As minhas desculpas, para quem as merece (Associação de RPG)

Bom dia/ tarde/ noite,

antes de mais, para aqueles que não me conhecem ou para os que já não se lembram, sou aquele maluco que em tempos teve uma ideia para criação de uma associação nacional de RP. (*sigh*) Esta ideia foi colocada lado a lado com uma associação existente na altura (a famosa "Épica"), que pelo que vi (sem querer voltar a batalhar esse tópico, mais a mais porque o trabalho de *alguns* membros mostrou o quanto valem para a comunidade de jogadores) pouco ou nada fez (nada util pelo menos), e voltando a bater na mesma tecla, a própria associação (Épica) pouco ou nada tinha a ver com RP, era sim mais uma associação de jogos não vocacionada para jogadores de RP que, caso não se tenham aprecebido disso, tendem a ser grupos não inseridos na comunidade, mas vivendo à parte desta (eu disse tendem, antes que volte a chover fruta). Os Grandiosos Fundadores na realidade também pouco ou nada fizeram para levar as ideias da Épica a bom porto.

No entanto este tópico não é sobre o que os outros não fizeram, é sobre o que eu não fiz, e porque não fiz e isso foi a criação de uma associação que tivesse em vista pontos que, se lerem os forums cada vez são mais evidentes: "looking for group", "posso ser dm ou player", etc..

Para quem não sabe cabe-me a mim explicar duas coisas, os objectivos do (ex)projecto e a razão/razões pelas quais não foi adiante:

1.-Objectivos do projecto

O objectivo primário do projecto era criar uma base de dados nacional de players e STs/DMs/GMs e por ai a diante, por forma a ser fácil organizar grupos de jogo com pessoas que não tivessem com quem jogar num momento e de forma a alguém que vem para um meio que normalmente os grupos são bastante fechados (no sentido de em grupos já formados não costuma entrar gente nova e apenas uma pequena parcela roda os jogadore, ainda que esta pequena parcela seja a mais importante, porque são quem sustenta o meio), tivesse assim um elemento facilitador dessa abertura.

Os objectivos secundários passavam por vários pontos:

Promoção do RP em Portugal - o RP não é um tipo de jogo em que apenas se tenha que comprar o livro e ir para a loja jogar, é perciso conhecer quem jogue, ou ouvir falar do jogo, experimentar, o que seja. Deste modo, um dos objectivos era a promoção do RP junto a escolas, faculdades, centros recreativos, lojas, eventos, etc.. (e enviar estas pessoas para a listagem, para não se perderem pelo caminho)

Promoção do RP na sociedade - como falado e discutido na altura (havia/há quem ainda o faça), o RP não é apenas um jogo recreativo. É algo que pode (e é) utilizado nas salas de aula das mais diferentes cadeiras/disciplinas, é algo utilizado por bombeiros, militares, médicos, psicologos, policias, magistrados, juristas, politicos, etc., a lista é infindavel, a melhor maneira de se melhorar numa profissão se ser exercendo-a é simulando, e o RP é isso mesmo. Facilitando a aprendisagem, é necessário que alguém levasse o RP até quem não o conhece, ensinasse tecnicas de RP a que o pratica de uma forma superficial, e por ai..

Promoção do RP na comunidade - pegando num exemplo: Magic: the gathering (card game) - foi uma comunidade que se soube organizar a nivel mundial de uma forma brutal. Para bem, mal ou desinteresse, o que é facto é que a comunidade ao fim de mais de 13 anos de existência continua a prosperar (com altos e baixos como tudo o que dura, mas vive). Onde já alguém viu em Portugal uma Gen Con, Origins Game Fair, Dragon Con, World Fantasy Convention? Que impacto tem cenas como a "Camarilla fan club" em Portugal? Era uma outra ideia começar com interacção internacional e eventos nacionais.

2.-Porque falhou?

Em primeiro e em ultimo lugar (porque é só o que consigo expor sem começar guerras abertas) falhou por falta de vontade. Falta de vontade minha e de que começou o projecto comigo por ver que as pessoas que tanto prometiam nada fizeram, por ver que aqueles grandes mestres que "já cá estamos à 30 anos - devo perceber mais disto que tu", "já houve essa ideia antes...correu mal", "ah, mas se for para ir avante, bora lá", e para quem os conhece no meio (e nem quero falar em nomes, nem [re]começar uma guerra), sabe bem dos feitos que essas pessoas fizeram e do quão brutalmente não virados para a comunidade eles estão - e não me gozem com "coitadinhos, mas eles até tentaram e tal", porque tentar tentam lojas como a devir todos os dias e tentam pessoas como alguns grupos que conheço que dão o litro e não o inverso.

Com isto eu dou por terminada a ideia da associação.

Porque? Porque não há paciencia que aguente aqueles que estão desde sempre no mercado, aqueles que jogam desde sempre e que não querem abrir portas (pelo amor de Deus, há quem faça entrevistas e testes de RP para deixar pessoas entrar nos grupos), porque não há resposta da comunidade, porque não há tempo e porque se não houver quem leve isto a sério (e não "isto boa ideia é cobrar à cabeça para jogarem"... só boas ideias...) e quem diga, é isto ou o RP desaparece, não vai acontecer.

Espero que haja alguém que um dia volte a pensar nisto, espero porque gosto do RP, porque acho que dá maturidade, desenvolve pessoal e socialmente que tem o gosto de o jogar.

