na cadeira oficial, o que é que ele faz? Salta da liteira com o seu lightfoot, voa pelo ar rodando sobre si próprio e soltando uma gargalhada adequadamente maléfica. Enquanto o faz, solta o casaco e chapéu que cai em cima dos guardas vestindo-os, e depois aterra na cadeira já com a perna em cima do braço da cadeira numa pose altiva.

Ah, é verdade, este governador é suposto ser the ultimate bad shaolin monk que sabe a técnica Shaolin King Kong Palm.

Com as coisas complicadas para Iron Monkey que se vê perseguido em todas as frentes, as coisas lá começam a assentar quando Wong Key-Ying forma uma aliança com ele para lutar contra o badass governador de shaolin. Entretanto, noutra sequência brutal, Wong Key-Ying sofre pela primeira vez o King Kong Palm que aparentemente consiste em canalizar o chi e bater com as palmas no oponentes e transmitir veneno.

O filme ainda tem tempo para nos demonstrar como funcionam as Artes Secretas da medicina e maldições. A primeira porque Iron Monkey é médico e vemos numa das cenas a filosofia chinesa do elementos a ser aplicada à medicina tal como em WoG, a segunda quando o vilão Shaolin Monk decide lançar uma maldição sobre Wong Key-Ying, escrevinhando num papel a cara deste enquanto entoa um cântico, aplicando veneno à distância.

Na sequência final, depois de muito mayhem, Iron Monkey já aliado com Wong Key-Ying enfrenta o temível shaolin monk. Mas o combate é tudo menos normal porque acabam a lutar em cima de umas vigas de madeira na vertical enquanto o chão por debaixo está a arder. Devo dizer que foi um dos combates climáticos em QUALQUER filme de acção que tenha visto que foi dos mais satisfatórios. Bravo para Woo Ping e as suas coreografias.

Depois deste filme, fiquei a compreender basicamente o que é que se pretende de WoG e o que é o género wuxia em si. Melhor ainda, em muitos aspectos, este filme é superior ao Crouching Tiger (CT). Sendo este última também wuxia, vem com uma certa bagagem romântica e filosófica, Iron Monkey é pura acção, adrenalina e coreografia. A história é simples? É. Mas os combates baléticos, a imaginação com que se desenrolam, o gosto com que os actores interpretam as personagens, transmite uma certa energia que falta no CT. Para além de que, em termos de WoG, CT é low-power e Iron Monkey é over-the-top, high-power wuxia que é precisamente isso que WoG pretende transmitir.

Fiquei bastante satisfeito e mal posso esperar para ver os seguintes, neste caso A Chinese Ghost Story e Bride with the White Hair. Não vou falar aqui de OUTC 1, 2 e 3 porque apesar de serem de kung fu, e terem algumas cenas quase wuxia, o tom do filme é completamente diferente e não chega aos extremos de coreografia de Iron Monkey que aconselho vivamente.