Oh Rui, mas afinal, estamos a falar de quê? Das nossas gavetas? Tu tens uns jogos nas tuas, é verdade. E alguns em gavetas abertas ao público. Olha, também eu. Mas não é disso que estamos a falar. Estamos a falar da promoção do hóbi. Os jogos que eu tenho nas minhas gavetas, os que tu tens nas tuas e os que os demais amadores como nós têm nas deles são muito interessantes mas nada contribuem para a promoção do hóbi. Esta é a realidade, ponto final.
Os meus jogos e os teus são portugueses? Em quê? No facto de nós sermos portugueses? E daí? O meu Gentlemen Explorers é um jogo inacabado em inglês sobre as histórias de um autor francês (em tradução para inglês) e disponível num site americano. É tão português como o trabalho de investigação sobre o cérebro do Damásio.
O Vampire em tradução portuguesa é um jogo português (ou mais exactamente, brasileiro), é tão simples como isto. Baseado num jogo americano em inglês, é verdade. Mas jogado por falantes de português em contextos que lhes dizem alguma coisa. Como aquele grupo que existiu em Sintra que jogava Vampire num contexto sintrense. No máximo podes dizer que é luso-americano. Ou então, se quiseres, o Vampire em português é a expressão portuguesa de um produto transversal ao universo cultural a que chamamos Ocidente. Assim como o meu Gentlemen Explorers ou o teu Dara são outros dois produtos transversais a esse universo, mas neste caso expressos em inglês.
Além de que quando eu digo que é importante um jogo português em Portugal não estou a falar de uma divisão de fronteiras à antiga. A questão não é de fundamentalismo nacionalista, é de pragmatismo social. A sociedade portuguesa só consumirá jogos de personagem de forma mais extensa do que o faz quando tiver os jogos na língua em que comunica no dia-a-dia. Apenas isto.
Sérgio Mascarenhas