Estou disponivel para qualquer ajuda de ordem tecnica, com isto as minhas desculpas a quem possa ter falhado, Jay

Obrigado por teres escrito este posto aberto a informar sobre o vosso projecto de criação de um associação de jogadores de RPG já que eu era um dos chatos que de vez em quando perguntava aqui no AoJ. E obrigado por o teres feito mesmo que na verdade não tivesses que o fazer pois não deves nada a ninguém. :slight_smile:

Tenho pena que o movimento para a criação da associação não tenha tido sucesso já que acho que os objectivos eram bem claros e se fossem alcançados muito se tinha ajudado muito à saúde deste hobby de que gosto tanto.

De minha parte não sei como poderia ter ajudado mais. Acho que participei construtivamente nas discussões aqui e demonstrei a disponibilidade para o projecto.

Já existem algumas convenções de jogos a nível nacional com boa adesão (LeiriaCon, TrincaCon, InvictaCon, etc.) mas são mais orientadas para os Jogos de Tabuleiro. O pessoal do blogue Taquinas(taquinasocrl.blogspot.com) tem organizado D&D Gamedays em Coimbra com mais 30 participantes (incluindo bastantes novatos) a jogarem RPG durante um dia. O Rick_Danger e a Lady_Entropy juntaram esforços ao pessoal do Taquinas e organizaram um mini-evento de RPG paralelo à InvictaCon e jogou-se das 10h da manhã às 10h da noite divulgando o hobby no processo. Portanto ainda se joga RPG de maneira colectiva e associada.

Aliás anda-se já em conversações para este Janeiro na LeiriaCon se organizar também um evento paralelo de RPG, ao qual espero que compareças e todas as pessoas que contigo tentaram levar esse projecto adiante. Eu lá vos espero para jogarmos, pormos a conversa em dia e trocarmos impressões sobre a ideia de Associação. Que dizes?

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Antes de mais, sabes bem é que precisavamos de mais como tu para aquele projecto ter ido para a frente, houve muita coisa a correr mal ao mesmo tempo, mas, para ser sincero acuso essencialmente a falta de apoios do estado, nomeadamente do IPJ, as idéias de algumas pessoas que nem deviam ter sido convidadas e claro, o tempo pelo qual se deixou andar o projecto à deriva - mea culpa - e por ser minha culpa é que decidi pedir desculpas a todos os que gostaram, investiram tempo e tiveram paciencia para ouvir, ver, ler e ter discuções e conversas sobre a ideia, já que fiquei eternamente agradecido com toda a colaboração e solidariedade que recebi, por vezes até de pessoas que nem jogavam RPGs, mas que ainda assim deram o seu contributo.

Teria imenso gosto em estar presente em Janeiro em qualquer evento dentro do tema e até antes se houver tempo para isso, que já não falamos sabe Deus à quanto tempo, em Janeiro é honestamente melhor porque terei mais algum tempo livre, adorava voltar um dia a poder trazer o projecto para cima da mesa, porque continuo a defender que o conceito da "base de dados" e de uma "rede de jogadores" faz muita falta, não só para criação e agilidade de grupos, mas para promoção e expanção do RP, só que se à uns anos tinha todo o tempo do mundo para dedicar a planificar, reunir e mexer-me para andar com os projectos, agora tenho umas horas ao fim de semana e pouco mais. De qualquer modo tenho todo o gosto em discutir o assunto e ajudar uma qualquer iniciativa nesse contexto com tudo o que puder, aliás, espero que apareça uma entretanto, porque pelo ar de alguns posts, já era tempo de a malta se organizar.

Hug, Jay

Nos último anos, temos aprendido algumas coisas com os nossos amigos boardgamers e uma das discussões correntes é também a criação ou não de uma associação. Na minha opinião, a formalização da comunidade dentro de algum tipo de organização oficial só se torna necessária se for preciso mexer em montantes elevados de dinheiro. De resto, grande parte das coisas para as quais se pensa que é preciso uma associação (ou outro tipo de organização), na verdade fazem-se bem sem esses formalismos.

Este site, por exemplo, é melhor que uma base de dados de mestres e jogadores, pois é uma comunidade que está viva e que responde dentro do possível a todos os pedidos que aparecem. Muitas vezes, quem vem aqui em busca de um grupo nunca mais cá volta, outros até regressam, mas gostos mudam, disponibilidades alteram-se, contactos perdem-se, etc. O importante é manter um ponto de encontro sempre aberto e activo.

Estou plenamente de acordo com a promoção do RPG a todos os níveis. Há, no entanto, algum projecto a esse nível que precise obrigatoriamente de tesouraria? É que, se não for preciso, mais vale evitar as chatices de "presidente da junta" que a gente já sabe que acontecem nas associações.

Quanto à questão da Associação não me vou pronunciar e muito menos sobre os RPGs que é um universo que quase nem conheço.

Mas como falaste no IPJ e na Associação e eu já ando em associações à mais de 5 anos, sou presidente de uma e além do mais estou na Associação desde o inicio da mesma, ou seja, ajudei a funda-la.

Posso ajudar-te me dúvidas que tenham sobre o que é preciso fazer para fundar uma (embora isto esteja sempre a mudar), as leis que existem e de que forma o IPJ vos pode apoiar.

