a crise do subterfúgio

O "segredo" ser a "alma do negócio" é uma tradição milenar que - mesmo nestes tempos de grande troca de informação - perdura naturalmente. Mesmo que o suposto segredo se saiba, nem sempre se sabe a tempo, nem chega ao conhecimento de todos e, por isso, os negócios actuais continuam a encontrar valor numa cultura de subterfúgio e manipulação. Não só as empresas como também os seus clientes e fornecedores podem estar dispostos a "manter segredo" se, com isso, beneficiarem individualmente.

No entanto, o futuro não será assim. Apesar de tudo, algumas pessoas interessam-se e querem ter conhecimento antes de decidir. Como clientes, podemos apenas procurar o melhor jogo pelo preço mais baixo, mas também podemos querer saber como é que o jogo foi feito e porque motivo tem esse preço. Podemos simplesmente cumprir a nossa função de consumidores na economia de mercado ou também podemos querer saber porque é que alguns jogos são mais caros que outros ou porque motivo muitas lojas vão fechando e poucas vão abrindo. Podemos também questionar-mo-nos se, para nós, apenas o jogo como produto físico tem valor transacionável ou se o material em si é apenas uma parte de toda a experiência que é jogar - que involve o contacto com outras pessoas, a utilização de um espaço e a divulgação de um hobbie do qual tanto gostamos.

Por tudo isto, a fronteira entre quem produz e quem compra está cada vez mais esbatida. Sites como o boardgamegeek.com não só colocam milhares de jogos debaixo do escrutínio de milhares de jogadores como também permitem a esses jogadores ver o outro lado da cerca, discutirem como é que se faz um jogo e experimentarem criá-lo tal como um profissional. Sites como o indiepressrevolution.com permitem ao jogador-tornado-autor-independente de RPGs vender os seus jogos em PDFs, MP3s e mesmo em livro a cores, preto-e-branco, hardcover ou paperback. Sites como o abreojogo.com suportam a existência de uma comunidade nacional onde empresas e clientes se cruzam por entre novas publicações em português, encomendas de material, organização de eventos e concursos abertos a todos.

Tudo isto são sinais de que o subterfúgio está em crise. Os monopólios de informação e conhecimento estão a acabar. A livre difusão do mérito de cada um e as redes de comunicação aberta e abrangente estão a mudar para sempre as formas de fazer negócio e de entretenimento.

As novidades são muitas para as empresas mas também para nós clientes. Se as barreiras entre produtor e comprador são cada vez mais flexíveis, fazer dinheiro com alguma coisa é algo cada vez menos fechado no "segredo" da "alma do negócio" - é algo cada vez mais acessível e ocasional. Se o negócio for uma questão de mérito e não de subterfúgio, "fazer dinheiro" é uma expressão que justamente perde qualquer conotação negativa.

Neste contexto, somos tão responsáveis pelo que se passa no nosso hobbie como qualquer outra pessoa que invista nele. Se, por exemplo, nos falta gente ou espaços para jogar, podemos não aguardar passivamente que as empresas façam alguma coisa: ou assumimos nós esse trabalho ou consideramos a hipótese de pagar mais ás empresas para que nos ofereçam mais do que só o material de jogo. Se assumirmos nós esse trabalho, há um limite para a nossa disponibilidade que só é ultrapassável transpondo a tal barreira produtor/comprador. Se "fizermos dinheiro" com esse trabalho, a disponibilidade tornar-se-á ilimitada e tudo será possível.

Podias ter usado um pouco menos de “subterfúgio” nesta entrada no teu blogue e rematado de maneira mais “clara”! :slight_smile:

No que é que nos tornamos se transpôrmos “a tal barreira produtor/comprador”? E quem somos nós em questão?

sopadorpg.wordpress.com - Um roleplayer entre Santarém e Almeirim
ideonauta.blogspot.com - Viajando pelos mundos do RPG!

[quote=jrmariano]Podias ter usado um pouco menos de "subterfúgio" nesta entrada no teu blogue e rematado de maneira mais "clara"! :) No que é que nos tornamos se transpôrmos "a tal barreira produtor/comprador"? E quem somos nós em questão?[/quote]Está confuso? Digo que nós compradores nos tornamos produtores, não é? Acho que também não compreendo a tua ressalva.

A minha ressalva foi um misto de meter-me contigo e tentar compreender melhor a ideia geral por detrás da entrada no blogue.

Portanto achas que alguns de nós já nos tornámos um misto de providenciadores de serviços (o que em si é um produto?) mesmo que sejamos apenas consumidores entusiastas é isso?

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[quote=jrmariano]Portanto achas que alguns de nós já nos tornámos um misto de providenciadores de serviços (o que em si é um produto?) mesmo que sejamos apenas consumidores entusiastas é isso?[/quote]Já, já, acho que não, mas podemos vir a tornar-nos esse misto.
Agora, falo em termos bastante abstractos dado que muitas coisas diferentes podem sair daqui. Por exemplo, para além de criarmos os nossos próprios jogos, há sempre a hipótese de simplesmente fazer traduções, arriscar abrir-se uma loja ou escrever para os jornais. Também isto é só a parte final deste artigo, o assunto do tópico está mais a montante.