Circuito Fechado: Campanha online de Cyberpunk 2020

Aviso: Esta campanha aborda temas que podem ser considerados sensíveis (sexo, drogas e violência gratuita), além de conter linguagem obscena. Se continuarem a ler, estarão a faze-lo por vosso conta e risco não podendo responsabilizar os membros da campanha.

  • Julius - (Medtech) É um médico que trabalha por altruísmo e aproveita para retirar órgãos não essenciais aos seus pacientes.
  • Angel - (Fixer) É um negociante que preferindo lidar com informações é obrigado a rebaixar-se a negociar por vezes com drogas e armas
  • Mack - (Solo) Militar expulso por comportamento insubordinado com um superior, vai alugando os seus serviços, embora prefira trabalhar com pessoas de confiança.

Prólogo
Sexta-feira, 20 de Julho de 2018, 22h30

Que merda de trabalho!Poderiam estar neste momento num bar a beber uns copos, a engatar umas gajas, enquanto lhes contavam as suas últimas proezas. O problema é que sem dinheiro dificilmente os deixariam entrar no bar. Ou beber qualquer coisa. E a "Happy house family", empresa dona do apartamento onde moram era capaz de não achar muita graça se amanhã não lhes pagassem a renda. Claro que chamar apartamento a uma antiga sala de aula de um liceu (antigo Ronald Reagan High School) que foi privatizado e transformado num RBC (residência de baixo custo) é capaz de ser exagerado, mas pronto, é melhor do que morar numa zona de combate, com gangs a atirar granadas pelas janelas e os vizinhos a tentarem tirar-vos as botas durante o sono.Mas o que tem de ser, tem de ser. Mesmo assim entrar numa zona dos subúrbios que está vedada por arame farpado por conter detritos químicos "passíveis de serem nocivos à saúde", só para comprarem droga para uns gajos que nem conhecem não é nada agradável. Esperando que o gang "horda dos gafanhotos canibais" se portasse decentemente, e lhes vendesse a droga sem grandes chatices, olharam para a cerca.

Começo

Com os seus óculos de visão nocturna olharam para o interior da vedação que caiu: a área sendo muito extensa, estendendia-se para os lados e para a frente sem se vislumbrar o fim; no chão de terra batida podiam observar tinha marcas de pneus.

Julius Saffranys maldisse a sua vida por ter trazido as suas melhores botas para este lamaçal. Com cuidado, arregaçou as calças para os fundilhos não se sujarem. Ao dobrar-se, observou as marcas dos pneus e perguntou-se quantos carros diferentes teriam passado por ali e de que tipo serão. Colocando as suas luvas e observando as marcas concluiu que eram uma boa dúzia e que tinham passado recentemente. Virando-se para Mack, disse com ar preocupado:

- Achas que estamos em perigo? Será que nos querem roubar ou basta irmos ter com os mecos?

- Toda a gente quer roubar toda a gente, é o mundo em que vivemos, se o fazem ou não é apenas uma questão de oportunidade e neste caso acho que eles têm todas as oportunidades do mundo, por isso deviamos preparar um plano. Um de nós devia ficar para trás e esconder-se para oferecer fogo de cobertura enquanto os outros vão falar com os tipos, algum voluntário?- disse com ar sarcástico

MackAngel interveio então:-Não há aqui ninguém que devamos temer; vamos entrar devagarinho e esperar que venham ao nosso encontro. Ah, e podes tu ficar para trás; se ficar eu, mais ninguém conseguirá falar com eles.

Mack assumiu a dianteira e engatilhou a sua Arasaka, tentando colocar-se num ponto onde conseguisse facilmente notar a aproximação de alguém sem no entanto notarem na sua presença.-Que esterco... o que eu dava para estar agora num daqueles bares fétidos do Laos, o cheiro e a aparência é a mesma, mas ao menos as gajas sempre são mais imaginativas hehe.

Angel olhou em volta, sem nunca tirar os óculos da cara, tentando perceber quais seriam os melhores locais para uma emboscada... é sempre bom estar preparado. Com o melhor sorriso Pepsodent e um leve toque na gabardine na zona onde guardava a Sternmeyer, disse aos parceiros:-Entramos?

Avançando cautelosamente, o grupo foi em silêncio na direcção central. Aos poucos a terra batida árida foi dando lugar a vegetação, e depois entraram em terrenos cultivados. Começaram então a ouvir gente a lamentar-se até distinguir umas cabanas feitas de metal, papelão, madeira e gente a chorar.Irritado por ter de andar tanto, Angel acabou por exclamar:-Raios, devíamos ter vindo de helicóptero. Já tínhamos visto os tipos por esta altura.

Julius ignorou-o intrigado com os choros e os lamentos e apurou o ouvido e ajustou os óculos. Durante alguns segundos a sua mente concentrou-se em tentar identificar os seres humanos, as condições e os motivos para a lamentação colectiva. Acabou por ver um grupo de Mexicanos (homens, mulheres e crianças) que estavam a berrar porque uma parte da colheita fora destruída por algo que lhe passara por cima. Angel e Julius estavam a preparar-se para ir ter com os desconhecidos, quando foram detidos por Mack que lhes sussurrou:

- Oh raios partam, o que é que foi agora? Já não bastava o sítio manhoso onde temos que ir fazer a compra, agora também temos que lidar com mais histerismos! Caga nessa malta, vamos fazer o que fomos contratados para fazer e bazar daqui o mais depressa possível. Se quiserem podemos voltar a para falar com eles depois e se o negócio correr bem. Vejam só se eles nos dizem alguma coisa útil sobre o quê/quem/quantos se passou por aqui e siga para bingo.

- Pode haver feridos, que temos o dever de ajudar! E, além disso, Mack, não achas que eles nos podem dar alguma dica útil? Mas, se não queres, podes ir batendo o território enquanto eu e o Angel lhes damos uma mãozinha. O que te parece?- Que se danem os feridos, ninguém nos pagou para tratar de feridos, só do pó mágico, por isso é como eu disse, vejam se eles têm alguma info sobre o quê/quem/quantos é que passou por aqui e vamos tratar do negócio o mais depressa possível, tenho um sentimento muito mau em relação a este negócio e não devíamos estar a arriscar a nossa vida desta maneira- disse Mack.

Angel começou a ficar nervoso com a discussão, pois os seus companheiros estavam a começar a ficar muito excitados e podiam ser detectados a qualquer momento e decidiu intervir:

-Escutem: esta gente que aqui está, provavelmente é ela que faz o pó. Podemos de certeza usá-los em nosso proveito, mais um ou outro contacto nunca fez mal a ninguém, certo?A contragosto, Mack acabou por concordar. Contrariado e engolindo uns quantos insultos para não chamar a atenção, Mack resigna-se e segue os companheiros, mas sem nunca baixar a guarda (ou a mão da arma), olhando com atenção cada um dos mexicanos e o que está a passar em redor para não ser apanhado desprevenido.

Julius avançou na direcção do grupo que berrava e chorava, tentando parecer o mais calmo e interessado possível. Ao mesmo tempo, o seu olhar analisava cada um dos indivíduos, tentando perceber quem era o líder de facto.J

uan estava desesperado: com uma parte da colheita destruída, como fariam para alimentar os membros da comunidade? Subitamente, coyotito, berrou-lhe que estavam estranhos ao pé deles: viu então 3 homens de aspecto duro, de olhos tapados com óculos estranhos e armados, que se movimentavam como se fossem senhores de tudo; seriam do governo? Juan afastou a hipótese rapidamente pois as suas roupas não condiziam. Também não pertenciam a nenhum gang, ou já teriam desatado a bater em alguém e agarrado nas raparigas, ou mesmo disparado. Um dos gringos, bem vestido, aproximou-se e fazendo uma careta e dirigiu-se a si.

- Bom dia, desculpe incomodar. Estávamos a passar por aqui e pareceu-nos que estavam com alguns problemas. Precisam de ajuda? Juan viu o gringo fazer outro esgar, até que se apercebeu que ele estava a sorrir, tendo as feições deformadas pelos óculos; este perguntou-lhe se precisavam de ajuda. Ainda desconfiado respondeu-lhe:-Muchas gracias senõr, mas não vejo o que podeis fazer; um bando de jovens entrou com os seus carros para ir comprar "material" aos gafanhotos e passaram por cima das nossas colheitas. Pelo menos ninguém ficou ferido- disse com um suspiro.Julius abanou a cabeça, indignado.

- Incrível! Esta gente faz o que quer e não presta contas a ninguém! Mas esses jovens passaram à muito tempo?
Julius acrescentou, vivamente interessado:- E quem são esses gringos que atraem tais visitantes! -Os meninos ricos passaram há uma hora atrás; eles costumavam ir por outro buraco da vedação, mas parece que decidiram fazer o seu próprio buraco. O bando que atrai as visitas não são de gringos, são um bando de asiáticos que se chamam de gafanhotos canibais, que nos proteja la Madre de Dios- acrescenta benzendo-se. -Eles vendem coisas aos meninos ricos que aparecem por cá, organizam jogos e corridas, mas deixam-nos em paz, desde que não nos metemos nos seus negócios e é isso mesmo que fazemos.

Angel aproxima-se dos mexicanos, tentando não dar muita barraca pelo seu ar de menino que poderia ser confundido com os dos meninos ricos da droga.

-Vocês deviam organizar-se, defender-se, talvez arranjar armas ou protecção. Tenho certeza que a vossa... pequena comunidade... poderia prosperar, se o fizessem. Nós podemos faze-lo, sabem?

-Para isso seria preciso ter muito dinheiro e nós somos uma comunidade pobre! O que cultivamos dá para comer e vender um pouco, mais nada. Só se aceitassem receber milho?- Diz Juan esperançoso... -Ou algum do produto que cultivamos?

Mack levantou o sobrolho:- Exactamente o que é que vocês cultivam... ?

-Oh, nada de especial, apenas plantas tradicionais- diz com uma piscadela de olhos- como marijuana e coca. O problema é que os produtos sintéticos são muito mais baratos, e nós usamos isto só para consumo caseiro e para as vizinhanças.Dando-se uma rápida troca de olhares entre o grupo, e concordando, Angel diz:

-Nós não somos cavaleiros de armadura que vos vêm salvar. Nós temos uma missão pela frente que devemos cumprir, como as últimas pessoas honradas neste mundo. Mas iremos voltar, para vos ajudar, disso podem ter certeza. Iremos ensinar-vos a combater, e a ser fortes perante a adversidade. Aceitam, amigos?Juan olhou para eles desiludido.

-Bem, ficaremos à vossa espera então. Só tem de seguir em frente que os encontrarão forçosamente.

O trio lá seguiu na direcção indicada. A princípio iam sendo atrapalhados pela vegetação, mas depois esta desapareceu voltando o chão a transformar-se numa poeira que lhes invadia os pulmões; apenas Mack que tinha uns filtros respirava sem dificuldade. Uns 20 minutos depois começaram a ouvir ruídos de motores, depois puderam ver fogueiras feitas em bidons, e finalmente gargalhadas.

Aproximando-se cautelosamente, viram um espectáculo surpreendente: numa grande clareira de terra batida, grupos de jovens com aspecto de serem ricos (elas 16-18, eles 17-21) a fazer corridas de carros e o barulho dos motores mostra a sua qualidade: Toyota Avante, Mazda-Luxus 14, apenas o melhor. Os jovens bebiam cerveja, enquanto faziam piões levantando nuvens de poeira, com a assistência a fazer apostas e a beijar-se. E no meio dessa algazarra toda, está um gang de asiáticos a vigiar; contaram facilmente 11 membros: tinham acabado de encontrar a "horda dos gafanhotos canibais"."

Mack exclamou então:- Oh cum caralho, parece que deslargaram aqui uma visita de estudo... Esperem por mim aqui, vou voltar para trás e buscar o carro, assim se tivermos que sair à pressa é mais fácil.

Esperando uns ¾ de hora, Angel e Julius observavam a festa: casais a afastar-se e outros a comprar droga aos "gafanhotos" e 4 carros de cada vez a fazer corridas. Depois do que lhes pareceu uma enormidade de tempo sentiram o som do seu carro a chegar. Mack, tirou a cabeça de fora e exclamou:- Ok eu vou deixar o motor ligado, só para o caso temos que fazer uma fuga rápida eu acendo os máximos para incadear o pessoal e dou-vos fogo de cobertura enquanto vocês sobem, depois bazamos o mais depressa possível. Se correr tudo bem basta subirem e depois vamos embora.- Vamos despachar isto.

Mas Angel respondeu:-Que dizem a engendrar-mos um plano pra ficarmos com o circuito de corridas ilegais?-Temos os mexicanos de um lado, podemos tentar convencê-los a ser o nosso exército nisto. Depois, temos os putos bêbados e drogados mesmo aqui ao pé, também não deve ser dificil de os convencer. Ver qual é o lider dos gajos, desafiá-lo pra uma corrida, viciar a corrida e ao mesmo tempo convencer o resto do gang, quando o lider está longe, que um de nós (eu!) é melhor lider que o outro. Mesmo que o gajo ganhe a corrida, quando voltar é para descobrir que não tem gang. Ou durante a corrida, um tiro na carola deve ser suficiente. Usar as duas comunidades para produzir droga sintética E droga natural, e vender tudo, usando os putos mexicanos para vender nas ruas, e as gajas para vender nas empresas. Montar um site para vender tudo online.

-Concordo com fazer tudo isso depois de tratarmos do negócio do outro, só para depois não termos à perna, e quando digo "depois" é na onda de entregar as drogas, receber a guita e voltar imediatamente para aqui tratar disso hehe-disse Mack.

Mack ficou então em posição de tiro, enquanto os seus colegas avançavam.

Han acabara de receber o dinheiro da próxima corrida quando ouviu um burburinho: pensou que começara mais uma zaragata e não ligou. Subitamente apercebeu-se que vários dos membros do seu gang rodeavam e escoltavam de forma nervosa 2 homens que olhavam de forma fria para ele; um deles vestia-se como se estivesse pronto a ir a um pic-nic, o outro era nitidamente um fixer; espicaçado na sua curiosidade mas furioso com os seus homens por não o terem avisado primeiro e o deixarem ser apanhado desprevenido, perguntou da forma mais severa possível:-Quem são vocês, e o que fazem no território dos gafanhotos canibais?

Angel colocou-se entre os seus amigos e os gangsters, de modo a mostrar que não tinha medo deles e que não era nenhuma ameaça para o gang.

-Eu sou Angel e falo por todos. Temos hora marcada. Vimos buscar o produto.

Ah! Já sei quem são- disse Han nitidamente aliviado por um momento; depois de uma pausa para enxotar um bando de jovens que queriam fazer mais apostas retomou:-Infelizmente tenho más notícias para vocês: eu só posso vender duas doses por pessoa, condições do meu fornecedor. O que dá 1200$ no total por 4 doses.

Subitamente ouvem um berro:

-Ei, chinoca, deixa esses drogaditos e anda receber as apostas de homens a sério! Observam que o insulto foi lançado por um jovem alto (1.85), louro, músculos hiper desenvolvidos (Esteroides? Músculos artificiais?) cujo olhar denota que já levou a sua dose de álcool, agarrado a uma jovem loura (pintada?), baixa, de aspecto assustado mas de peito anormalmente grande e decotado de onde o jovem tem uma das mãos.

-O nosso empregador falou com o teu chefe antes, por isso é que estamos aqui. O combinado entre eles foi $6000, 20 doses. Vais chamar mentiroso ao teu chefe ou vais dar-nos o que viemos cá buscar?

-20 DOSES? Estão doidos? Isso é o dobro do que recebo por dia! Já vendi 6 à malta que está por aqui espalhada e...

- Fodasse! Deixa-te de conversas! Quero correr e estou farto de te ouvir!- Diz o louro alto- Ou eles vão correr também?- Pergunta com um súbito interesse.

-Eles? Que eu saiba não.- diz Han. Depois diz baixinho para Angel:-Olhem, ele tem duas das doses, se quiserem tentar que ele vos vende, podem experimentar embora duvide. De qualquer modo...

-Ouve cara de boneca, trata dos teus negócios depois e deixa começar as corridas- disse para Angel o louro

-Eu estou a tratar dos meus negócios. Quanto menos for interrompido, mais depressa me despacho, e mais depressa vocês podem voltar para as vossas corridas. É do vosso inteiro interesse que eu me despache, como vês. O teu amigo Han é que parece ter-se esquecido do que os nossos patrões combinaram. É ele que está a impedir as vossas corridas. Depois volta-se para o Han, retirando o sorriso e fazendo um cara fechada de negócios.

-Não sou eu que imponho as condições. Estas foram acordadas pelos nossos chefes. Eu sou apenas um correio e não vou sair daqui enquanto não tiver as doses combinadas, e estes senhores não vão começar as suas corridas enquanto nós não fecharmos negócio. Neste momento, Han meu caro, estás a impedir que o meu negócio e a diversão deles se concretizem. Não estás a ser parte da solução, mas parte do problema. Percebes?

Han estava visivelmente nervoso, e hesitou antes de falar. Depois, subitamente decidiu-se e começou:

-Eu sei o que o meu chefe combinou com os vossos superiores, mas Ele foi perentório: duas doses para cada pessoa sem excepções. Se Ele descobre que vendemos mais do que o acordado, as nossas vidas não valem um cêntimo furado, e não vai ser o meu chefe a poder fazer seja o que for.

Subitamente o louro interpõe-se e diz:- Epa se estás com tanto medo, faz-se uma aposta: faz-se uma corrida e se eles ganharem, levam as drogas, deixam o dinheiro e tu dizes que foi a malta toda que comprou. Se eu ganhar, faz-se a mesma coisa, só que eles pagam-me bebidas até eu cair pro lado.Han não parece muito convencido. Mas ao fim de algum tempo diz:

-É preciso que ninguém saiba disto, vocês aceitam?Angel revê mentalmente a lista de contactos, para perceber quem é Ele, que não é, aparentemente, o chefe dos chinocas, e da maneira como pode chantagear cada um deles com esta informação.

-Han, não foi o teu chefe que combinou a encomenda? Porquê esta recusa agora? Estamos todos a perder tempo.Depois vira-se para o gigante louro, e torna a fazer o seu sorriso:

-Tenho uma contra proposta: se nós ganharmos, ficamos com as doses combinadas, pagando por elas como combinado, e vocês (aponta para o louro) devem-nos um favor, a ser cobrado mais tarde... se vocês ganharem, levamos as drogas, pagamos, e enchemos-te de cerveja até acima, tal como propões. Que dizem todos?

-Na boa meu, vamos correr?-Dizendo isto dá-te uma palmada no ombro que quase deitou Angel abaixo.

-Pronto-diz Han- vamos então fazer os preparativos. Pegando num velho megafone, berrou para a multidão:

-Malta, houve uma alteração: teremos uma corrida entre Roger "Winds" e os cavaleiros misteriosos. As apostas e o percurso funcionam como de costume só que reduzido a dois grupos; a corrida começa dentro 10 minutos. A multidão ficou completamente esfuziante com a notícia: finalemente uma nova distração.

Julius olhou para os companheiros e depois encarou a escumalha que os rodeava.

-É mesmo um mundo cão este- pensou.

-Vamos! estava a ver que esta missão ia ser mais uma seca hehe- diz Mack todo satisfeito também

A multidão estava aos gritos: finalmente um pouco de emoção! Han não conseguia fazer-se ouvir enquanto os retardatários lhe tentavam fazer chegar à mão o dinheiro das apostas a gritar valores. Nuvens de poeira levantavam-se no ar enquanto os carros eram aquecidos, e ambos os pilotos tinham já gotículas de suor a escorrer, tremendo de excitação.Finalmente Kiwa deu o tiro de partida com um foguete de sinalização e deu-se o arranque. Julius colocou-se no assento do condutor, mexeu os dedos e os pulsos para garantir que eles estavam na máxima flexibilidade, descontraiu o pescoço e inspirou e expirou fundo.
Ia ser pesado. Julius fechou os olhos e surgiu-lhe a figura da mãe, a velar por ele. Sorriu e ligou o motor. Os carros com um rugido deram um salto para a frente; mas o carro de Wingsn parecia efectivamente voar para a frente e ultrapassou em muito o de Julius; imediatamente o co-piloto de Wings pôs-se a mão de fora esticando o dedo médio. Julius gritou:
- Foda-se, Mack! Andas a ver mamas ou quê? Olha para o caminho!
E, suando copiosamente, levou o acelerador ao chão.De repente Mack berrou a Julius: -Cuidado com a puta da curva! Vira à esquerda! Julius apenas viu uma nuvem de poeira e um barulho de chiadeira de pneus a travar e deduziu que seria o carro de "Wings" a travar; rezando para não bater em nada guinou com toda a força à esquerda ficando ao nivel de Wings que entretanto já estava a retomar a marcha.

Mack agarra-se a todos pontos de apoio do carro que conseguiu durante a curva para não ser cuspido.

- É carapau! até parece que tem fogo no rabo hehehe.- Curte só, o gajo está dentro de alcance, vou só dar-lhe um beijinho nos pneus com a minha Minami para ver se ganhamos vantagem a sair da curva.

Mack abriu então a janela e apontando para o pneu dianteiro fez a melhor pontaria possível: apesar dos carros estarem aos solavancos e em andamento, conseguia ver tão bem como o durante o dia além da mira telescópica; e havia quem o tivesse criticado por ter colocado um olho cibernético! O tiro correu melhor do que o esperado: todo o pneu saltou e viu Wings a tentar manter algum controle sobre o carro, enquanto este começava a deslizar para os lados como um louco; mas ao fim de pouco tempo, Wings lá conseguiu recuperar o controle: devia ser mesmo um ás! Mas já estava para trás e com um pneu a menos.Julius entretanto apanhara com o coice de Mack, mas estando a contar reduzira ligeiramente a velocidade antes de acelerar novamente aproveitando a vantagem

- Viste aquilo?! os gajos até levantaram voo! Aproveita a vantagem e mete esta carripana a cuspir fogo pelo cu como um foguetão com cio!! ... E cuidado com aquela pilha de electrodomésticos ali à frente.

Julius aproveitou o facto de estar numa recta para acelerar mais; de repente ouviu tiros e percebeu que o seu perseguidor estava a disparar contra ele, mas nenhuma bala os acertou; provavelmente estar num carro aos solavancos não ajudava. Mantendo o pé no acelerador olhou no retrovisor e já quase não via os farois mas lá ao fundo já via a meta. Julius mordiscou o lábio inferior.
-Sacanóides...
Mas os olhos brilhavam.Seguindo a alta velocidade e segundo as indicações de Mack, lá terminaram a corrida; um pequeno grupo estava histérico de alegria, a maioria estava visivelmente chateada, o que mostrava que muita gente saíra a perder das apostas desta corrida. Finalmente Julius e Mack saíram do carro no meio das nuvens de pó e foram ter com Angel e Han e disseram-lhes:

- Ha!

Mack faz um pequeno moonwalking assim que chega ao pé dos outros dois, encostou os seus lábios à sua arma e pregou-lhe um violento beijo.

- Esta é a minha Minami! se pudesse casava com ela hehe e tu também não conduziste mal Julius, dando-lhe uma pancada violenta no ombro - Nós fizemos a nossa parte, agora é a tua vez. Apesar da sua aparência exaltada e descontraída, Mack não quer tirar os olhos das pessoas que o rodeiam, principalmente dos outros concorrentes e do pessoal do seu gang para poder agir caso eles queiram ajustar as contas de outra maneira.Julius limpou o suor do rosto e das mãos.
- Safa! As coisas em que me metem vocês!Depois, girando ligeiramente sobre si, Julius encarou o líder dos gafanhotos.
- Então?

Han está a acabar de contar um enorme maço de notas das apostas, e finalmente virou-se para o grupo e disse:

-Sigam-me.Andando um pouco (acompanhados por 3 membros do gang), chegam a uma carrinha completamente desfeita; ele entra, remexe um pouco e lá sai com um saquinho onde estão comprimidos brancos. Ele conta-os e são 18.

-Bem, um acordo é um acordo: 18 doses por 5400 dólares; é tudo o que efectivamente tenho. E só faço isto porque tenho bom coração, pois vou ficar sem qualquer margem de lucro, mais valia vender ferro velho. E sobretudo não digam a ninguém que levaram esta quantidade de produto.Ele indica que o negócio está concluído.Mas Angel não se dá por vencido:

-Han, meu caro, vou ser honesto contigo: tu tens potencial. Vejo em ti um homem com habilitações, mas que estão a ser mal usadas e aproveitadas, estás perdido aqui, sabes? Precisas de orientação, e eu sou mesmo o tipo indicado para isso...Han, franze o sobrolho e depois responde:
Sou o número 2 da horda dos gafanhotos canibais, nenhum outro gang se atreve a entrar no nosso território e somos um dos poucos que vende "casca de ovo", ganhamos montes de dinheiro com as corridas, achas pouco?

-Não duvido que assim seja, acredito na tua palavra, mas sabes, não tem nada a ver com o que acabei de testemunhar: aquele loiro parecia ter-te encostado às cordas, amigo! E se, em vez de seres o nº 2, fosses o nº 1? E se, em vez de apenas estas corridazecas de quintal que ninguém conhece, fosses parar ao circuito de corridas da Cidade? E se, em vez de venderes "casca de ovo" a 2 ou 3 pessoas, vendesses para centenas ou milhares? Estamos a falar de aumentar em 1000% os teus ganhos, Han. Fazemos assim, quando quiseres falar comigo, sabes onde me encontrar.

Julius encolheu os ombros e virou costas, deixando os outros dois com os seus negócios. Os seus olhos estavam atentos e o rosto calmo. Mas a cabeça ocupava-se em múltiplas contas dos lucros.
- Até dá para comprar uma lembrança para a mãe - pensou.

Lentamente o trio arranca no carro, sendo sacudidos pelos imensos buracos no caminho; saem a princípio mantendo o ar profissional, mas depois vão relaxando: conseguiram cumprir o trabalho sem arriscar a pele seriamente! Os montes de entulho até são engraçados e as cabanas dos mexicanos parecem mais pitorescas. Passam pela vedação e pelo letreiro que diz "Zona tóxica- proibida a entrada a pessoal não autorizado e devidamente equipado, a Petrochem não se responsabiliza por danos na saúde dos prevaricadores que serão punidos de acordo com a lei".
Seguem pela estrada não vêem luzes, não havendo um único poste de iluminação que ainda funcione; rapidamente deixam a zona morta e entram na cidade.
A transição é abrupta, mas como entram pela antiga zona industrial, continuam a não ver luzes ou carros, apenas carcaças de edifícios. Passam pela zona de combate o mais depressa possível (mesmo sabendo que aquela hora, os gangs devem estar a ter mais do que fazer do que combater nas ruas) e seguem para a zona central. Aqui estão já em zona civilizada: lojas, escritórios, bares, quiosques e barraquinhas, centros comerciais e as omnipresentes luzes de néon. Mas acima de tudo, carros e pessoas nas ruas.
A humanidade em todo o seu esplendor: vendedores ambulantes de comida tailandesa, pregadores, simples transeuntes, prostitutas à espera de clientes, empregados de escritório que saíram mais tarde ou vão à procura de divertimento, fixers que tentam passar droga, polícias de corporações que mantém a ordem. São 2h da manhã, mas aqui na zona central de Night city é como se fosse meio dia. E eles sabiam exactamente onde dirigir-se: ao bar "cavalos em fuga", onde vão actuar os detritos radioactivos. Nada como um pouco de divertimento depois do trabalho.
Estacionam o carro, seguem a pé e saboreiam os aromas urbanos. Entrando no bar, passando à frente de uma fila de adolescentes frustrados (o porteiro já os conhecia e eles sabiam que com o prémio que aí vinha, podiam gastar os últimos tostões), sentam-se numa mesa do lado direito: é onde se senta a gente séria, que tem reputação na rua. Cumprimentam um par de caras conhecidas, e subitamente Julius que ligou o seu telemóvel, vê que tem 15 chamadas da parte da mãe.Ao ligar, o aparelho, Julius vê o rosto da mãe e ouve a mensagem:

-Filho onde estás? Novamente com as galdérias, não é? E para isso deixas a tua pobre mãe sozinha e assustada à mercê de delinquentes que podem assaltar a minha pobre casinha para me roubar. Mas deixa estar, não te incomodes, já sei que esta é a minha triste sina, ser desprezada por aquele a quem tanto me sacrifiquei- (nesse momento ela pára para se assoar e limpar uma lágrima). -O que vale é que embora estejas a apunhalar o pobre coração da tua mãezinha, ela continua a amar-te e a fazer tudo por ti. Falei com a minha vizinha da vida desgraçada que tu levas e ela teve pena de mim. Falou com o filho dela, esse sim, tem um trabalho a sério numa grande empresa, e ele como é boa pessoa, concordou dar-te a ti um trabalho honesto, e ele é tão boa pessoa, que pediu que trouxesses os teus amigos. Já não há pessoas assim! Tens aqui o número dele, liga-lhe assim que puderes, mas sobretudo, telefona à tua pobre mãe para ela poder morrer em paz.

O rosto da sua mãe desapareceu, indicando que a chamada terminara.