Qualquer coisa estejam à vontade

Em primeiro lugar, respondendo ao porquê de uma associação, remeto para a lista (minimalista) de objectivos que enunciei.

A ideia de uma associação não passa, claro está em arranjar grupos para as pessoas jogarem, já que qualquer pessoa que queira mesmo jogar, compra o livro, se for necessário vê uma ou duas sessões em locais onde se costume jogar e arranja uma mão cheia de amigos para isso (quando comecei a jogar comecei com dois grupos, jogador de um grupo mais experiente e gm/st de um grupo que não sabia o que era RP, com a ajuda de muitos, mas também por mim, aprendi pelo caminho mais longo, errando, testando, jogando e passando muitas noites a teorizar o RPG por forma a melhorar o desempenho do jogo, mas foi por iniciativa minha que quis começar a jogar - só por gostar do tema).

A idéia não era (não a minha), refiro outra vez, criar um LFG permanente em que as pessoas entram como quem vai às compras e está feito.

É criar uma base de pessoas que não só ajudem a abrir a comunidade entre si (que mais ou menos, acontece aqui), mas que haja quem desenvolva a capacidade dessas pessoas que seriam quem mostraria o RP a quem não conhece, quem discutiria, quem recrutaria, seria também objectivo criar um link com o exterior, e salvo um Professor genial (graxa :P ) que partilha todos os dias este site com a comunidade e que utiliza as técnicas de RP de vez em quando com os alunos (espero que ainda o faças regularmente), não há quem desenvolva o RP fazendo a ponte entre o jogo e quem precisaria do conceito (com teorias, técnicas, misturar estilos entre, por exemplo, o RP de psicologia com um RP de acções) - um exemplo muito costumeiro disto são as sessões de "relações interpessoais e de trabalho de equipa" que muitas empresas patrocinam e que muitas vezes são realizadas por psicologos e grupos de recursos humanos que, sem querer ofender ninguém, só pioram as coisas entre as pessoas, porque não conhecem profundamente os conceitos intrinsecos ao RP e o seu impacto nas pessoas: forçar duas pessoas a fingir fazer teatro não é RP, forçar um grupo a aprender a trabalhar em meia hora não é RP - adaptando o RP à situação em concreto, muitas vezes apenas com o intuito de partir o gelo e ajudar à criação de uma relação interpessoal e alguém que o joge, que o estude, que o conheça, pode e (para mim) é uma mais valia na gestão e preparação destas actividades.

A ideia da associação era (ainda que com o apoio de) muito mais que um forum. Á falta de outro tipo de suporte, é claro que o AoJ é o melhor que poderia ter acontecido á comunidade de RP (especialmente depois do declinio dos sites de RP e do que se vai passando no mercado - e não estou a atacar ninguém - para a maioria dos jogadores não há uma loja que consiga satisfazer as necessidades dos mesmos...), neste momento, por exemplo não há um local onde os jogadores possam jogar com espaço decente e mesmo depois de muitas promessas, nunca vi um local aberto em que não houvesse um limite de horas - um dos objectivos da associação (no tempo em que ainda jogava a sério, as sessões e discução da mesma podiam atingir 14-15h seguidas, o que começando por volta das 20-21h nos obrigava a permanecer em casa de um dos participantes, fechando o grupo, em vez de jogar em locais como lojas ou outro qualquer tipo de espaço publico, atraindo curiosos - esperava eu - e manifestando o RP). Não há em Portugal uma loja que eu possa dizer que neste momento venda livros de RP - é no minimo escandaloso - não estou a dizer que se quiserem um core book de um jogo mainstream não o encontrem numa loja, mas se quiserem uma loja com livros "a pacotes"... então é bom que mandem vir de fora. Isto para mim é um sinal evidente do declinio do RP em Portugal, porque agora não passa pelas pessoas que não conhecem o meio, ter interesse e ir a uma loja comprar o livro, passa ir á procura, aqui, no resto da net, e isso deixa um peso imenso sobre quem tem a função de os puxar, o que (mais uma vez, que ainda devem haver alguns acordados que ainda não adormeceram a ler isto), não acontece facilmente numa comunidade maioritariamente fechada, enquanto (espero eu) há pessoas aqui no AoJ e em locais de jogo que tentam establecer essa ligação, há outros que fazem de tudo para escolher, fechar e consolidar grupos que não mexem - eu, acho mal.

Ainda, fora deste objectivo mais ou menos defenido, havia muitos objectivos subjacentes á associação que faziam com que fosse necessária a criação de uma a nivel legal, especialmente no que toca a ideias como criação de espaços de jogo, criação de eventos, criação de uma biblioteca de RP (conceito muito criticado por quem normalmente não percebe nada - não querendo ofender quem não goste do conceito, estou aberto a criticas, apenas não a algumas criticas debatidas e rebatidas), criação de interacção internacional, mediação entre possiveis autores e editoras, etc, etc..

Quanto á ajuda, joao104, agradeço, mas como referi, ainda que tenha gosto em partilhar as idéias e ajudar quem o queira, não estou a pensar (em qualquer futuro) em voltar a avançar com a associação - com muita pena minha, garanto.

Jay

Peguemos no teu exemplo, o do Magic. Olha bem para o que escreveste, comunidade de Magic. Não escreveste comunidade de jogos de cartas coleccionáveis, escreveste - desculpa a repetição mas é preciso enfatizar - comunidade de Magic.

