Diário de um gamer

Hoje cheguei às 19:00. Estavam algumas pessoas a rondar: alguns habitués, 2 ou 3 novos por causa da LisboaCon, e mais 4 ou 5 novos com menos de um mês.

A C. desafiou-me para um Hansa in shrink e eu estava a dever a explicação há mais de 2 meses. Com o JM já pronto na mesa, pedi para sermos apenas nós os 3, sendo o número ideal.

Fui fumar um café para fazer reload das regras, enquanto eles faziam o punch. Adoro ler regras quando a alternativa é fazer o stressante punch.

Para o meu primeiro cigarro da noite, estava acompanhado do CP a jogar com o RP o Agricola Creatures. Empataram e tiveram um outburst de riso, ao mesmo tempo ao se lembrarem (sem o dizer) qual era o factor de desempate (who cares who wins?). Gosto de ouvir este riso genuino e descomprometido de quem tem muitos mais anos do que os vinte e poucos.

Volto para a mesa e começo a explicar o Hansa. Quase no principio aparece o PV a perguntar se pode entrar, e para pena minha tenho que dizer não com o argumento do numero ideal. Antes do jantar, com tantas pessoas paradas ele não terá problemas em arranjar jogos. Se fosse a seguir a jantar, teria de ser um "senta-te e não há-de ser nada". Preferiria um pequeno inconveniente a alguém ficar de fora, quando não é possivel sermos pelo menos duas mesas de 3 jogadores cada uma.

No fim da explicação, tenho de dizer não desta vez ao AG. mas tento reduzir a minha "culpa", informando-o que ele não foi o primeiro rejeitado.

Durante o jogo, aparece o CP que fica a ver o jogo. Mesmo para um jogador de mais pesados, o ambiente numa mesa é suficiente para apenas ficar a assistir.

O jogo tem pontos escondidos e durante o principio do jogo acho que estou a jogar melhor, sendo o único que já tinha jogado (apesar de ter sido há mais de três anos). Dei muitas sugestões mesmo contra mim, e fui ficando caladinho à medida que a diferença me parecia menor. Por achar que estava a ganhar não chorei, excepto 2 ou 3 gemidos.

Acabo por ganhar, mas renhido. Da próxima vez a historia deverá ser outra. A ver se me lembro de os desafiar para o rematch… Mesmo que tenha de explicar novamente o jogo a alguém, vai ser muito mais fácil só porque já o joguei.

Quanto ao jogo é um abstracto com encadeamento de algumas acções: apanhar/converter mercadorias e lojas, e com movimentação num mapa. É melhor a 3 porque é um jogo com algum AP e pelo planeamento ao pormenor (e sem sorte durante o turno) , às vezes até se volta atrás nas jogadas (sendo eu um dos maiores prevaricadores). Fica com melhor ritmo e apesar de ainda ter alguma saudável instabilidade, diria que a 4 seria incontrolável.

Quanto às pessoas, gosto muito de jogar com eles: são bons exemplos de quem joga tudo (mesmo saindo da sua zona de conforto), com quem for preciso (não sempre com os mesmos) e sempre com uma boa disposição à mesa. Para eles, está sempre tudo bem , apesar das minhas constantes provocações "Estás a ver C, deixei-te o barco outra vez no cu de judas"

20 e pouco, as horas perfeitas para ir jantar: a meia hora de que gosto mais. Começa o falatório na linha fabril da comida, e prolonga-se para a mesa. Fala-se de muita coisa e pouco de jogos. Hoje foi "surpresas com ladrões".

Ao longo da noite, reparo que vão chegado cada vez mais pessoas e quando volto do jantar vejo três novatos a mexerem nos meus jogos. Como tenho carro e jogos, esforço-me sempre por trazer vários jogos simples e médios mais conhecidos (raramente para eu próprio jogá-los), e coloco-os em cima do lavatorio mesmo para serem notados e mexidos. Apesar de não ser o que me apetece jogar mais, mas como parecem interessados no Citadels, decido explicar/jogar com os 3 novatos e o TM (que não aparecia há algum tempo). Com setup feito, quando vou começar a explicar aparece a SF. Hesito um pouco, por achar não ser o ideal, mas digo "senta-te e não há-de ser nada". Mais uma gamer que está sempre disponivel para tudo e mais alguma coisa, irá ajudar a trazer bom ambiente. Explico o jogo e começamos a jogar. Assassinado nos dois primeiros turnos, faço uma lagoazinha salgada no meio da mesa.

