Dirtside: Episódio 1 - Pré-Produção

Sexta-feira, 29 de Abril, 22:00. Está tudo pronto para a estreia de Dirtside. O episódio-piloto da semana passada entusiasmou a estação e as audiências, de modo que hoje se vai filmar em directo mais um episódio. A única alteração ao esquema das coisas é a adição de um novo protagonista e dos personagens secundários que lhe estão associados. Consequentemente, a criação do novo protagonista, do novo elenco secundário e eventuais ajustes ao foco planeado da série eram a primeira coisa na ordem de trabalhos do dia, antes de podermos começar a filmar.

Enfim… isto é uma forma rebuscada de dizer que era Sexta à noite, íamos jogar Primetime Adventures (ou PTA, prós amigos) e tínhamos, tal como prometido, um jogador novo: o Paulo. :slight_smile:

E o resultado, amigos, foi maravilhoso; a química e a magia não só se mantiveram como ficaram mais fortes, e o jogo foi ainda mais coeso e focado. E para perceber a magnitude do que estou a escrever, há que dizer que o Paulo e a Ficção Científica andam às avessas depois de algumas experiências pouco animadoras para ele noutros RPGs. Na verdade, quando ele se sentou à mesa de jogo nem sabia ainda o que raio ia jogar! Não quisemos correr o risco de ele se baldar, eheh.

Eu apenas lhe tinha dito que íamos jogar "o RPG das séries de TV", o mesmo que eu já lhe tinha mencionado há uns meses. Na altura, tinha usado como chavões todas as séries favoritas dele Alias, 24, Six Feet Under, e algumas outras. De modo que ele pensava que vinha jogar algo nessa onda, não uma série de FC que o Jota, a Raquel e eu tínhamos criado na semana anterior. Eu, sabendo da sua aversão à Ficção Científica, "optei" por não o dissuadir dessa noção quando lhe mandei o convite por SMS uns dias antes. Grande jogada!

É claro que ele torceu o nariz à primeira menção de FC, naves espaciais, futuro, etc. No entanto, e felizmente para todos, ele ficou convencido com a explicação que lhe dei sobre isso ser apenas o "cenário" no qual se iam desenrolar as nossas histórias, que é suposto serem pessoais, dramáticas e melodramáticas; enfim, histórias sobre pessoas relativamente normais que apenas por acaso vivem no futuro, num sistema solar longe do nosso. De modo que o Paulo lá nos deu a oportunidade de provar o que dizíamos, e entrou em campo com o espírito aberto.

Ao ouvir-nos falar do setting que tínhamos criado, o conceito começou a desenhar-se na mente dele. O seu personagem seria um rebelde, e começaria o jogo em campos opostos aos dos personagens da Raquel e do Jota. Óptimo! E como isto não é uma série qualquer, é uma série sobre um grupo de fuzileiros espaciais e os homens que o constituem, ele seria um rebelde infiltrado no exército, onde poderia ajudar a causa transmitindo informação importante aos seus companheiros.

Isto é fabuloso, porque entra desde logo a aquecer o issue do personagem do Jota: a Lealdade, que ele deve à Federação e que começa a questionar. Já o issue do Paulo é Vingança; a velha e sempre potente procura de vingança pela morte de uma mulher e de um(a) filho(a) às mãos de um exército controlado por tiranos. E, exactamente pelas mesmas razões que o seu background espicaça o issue do Jota, também o background do Jota espicaça o issue do Paulo. De um lado, temos um soldado de corpo e alma, que no passado participou em autênticos crimes contra a Humanidade e que agora procura recuperar o seu norte e talvez encontrar uma maneira de se redimir. Do outro lado, temos um rebelde infiltrado no exército que se vê obrigado a conviver e a sorrir com o inimigo que mais odeia e que deseja vingança com todas as fibras do seu ser. Será que um tem o que precisa para se redimir e trocar de lados? Será que o outro conseguirá algum dia perdoar?

É daquelas situações onde só se pode ganhar; o conflito de cada personagem só traz mais relevo, e mais lenha para a fogueira, ao conflito do outro! E se alguém está a imaginar já autênticos pesadelos de lutas entre jogadores, de conflitos em jogo que transvazam para fora do jogo e arruínam amizades, pode ficar descansado. PTA não é jogo para isso; há (pelo menos parte do tempo) um saudável distanciamento entre jogador e personagem, e o espírito colaborativo domina em todas os aspectos do jogo. Perguntem ao JMendes, ele é um recém-convertido a este tipo de ideias, embora ele provavelmente vos dirá que é simplesmente porque as regras lhe permitem a ele, como produtor, controlar com precisão as consequências de conflitos directos entre personagens. Se tudo isto não bastasse, eu conheço perfeitamente os envolvidos e estaria tão à vontade quer isto fosse D&D ou PTA. :wink:

Com isto tudo, só estou com algum medo que a coisa se esteja a tornar muito preto no branco. Ou seja, a Federação parece cada vez mais malvada, e os rebeldes cada vez mais bonzinhos. No entanto, estou a tentar evitar que essa tendência se arraste para o jogo, tentando manter as coisas o mais cinzentas possíveis. Senão será impossível de criar dilemas poderosos à volta deste conflito armado; os próprios jogadores já “têm a certeza” que no final da temporada vão todos passar-se para o lado dos rebeldes. Vou tentar dificultar-lhes a decisão, não colocando impedimentos à sua frente mas equilibrando os pratos da balança para que um deles não seja tão mais atractivo que outro. Ou isso, ou terei de arranjar outro ângulo para picar o issue de Loyalty do Jota, o que, vendo bem as coisas, é também uma excelente opção.

De resto, a última coisa na ordem de trabalhos do dia era definir os Screen Presence dos três protagonistas ao longo da primeira temporada (que vai ser uma curta, com 5 episódios). Assim já podíamos ficar com uma boa ideia da evolução do “story arc” de cada personagem. Os resultados foram curiosos… para o episódio desse dia, os jogadores optaram por escolher o valor intermédio (2) de modo a ficarem em igualdade de circunstâncias e a criar o ambiente de um segundo episódio-piloto, para o novo jogador não se sentir muito deslocado. Depois para o episódio seguinte, ninguém quis arriscar a ter um spotlight episode tão cedo e acabaram todos por escolher um SP com o valor baixo (1)… este episódio, que vai ser já o próximo, vai ser interessante! É a oportunidade de o produtor brilhar e mostrar o que vale… de que forma vou fazer isso, é que não estou muito certo, eheh. A seguir, temos o primeiro spotlight, que salvo erro é do Paulo, com SP a 3. Depois vem o da Raquel e, finalmente, é o spotlight do Jota que vai encerrar esta primeira temporada de Dirtside.

E pronto, terminados os preliminares, é altura de jogar! Mas isso fica para o próximo post que este já vai muito longo.