A primeira questão é mesmo esta, do que estamos a falar, para que servia a associação? Para promover rpgs? Então o teu exemplo prova que uma tal associação estaria condenada ao fracasso - pela simples razão que não existe associação equivalente para os jogos de cartas coleccionáveis. Para promover um rpg em particular, o DD, por exemplo? Mas então a comunidade não existe porque...

Voltemos ao Magic. Existe uma comunidade, sim senhor. Mas ela não surgiu do nada. Ela foi criada, incentivada, apoiada, estruturada pela empresa que produz o Magic. Se a WotC não tivesse feito por isso não existia hoje uma comunidade em torno do Magic. Curiosamente o DD pertence a essa mesma empresa. Conclusão: se não existe entre nós uma comunidade dedicada à promoção do DD é porque a WotC não está para aí virada.

Mas há mais. Os jogos de tabuleiro. Aí sim, há uma comunidade que não se centra num jogo, antes é aberta a vários jogos. A sua função como comunidade é, aliás, criar contextos em que os jogadores possam partilhar os seus jogos. Porque não há algo assim para os rpgs? Porque entre os jogos de tabuleiro e os rpgs há diferenças fundamentais.

A acessibilidade. Eu chego a um encontro de jdt de mãos a abanar, aprendo as regras de um jogo em 5m, jogo durante uma hora, experiência fechada. Passo a outra mesa, aprendo as regras de outro jogo em 5m, jogo durante uma hora, experiência fechada. Ao fim da noite posso ter experimentado 3 a 5 jogos. Escolhi um que gosto mais e vou comprá-lo na primeira ocasião. Na vez seguinte já levo o meu jogo de eleição para partilhar e vou experimentar mais um par de jogos. Na vez seguinte não vou e nada acontece, ficam mais experiências para a quarta visita.

No rpg? É suposto chegar, passar uma hora a criar uma personagem, três a jogar. E continuar com a mesma personagem, as mesmas regras e o mesmo universo daí para a frente. E não posso faltar sessões pois há a questão da continuidade...

Ou seja, o rpg exige um nível de envolvimento que se dá mal com o formato da comunidade de jdt.

E depois há a questão da língua. A massificação do rpg exige mesmo sistemas e materiais em português, o que exige muito mais investimento e um mercado bem maior do que nos jdt ou nos ccg.

Quer isto dizer que não há volta a dar? Penso que não. Mas a resposta passa pela disponibilização em português de um jogo simples (não mais de 24 páginas de regras essenciais), bem apresentado (com componentes que o aproximem dos jogos de tabuleiro, por exemplo, não vem daí mal ao mundo) e em universo(s) de jogo apelativo(s) para o gosto local. Há jogos assim? Há, lá fora, uns poucos mas não muitos.

Ou seja, é preciso uma empresa ou, pelo menos, uma abordagem empresarial. A comunidade vem depois.

Sérgio Mascarenhas

[quote=smascrns]Ou seja, é preciso uma empresa ou, pelo menos, uma abordagem empresarial.[/quote]

Também acho que a abordagem empresarial poderá acrescentar mais do que o associativismo, mas quer uma hipótese quer a outra não são soluções por si mesmas - mais importante é o que é que se quer fazer concretamente e isso não falha. Qualquer pessoa pode pegar nestes objectivos e tentar avançar com eles. Eventualmente, não terá tanta disponibilidade e outra pessoa terá de vir para também carregar o estandarte enquanto puder e por aí fora.

Entretanto, há muitas questões a discutir e o Sérgio apontou uma série delas pelas quais já se passou aqui no abreojogo. Grande parte delas desaguam na própria identidade dos RPGs. Sabem como é que se chamam os RPGs que não exigem tanto investimento de tempo, esforço criativo, espírito de colaboração ou uma regular continuidade? Jogos de tabuleiro. Por isso, não precisamos de ir tanto por aí, só esticar ligeiramente os limites daquilo a que estamos habituados.

Mais importante até é jogar publicamente RPGs em que qualquer pessoa possa entrar.
Por falar nisso, Nazgul, neonaeon, estamos a faltar aos treinos :) quando é que voltamos ao ataque?

Excelente critica do ponto de vista do jogador, já me havia sido colocada uma questão similar e efectivamente é pertinente, dado que se assume que se há uma criação de uma associação, esta tem que ser sustentavel e derimir necessidades dos utentes (se é que as existem, também já me colocaram essa questão). Quanto a mim, tenho que dizer que concordo com toda essa critica, no sentido em que se olharmos efectivamente para o ponto especifico enunciado (magic) existe uma correlação entre uma entidade superior e uma entidade local com sentido, mas olhando de um modo geral não posso concordar, e explico-o passo a passo:

1. JdT (BG's), CCG's, CMG's, etc. v.s. RPG's

a) Comunidades Internacionais das Marcas

Há efectivamente clubes/associações (patricinadas ou autorizadas devidamente pelo editor/produtor) que visam tornar mais coesas as comunidades internacionais (o exemplo que tinha referido é o de magic). No entanto, o mesmo se verifica no caso de empresas de RPG, dou o exemplo muito concreto da White Wolf, produtora de alguns titulos como Vampire: the Masquerade (e Requiem), Mage (idem de Mage), Werewolf (so on, so forth), etc. e é também produtora de Jdt's e CCG's. Tem, no entanto, um clube internacional oficial da marca, chamado Camarilla Fan Club que, existe claro está, em primeiro lugar para quem joga Vampire, mas também para todos os que utilizam os seus produtos e variações (por exemplo no tipo LARPG's como o Mind's Eye Theatre). No entanto não funcionam em Portugal (eu não disse que não existem, disse não funcionam)..

b) Porque não funcionam

Em primeiro lugar, porque a comunidade internacional que uso como exemplo (visto que penso ser para bem ou para mal a mais conhecida no meio dos jogadores de RP), têm o problema de ser uma comunidade sem representação oficial local com poder normativo, o que é que isto implica? (bear with me) Implica que, ao contrário de outras instituições internacionais (por exemplo, a Assembleia da União Europeia, que dou como exemplo só para não dizerem que só dou exemplos nada a ver com nada e que não complico pouco :P ) que têm na sua constituição (neste caso Europeia) artigos que definem que o processo normativo que existe é efectivamente para ser acatado pelos membros, mas que a ordem de regulação do publico alvo e não de ordem interna devem ser locais - porquê? - porque devem de ser adaptadas à realidade local. E o que é que isso interessa perguntam? Interessa que, por exemplo, uma norma que saiu da White Wolf (que pelo que sei ficou pelo caminho) era que não só tinham que pagar 45€ pelo core book para começar a jogar (e qualquer outro livro necessário), mas que para se ser GM se tinham que registar como tal num orgão oficial (ou seja, pagar para ser GM)... lol much? Não faz sentido nenhum que num pais onde eles não mexem (desculpem a expressão) ponta de... eu ser um GM oficial. Se não há eventos, não há actividades, não há uma mais valia, situações como esta fazem com que toda a comunidade que não participa no próprio clube o rejeite da sua esfera.

c)Comunidade

Ainda que seja um ávido jogador de BG's, CCG's e CMG's (enunciando talvez os mais jogados de momento, Munchkin, Descent, V:tes e Warhammer) sou um jogador acima de tudo de RPG's. O que é que diferencia quem joga RP do resto? Quem joga RP tende a ter muito mais paciencia para aprender regras, mais facilidade porque as regras são apenas um sistema, o RP pouco varia (sem envocar teorias) e tem muito mais tempo, melhor, está disposto a abdicar de mais tempo para jogar um jogo mais longo e complexo em vez de um jogo (por muito complexo que seja) que demore apenas algumas horas, ou seja, tende a gostar mais de variar dentro do próprio jogo e a ter uma evolução dentro de um jogo ao inverso. Ainda comparando com os outros tipos de jogos e comunidades, o RP tem um ponto muito especifico ao contrário dos outros que é o facto de que salvo o GM arcar com a despesa inicial na compra de um core book (se tanto, não que não se possam gastar rios de dinheiro) fora isso.. não se paga nada! O que é que isto implica, implica que, por exemplo se eu penso "agora bom, bom era começar a fazer exército novo de..." - 300€ ou "faltam-me é x cartas para acabar o deck que queria" - 50€ ou ainda "bem, ainda não é este mês que vem Twilight Imperium..." - 80€ no entanto posso jogar tantos tipos de RP quantos quiser (eu sei que os outros também podem trocandom, emprestando e partilhando) sem gastar um cêntimo.

d)Jogos de RP

Nem todos os jogos de RP têm que ser complexos, e mesmo os que o são, não obrigam os jogadores a conhecer todas as regras, da mesma forma que aprender a jogar, por exemplo, civilization, não é conhecer as táticas e melhores formas de o jogas. Um exemplo de como em cinco minutos ensinar uma pessoa a jogar um sistema versus conhecer o mundo todo pode ser dado por:

Vampire: the Masquerade (Introdução ao ambiente e sistema) - Por esta altura acho que já deu para perceber qual é o meu top nos favorite games

Sistema e preparação - tens x pontos para distribuir pelos conceitos nessa folha que definem o personagem que vais representar, deves saber que os pontos servem para definir o quão bom o teu personagem é em determinada caracteristica ou conhecimento (ou whatever) e essa representação reproduz-se pelo numero de dados a lançar sempre que o GM te solicitar quando tiver por objectivo testar a capacidade do teu personagem conseguir ou não suceder a acção, para isso tens que ter um ou mais sucessos, um sucesso é alcançado quando o valor no dado é superior à dificuldade imposta pelo GM e em contrapartida pode ser cortado por um resultado de "1" (ou seja, "1" bad - "10" good) tudo o resto será uma representação e interacção falada tendo o GM como juiz decisor das situações e narrador das mesmas (sem entrar em teorias e há muitas, visto ser uma introdução).

Ambiente (exemplo) - Acordas. É de noite.. não te lembras de uma noite tão fria á muito tempo, mas curiosamente, embora não saibas porque, não sentes realmente o frio, nem vês uma nevoa de condensação da respiração, na realidade começas a apreceber-te que não te sentes a respirar, enquanto te sentes a entrar em desespero, uma imagem desfocada surge do fundo do quarto semi escurecido..: "Boa noite senhorrr..."....

O resto vem com o tempo e com o jogo.

É tambem do conhecimento comum que há jogos muito mais simples e jogáveis numa só noite, tanto em regras como em longevidade ou podemos fazer aquilo a que por vezes se chamam "one shot's" - jogos de uma só noite com uma adaptação de regras e conteudos ao conceito.

