A Idade do Ferro dos super-heróis foram os anos de 1985 a 1995, sensivelmente, quando as histórias dos comics, e mesmo os heróis, ficaram mais tenebrosos. Histórias como The Dark Knight Returns de Frank Miller, mostrando um Batman velho e extremamente pragmático nos seus métodos evoluindo num mundo completamente apocalíptico e desesperante, E Watchmen de Alan Moore, uma reflexão sobre a presença de supers e vigilantes mascarados na sociedade actual, cujas personagens estavam cheias de fraquezas humanas e em que é difícil destrinçar entre os heróis e os vilões, foram marcantes para os dez anos seguintes na história dos comics. Os ícones da época foram o Punisher, o vigilante armado até aos dentes que abate sem piedade nem remorsos todos os criminosos que encontra, Wolverine, o mutante amoral das garras de Adamantium que rasga os inimigos sem qualquer pejo, e Lobo, o caçador de prémios cósmico que exterminou a vida no próprio planeta, gosta de cerveja e mulheres e porta-se como um porco violento. Neste universo, as figuras de autoridade ou são irremediavelmente corruptas ou estão desesperadas no meio da corrupção. As grandes empresas conspiram para aumentar os seus lucros sem olhar a meios. As ruas são porcas e teatro de violências sem nome. O desespero é de cortar à faca. Os heróis, por sua vez, usam todos os meios que podem para fazer valer a sua versão da justiça.
É neste ambiente que a Green Ronin publicou o seu suplemento Iron Age, e que eu, o Rui e o Barendd começámos há cerca de duas semanas. Eu estou a mestrar, e resolvi utilizar o setting premiado da Green Ronin, Freedom City, que vem extraordinariamente bem descrito no respectivo manual, e cujas dicas no manual de Iron Age ajudam bastante.
Segue-se um resumo da cronologia de alguns eventos importantes que levaram à Idade do Ferro de Freedom City, para situar o leitor. Todos os heróis mencionados são figuras desse setting:
1978 – A dupla de Bowman e Arrow sofre uma derrota pública humilhante por Bowman ter entrado em acção completamente embriagado. Despede-se da Freedom League e pouco depois reforma-se em desgraça. Arrow continua em acção a solo, recusando adoptar o fato e o nome de Bowman e de se associar ao seu antigo mentor.
1979 – Dois membros da Freedom League sacrificam a vida ao salvar esta do domínio mental dos Scions de Sobek. A Freedom League tem uma série de reorganizações e alterações após a tragédia, nunca voltando a ser a mesma.
1980 – Arrow adopta o nome de Archer e começa uma guerra solitária contra os barões da droga e o crime organizado de Freedom City, não tendo qualquer problema em matar os seus adversários para aterrorizar os criminosos.
Seguindo-se à desgraça de Bowman e dos métodos violentos do ex-pupilo, é fundada a organização Citizens for Order, Decency and Ethics (CODE) em Freedom City. A organização exige uma regulamentação mais apertada em relação aos vigilantes mascarados, referindo-se aos perigos de impressionar as crianças e exigindo mais lei e ordem na cidade.
1981 – Os dois membros mais jovens da Freedom League morrem ao tentar impedir um massacre em massa pela seita dos Katanarquistas. No funeral, Centurion (equivalente a Superman em Freedom City) dissolve a League para que não se percam mais vidas inutilmente.
1983 – Terrível motim na penitenciária de Blackstone onde estão encarcerados muitos super-vilões. A administração da cidade resolve mal o assunto, morrendo o governador da prisão e quarenta dos guardas reféns, assim como uma dezena de presos. A culpa do desastre recai sobre a administração e os super-heróis ausentes, embora tenham surgido provas que foram criadas distracções para manter ocupados heróis como Centurion e outros ainda activos na cidade. CODE vocifera sobre os desastres que ocorreram recentemente, e com isso o número dos seus membros aumenta radicalmente.
1984 – Nesta altura Freedom City deixa de ter equipas de heróis, tendo apenas heróis que actuam a solo. Centurion continua a ser o herói mais conhecido, poderoso e activo na cidade, mas não por muito tempo pois…
Franklyn Moore é eleito mayor de Freedon City numa plataforma de “tolerância zero” para o crime e o vigilantismo. A campanha de Moore baseia-se nos fracassos como o motim de Blackstone e a incapacidade dos heróis mascarados defenderem a cidade por causa dos incidentes como os fracassos públicos de Bowman e a dissolução da Freedom League. A camapnha inclui o apoio de CODE e de grupos semelhantes.
O primeiro acto oficial do novo mayor é tornar os heróis mascarados ilegais. Com a assinatura do Moore Act mesmo campeões como Centurion são forçados a não agir na cidade para não quebrarem a lei.
1985 – Desafiando o Moore Act, Archer forma a FORCE Ops, um grupo de jovens heróis por vezes brutal, para lutar contra a máquina política corrupta do mayor Moore, para além das ameaças e inimigos mais comuns. A administração e a polícia depressa declaram os heróis fora-da-lei.
1986 – Agora.
Os nossos heróis heróis são Gears e Darkness.
Gears é Jack Stone, que foi marine nos últimos momentos da guerra do Vietname e depois na ilha de Granada. Voltando à vida civil, tenta adaptar-se trabalhando na oficina do pai. Um dia destes, acorda no hospital, e repara que foi transformado num ciborgue, numa máquina de combate mortal. A polícia, seguindo uma pista que levaria a um armazém de heroína, encontra também Gears amarrado a uma mesa de operações. No hospital, agentes federais começam a fazer-lhe perguntas muito indiscretas, e Gears foge para as ruas, vivendo nos bairros mais degradados para não chamar a atenção, enquanto aprende a lidar com a nova situação e os seus poderes.
Darkness é Brent Darkovsky. No final do liceu, engravida a namorada Maria Dante. Esta era filha de Marius Dante, membro proeminente do Circus Maximus, a máfia de Freedom City. Forçado a casar “de caçadeira”, Brent cai nas boas graças do sogro, que puxa dos seus cordelinhos para o colocar na polícia. Brent nunca soube se a sua rápida progressão na força se deveu aos seus méritos próprios se à protecção do sogro. Ele liderou a força que libertou Gears, e isso deu-lhe o mérito para ser considerado para transferência para a unidade de elite Price of Freedom (POF), criada para lidar com super ameaças em Freedom City. Corrupto como a polícia da cidade cada vez mais é, Darkness foi uma vez pago para “olhar para o lado” num caso de droga. Olhou para o lado errado, pois ao ouvir recitações e cantos estranhos num armazém, perdeu os sentidos e acordou no hospital. Soube que foi encontrado em cima de um pentagrama, nu, com o corpo todo cheio de símbolos ocultos. Devido a isso, a promoção nunca se concretizou. Devido à família, tem sempre os Assuntos Internos atrás, por dá cá aquela palha. E reparou que tem vários poderes de controlo da escuridão, incluindo aumentá-la, criar tentáculos de trevas e teletransportar-se de um local escuro para outro. Poderes úteis, mas que lhe podem destruir a carreira num instante. A única pessoa que conhece que passou por uma experiência semelhante foi Gears, e Darkness está disposto a encontrá-lo para trocarem experiências.
Esta foi a situação antes da primeira sessão. Convido os jogadores a dizerem da sua lavra e, se desejarem, serem eles a contar as sessões na perspectiva das respectivas personagens. Se não, proximamente começarei o actual play propriamente dito.
Verbus