Dirtside: Episódio 2

(Ao contrário do habitual, este comentário à sessão contém um resumo quase completo dos acontecimentos e da trama. Duas razões: uma, escrevi isto menos de 24h depois do jogo, de modo que as memórias eram bem mais frescas que o habitual; dois, a maioria dos acontecimentos relatados foram "quentes" e importantes para os pontos que pretendo abordar. De resto, e como de costume, o foco é mais no porquê das coisas acontecerem da maneira que aconteceram - e não estou a falar de nenhuma lógica in-game, apenas no porque dos jogadores/GM terem tomado as decisões que tomaram - em vez de propriamente as coisas que aconteceram.)

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Este Domingo tivemos mais uma sessão em grande de [url=https://www.abreojogo.com/dirtside]Dirtside[/url], a nossa série actual de PTA. Os suspeitos foram os do costume: o Jota, o Paulo, a Raquel e moi même. Primetime Adventures, e Dirtside em particular, estão a deixar-nos a todos abismados com o que é possível sacar dali, de um livrinho tão pequeno, de um sistema tão simples. Cada sessão é melhor do que a anterior, o que se me perguntassem na sessão anterior eu diria que era de todo impossível! Ou então é apenas o nosso cérebro que não aguenta tanta coisa boa ao mesmo tempo e tem de deixar algo para trás.

Este era um episódio potencialmente esquisito. Todos os três protagonistas tinham os seus Screen Presence a 1, o valor mínimo, significando isso que nenhum deles ia estar em grande destaque, ou que, pelo menos, os jogadores não iam ter grande controlo sobre o rumo dos acontecimentos porque não iam ter muitos dados para lançar. No entanto, como o produtor também está dependente dos SPs dos jogadores para construir o seu orçamento, não haveria um desequilíbrio notório a menos que eu estivesse disposto a gastar boa parte do orçamento. É que com um SP menor, o [u]número máximo[/u] de dados dos jogadores por cada lançamento também é necessariamente menor (não é só o número total de recursos à disposição), enquanto no produtor esse máximo é sempre o mesmo (1 dado por default mais um máximo de cinco dados retirados do orçamento). Basta que o produtor tenha dados para gastar, claro!

Assim, este era talvez o episódio do Produtor, em que ele podia brilhar com efeitos especiais, cenários, NPCs e tramas mais rebuscadas para compensar o eclipse temporário do poder dos protagonista. O nosso resultado final nem foi muito diferente dos outros episódios, acho eu: desenvolveram-se significativamente (e de que maneira!) os story arcs de todos os três personagens por igual. A única diferença é que, talvez, me senti mais aos controles do destino dos jogadores porque, ao não chamar tantos conflitos (o orçamento era muito baixo e havia que poupar), eles ganhavam o direito de narrar coisas muito menos vezes também.

Mas, para a cena de abertura do episódio, tentei entrar em grande. Pegando numa simples sugestão do Paulo para fazer cair uma nave espacial ou algo assim, criei o meu próprio 11 de Setembro! Só que este aconteceu na cidade de Metropolis, no planeta Eden, onde decorre a acção de Dirtside. Uma nave espacial militar foi desviada por alguém (um militar, talvez um agente a soldo dos rebeldes) e em vez de aterrar na Firebase Omega, continua em frente para se atirar contra um dos edifícios mais imponentes da cidade... que, provavelmente não por acaso, é onde está sediada parte da infra-estrutura governamental do planeta.

A Raquel enquadrou a cena seguinte, colocando todos os protagonistas e alguns dos NPCs dentro desse edifício alguns minutos antes do desastre. E que podem estar eles a fazer? Ora bem, a celebrar (grande ideia, Raquel)! Um aniversário, nem mais. Várias coisas importantes aconteceram aqui: um, o aniversariante Daniel Fishburne, por quem Rita Jamieson, a personagem da Raquel, está a ficar apaixonada, não parece estar particularmente jovial e alegre; dois, a Némesis de Rita, a Sargento K.C.- já bastante tocada pela bebida - assedia a sua subordinada com bom e velho apalpão. E, antes que a Rita tenha tempo para abrir a boca, as janelas panorâmicas do bar mostram aquele colosso espacial vir direitinho ao sítio onde eles todos estão (é um trque de perspectiva, a nave acaba por acertar muitos andares mais abaixo, o que mesmo assim não é de todo tranquilizador)! KABOOOM!