2. Em relação ao investimento na criação de obras em português deixo a seguinte lista (incompleta):

Obras publicadas em português (a não ser que português do brasil não seja aqui considerado português)

Tagmar, o 1º RPG Brasileiro (1991).

O desafio dos bandeirantes, o 1º com ambientação baseada no folk brasileiro (1992).

Millenia na linha de ficção científica (1995).

Arkanun RPG de horror que utiliza o Sistema Daemon (1995)

Era do Caos - Retratando o Colapso das metrópoles brasileiras no início do Séc.XXI (1997)

Defensores de Tóquio RPG de super herois japoneses, agora na sua quarta versão conhecida como 4D&T (1998).

Calíope, RPG medieval usando D6, D10 e D20 (2001).

OPERA RPG - Regras práticas e ajustáveis de RPG que permitem a criação de qualquer cenário de jogo (2004).

Utopia - Usa o sistema d10 (2003).

Invasão misturando Arquivo X com história brasileira (2004).

Clavius, um sistema de RPG gratuito (2004).

Nexus D6 (2005)

RPG Desafios, RPG para uso terapêutico para prevenção e tratamento do uso de drogas na adolescência (2009).

Obras Estrangeiras Traduzidas

G.U.R.P.S. - Generic Universal Role Playing System - Jogo de RPG genérico, podendo ser ambientado em qualquer lugar ou época (1991)

Vampiro, a Máscara - Jogo de RPG onde o jogador pode assumir um personagem vampiro (1994) - V:tm

Lobisomem: O Apocalipse - Jogo de RPG onde o jogador pode assumir um personagem vampiro - W:ta

Mago: A Ascenção - Jogo de RPG onde o jogador pode assumir um personagem vampiro - M:ta

Changeling: O Sonhar - Jogo de RPG onde o jogador pode assumir um personagem vampiro - C:td

Múmia: a Ressurreição - Jogo de RPG onde o jogador pode assumir um personagem vampiro - M:tr

Vampiros do Oriente - Jogo de RPG onde o jogador pode assumir um personagem vampiro - K:ote

"Tempo do Julgamento" - Final da saga "O mundo das trevas" (WOD I) (2003)

O Mundo das Trevas - Nova saga (New WOD)

Vampiro: O Réquiem

Lobisomem: os Destituídos

Mago: o Despertar

(Quase todos os livros não core estão também tradizidos)

First Quest - versão simplificada das regras do AD&D 2ª Edição. (1995)

AD&D 2ª edição - RPG de Fantasia Medieval (1996)

D&D 3ª edição - RPG de Fantasia Medieval (2000)

D&D 4ª edição - RPG de Fantasia Medieval (2009)

Peço desculpa a todos os autores portugueses, já que não os referi (sei que os há e por acaso conheço alguns) mas o que é facto é que há muito bom português que escreve sistemas e conteudos de RP e que muitas vezes os torna mais simples, acessiveis e prontos a jogar.

Jay.

Alguns pontos:

O teu exemplo da WW demonstra aquilo que escrevi, ou seja, as empresas (americanas) não estão dispostas a investir no mercado português. Seguramente que o consideram demasiado pequeno para justificar o investimento. Se não investem, não há volta a dar.

O que escreves sobre rpgs também reforça o que eu escrevi: os rpgs são um gosto de nicho (como dizes, não é para qualquer um, é para quem paciência e se dá ao esforço... além de precisar de tempo); os jogadores tendem a dedicar-se a um jogo, pelo que em lugar de haver uma comunidade de jogadores de rpg o que há são comunidades do jogo X, do jogo Y, etc. (onde X pode ser o DD e Y o WoD, por exemplo). Torna-se assim difícil criar uma comunidade de rpg, quer porque os membros dos potenciais são poucos, quer porque eles estão dispersos por grupos que não se cruzam.

Quanto à disponibilidade de jogos em português, o português do Brasil não é solução. Para que um jogo tenha sucesso entre nós tem de ser em português de Portugal. Isto não é racismo ou xenofobia, é um facto cultural. O rpg é demasiado envolvente, logo precisa de se exprimir na língua e forma de pensar do jogador. Aliás, isso não sucede só com o rpg, basta ver a falta de sucesso de obras em brasileiro entre nós.

Posso até dar-te um exemplo que aconteceu comigo. Eu vivi muitos anos em Goa e tive um vizinho inglês que é escritor de policiais. Ele ofereceu-me simpaticamente um dos seus livros na tradução para português do Brasil. Não o consegui ler. O vocabulário simplesmente não jogava. Mocinho? O herói é o mocinho? Não dá para levar a sério.

Insisto, isto não é xenofobia. Basta dar um exemplo pessoal de sentido inverso. Até aos anos 80 não se dobravam filmes em Portugal. os únicos filmes dobrados eram os da Disney e em versão brasileira. Também não se publicavam edições portuguesas das bandas desenhadas infantis da Disney, estas chegavam-nos na versão brasileira. Depois começaram a surgir as edições e dobragens portuguesas. Não me dizem nada. Cresci a ver filmes Disney em brasileiro e a ler o pato Donald, o Mickey e o Tio Patinhas em brasileiro. Para mim é assim que eles falam. As versões portuguesas não têm nada a ver.

Em suma, falta rpg em português de Portugal. E não, uma obra gratuita e amadora não é suficiente, por muito boa que seja.

Sérgio Mascarenhas

Porquê?

–~~–

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Não te metas comigo, camarada; tenho n avisos à navegação, alguns deles em público, e não tenho medo de os usar!

Dá-me um exemplo de um sector de actividade na nossa sociedade que funcione à base de obras gratuitas e amadoras. Não consigo identificar nenhum. Para se chegar a um público alargado há que investir e muito. Isso exige meios que têm de ser pagos. É tão simples como isto.

Sérgio Mascarenhas

[quote=smascrns]Dá-me um exemplo de um sector de actividade na nossa sociedade que funcione à base de obras gratuitas e amadoras.[/quote]No sector criativo, a fronteira entre amador e profissional está cada vez mais esbatida:
https://www.youtube.com/user/anafree
https://www.trilogianocturnus.com/Menu.htm

As pessoas que costumam prestar atenção ao que escrevo por aqui de certeza sabem que já há um tempo sonho com a existência de um RPG nacional em Português com um grande passo para a divulgação do hobby por cá.

Contudo não sei se esse passo será o mais justificado quando o próprio mercado ainda é pequeno, pelo menos se falamos de uma edição mais profissional com tempo e dinheiro despendido.

Aliás acho que é uma teoria que só pode ser comprovada a partir do momento que se lançar mesmo um jogo original em PT, o que é bastante arriscado. E nada garante que esse jogo, cujo parto certamente seria algo raro e digno de celebração, seja um produto de eleição de todos os consumidores e fãs.

Contudo acho que esse é um tema um pouco ao lado deste thread a não ser que se considerasse com um dos objectivos da dita associação.

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esta discussão interessa-me muito, pois faço parte de um Blog (Tá Quinas) que dedicou os seus seis meses de existência, a promover os rpg's e Boardgames.

Nesse espaço de tempo conseguimos fazer já alguns progressos em relação ao clima que se vivia aqui em Coimbra. As lojas de jogos não queriam ter o trabalho de divulgar e chamar novos jogadores, e como se não bastasse, cobravam para se jogar em eventos gratuitos (e não estou a falar em quantias simbólicas, falo de 5€ por cabeça). Isto é bastante revelador daquilo que se vive por esse país fora, há uma filosofia de lucros a curto prazo, que eu compreendo, embora não aprove.

Quanto á questão de a Wizards não estar interessada em promover D&D, é um argumento falso. A wizards tem feito D&D day's já desde 3.5, e no último ano houve 3 desses dias. A malta do Tá Quinas organizou 2 desses eventos com resultados extremamente positivos. No primeiro encontro tivemos 29 pessoas, e no segundo 43. As miniaturas e as aventuras, bem como os portes de envio foram custeados pela Wizards, por isso acho que eles estão muito interessados em promover D&D, ou não fariam disto eventos frequentes durante o ano.

Quanto a Associações sou da opinião que não há necessidade de se criar uma de Rpg's. Concordo que teriamos mais credibilidade, e até conseguiriamos mais apoios, mas a burocracia, e os custos envolvidos não justificam (na minha opinião) o esforço. O esforço que eu acho que se devia fazer, era o de juntar várias actividades num só evento público. No próximo evento realizado pelo Tá Quinas, vamos tentar juntar mais esferas de Jogo e não limitar-nos oas BG ou Rpg. Vamos ter estas duas vertentes, e teremos provavelmente um Torneio de Magic the Gathering, e vamos conversar com algum pessoal para se fazer um Siege de Warhammer. Temos de momento um problema grave, que é o espaço onde meter toda esta gente. Esse problema vamos tentar resolve-lo com a câmara municipal de Coimbra, que pode ser que nos dê algum apoio logístico.

Tudo isto está ainda numa fase algo embrionária, mas quero com isto dizer que não necessário uma associação, para que haja vardadeiras Con's em Portugal.

A conclusão que tiro do que tenho visto do mercado "geek" é que somos demasiado pequenos para nos segmentarmos em grupos pequeninos de interessados nisto e naquilo. Em vez de discutirmos, se devia haver um jogo em português, se os boardgamer's têm mais visibilidade que os rpg's, extrapular as razões pelas quais o Magic tem uma comunidade sólida, deviamos discutir a melhor maneira de unir todos esse diferentes núcleos de jogos e junta-los em eventos, de forma a ganharmos visibilidade.

Just my two cents.

Que tal discutirmos o modo mais eficaz de organizarmos esses eventos num thread à parte? É que me parece uma discussão mais imediata e pragmática do que o jogo de RPG Português ou o da associação. :slight_smile:

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Isto soa-me a non-sequitur.

O que eu queria era perceber porque é que, na tua opinião, não basta ser gratuita e amadora, por boa que seja. Quer-me a mim parecer que, como requisito, “ser publicado”, não é terrivelmente bom; o Rick já apontou 2 exemplos, eu vou deixar mais uns:

-quando eu tocava em bares, nunca tive um disco editado ou um contrato assinado com uma editora, mas não foi por isso que deixei de tocar em bares e de me divertir bastante; no entanto, os Delfins foram sempre ricamente recompensados.

-o pessoal do Blair Witch, por exemplo, que pagou o filme do seu bolso, de certeza que não estava à espera da reacção que o mesmo teve; no entanto, o Keanu Reeves é uma estrela de cinema multi-milionária.

-o pequeno agricultor que tem umas vinhas e faz vinho para uso doméstico provavelmente não o vende, mas não deixa de beber do seu vinho à refeição; no entanto, o Brilho de Uva vende-se em todos os hipermercados.

-o pessoal que faz teatro amador e que tem outros empregos, não é por não ser pago para fazer teatro que não deixa de o fazer; no entanto… erm, confesso que não conheço assim tão bem o mundo do teatro para poder falar, mas acho que por esta altura já percebeste.

Agora deixo-te o desafio: se eu publicar o Dara no Lulu ou no Bubok, isso conta para a tua bitola de “rpg português publicado”, ou tem que ser publicado pela Porto/Presença/Gailivro/Saída de Emergência/… para contar?

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Os teus exemplos apenas provam o que eu estou a dizer, não o contradizem. Tocavas em bares? O quê, composições tuas ou composições de outra gente? Se de outra gente como é que as conheceste? Tu não ganhavas nada e os Delfins sim? Prova o meu ponto. Se há um mercado de bares para amadores como tu é porque há um mercado comercial com alguns Delfins. A existência de produtos comerciais não substitui os produtos amadores, bem pelo contrário. A produção amadora é potenciada pela existência de uma rede organizada e comercial. (Nota que o comercial não é um requisito necessário, apenas corresponde à forma como estas coisas se organizam na nossa sociedade.)

O mercado de cinema não se faz de Blair Witches. Quantos destes tiveram sucesso comercial ao nível de um produto profissional? E o Blair Witch é bem menos amador do que parece.

Se toda a produção de vinho fosse feita por pequenos produtores para consumir em família, o que bebíamos na cidade? Estás a sugerir que a economia de sobrevivência é um modelo viável em alternativa ao modelo capitalista actual. (Sem querer entrar em discussões ideológicas sobre o capitalismo, é claro.)

O pessoal que faz teatro amador pode não ser pago mas é subsidiado. E precisa do teatro profissional para medir a qualidade das suas performances.

O futebol é talvez um melhor exemplo. Foi a profissionalização do futebol que o tornou num dos entertenimentos mais disseminados entre nós. Se tivesse ficado ao nível do amador teria tido o destino de todos os desportos amadores: actividade de nicho, para os poucos curiosos que experimentam.

Regressando ao universo do rpg, a existência de jogos comerciais com sucesso entre nós iria divulgar o hóbi; mais gente ia jogar; logo ia haver muitos mais amadores a colocarem os seus jogos amadores e não comerciais na internet. Esta é a realidade.

Quanto ao Dara, não, na sua versão actual não funciona. Não é um jogo português, é um jogo inglês. O facto de tu seres português não altera nada à equação. Eu tive várias colunas na RPGnet e não considero nem nunca diria que são colunas portuguesas sobre rpg. Não, são colunas «internacional-americanas». O facto de eu ser português é indiferente. É como aquelas bandas pop e rock que polulam por aí no nosso país a cantar música de matriz americana ou inglesa em (normalmente mau ou medíocre) inglês. Lá por serem de pessoal de Lisboa ou Almada não passam a ser bandas portuguesas. São bandas de pop ou rock anglo-americano, simplesmente.

Agora, se traduzires o Dara para português e o puseres à venda através de sistemas de vendas online direccionadas para o nosso mercado, nesse caso já podemos dizer que estamos a falar de um «rpg português publicado».

Sérgio Mascarenhas

Conta isso ao Cristiano Ronaldo. A verdade é que se criaram condições para a existência de um «lumpen proletariat» criativo, mal pago quando pago, numeroso e disposto a tudo para obter alguma atenção. Ao mesmo tempo, afunilou-se no topo, acessível a muito poucos e cada vez mais bem pago. E isto em todos os domínios da criatividade. Mas estamos a fugir (relativamente) ao tema da discussão.

Ou talvez não. Porque uma das dificuldades na criação de uma associação é precisamente saber quem é que se associa. É uma associação de quê? De produtores? De comerciantes? De jogadores? De amadores? De expectadores (ou seja, gente que gosta de jogos, compra jogos, mas não joga)? Do meu ponto de vista uma das razões para a dificuldade em criar uma associação está precisamente nesta indefinição.

Sérgio Mascarenhas

Não, os meus exemplos provam que não é preciso ser pago para produzir alguma coisa, que era a minha questão inicial e que tu ou evitaste ou não percebeste por completo. Não é por eu não ter uma equipa de artistas, editores, paginadores, escritores, a trabalhar para mim que os meus jogos existem ou deixam de existir: eles existem porque eu os escrevi, são rpgs portugueses, escritos por um português, quer tu queiras quer não. Se eu tivesse tal equipa, provavelmente seriam muito melhores e deixariam o campo do amadorismo (que, já agora, significa "que ou o que exerce qualquer arte, desporto ou ofício por gosto e não por profissão "). Mas, reforço, não é por não ter que eles deixam de existir.

O Dara neste momento não funciona, mas já funciona muito melhor do que quando peguei nele pela 1ª vez, e há-de estar jogável antes do final do mês, se tens vindo a acompanhar o seu progresso no doc do google a que te dei acesso de visionamento certamente concordas comigo; mas logo a seguir espalhas-te ao comprido como gente grande, e julgo que uma simples pergunta te fará perceber porquê: se eu traduzir o Vampire, vou ter um rpg português?

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