Como fazer one-shots e torná-los algo que aproxime os Roleplayers?

Depois de no passado sábado um bando de bravos (eu, o Ricmadeira, Rick Danger, Sgrovi, João e o RedPissLegion) terem experimentado quase espontâneamente um daqueles jogos "blasfemos" que cabem em qualquer cantinho e nem sequer usam dados de modo normal e seguro (aliás este só usava marcadores e sim, estou a falar de Mortal Coil) vejo-me assolado por uma dúvida: como experimentar jogos de RPG de maneira casual e satisfatória para todos os involvido num dado número de horas razoáveis num único dia?

Neste caso em particular estivemos das 15 às 18h a criar um Documento Temático que era o cerne do universo fictício onde iríamos jogar e fizemos personagens. Quando estávamos quase a jogar, eu e o Sgrovi tivemos que sair por compromissos inalienáveis (eu a minha namorada e uma viagem de 1h para almeirim, o Sgrovi um jantar ninja temático).
Os restantes jogadores, depois de nos insultarem inteligentemente, continuaram e ainda jogaram um pouco sem conseguirem experimentar o sistema decentemente.
Como se poderiam fazer sessões curtas de RPG muito contidas que podessem juntar as pessoas e levarem a conhecer o hobby ou diferentes facetas deste?
É que para mim, além de um bom exercícios de imaginação partilhada, o convívio e o conhecer de novas caras ainda foi o melhor. Como é que podemos levar a casualidade de uma jogatana de tabuleiro para os RPGs?

Daquilo que tenho lido sobre one-shots, normalmente elas funcionam melhor com PCs pré-feitos para a situação da sessão que se vai jogar, e informação adicional sobre a sessão e jogo também ajudam muito.
Agora se for do completo nada é mais complicado, acho que o melhor é mesmo ter pelo menos 2 jogadores que conheçam bem o jogo em questão, um para ser GM (caso haja) e outro para ser jogador, com sorte os outros jogadores vão seguir as pistas destes para entrar na onda do jogo.
No nosso caso até acho que demos bem uma volta pelo Mortal Coil, só nos sentámos à mesa por volta das 16h/16h15, tivémos cerca de 2h/1h30 a fazer o setting e PCs e depois jogámos até às 20h cobrindo os vários aspectos da mecânica do jogo, Factos Mágicos foram criados, Power Tokens foram atribuidos, conflitos paralelos, perpendiculares com e sem defesa estiveram em jogo e Passions foram adereçadas. Como teste acho que correu bem e aprendeu-se umas coisas para quando for "a sério".

Há quase 8 anos atras fui game master de Vampire Dark Ages. Gostava menos de ser player...

Fizeram-me duas sessoes como player e decidi experimentar ser storyteller com o livro como referencia (eu acho-o um calhamaço). No final conseguia introduzir novos jogadores em menos de meia hora para uma sessao de tres, quatro horas simplificando os preciosismos. Não eram grandes aventuras extremamente complexas, mas tinham a vantagem de que nao eram precisos varias horas espalhadas por varios dias. Assim os jogos tinham sempre troupes diferentes e não havia grandes compromissos.

Isto foi a minha unica relação com os RPG's. Não sei se as sessoes eram exactas com as regras, mas que eram divertidas, eram.

Neste momento estou muito concentrado em boardgames, pelas mesmas vantagens: nao precisam de ser dias inteiros e pode-se variar bastante.

Isto tudo para dizer: dos livros que vi do mariano não me pareceram ambientes muito complexos, e não me importo de ler um deles para experimentarmos. Tambem estou disposto a entrar numa sessao, mas aventuras de varios dias é-me dificil comparecer....

Gente, com a benção do autor do post, o João Mariano, vou mover este tópico do grupo dos Roleplayers de Lisboa para o fórum Geral da secção de Roleplay; o tópico não tem nenhuma especificidade para a área de Lisboa e assim todos os roleplayers podem ver e dar a sua opinião, que é o que se pretendia aqui.

Mas o desafio de fazer personagens pré-feitas é criar a diversidade e originalidade que possa agarrar os jogadores e dar-lhes uma experiência agradável. Ainda por cima com a agravante de que os dilemas e características dessas persos têm que realçar uma história contida que dure apenas uma sessão. Não é impossível mas requer muito tempo de preparação.

Por outro lado existem as demos que costumam dar menos trabalho e algumas já são contidos e têm sempre algo para agradar a alguém. Mas estas não existem para tudo o que se queira experimentar.

Aliás se prepararmos nós próprios estes one-shots e criarmos persos pré-feitos com story hooks e flags já pensados não estamos quase a fabricar uma espécie de demo?

Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Como é que podemos abordar os RPGs de uma forma mais casual? Bom, acho que em primeiro lugar, como em todas as coisas, é preciso querer. Por exempo, eu concordo que seria óptimo ter um dia em que o máximo de gente aparecesse para, numas poucas horas, experimentar o máximo de jogos possíveis. No entanto, entendo que a razão que isso não acontece é porque poucos roleplayers estariam interessados. Primeiro, porque não se sentem à vontade a jogar/mestrar fora do seu grupo. Segundo, porque querem fazer eles as personagens e querem jogá-las durante muito tempo. Terceiro, porque acham que o RPG que estão a jogar no seu grupo é o melhor e o único que querem para o resto da vida. Quarto, porque até se podem sentir à vontade fora do seu grupo, mas recusam-se a jogar/mestrar com fulano ou beltrano. Quinto, etc., etc. Muita gente gosta do seu roleplay com pouca casualidade.

No entanto, nada impede de falarmos da arte do one-shot. Neste momento, eu jogo num grupo que se encontra talvez de duas em duas semanas para experimentar vários RPGs. Temos tão pouco tempo que chega ao ponto de marcarmos para as 18h, chegarmos todos às 18:30 e a loja fechar às 19:30. Mesmo assim, como já referi no meu blog, fizemos Heroquest, Warlords of Alexandria e agora começamos com Cyberpunk 2020. Como já disse o Red, o truque está nas personagens pré-feitas e na preparação das sessões trocando uns mails. Também ajuda sermos apenas três, já nos conhecermos há uns tempos e termos todos bastante experiência.

Quando não existe preparação em conjunto, os jogadores são muitos, ninguém se conhece e alguns ainda não sabem o que é um RPG, o caminho torna-se bastante estreito e o mestre-jogo torna-se o pastor para levar as ovelhas :slight_smile: De facto, em certas circunstãncias, torna-se necessário que o mestre-jogo forneça personagens, regras, motivação e um enquadramento rápido do que é que o jogo trata. Esta fulanização do one-shot naturalmente faz com que pouca gente se queira chegar à frente.

Talvez o factor que mais ajude num one-shot seja, de facto, a preparação de todos os participantes. É um pouco como fazer batota, tentando "pré-jogar" aquilo que não precisa de ser jogado em sessão. Além disso, a responsabilidade da preparação de cada um faz esbater desejavelmente a tal fulanização da sessão. Quanto a isso, faço o meu mea culpa por ter caído completamente de pára-quedas na sessão de Mortal Coil :slight_smile:

Claro que falar de preparação não ajuda a responder à pergunta do jrmariano, não é? Era suposto ser casual…

Bom, ahem, talvez o factor que mais ajude num one-shot seja, de facto, a dinãmica de grupo, isto é, não necessariamente o quão bem toda a gente se conhece (quanto mais conhecer alguém, mais posso chegar à conclusão que nunca na vida quero jogar com ele), mas a capacidade que o grupo tem de comunicar e resolver problemas em conjunto. Novamente, isto ameniza a tal fulanização, pois aceita-se que o mestre-jogo também tenha dificuldades em expõr o jogo, por isso toda a gente está lá para ajudar. Cada um tem a responsabilidade de sair do seu "vamos lá ver o que é que sai daqui" e dispõr-se a investir no que se está a tentar fazer.

Por outro lado, e isto mais para os meets de rolepay, todos sabemos que o diálogo e a comunicação são muito bonitos, mas também podem ficar por ali e não ir a lado nenhum. Alguém, não necessariamente o mestre-jogo, tem que picar um bocado as coisas para elas acontecerem.

A promoção dos jogos em si - falar das sessões que tivemos ou das coisas excepcionais que é possível fazer - é uma forma indirecta bastante forte de criar no pessoal a vontade de experimentar ou reviver esses momentos num one-shot

Concretamente, a Wizards respondeu à pergunta deste tópico com o Worlwide D&D Day.

A coisa com PCs pré-feitos é que não sei até que ponto servem para os jogadores se ligarem a eles ao ponto de eles lhes serem interessantes.
Exemplo:
TSoY - Deverá uma one-shot trazer os PCs com Keys já feitas para poupar tempo na criação de PCs? se sim isso não irá tirar aquilo que é "importante para o PC" das mãos do jogador?
DitV - Deverá o PC já trazer ligações e traits pré-feitos? se sim volta-se à pergunta acima.
Acho que o melhor é preencher 3/4 do PC (tentem visualizar isto de maneiras diferentes em jogos diferentes), e deixar o resto para o jogador, mesmo que ocupe 30min sempre dá ao jogador uma forma de se ligar ao PC. Por exemplo deixa-lo escolher uma Key, 2 Traits, uma Conection, etc...

Há uma técnica que (dizem) que costuma ter resultados bastante bons que é tornar os Kickers/Keys/Issues/whatever independentes dos personagens. Assim os jogadores escolhem um personagem e uma coisa dessas e pimba; isto permite ao demonstrador ter a lição minimamente preparada para obter os resultados pretendidos rapidamente, e permite que o jogo arranque em três tempos.