Independentemente da resposta óbvia (dinheiro), que está logo excluída no topico inicial, penso que o que falta é, sobretudo, organização.
É evidente que o "dinheiro" pemitiria ultrapassar a falta de organização.
Mas, talvez, a organização pudesse ultrapassar também a falta de "dinheiro".
De que é que estou a falar? Bem, antes de tudo, para que seja possível publicar um jogo, no sentido de produzir um numero considerável de unidades de forma não artesanal, é necessário algo que se possa chamar um "mercado".
Depois, para além disso, é necessário algo que se possa minimamente chamar um canal de distribuição, que faça chegar o produto (jogo), até ao mercado.
Sem isto, nada feito (parece-me). E para ter isto, pelo menos num contexto como o do nosso país, é preciso... organização.
Organização para:
a) Agregar os jogadores que existem e fomentar o aparecimento de novos jogadores; e
b) Motivar, divulgar e apoiar eventuais canais de distribuição.
Quando ao primeiro dos aspectos referidos, penso que temos um bom exemplo de como a coisa deve funcionar, onde um grupo formado à volta de 2 ou 3 pessoas, ao longo de um ano se multiplicou várias vezes, graças à persistência, simpatia e dedicação dos seus membros.
Quanto ao segundo ponto, no meu limitado conhecimento, não vejo nada que se possa apontar como exemplo, à excepção talvez das recentes demonstrações de Wings of War nas FNAC's.
Lojas como essas e, por exemplo, o "El Corte Ingles", tem já há algum tempo boardgames nas suas prateleiras. Para além disso, como toda a gente sabe, têm canais de distribuição próprios nas maiores cidades de do país (sobretudo a FNAC).
Ora, penso que um bom caminho seria o dos grupos de jogadores existentes se apresentarem de maneira minimamente organizada junto dessas (e outras que se mostrem apropriadas) oferecendo conselho (quanto, por exemplo, aos melhores jogos para terem disponíveis) e apoio pessoal (a nível de demonstrações), esperando em troca divulgação das suas organizações (encontros semanais, mensais e outros) e, com um bocadinho de sorte até alguma espécie de patrocinio.
Só (pelo menos) quando isto estiver minimamente implementado é que, com ou sem dinheiro, faz sentindo editar jogos portugueses, porque só aí é que há um "mercado" (ainda que minúsculo) para eles e um meio de os fazer chegar a esse mercado.
Quanto ao dinheiro em si, se bem que é sempre uma solução, não me parece essencial. O meu raciocínio é este: mesmo que de algum modo sedimentado, nunca o mercado português será um mercado significativo. Daí que, por um lado, nunca será capaz de gerar muito dinheiro e que, por outro, nunca se precisará de muito para se lá chegar.
Pensando de uma forma abstracta, podemos partir do principio que o preço medio de um boardgame será de, por exemplo, 40 euros. Desses 40, o seu custo de produção não deverá ser superior a mais ou menos 5. Outros 5 serão para o seu autor, 10 para o editora e os restantes 20 para os distribuidores e retalhistas. Um desses jogos, produzido em pequena quantidade(100 exemplares) poderá custar, por exemplo, 10 euros (o dobro do que produzido em grandes quantidades). A partir daqui seria uma questão de compromissos. Compromisso do autor em, pelo menos numa fase inicial, se contentar com a satisfação moral de ver o seu jogo publicado. Compromisso dos distribuidores que se arranjassem em reduzir a sua margem de lucro. E compromisso dos jogadores em apoiarem as iniciativas, comprando o jogo.
Deste modo, creio ser possivel produzir um jogo a preço de custo de cerca de 10 euros por exemplar, que fosse posto à venda por um preço de cerca de 20 euros, com a qualidade lúdica (que não de produção, em principio) dos jogos estrangeiros de 40 euros. E para produzir 100 exemplares a 10 euros cada um, não seriam precisos mais de 1000e. E 100 jogos vendidos no mercado nacional seria já um grande feito, parece-me!
É evidente que isto não gerava lucros para ninguém, mas, pelo menos serviria para lançar jogos portugueses e, caso obtivessem algum sucesso entre portas, para pensar em lança-lo internacionalmente onde, aí sim, já poderia haver algum potencial comercial.
É claro que pode haver outros caminhos, como sejam tentar juntar os mercados português e brasileiro (que se calhar acaba por ser juntar o mercado português ao brasileiro), mas o que apontei acima parece-me o mais viável e racional.
Em todo o caso, aqui ficam os meus €0,02.