Blood in the Water

Passada quarta-feira, o João (Nazgul) pediu-me para mestrar qualquer coisa de Vampire para ele antes da sessão de Cyberpunk. Li esse mail de manhã e respondi-lhe que sim, ficando eu a pensar como iria dar uma ideia do que eu acho que é Requiem em tão curto espaço de tempo para jogar.

Pensei numa simples história de um embrace e em uma ou duas imagens interessantes. Isto foi o que aconteceu. Se alguém quiser jogar esta possível demo, não leia :)

 

 

A Personagem

Jack Bishop é um jovem padre, inteligente e formado em medicina. Tendo deixado a família na Irlanda, habita numa paróquia católica de Londres. Tendo acabado agora o seminário, hesita entre seguir de imediato essa carreira ou seguir o percurso de médico. Presta algum apoio na igreja local enquanto faz serviço de voluntariado nas urgências.

Fizemos a personagem de improviso em uns poucos minutos, preenchendo eu a folha de personagem com os traits que fariam mais sentido.

 

A História

Lady Marianne é o vampiro mais influente da cidade de Londres. Nas últimas décadas, recuperou do sono de séculos e reconstruiu o seu poder sobre a metrópole - estabelecendo alianças com algumas covenants e criando inimizades com outras - ganhando o respeito de todos, ou quase todos. Marianne sente que está prestes a ser traída, mas não tem a certeza se é só a sua paranoia, se é deste novo milénio que se move demasiado rápido ou se, de facto, tem a recear pela sua vida. Em pouco tempo, a poderosa vampiro decide que necessita de criar um child, alguém em que ela possa confiar, manipular, ensinar e ter ao seu lado para a guiar neste tempos que correm à velocidade da luz.

Brian é um velho servidor de Lady Marianne, um ghoul que sustém a sua juventude pelo sangue dela. Nos últimos anos, Brian considerou útil tirar o curso de medicina e tornou-se colega do Jack. Sabendo das intenções da sua senhora, depressa lhe sugeriu o padre como possível child. Marianne considerou a possibilidade e rapidamente se decidiu a agir antes que os seus inimigos percebessem as suas intenções.

Pensei numa narrativa o mais simples possível que pudesse dar sentido ao embrace. O Brian podia ser próximo de qualquer personagem que o João fizesse.

 

A Sessão

Jack Bishop é um homem com uma forte consciência e um desejo de sempre fazer mais pelos outros. Nesta altura importante da sua vida, ele não consegue encontrar a paz de espírito necessária para descansar. Quando chega a noite, os seus pensamentos acendem-se. Sofre de insónias há já vários dias.

A sessão começa com o nascer do sol sobre o nevoeiro de Londres, uma vista que Jack aprecia da janela do seu quarto na igreja. Esse momento de silêncio é quebrado pelo som do bipper a tocar. Brian entra em contacto com ele e combina um encontro para logo à noite, dizendo que há alguém que ele quer lhe apresentar.

Jack segue ao longo do seu dia tentando concentrar-se apesar de tudo cada vez mais lhe parecer cinzento e ele precisar de olhar para o céu para distinguir entre a noite e o dia. Faz o seu serviço nas urgências e ganha alento com as pessoas que precisam dele. No entanto, chega ao fim do dia sabendo que esta noite, mais uma vez, não vai conseguir repousar.

Depois de jantar, segue para Victoria Embankement para se encontrar com o Brian. O colega espera-o na rua à beira-rio enquanto fuma um cigarro. Jack não vê mais ninguém e aproxima-se. Os dois conversam um pouco até Lady Marianne chegar. Jack vê chegar uma mulher alta, num belo e antiquado vestido preto com um cachecol branco que contrasta com o cabelo escuro. Marianne apresenta-se como alguém de considerável importãncia e confirma o seu interesse em conhecer o jovem padre.

Na sua inocência, Jack acha toda a cena estranha, mas é surpreendido quando Brian e Marianne se voltam contra ele. A vampiro liberta os seus caninos e Jack começa a gritar. Rapidamente, os dentes prendem-lhe o pescoço e os sentidos de Jack afundam-se. Marianne nota que o seu espírito é forte e o padreluta com todas as suas forças até se aperceber que está a morrer. Ou estará?

Jack recupera consciência dentro de um abismo de escuridão e sente-se a flutuar. Estará no céu ou no inferno? Ele sente que está dentro de água, talvez, mas há algo mais à sua volta, algo que o fez acordar. Não sentindo pressão nos pulmões, ele tenta não entrar em pãnico e nadar até à superfície. Desorientado, Jack demora a romper do abismo até ver que está por baixo do céu de Londres e que caiu no rio Tamisa. Manchas de sangue estão espalhadas pela água e chamam constantemente a sua atenção.

Jack segue o trilho vermelho até à margem. À beira do rio ele encontra um corpo. Um vestido negro e um cachecol branco. Ele aproxima-se e vê o rosto pálido e desfigurado de Marianne, morta e a esvair-se em sangue. Cortes ao longo do corpo mostram que ela terá sido assassinada.

Assustado, Jack sobe da margem até à rua e procura um telefone para chamar o 991. Quando se vai a dirigir para o carro, a voz de Brian chama-o e a figura dele aproxima-se. Um som estranho, baixo e oco começa a repetir-se. Jack vê que ele está manchado de sangue e parece ter estado envolvido numa luta. Um cheiro estranho sente-se no ar. Brian pergunta por Marianne e Jack aponta na direcção do rio. Na sua devoção pela sua senhora, Brian corre para ela e Jack segue atrás dele e, de súbito, ataca-o. Num repente de descontrolo, Jack apercebe-se que o som estranho é o bater do coração de Brian e que o cheiro é o seu doce e saboroso sangue. Longos momentos passam-se e Jack só vê uma mancha vermelha à frente e só sente um imenso vazio a ser saciado.

Quando toma consciência das suas acções, Jack vê o colega a desfalecer nos seus braço, o seu pescoço aberto e o seu sangue na sua boca. Em pãnico, vai a correr buscar o carro para levá-lo ao hospital. Quando se aproxima da viatura é abordado por dois rufias à procura de sarilhos, um punk e a sua namorada. Sem tempo a perder, Jack ignora-os mas é prontamente apunhalado no baixo ventre por um punhal gigantesco. Com tudo o que se passou, Jack está em demasiado estado de choque para se questionar porque é que a ferida não o afecta minimamente e ainda fica de pé. De repente, Brian surge do nada e espeta um pontapé no rufia mais próximo. Jack não faz ideia de como é que Brian ainda tem energias para isso, mas logo lhe abre a porta e entram no carro.

Guiando rapidamente pelas avenidas da cidade, a cabeça do jovem padre anda às rodas com o que está a passar e ele não consegue evitar ir contra um passeio e fazer um peão num cruzamento. Olha para o lado e vê que Brian está novamente inconsciente e muito pálido. Vai até à cabine daquela rua e chama uma ambulãnica, mas volta para o carro preocupado. Na sua experiência, Brian está às portas da morte. Subitamente, os olhos dele abrem-se e a sua boca tenta murmurar qualquer coisa. Jack não acredita quando Brian lhe diz "não há tempo a perder.. és um vampiro.. dá-me do teu sangue ou eu morro.. do teu sangue ou morro!". Em desepero, Jack tenta tudo o que sabe, mas nada fará a diferença e ele sabe-o. Numa última chance, ele decide-se a experimentar aquela loucura e corta o seu pulso para verter algum do seu sangue sobre a boca de Brian. Surpreendentemente, uma simples gota fá-lo recuperar em alguns segundos e mais algum sangue dá-lhe tempo de vida suficiente para chegar a ambulãncia.

Os dois seguem para o hospital. Mais tarde, Brian irá contar toda a verdade e Jack não irá acreditar.

Em menos de uma hora, esta história serviu para mostrar as principais imagens e questões de um embrace em Requiem, com espaço para experimentar o sistema em vários tipos de situações. Podia eventualmente ser adaptada a mais jogadores, mantendo o Brian como figura de ligação, mas acrescentando mais vampiros antigos e poderosos. Os vários PCs poderiam se conhecer há já alguns dias de algum bar onde se encontrassem a altas horas da madrugada, todos sofrendo de insónias.

Devo dizer que adorei jogar Vampire, apenas pecou pela curta sessão... :)

Fiquei de tal modo entusiasmado que na sexta à noite consegui o livro do World of Darkness e hoje, domingo, já li bem mais de metade. Acho o ambiente fascinante, a dar um cheirinho de Lovecraft e a mecânica descrita bem estruturada e intuitiva. Já vislumbro num futuro próximo uma crónica onde os jogadores vão estar algum tempo a jogar como mortais.

 





Evil never dies, it just waits to be reborn...

Como é que vais aguentar o desprezo da namorada Xana pelo Vampire e afins?! Se visses os olhares de descrédito que ele me mostrava quando na faculdade lhe falava de WoD! lol

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Estou a imaginar os olhares… :slight_smile:
Na verdade o horror não faz parte dos seus gostos mas julgo conseguir fazer com que pelos menos experimente, mas desde já estou confiante que não vai gostar… Tentar não custa…

:slight_smile:

Evil never dies, it just waits to be reborn…

Recomendo! É precisamente o que estou a fazer :wink: