Colossal Arena

É certo que no mercado de boardgames, há jogos que acabam por ser esquecidos e jogos que valem a pena serem reprinted. Jogos tão bons que a procura pelo jogo, em vez de diminuir, aumenta. Colossal Arena é um desses casos.

Criado por Reiner Knizia, este jogo trata de lutas entre várias criaturas miticas numa arena. É o reprint do Titan: The Arena e a nova versão é produzida pela Fantasy Flight Games. De entre 12 criaturas, 8 são escolhidas ao acaso. Depois há uma luta entre os jogadores para determinar qual das criaturas é eliminada em cada turno ao mesmo tempo que os jogadores apostam nas criaturas. No fim, só três sobrevivem, e é contado o dinheiro apostado nessas criaturas. Quem tiver mais dinheiro ganha. Claro que cada criatura tem poderes especiais que poderão ser usados durante o jogo por aquele que mais apostou na criatura.

Parece um bom tema para um boardgame, e realmente é. Misturando negociação com hand-management, este pequeno boardgame consegue fazer jus à sua antiga reputação, de facto melhorando o jogo nesta nova versão.

A apresentação do jogo está boa, as cartas são de boa qualidade, embora pudessem ser melhor, e a arte está bem feita. A caixa é pequena e com pouco espaço mal aproveitado. As regras são relativamente curtas e fáceis de ler e compreeder. Não há lugares para confusões pois as regras explicam tudo muito bem explicado. No fim, o jogo tem uma boa apresentação, decente o suficiente para se tornar funcional.

Este jogo acolhe até 5 jogadores e, sinceramente, 5 é o número ideal para se jogar, devido à sua componente de negociação.

Passemos à análise.

Este jogo sendo do Knizia seria de pensar que o tema nem sequer se cola ao boardgame. Bem, estariam quase certos. Este jogo podia ser sobre batatas à luta umas com as outras que não faria diferença. No entanto o tema escolhido para o jogo até não é mau de todo e é bem evocativo. Apesar de ser do Knizia, o tema até pega o minimo para um jogador ver o jogo como uma luta numa arena entre oito monstros. Logo, eu diria que, para um Knizia, até tem um bom nivel de tema. Claro que isto continua a ser um eurogame, onde as mecânicas estão muito acima do tema, mas as cartas contribuem de maneira correcta para a evocação do tema. Em suma, mais tema que o normal para um Knizia.

O factor sorte está presente neste jogo na forma das cartas que um jogador saca durante o jogo. Estas determinam o que o jogador pode fazer ou não durante o jogo e, por conseguinte, são o coração do jogo. Uma má mão de cartas pode afectar o jogo todo e diminuir as nossas opções mas um jogador consegue dar a volta mesmo tendo uma má mão. Este é o único factor sorte do jogo, as cartas, não há mais, a não ser que considerem a escolha de oito monstros ao calhas dos doze inicias na preparação do jogo sorte. Portanto o factor sorte deste jogo é o mesmo de qualquer cardgame, ou seja, estamos dependentes das cartas que sacamos e teremos que nos adaptar ao que temos.

O que me faz falar da componente estratégica e táctica. Este jogo, à partida, parece ser um jogo com uma componente táctica elevada, mas à medida que se joga uma pessoa aprecebe-se que este jogo tem mais que se lhe diga. De facto, este jogo tem uma profundidade estratégica estonteante. Embora a componente táctica esteja presente na decisão de tentar eliminar uma criatura onde não tenhamos dinheiro apostado, é nas apostas que a grande parte da vertente estratégica se mostra. Há que saber onde apostar e como uma aposta posta fica lá permanentemente até ao fim do jogo e só podemos apostar cinco vezes, há que pensar com muito cuidado onde e como se aposta. Quanto mais cedo se aposta mais dinheiro se ganha, mas mais vulnerável a criatura fica. Depois temos o aspecto de negociação. A negociação neste jogo é livre e serve para convencer os jogadores a jogarem uma carta numa criatura. Isto torna o jogo não só profundamente estratégico como a negociação apimenta a táctica do jogo. Como a negociação é normalmente para ter efeito na mesma ronda, a táctica deste jogo demonstra-se com mais facilidade na negociação. Enfim, este jogo tem um bom equilibrio entre estratégia e táctica, o que o torna apeticivel para quem quiser um boardgame com mais estratégia que o habitual mas que se jogue rápidamente. Sendo do Knizia, esperem uma estratégia analitica durante o jogo. Este jogo provoca muita tensão nas nossas decisões, o que é bom sinal. Todo o jogo as nossas decisões são acentuadamente dificeis e afectam todos os jogadores.

A interacção entre os jogadores é directa e activa na fase de negociação, directa e passiva durante o resto do jogo. Os jogadores estarão a mudar o valor das criaturas durante o jogo, o que torna a interação directa pois pode-se mudar o valor de qualquer criatura, mas é passiva pois não envolve os jogadores de forma activa, um jogador pode mudar o valor de qualquer criatura a qualquer altura no seu turno. No entanto, as negociações podem ocorrer a qualquer altura, e neste caso tudo muda de figura. Quando há negociações envolvidas então o jogo torna-se directo e activo. Como um negócio pode ou não ser vinculativo, haverá negócios que poderão ser executados uns turnos adiante, o que torna a interação entre jogadores activa e directa. Na maior parte dos casos a interação neste jogo é mesmo directa e activa, só é passiva no inicio do jogo, quando as negociações começam a acontecer a passividade da interação vai-se à vida.

O tempo de jogo é normalmente 45 minutos ou um pouco menos. Este jogo é rápido de se jogar apesar de ter uma fase de negociação entre jogadores. É um jogo que se joga bem e em que raramente o ritmo do jogo abranda.

O peso deste jogo é estranho. Embora demore pouco tempo a jogar, o jogo não é light de maneira nenhuma. No entanto, também não é um Heavyweight no verdadeiro sentido da palavra, embora esteja bem próximo disso. Eu diria que este jogo é um Middleweight com tendências para ser um Heavy Middleweight. Isto, combinado com o tempo de jogo, dá uma combinação muito estranha, mas que na prática resulta bem. Embora não seja um dos mais pesados jogos do Knizia, é sem dúvida um jogo com um peso considerável.

Este jogo não é um filler de maneira absolutamente nenhuma. Está muito mais próximo de ser um gamer’s game de facto. É um jogo que nos obriga a fazer decisões tensas, e isso costuma ser um ponto comum entre os gamer’s games. Mas não é um gamer’s game, não é pesado nem complexo o suficiente. De facto este jogo até é um jogo bem simples.

De facto as mecânicas deste jogo resumem-se a apostas, hand-management e negociações. Todas estas mecânicas estão implementadas de forma simples e na prática resumem-se a serem simples de perceber a rápidas de executar. As mecânicas do jogo estão muito bem implementadas e interagem suavemente entre si, fazem parte de um todo como uma máquina bem oleada. Aqui neste boardgame não vamos encontrar mecânicas estranhas ou que não funcionam lá muito bem, o que está aqui está bem feito, nota-se que houve tempo para pensar na implementação das mecânicas. E no fim funcionam bem, e isso é tudo o que um jogador pode pedir de um boardgame.

A longevidade do jogo é elevada. Para começar temos a preparação inicial do jogo, onde se escolhe 8 criaturas das 12 existentes. Havendo um excedente de criaturas implica que cada jogo será sempre diferente do anterior, o que é bom. Depois as negociações entre jogadores certifica que o jogo nunca ficará estagnado. Há sempre algo que corre de maneira diferente, os jogos nunca parecem ser sempre a mesma coisa. Logo a longevidade deste jogo é elevada o que causa com que o jogo nunca perca muito do seu interesse inicial.

O dinâmismo do jogo é fabuloso. Todas as partes do jogo se conjugam entre si como uma máquina bem oleada. O jogo é sempre diferente devido a interação entre os jogadores e, por isso, nunca se torna aborrecido e chato. Desta forma o jogo é sempre interessante mesmo para alguém que está farto de o jogar. Existe um ponto a salientar, que é o elevado nível de lixar o adversário que este jogo tem. Este é um jogo porco, convenhamos, e como tal deve ser aproximado com uma mentalidade diferente dos outros jogos. Neste jogo um jogador pode entrar em negociações para lixar outro jogador, e isso pode gerar discussões.

Quanto a usar este boardgame como introdução a novatos, não aconselho. Devido à sua profundidade estratégica é dificil para um jogador novato aperceber-se de todas as potencialidades e ramificações das decisões que toma. Este jogo não é para um novato, e eu diria até que fará com que um novato fique com uma má impressão do nosso hobby.

O problema do Analysis Paralysis pode acontecer neste jogo. De facto, o jogo tem uma potencialidade enorme para tal acontecer, mas em todos os jogos que joguei analysis paralysis nunca foi um problema de todo. Apesar de tudo, este jogo avança a um ritmo consideravelmente rápido e normalmente os jogadores sabem o que querem fazer.

O visual do jogo à medida que se vai jogando é interessante mas pouco mais. Não há nenhum tabuleiro com arte fenomenal, só há cartas pequenas com boa arte e chips de plástico de cores diferentes. Dificilmente se tornará apelativo em termos visuais mas, verdade seja dita, já vi muito pior.

E é isto.

O jogo é bem bom, interessante de jogar e viciante. Se o jogo fosse só jogar as cartas e apostar, então este boardgame seria um boardgame mediano, sem nada que o elevasse para além da média. Mas a componente de negociação torna deste jogo algo realmente bom. Embora não use nenhuma mecânica original, todas as que usa são afinadas para darem o máximo rendimento.

É um bom boardgame, melhor que a maioria no mercado. Não é original mas é bom naquilo que faz. Para quem gosta de negociação e um jogo com cariz de porco, este é o boardgame indicado. É divertido, que é o que importa, mas também é lixado, pois os jogadores podem lixar-se uns aos outros de maneiras estonteantes.

Pessoalmente eu gosto. É pequeno, barato e extremamente bom. Mais um óptimo design do senhor Knizia.

Recomendado, principalmente para os que gostam de negociação e de jogos porcos.

16 de 20.

https://www.boardgamegeek.com/game/105