Após algumas peripécias, os personagens acabam de se safar da arcologia em chamas, que arde num inferno de chamas que deixaria o próprio Nero, o incendiário de Roma, perplexo. Depois de o pó assentar mas antes que as cinzas arrefeçam completamente, é obviamente chegada a altura de a Federação organizar uma expedição punitiva aos níveis inferiores da cidade, onde os rebeldes que de certeza são os responsáveis pelo "acidente" se escondem nas sombras. Diferenças de ordem ideológica, chamemo-lhe assim, fazem com que o personagem do Jota (Tenente Viktor Ralek) seja removido do seu comando pelo capitão ainda antes da operação começar! É que, aparentemente, o nosso Viktor não está no exército para chacinar rebeldes junto com inocentes, mulheres e crianças; é caso para perguntar mas então porque raio é que ele se alistou, para ver o universo? :)

O Tenente Viktor Ralek é assim atirado temporariamente para um trabalho de secretária no centro de comunicações do comando móvel, enquanto aguarda um tribunal marcial. No comando do pelotão, ficou o personagem do Paulo (o Tenente William Jefferson) que, se estão recordados, é um agente rebelde infiltrado. Se ele pensava que comandar era fácil, então íamos agora provar-lhe como estava enganado. Devido à rapidez da execução dos planos dos militares e à lentidão das suas formas seguras de comunicação com o movimento rebelde, ele não pode avisar nenhum dos seus compatriotas sobre que zonas a operação militar ia ter como alvo. Azar!

A operação correu muito bem... excepto para os nossos três protagonistas favoritos, para os quais se transformou rapidamente naquilo que em linguagem militar se designa por um "clusterfuck" total. A cabo Rita Jamieson e o seu “amiguinho” Daniel Fishburne vêm-se a dada altura no meio de um ninho de vespas, que é como quem diz, um esconderijo rebelde. Já o Tenente William Jefferson, o nosso soldado-dedicado-que-é-na-verdade-um-rebelde, dá por si – acompanhado de dois dos seus soldados – a dar de caras com um dos braço-direitos do líder do seu movimento rebelde... e quando parecia que ele se ia safar sem grande problema, um dos soldados descobre o pequeno arsenal de armas e documentos comprometedores que o rebelde escondia lá em casa. Pronto, caldo entornado! Será que o nosso William vai conseguir safar o seu camarada rebelde desta situação? Ainda por cima, sem que William saiba, o Tenente Viktor Ralek, no centro de comunicações, está a seguir o percurso dos seus homens e está a manter um olho nesta situação.

Definiram-se os stakes, rolaram-se os dados, e deixámos o clusterfuck seguir o seu rumo. A cabo Rita Jamieson ia ser tomada prisioneira pelos rebeldes de qualquer maneira, mas o falhanço nos dados determinou que por causa dela o seu amiguinho do coração levou um tiro ao tentá-la proteger de uma bala que ela podia ter evitado se tivesse reagido mais cedo. O Tenente William Jefferson ia conseguir abater os dois soldados sob o seu comando, tal como pretendia, mas o falhanço dos dados determinou que um deles ficou vivo por uma unha negra, em coma profundo, possivelmente capaz de acordar mais à frente no episódio e contar ao mundo da traição do seu tenente. Já para o Tenente Viktor Ralek, ele conseguiu superar o desafio e o seu sucesso nos dados permitiu-lhe aperceber-se do que se estava a passar: viu pelas câmaras vídeo de um dos dois soldados o seu camarada Tenente Jefferson a disparar na direcção desse mesmo soldado, que caiu por terra.

Resultado final: o amigo rebelde de William conseguiu escapar , Viktor emitou (de forma pouco legal, já que ele estava removido da cadeia de comando) uma ordem de prisão, que foi de imediato cumprida, para William, e a nossa querida Rita viu-se dominada e levada como prisioneira por um grupo de rebeldes. Nada mau, huh? E lembrem-se que o jogo tinha acabado de começar! Não sei quantas vezes já disse isto, mas sou obrigado a dizê-lo outra vez: Primetime Adventures, meus amigos, é ouro puro!

A trama continuou a desenvolver-se a óptimo ritmo, levando um pontapé em frente com cada cena que produtor e jogadores iam chamando à vez. Houve uma grande peixarada com Viktor, William, e vários NPCs... Viktor e William esgrimiram argumentos e, por sua vez, levaram ambos na cabeça do General Jamieson, por terem colocado a sua filha na linha da frente e a terem deixado ser capturada. William conseguiu explicar minimamente as suas acções, apesar daquilo que Viktor testemunhou, e criou dúvidas suficientes para o caso ficar por ali até haver tempo para uma comissão de inquérito estudar formalmente o assunto. O soldado em coma, que poderia meter tudo em pratos limpos quando acordasse, foi colocado em vigilância apertada para não lhe acontecer nenhum "acidente". William/Paulo já conseguia sentir a corda com que se enforcam os traidores à volta do pescoço...