É tão lenta aquela volta das personagens (principalmente com pessoas novas), que fui fumar uns quantos cigarros e sentir o ambiente nas outras mesas de jogo. Apesar de nunca terem esperado pelo viciado, não deixou de ser uma falta de respeito.

Reparo que apenas existem 2 ou 3 pessoas a explicar jogos aos 10 ou 15 novatos que foram aparecendo. Por isto é que apenas recomendo este evento a quem estou disposto a receber pessoalmente: não me sentiria bem em convidar para serem outros a ter o esforço de receber. Mais ainda se forem grupos (ou multi-casais) em que eu teria de recebe-los com jogos leves e/ou party games para muitos, que não me apeteceria jogar.

Muitos dos novatos que aparecem não deverão voltar (é a fase do "isto é giro mas não sei se quero sair do quentinho da minha casa"). Alguns voltarão, principalmente os que não vieram em grupo: coragem e curiosidade é uma combinação explosiva. Terão de se misturar, conhecer novas pessoas e novas quimicas inter-pessoais aparecerão (principalmente para aqueles que procuram jogar com pessoas diferentes). Da próxima vez será tão mais fácil, e cada vez mais fácil, e num instante és um religioso: quarta-feira é sagrado.

Quanto ao jogo: acho que no máximo deve ser jogado a 4. Como são poucos os jogos com mais carne que dão para 6 (e menos ainda para 8), é muito tentador ver os números na caixa e tentar acomodar todos. Mas o Citadels, apesar de ser muito mais fácil de explicar, não tem a simultaneidade do 7 Wonders. O jogo arrasta-se, apesar de eu estar sempre a tentar impôr ritmo (de uma forma simpática) ao novato mais lento (que acabou por ganhar). O ladrão e o assassino apanham quase sempre alguém (e saem quase sempre), e pouco podemos pensar para adivinhar a personagem de um jogador.

Quanto às pessoas, dos três novatos apenas fixei o nome de um deles. Mas o importante, a sua personalidade, lembro-me muito bem e gostei das diferentes quimicas. Se voltarem, a ver se me lembro de lhes perguntar o nome: foram divertidos e excepto uma minima dificuldade normal inicial em saber o que cada personagem faz, entraram bem no jogo.

No final do jogo a SF teve de ir embora, e como não queriamos ficar muito tempo, sugeri jogarmos o Money do Knizia. É o normal (ou o mais provável) comecar com uns jogadores e acabar com os mesmos, principalmente quando a companhia é agradável e é dificil sincronizar com outras mesas.

Expliquei o jogo, talvez depressa demais: durante o jogo é quase impossível dar dicas a alguém porque são só cartas escondidas, com apenas algumas temporariamente à vista. No final descobri que um jogador teve apenas 60 (eu tive 250 "faria 470 se não me tivesses lixado na última vaza", os outros acima de 400 e o vencedor com 700).

Quanto ao jogo: um filler rápido de 20 minutos, relativamente fácil de explicar (mas necessário ter a certeza absoluta que todos percebem a forma de pontuar). Tem um bocadinho o feeling de "cartada" na ordem da escolha do conjunto.

Quanto às pessoas, todos estavam bem dispostos no fim do jogo (incluindo o último lugar) por isso acho que deverão voltar, ou pelo menos não terão uma opinião negativa do hobbie (do explicador não garanto).



E assim acabou demasiado cedo (24:00) mais um dia de folga : 3 jogos, 0 jogos novos, 3 novatos, 7 pessoas diferentes, jantar/conversa muito boa. A repetir sem qualquer dúvida, mas não pelos jogos.

 Hansa

 Citadels

 Money!

Consegue-se "ler" o brilhozinho nos olhos, enquanto escrevias estas linhas!



Obrigado Vasco yes

Sem dúvida que se consegue "ler" o brilhozinho nos olhos do Vasco.



Adorei uma das frases descritas, "e num instante és um religioso: quarta-feira é sagrado.", nada mais justo, do que a mais pura verdade na vida de um gamer!



Parabéns Vasco.



 






 foi do Vasco a fumar um café… Estou mesmo a imaginar…



 Devias estar com a cabeça no mesmo sítio que quando falavas das escadas do meio…

Muiti bom. Venha daí mais conteúdo deste. :slight_smile: