Boardgames tipo-Americano: Cheios de Tema ou Ameritrash?

Sim, chamar nomes acaba por ser escusado. Pus Ameritrash no tópico como motivo de discussão porque há sempre pessoas que vêm boardgames tipo-Americano como ameritrash(Não neste portal, mas no boardgamegeek por exemplo).

Por mim, o meu boardgame favorito é um tipo-Americano, o Civilization/Advanced Civilization da Avalon Hill. O único boardgame que dou um 20 de 20. O meu segundo favorito é um tipo-Alemão, o Stephenson’s Rocket.

Avançando a discussão, a pergunta será, até que ponto vocês são influenciados a comprar um boardgame pelo tipo de boardgame? Ficam mais ou menos emocionados se o boardgame for tipo-Americano ou tipo-Alemão apesar de conhecerem pouco o boardgame? Até que ponto o tipo de um boardgame pode influenciar um boardgamer na sua compra?


“You can not escape me!” he roared. “Lead me into a trap and I’ll pile the heads of your kinsmen at your feet! Hide from me and I’ll tear apart the mountains to find you! I’ll follow you to hell!”

Caro meninobesta,

Absolutamente. Referia-me às designações Ameritrash e Eurosnoot que alguns usam para descrever jogos americanos ou europeus.

Desculpa-me o mal-entendido…

[quote=meninobesta]

Regras boas são também as que não permitem a um jogador que faça tudo certo ganhar sempre!

[/quote]

Dá-me ideia que esta frase implica os eurogames. Os eurogames não se ganham de forma assim tão linear só porque, teoricamente, não existe aleatoriedade. A aleatoriedade existe sempre que jogue mais do que uma pessoa num jogo com decisões a tomar.

Acho que o problema desta opinião reside mais ou menos no mesmo problema da citação (minha) de que os dados são demasiado influentes no resultado de um wargame. Eu, pelo que já entendi, não percebo nada (sublinho nada) de wargames, daí fazer a afirmação que fiz sobre o excesso de influência dos dados neste tipo de jogos. Mas também me parece que não se pode fazer a afirmação de que quem jogar sempre da mesma maneira ganha os eurogames, porque não é verdade. A não ser que o eurogame em questão seja um solitário e não responda humanamente.

Nos eurogames, falando do que conheço, as regras, para serem perfeitas, têm de ter equilíbrios que compensem o factor humano do jogo. Mas os jogadores não são iguais e as opções, em função disso, também são sempre diferentes. Se as regras fossem perfeitas, os jogadores não seriam humanos.

 

 

Eu acho que algum pessoal dá muita atenção à “sorte” dos dados/carta/tiles/whatever e se esquece do resto. Um wargame onde se lança um balde de dados para se fazer um ataque ou uma defesa pode ser menos aleatório (e é curioso que quantos mais dados se rolam, menos aleatório acaba por ser no final!) do que um jogo multi-player todo hip e moderno, sem dados, sem cartas, sem tiles voltadas para baixo e sem outros elementos aleatórios… neste último jogo, o Gustavo calhar sentar-se à direita do António ou à esquerda do Celestino, pode ser o factor decisivo que me vai permitir a mim ganhar o jogo; ou então, o Celestino na jogada tal decidir atacar/bloquear o Gustavo pela razão X em vez de me fazer o mesmo a mim pela razão Y, pode ser o que vai decidir se eu venço o jogo ou se vence o Celestino, etc.

É exactamente o que o Paulo disse: basta haver mais do que um jogador a jogar para o jogo ter um elemento aleatório e imprevisível bem considerável. Há é por aí muito boa gente que se esquece disso (e dos outros elementos aleatórios dos seus jogos favoritos que supostamente não têm “Factor Sorte”) e que devia ser obrigada a ler isto pelo menos uma vez:

  1. https://boredgamegeeks.blogspot.com/2005/11/problem-with-luck.html

  2. https://boredgamegeeks.blogspot.com/2006/03/problem-with-luck-ii.html

Obviamente que haverão jogos “maus” em que more often than not qualquer gajo pode ganhar a jogar de olhos fechados porque tem a sorte do seu lado, mas tipicamente a grande maioria dos jogos, especialmente os “bons”, recompensa quem se precavê e planeia melhor, quem sabe minimizar os revezes da sorte e aproveitar ao máximo as benesses, etc. Ter dados, ou cartas, ou tiles face-down, ou o que for, por si só não significa nada, absolutamente nada. O que interessa é o jogo como um todo.

Eu tenho uma análise acerca dos factores de sorte. A análise é simples, existem factores de sorte inerentes às mecânicas do jogo e factores de sorte inerentes à natureza dos boardgames em si.

Os factores de sorte inerentes às mecânicas de jogo são os que mais se falam, são os dados, os tiles, as cartas sacadas randómicamente, enfim, são todas as variáveis que estão definidas pelas regras do jogo e devem ser usadas durante o jogo devido ao facto de aparecerem nas regras. São o rolar dos dados para saber que bens nos calha no Catan, são o sacar dos tiles no Euphrat&Tigris, são os bens distribuidos nas cidades do Age Of Steam.

Os factores de sorte inerentes à natureza dos boardgames são os factores de sorte que, seja qual for o boardgame que jogamos, existirão sempre. E eu nomeio os dois factores mais importantes, que são os próprios jogadores e, com menor importancia, a posição dos jogadores na mesa de jogo. Os jogadores são o maior factor de sorte de qualquer jogo, e isto é universal para qualquer boardgame. Porquê? Porque nenhum jogador joga igual, nenhum jogador repete perfeitamente o mesmo jogo noutra sessão, todos os jogadores fazem algo inesperado algures durante o jogo, às vezes durante o jogo todo, somos todos duma maneira ou doutra imprevisiveis. A natureza psicológica humana é o maior factor de sorte de um boardgame, seja ele de que tipo for. A posição dos jogadores é menos importante, mas importante à mesma, pois um mau jogador, um jogador que não percebe a estratégia de um jogo, acaba por beneficiar ou prejudicar bastante o jogador a seguir a ele. Claro que num grupo com bons jogadores, a posição não se torna um factor muito decisivo, mas com um mau jogador torna-se. E, afinal, não há ninguém no mundo que seja um perfeito jogador em todos os jogos.

Esta é a minha análise.

E isto é fixe, porque já tenho tópico para o debate pro mês que vêm. :smiley:


“You can not escape me!” he roared. “Lead me into a trap and I’ll pile the heads of your kinsmen at your feet! Hide from me and I’ll tear apart the mountains to find you! I’ll follow you to hell!”

É engraçada a volta que este assunto - a designação Ameritrash e suas implicações - deu até virmos bater na tecla da importância do factor aleatoriedade.

Ontem (Domingo) à tarde ouvia um episódio do podcast do Mark Jackson (Boardgames to go) onde ele, a propósito de jogos abstractos com componentes de madeira, abordava esta questão que agora nos aflige.

Mas o MJ fala noutros termos: Jogos com informação total e jogos com informação parcial. E parece-me mais ajustada esta terminologia, já que, como vocês dizem, o primeiro factor aleatório nos jogos são os próprios jogadores, e o que faz realmente a diferença é o facto de os jogadores terem toda a informação à partida (como por exemplo no xadrez ou no Hey! That’s my Fish!) ou não, como nos jogos em que parte da informação é oculta (tiles no Carcassone, dados no Catan, cartas no Magic, etc).

Deste modo, penso ser mais fácil “catalogar” os jogos, já que se coloca em termos objectivos essa coisa esquisita que se dá pelo nome de “aleatoriedade”, ou “sorte”.

Não digo que os Eurogames não tenham aleatoriedade - cada jogador toma decisões, faz estratégias, etc. O que têm, na minha opinião, é um método muito preciso para ganhar, o que vem das regras simples e pensadas.

São raros os Eurogames que vi que tenham mais que um método para ganhar. Geralmente a nossa experiência com os Eurogames consiste em “quebrá-los” - descobrir como se ganha, o que é muito divertido. Andamos agora a quebrar o Pompeia e o El Grande. Mas depois de quebrado, toda a gente se agarra ao tal “método” e os jogos têm pouca variação.

Não quer dizer que quem jogar sempre da mesma maneira ganha sempre. Quer dizer que quem aplicar uma estratégia boa vai ganhar de certeza.

Os Amerigames em geral permitem volte-faces maiores e não deixam que um gajo com uma boa estratégia se sinta confortável. Em vários podes ter dominado o esquema todo, mas um ataque levar-te abaixo muito depressa. Andamos agora a jogar o “War on Terror”, que tem volte-faces muito rápidos - quem está à frente é bom que ganhe depressa porque pode ir para último num instante.

Ou seja, não é tanto que os Amerigames sejam muito aleatórios. Eu acho é que eles permitem, em geral, mais mudanças no estado do jogo, mesmo quando este já se encontra avançado, que os Eurogames.

Notem que os meus jogos favoritos dividem-se entre os dois “tipos”: Junta, Funkenschlag, Cults across America, Goa…

Cumps,
JP

PS: Uma observação interessante:

No último sábado tinhamos duas mesas de jogo, uma com um Eurogame - Pompeia - e uma com um Amerigame - War on Terror.

Na mesa do Eurogame (onde eu estava) jogava-se em silêncio, com concentração, fizemos 3 jogos em hora e meia e fomos ver a outra.

Na mesa do Amerigame jogava-se aos berros, o jogo levou três horas e toda a gente achou muito giro mas foi pena ter-se arrastado :stuck_out_tongue:

Vocês notam atitudes diferentes em relação a estes jogos? Porque eu já reparei que genéricamente jogo um Eurogame mais concentrado e com uma estratégia mais coesa; genéricamente jogo um Amerigame mais solto, com tácticas mais improvisadas e mais arriscadas. Será intenção dos designers? :wink: