Coisas que os GMs fizeram que os jogadores lhes quiseram bater com uma mesa

Aqui está o reverso da medalha prometido na thread irmã - vocês sabem qual é. É feita com propósitos humorísticos e de boa disposição. Infelizmente, devo ter tido muita sorte com os GMs que tive, pois não me ocorre nenhuma bácora valente digna de ser contada nesta thread o suficiente para fazer rir ou pelo menos exclamar "Oh, meu Deus!!". Pelo menos, não em primeira mão, e é isso que procuro aqui e na outra thread - situações que tenhamos experimentado, e não coisas que nos contaram. Tenho a certeza que a maioria de entre vós não terá tanta sorte como eu com os GMs, e mesmo GMs (e jogadores, mas isso é para a outra thread) excelentes às vezes saem-se com cada uma - nenhum de nós está a salvo do fumble ao skill, não é verdade?

Paz, humor e muitas gargalhadas.

Verbus

Shadowrun 1ª edição (1990). O GM era um daqueles tipos que insistia em seguir à risca todas as regras do manual. E com isto digo, quero dizer, à risca. Se não estava no manual, não existia. A desculpa é que andávamos todos no liceu, éramos putos e é daquelas coisas... De qualquer maneira, a sessão é a que vem no fim do livro em que as personagens vão a uma loja comprar qualquer coisa e entra por ali um gang à batatada e nós temos que nos defender. Durante o combate, um dos membros do gang agarra em mim pelo pescoço pronto para me matar. Eu consigo sacar da pistola e encostá-la à cabeça do tipo. E encostado significa mesmo encostado. O GM manda-me lançar os dados!

"Mas tenho a pistola encostada à cabeça dele. Quais as chances da bala falhar o alvo?"

O GM continua a insistir porque as regras mandam lançar os dados mesmo à queima-roupa, etc, etc. Pronto, lá lancei os dados. Alguém adivinha o que aconteceu? Isso mesmo. Falhei o lançamento. A bala mágica que sai do cano, bate na cabeça do tipo e resvala para o lado.

Este é o mesmo GM cujos jogadores se queixaram um dia que ele nunca preparava as sessões ou lia as aventuras antes de as fazer para o grupo. Por exemplo:

Na aventura DNA/DOA, o grupo tem que infiltrar um laboratório para roubar uma amostra de DNA (se bem me recordo). O problema é que houve um acidente qualquer e a malta no interior ficou toda mutada e anda para ali a atacar tudo o que se mexa. O grupo entra numa sala que o GM descreve com todos os pormenores. Estão dois escaravelhos gigantes a comer um cadáver. Grande combate que dura 30 minutos quando o GM se apercebe de uma frase no fim daquilo tudo. "A porta está trancada." Em vez de não ligar à situação, não. A porta está trancada logo o combate não aconteceu.

Desculpa do GM para não ler as aventuras antes da sessão:

"Para quê? Vou ter que as ler durante a sessão!" *sigh*

"You think I'm old and feeble, do you? Well, face my Flying Windmill Kick, asshole!"

Vou ressuscitar esta thread porque hoje estou de folga e aborrecido, e porque me lembrei desta história agora.

Grande parte dos intervenientes dela são utilizadores deste site, mais ou menos assíduos.

A história reza que os jogadores, jogando os semi-deuses que são os Exalted, são contratados (começa aqui) para ir a uma terra qualquer a sul de Nexus (uma grande cidade naquele mundo, com muito comércio fluvial e marítimo, talvez a 2ª maior cidade); olhando para o mapa, eu vejo que conseguimos fazer metade do caminho se formos de barco, e digo-o ao GM. Que me responde: não há barcos.

Certo; na maior cidade comercial do mundo, não há barcos. :slight_smile:

Aparentemente o GM tinha um grande plot preparado para uma viagem por terra, e não se lembrou que um dos jogadores podia lembrar-se de ir por rio.

Julgo que isto acrescenta à minha fama de “jogador que estraga os plots ao GM” aqui do burgo.

–~~–

Não te metas comigo, camarada; tenho n avisos à navegação, alguns deles em público, e não tenho medo de os usar.

"Durante o combate, um dos membros do gang agarra em mim pelo pescoço pronto para me matar. Eu consigo sacar da pistola e encostá-la à cabeça do tipo. E encostado significa mesmo encostado. O GM manda-me lançar os dados!"

Se eu fosse Mj... perguntava-me como é que tu sabias que a pistola estava encostada à cabeça do tipo. Porque tu disseste? Para mim não chegava. Encostar a pistola à cabeça do bacano numa situação destas para mim seria uma acção como outra qualquer, logo sujeita falhar. Do meu ponto de vista quando um jogador diz, "Eu consigo sacar da pistola e encosto-a à cabeça do tipo" apenas manifesta uma intenção. Isso é o que o PJ quer fazer mas até pode nem o conseguir. Daí que para mim faz todo o sentido ter de rolar os dados by the book. E falhar se for esse o resultado. Quer dizer, nesta situação e apenas com o que me dizes a decisão do MJ até é correcta, ele só poderá não a ter conseguido explicar da melhor maneira. (É claro que numa situação destas eu iria aplicar uns generosos bónus a favor do PJ atendendo à proximidade, etc. Mas lá que os dados dançavam, dançavam.)

Só há um probleminha. O GM já tinha deliberado que a pistola estava encostada à cabeça do tipo. Tirando esse pormenor...


"You think I'm old and feeble, do you? Well, face my Flying Windmill Kick, asshole!"

Ei, acho que o objectivo deste thread é contar as historias de coisas que os jogadores fazem que são tão ESTUPIDAS que merecem uma mesa no focinho.

O que tu fizeste não foi estupido, foi sim perfeitamente logico e razoavel, e só estragaria a campanha se o senhor GM deixasse. Se havia alguem que merecia uma mesa na cabeça era o GM, que n se preparou para a contingencia de os jogadores quererem outro meio de viagem. Ou ele podia simplesmente dizer que a navegação por rio pedia a) um MONTÃO de dinheiro, ou b) estava restrita por causa de um surto de praga que se achava que tinha sido trazido por barcos e por isso toda a area do porto estava de quarantina.


“HOUSE FLAMBEAU - where you teach your apprentices by pissing them off until their will to set you on fire overcomes the stactic paradigm”

“I still miss my ex-wife, but my aim is improving!”

Sim, eu sei, eu pus isto no sitio certo: GM’s que fizeram coisas parvas.

De qualquer das maneiras, tudo o que tentámos deu em zero: não pudemos roubar barcos, não pudemos comprar barcos, não pudemos alugar barcos; caramba, é o MAIOR porto fluvial do mundo! Não há barcos?!

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Não te metas comigo, camarada; tenho n avisos à navegação, alguns deles em público, e não tenho medo de os usar.

O título da thread é "Coisas que os GMS fizeram..." por isso o Rui está no sítio certo. Lembro-me da resposta dele na thread da Rpgnet : "Things you've seen in games that are so dumb, you should've beaten the GM senseless".

O GM em questão teve um ataque de railroad-itis. Bastava ter transplantado os eventos da caravana para o rio já que no fundo ambos são uma viagem. Por isso, o Rui esteve bem. Limitou-se a procurar a melhor maneira de chegar ao destino.


"You think I'm old and feeble, do you? Well, face my Flying Windmill Kick, asshole!"

Ah, mas isso não estava no que escreveste. Num casos destes eu ainda admitiria uma ligeirissima (à base de muitos modificadores, como é evidente) hipótese de a arma se encravar, devidamente narrada para criar suspense. De outra forma é, digamos, difícil de explicar.

Esta não vivi eu mas foi assunto de discussão durante muito tempo no meu grupo de jogos. Certo ST de Vampire Dark Ages, cuja identidade vai ficar no segredo dos deuses, tinha uma história preparada em que após uma luta, 2 NPCs a cavalo fugiam do combate a galope por uma floresta. Sendo os NPCs humanos em cavalos normais e os jogadores vampiros elders com montes de disciplinas, eles decidiram usa-las para os apanhar. Mas o ST não queria que isso acontecesse. E como tal arranjou uma mão cheia de rolls para os jogadores que perseguiam os NPCs, com o intuito de eles falharem. Ele até os mandou rolar para se desviarem das árvores que estavam no caminho, visto que as PCs iam muito depressa e a floresta era densa. Resultado: todos os jogadores ultra-competentes estamparam-se cada um contra a sua árvore enquanto que humanos normais saltitaram pela floresta alegremente.

Nessa mesma campanha, para ele controlar o uso de Vicissitude por parte de um jogador que andava a mutilar animais para criar membros mais poderosos, arranjou algo chamado "pontos de alma" que vinham com os membros emprestados e influenciavam psicologicamente esse jogador. Isto gerou grandes discussões pois um braço tinha 1 ou 2 pontos, pernas 2 ou 3, e por aí em diante. E os resultados nunca foram bem descritos, e o controlo feito a esse jogador foi no mínimo patético de tão ineficaz que era.

A sessão começou muito bem, com uma cena envolvente de suspense. E depois, nada. Era tudo o que o MJ tinha conseguido criar. Bem, eu não sei se os jogadores lhe quiseram dar com uma cadeira na cabeça - acho que não, afinal era o primeiro cenário do MJ - mas eu quis dar-me a mim mesmo com a cadeira. É que eu era o MJ e foi aí que fiquei a perceber como é difícil criar um bom cenário.

Muitos anos mais tarde um amigo que trabalha em vídeo disse-me uma coisa muito interessante que sendo sobre a concepção de histórias para video e cinema também se aplica à construção de cenários: os escritores para vídeo/cinema precisam de ter imagens na cabeça. Até aí tudo bem, se as não tiverem não conseguem escrever para esse meio. Mas os problemas não acabam aí. Os escritores inexperientes e em começo de carreira costumam ter uma imagem forte e bem concebida mas não sabem (ou esquecem-se) de que uma história não é uma imagem - não é fotografia -, antes exige um conjunto de imagens igualmente fortes e bem coordenadas. É um princípio que aplico à construção de cenários de rpgs... e que não é fácil.

ter inventado uma greve de barqueiros, mau tempo, raids de piratas, monstro assustador, ou simplesmente explicar que aquele tempo todo no barco poria os jogadores tentados a cometer actos homosexuais uns com os outros! Laughing

 

em RPGs os meios importam mais que os fins!