Tendo já lido alguns dos diários de campanha que algumas pessoas têm meritoriamente feito e partilhado aqui no fórum, ocorreu-me tentar fazer o mesmo com a nossa campanha.
Deixem-me, no entanto, fazer um pequeno enquadramento com a campanha (até porque não vou começar a relatá-la desde o início, pois já lá vão 9 sessões...).
Esta campanha desenrola-se em Faerun, e o "título honorário" que lhe foi atribuído tem na sua génese a morte de um dos PC, de seu nome Maevis, que marcou bastante o grupo, sendo recorrentemente referido como "O Grupo de Maevis".
O que ficou para trás da campanha, talvez possa ser introduzido como referências ou "flashbacks" no seguimento dos relatos (caso estes suscitem interesse, tenham feedback, e se justifique a sua continuação).
Dito isto...
«A SAGA DE MAEVIS»
Sionna esfregou os olhos, cansada e pensativa.Tinham saído de Scornubel há duas horas, a caminho da cabana do seu mestre, na orla da floresta. A druida não fazia ideia de como seria o reencontro com o seu tutor... Sentia-se hesitante.Recordava o confronto no acampamento dos goblins, e o xamã voador que berrava a Maglubiyet. Ainda tinha bem presente o esgar dos worgs... A malícia.
O seu mestre tinha-os enviado ao Pântano de Chelimber, em busca do grupo de goblins que roubara uma qualquer jóia. A reunião do grupo tinha sido algo controversa e apressada, e Sionna não tinha reunido todas as informações necessárias à demanda.
Com o adorador de Maglubiyet morto, a atenção da druida virara-se para a pequena gruta junto ao acampamento. Sionna sentiu a sua pele obsidiana a arrepiar-se. A escuridão da gruta, seguida do penetrante brilho que emanava dos olhos da criatura. Só nesse exacto momento é que a drow percebera. "A Jóia" era na realidade uma cria de dragão verde, agrilhoada pelos goblins. E como isso fazia sentido para a personalidade de Cyandarako, o seu mestre.
Sionna abriu os olhos, cessando as memórias. Lithlandis e Cliff treinavam com as espadas, enquanto Amophis orava ao seu deus. Quão curioso era ver um humano seguir Moradin, patrono dos anões. Quanto aos restantes membros do grupo, encontravam-se dispersos. A drow acariciou a escama esmeralda da cria de dragão, guardando-a no seu manto. Como sentia ter falhado na agregação de um grupo de guerreiros...
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Lithlandis "Corvo da Aurora" seguia na dianteira do grupo. Tornara-se já um hábito, perscrutar cada parcela de terreno que calcorreavam. Os olhos do elfo focaram-se na cabana de Cyandarako, o mestre druida. Rangeu os dentes. A vontade que tinha de torcer o pescoço àquele ignóbil...
"Uma jóia"! Um sorriso escarnecido surgiu nos lábios do selvagem. Uma jóia seria o seu machado cravado na testa de Cyandarako!
A cabana. Algo não estava certo. Lithlandis ergueu a mão, sinalizando aos seus parceiros para se imobilizarem. Cliff Lodram afagou a crina do seu cavalo.Lithlandis vislumbrou a porta da cabana escancarada. E o terreno... estava demasiado revolvido. Apressando o passo abeiraram-se da pequena cabana de madeira. Eram visíveis os sinais de ataque. O interior da casa estava imerso em caos. Sobre a cama, jazia um corpo.Sarvael! A tutora de Lithlandis. O corpo da elfa estava severamente espancado. Coberto de hematomas, salpicado de sangue e provavelmente ostentando vários ossos partidos.
- Sionna! Rápido! Ela está à beira da morte! - o apelo do paladino, Cliff Lodram, não se fez esperar. Enquanto a druida se ajoelhava junto à cama, rogando a Mielikki a sua bênção, o bárbaro saltava pela janela, de armas em punho, e rosto transfigurado. Lithlandis perscrutou a floresta, tacteou o chão em redor da cabana, comungou com a natureza circundante.
Pêlo de animais. Lobos. Mas não só... Humanos, e outros semelhantes. O sangue pulsava nas veias do elfo, inchando-lhe o pescoço. O tressym de Sionna - o pequeno gato alado - descrevia círculos sobre o telhado da cabana. A respiração de Lithlandis "Corvo da Aurora" acelerava-se com o ritmo cardíaco. A sua visão tingia-se de vermelho. As suas lâminas clamavam por sangue. Sangue animal, e sangue humano!
No interior da cabana, Sarvael parecia não recuperar.
- Os ferimentos dela são muito profundos. Está para além dos meus poderes. Ela precisa ser levada para um templo. - Pela primeira vez nas últimas semanas, Sionna Laae parecia sentir-se genuinamente vencida.
- Mestre Ebberk! - gritou Cliif, lembrando o sacerdote do templo de Moradin, em construção em Scornubel. - Ajudem-me a colocá-la no meu cavalo, eu levo-a até aos clérigos.
Enquanto Jack - o aventureiro - ajudava Amophis e Cliff a colocar a elfa cautelosamente no dorso do cavalo, os dois restantes drows - Dalael e Rizzen - trocavam um olhar inquiridor, ao observarem Lithlandis a parar de tactear o chão e a fixar o olhar na floresta.
O trote do cavalo deixou o grupo para trás, enquanto Lithlandis, de cócoras, contemplava, imóvel, um pequeno texugo a farejar o ar entre os arbustos na orla da floresta.Amophis aproximou-se do patrulheiro. De cenho carregado tentou seguir o olhar do elfo.
- Que se passa?
A resposta de Lithlandis foi um mero sussurro.
- Seguimos para a floresta!
(continua...)