Ave Caesar - Análise / Crítica

Aqui há uns dias deu-me para começar a rever as minhas classificações no BGG. Como é um método tão bom como qualquer outro, resolvi fazê-lo em grupos, por ordem alfabética.

No "A" tenho 4 jogos, dois dos quais já foram alvo de reviews aqui no AoJ, a saber, Alhambra e Amun-Re.

Dos que sobram, Armada e Ave Caesar, pareceu-me que talvez houvesse mais interesse aqui no AoJ por este último.

Pensei em fazer esta análise de acordo com os parâmetros que foram definidos para as reviews usadas nos concursos do AoJ, classificado apenas nos critérios que me parecem menos subjectivos (Qualidade/funcionalidade dos componentes; Clareza das regras e Equilíbrio, ou seja, se algum jogador terá vantagem por ser primeiro ou algo no género).

Por isso, aqui vai...

AVE CAESAR

Designer: Wolfgang Riedesser

Ilustrações: Eckhard Freytag

Grafismo: Ingrid Berner

Edição analisada: Pro Ludo

Página no BGG

 

Ave Caesar é um jogo de corridas. Mais precisamente, um jogo de corridas de quadrigas nos coliseums do império romano... Pensem em Ben-hur e numa pequena parte do Gladiator, ainda que neste último não fossem corridas...

O tema é excitante e o jogo corresponde.

Podem correr de três a seis jogadores e desde já informo que quantos mais, melhor.

Esta análise é feita sobre a edição da ProLudo, que é a que eu tenho.

Componentes:

Cada jogador recebe um marcador de quadriga e uma moeda na sua cor. O plástico é de boa qualidade e a modelação da quadriga está aceitável, ficando o marcador com estabilidade suficiente. Para além disso, cada jogador recebe um baralho de cartas na cor correspondente. Os baralhos são todos iguais e compostos de cartas com valor de 1 a 6 (quatro de cada). As cartas são finas, mas de boa qualidade e bem ilustradas. Cada baralho tem representado o piloto e o seu nome e está em tons da cor de cada um. Portanto, podem alinhar os seguintes audazes pilotos:

De preto: Marcus Cornelius Noctua

De azul: Gaius Postumius Murena

De castanho: Lucius Tremellius Crassus

De vermelho: Titus Floridius Blasio

De amarelo: Servius Quintilius Agrippa

De verde: Numerius Spurius Vulso

O tabuleiro apresenta duas pistas, uma de cada lado. As pistas podem ser percorridas em qualquer dos sentidos (sentido dos ponteiros do relógio ou o inverso) e é aconselhado fazer as quatro corridas possíveis.

Pontuação: 3/5

Regras:

As regras são simples e estão bem explicadas. Tendo a versão da ProLudo e não sabendo alemão, tive que me socorrer da versão em inglês (da Asmodée), mas creio que serão semelhantes pois as ilustrações de exemplo são as mesmas.

Resumindo as regras, cada jogador terá uma mão de três cartas disponível. No seu turno joga uma carta e avança a sua quadriga esse número de casas na pista, podendo mudar diagonalmente de posição sem atravessar alguma paredes que dividem a pista nas curvas, delimitando assim o lado exterior e interior da curva, sendo que o lado interior tem menos casas e portanto permite avançar mais depressa. Depois recolhe uma carta para ficar de novo com três e passa a vez ao jogador à sua esquerda.

As quadrigas não podem passar por casas ocupadas por outras e têm que poder andar a totalidade dos pontos marcados na carta jogada. Como em certos lugares a pista é estreita e só tem espaço para uma, os bloqueios são frequentes. Um jogador bloqueado, simplesmente não joga. Terá que esperar que o caminho esteja livre. Este é o fulcro do jogo. Bloquear os adversários é fundamental para se poder ganhar. Mais ainda porque o jogador que vai na frente não pode jogar cartas de valor 6 a não ser que não tenha outras.

Cada corrida tem três voltas. No final da primeira, ou da segunda volta, os jogadores terão que passar pela frente da tribuna (área mais lenta na recta da meta, estilo boxes), entregar a sua moeda e saudar o imperador, pondo-se de pé, estendendo o braço direito e gritando bem alto "Avé César!". Este ritual é fundamental. Um jogador que não cumpra esta obrigação cairá em desgraça e será desqualificado não pontuando, independentemente da sua posição no final da corrida.

No fim de cada corrida atribuem-se pontos aos pilotos que terminaram a corrida da seguinte forma:

1º: 6 pontos.

2º: 4  "

3º: 3  "

4º: 2  "

5º: 1 ponto

É possível um jogador não ter cartas suficientes para chegar ao fim da corrida. Raro, mas possível se seguir sempre as trajectória mais longas.

Pontuação: 4/5

Jogabilidade:

Este é um conceito algo subjectivo. Para mim é um jogo agradável. Compreendo que algumas pessoas possam não achar interessante a ideia de ter que bloquear e prejudicar os outros para vencer, mas creio que tematicamente faz todo o sentido e entre adultos que estão a jogar para passar um bom bocado não há que ter ressentimentos.

Ainda não fiz nenhum campeonato completo, mas acho que deve ser mais interessante ainda e deverá atenuar o efeito sorte que, obviamente, existe na sequência e momentos em que nos saem as cartas de que necessitamos, ou não.

Equilibrio:

O jogo será equilibrado quando tomado como uma sequência de corridas. Uma só corrida pode ser muito ingrata, ou muito feliz, para um dos jogadores. Jogando várias corridas esta possibilidade poderá ser diminuída.

Pontuação: 3/5

Sorte:

Como já vimos, pode ser um factor determinante. É facilmente enfrentado com várias corridas, mas mesmo numa só não é nada chocante neste tipo de jogo.

Estratégia / Táctica:

Este é um jogo eminentemente táctico. A cada jogada tudo pode mudar e não faz muito sentido fazer grandes planos para muitas rondas seguidas. Naturalmente que os jogadores podem tentar jogar sempre as suas melhores cartas para ganharem distância no início ou então optar por fazer jogadas mais de bloqueio ao início para jogarem as cartas melhores num esforço final. Em qualquer caso, com apenas três cartas na mão e a possibilidade de ser bloqueado sempre presente, não será fácil manter uma estratégia definida.

Conclusão:

Este é um jogo interessante para qualquer colecção. Encontra-se a preços muito convidativos com alguma facilidade, explica-se rapidamente e diverte quase qualquer pessoa. Pode ser jogado com crianças (a idade recomendada é 12, mas já o joguei com um miúdo de 9 e ele gostou) e com adultos sem que estes tenham vantagens enormes sobre aquelas.

Se a vossa colecção ainda não tem um jogo de corridas, considerem este Ave Caesar.

Espero que tenham gostado.

Pontuação geral: 10/15

Nota:

Existem algumas variantes e pistas alternativas para este jogo no BGG. Ainda não experimentei nenhuma mas algumas das variantes servem para tornar o jogo mais estratégico e menos dependente da sorte fazendo com que os jogadores tenham que optar por baralhos pré-definidos e com que a compra de cartas não seja de um baralho global mas que este esteja dividido em montes cujos valores estão definidos (um com as cartas 1 e 2, outro com os 3 e 4, etc...). Isto traz mais variadade e valor ao jogo, ainda que implique algum trabalho extra.

Achei o jogo bonito e muito divertido (como a maior das corridas). Achei-o com demasiada sorte, mas pode ser que melhore com essas variantes. Boa review.

Fiz alterações que reduziram o fator sorte e aumentaram a perícia tática e introduziram o elemento estratégico. Aumentei o número de casas com novas divisões e o circo de Roma ficou 93 casas em 3 voltas exteriores e 85 em 3 voltas interiores, isto para uma prova completa de 3 corridas (uma corrida completa são 3 voltas mais as 5 casas "imperiais", menos as casas da zona da meta que não se passam ao fazer as casas "imperiais"). O circo de Constantinopla ficou com 99 e 84 casas respetivamente. Para que o jogo fique bem equilibrado concebi 3 pontos de bónus a serem dados a cada auriga logo após a saudação ao Imperador e que podem ser jogados em vez de uma carta. O jogo ideal é o de 3 jogadores com uma equipa de duas quadrigas cada e a pontuação final é por equipa ao fim de 3 jogos de 3 voltas cada. A tática tem de ser refinada para contar com a carros que não chegam ao fim, com manobras para obrigar os outros a gastar mais casas, com decisões quanto a sacrifícios de um carro da equipa em benefício de melhor pontuação ou mesmo vitória do outro carro da mesma equipa, ou optar por pontuar com ambos em detrimento da vitória de um carro da nossa equipa. Não importa a ordem das quadrigas na 1º corrida já que que são 3 corridas e portanto os 3 jogadores trocam entre si as posições de partida nas 3 corridas. Todos os jogadores são obrigados a passar na 1ª ou na 2ª volta pela saudação ao Imperador o que permite hábeis bloqueios. Estou a testar, mas parece-me que o jogo ficou bem melhor… Que acham?

O jogo acaba por se prestar a este tipo de alterações.

As regras base fornecem um jogo com bastantes factores aleatórios mas o sistema permite manipulação quanto baste para que entre as possibilidades que apontas e as variantes que se encontram no BGG se tenha aqui jogo para muito tempo e partidas…



O que nos leva a questionar porque carga de água está Out Of Print há tanto tempo…

Existe uma reimplementação de 1993 sem grande divulgação e parece que uma edição brasileira da GROW de 2015.



Coisas do mercado…

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As regras originais referem que vence quem atravessa primeiro a meta independentemente da posição em começou a jogar. Não percebo porque não deixar completar o turno e classificar pela distância à meta após ultrapassá-la. Assim, se o primeiro auriga a passar a meta fosse o que começou em 4º (por exemplo), o 5º e o 6º ainda poderiam jogar e se algum deles ou ambos ultrapassassem a meta em mais casas do que o 4º conseguiu ficariam à frente deste. Em caso de igualdade ficaria à frente o auriga que tivesse mais pontos em cartas por jogar, doutro modo ambos ganhariam exequo, e o mesmo se aplicaria às posições seguintes. Julgo que funciona melhor e obriga a mais tática, especialmente nas arenas maiores que sugeri antes. Além de que reflete melhor o facto das seis quadrigas correrem em simultâneo nos circos reais.

 

"um jogo de corridas de quadrigas nos coliseums do império romano"? Atenção Maligur, só houve um único coliseu no império (em Roma, cujo nome verdadeiro era anfiteatro flaviano) e não se faziam corridas de bigas nem quadrigas aí. O Coliseu era um anfiteatro (o mais famoso dos anfiteatros) enquanto que as corridas de carros tinham as suas instalações próprias que eram os circos (igual a hipódromo). Os anfiteatros eram concebidos com uma arena oval e destinavam-se em particular a lutas de gladiadores e de feras e outros combates. Excecionalmente, podia haver combates e execuções nos circos, mas não era para este efeito que os construíam, mas para o espetáculo favorito dos romanos: as corridas de carros. O termo Coliseu como nome para o anfiteatro Flaviano só surgiu depois da queda do império romano ocidental (o oriental durou mais 1000 anos).