Quanto à nossa Rita, foi interrogada e um pouco amassada pelos rebeldes num interrogatório duro. Apesar do silêncio dela, o líder dos rebeldes acabou por aparecer e identificá-la como filha do General Jamieson, o comandante das forças armadas. Agora é que Rita não ia a nenhum lado... iam usá-la para chantagear o seu pai e todo o exército! Ela já estava a ver a sua vida a andar para trás quando surge o seu amiguinho Daniel Fishburne, NPC extraordinaire, que a vem acalmar e prometer-lhe que a vai libertar.

Daniel pelos vistos não é político, porque realmente não faltou ao prometido. Pela calada da noite, matou um dos seus camaradas rebeldes e conduziu Rita pelo labirinto de túneis onde os rebeldes se escondem até uma conduta de ar que Rita podia usar para escapar; Daniel iria ter com ela dali a algumas horas, para não lançar suspeitas sobre si. Rita e Daniel estão ali, próximos um do outro, a despedirem-se... A Raquel vê finalmente a sua oportunidade para introduzir um pouco de romance na história, e escolhe este momento para Rita revelar a Daniel os seus sentimentos por ele, com um longo e carinhoso beijo. Rita aproxima-se de Daniel, aproxima-se ainda mais, aponta os lábios dela aos dele, aproxima-se ainda mais e...

Daniel desvia-se no último segundo! Xiça, mas o homem é gay, ou quê? Rita está um pouco coberta de nódoas negras, feridas e arranhões, mas continua a ser uma mulher extremamente atraente. Os telespectadores estão ainda mais chocados do que a própria Rita/Raquel, que levou a tampa da sua vida. Este é dos momentos que mais me orgulho no episódio de Domingo; já tinha decidido que ela ia levar uma tampa do Daniel desde o início da sessão passada, e estava só à espera que ela fizesse o seu movimento certo para poder accionar o meu plano maléfico e contrariá-la. Foi perfeito; a forma como a Raquel iniciou a coisa, e a forma como eu a terminei assim tão abruptamente que apanhou todos os jogadores de surpresa. Pobre Raquel/Rita! Foi um golpe perfeito no seu issue de auto-afirmação; como é que ela se vai sentir mais confiante em si se o único homem que demonstrou algum interesse e amizade por ela não a quer beijar? Lindo!

A cena terminou com Rita e Daniel a despedirem-se um do outro, pouco à vontade; ele desconfortável por ela o ter tentado beijar, ela desconfortável por ele a ter recusado. Com problemas amorosos assim, quem é que ainda liga a conflitos entre rebeldes e federação por um estado mais democrático ou mais autoritário? É este o material com que se faz uma grande série e uma grande história, eheh.

A nossa série continua mais tarde, já com Daniel e Rita de regresso à base depois de algum tempo de cativeiro. Está a ser dada uma festa em honra da sua fuga arriscada e espectacular, mesmo por baixo das barbas daqueles rebeldes Bin Ladens de trazer por casa. Mal sabe toda aquela gente que Daniel é um rebelde infiltrado na unidade e que foi ele que os libertou aos dois; Rita é a única que sabe, já desde o final do episódio-piloto, mas ela não contou a ninguém porque Daniel é o único soldado em toda a porcaria daquele exército que a respeita pelo que ela é. No entanto, depois da tampa que Daniel lhe deu, ela está furiosa e considera seriamente a hipótese de denunciar Daniel às autoridades. Acaba, no entanto, por se acalmar e decide manter-se calada por mais uns tempos.

Este conflito interno que acabei de descrever passou-se todo ele na mente da Raquel/Rita (quando a Raquel está concentrada, ela [i]é[/i] a sua personagem), mas tão forte foi e tão brilhante é o role-play dela que toda a gente na mesa sabia exactamente o que é que estava a passar-se no interior da sua cabeça. Esta nossa Raquel, a jogadora, é realmente um poço sem fundo de emoções! Nada pode dar mais prazer a um mestre de jogo do que vê-la contorcer-se por dentro enquanto os seus personagens tentam lidar com as situações difíceis que lhe aparecem no caminho. Eu, por mim, não me importava nada de a ver interpretar uma das suas personagens durante um longo e aborrecido jantar social que durasse horas... mas se calhar concordarão comigo que é ainda mais interessante e intenso vê-la interpretar os personagens quando estão entre a proverbial espada e a proverbial parede!

De volta à cena... Rita está a conversar com Daniel e a tentar perceber como deve interpretar a tampa que ele lhe deu, quando o Tenente William Jefferson (jogado pelo Paulo) se aproxima para cumprimentar o par pela sua fuga destemida. Algo estranho acontece então.... Daniel fica rígido e tenso, olhando o seu superior William fixamente enquanto ele conversa com Rita. A certa altura Daniel explode. Menciona, como se fosse a coisa mais importante do mundo, Chritine Sanders, a rebelde que William matou a sangue-frio no episódio anterior, e acusa William de assassinato, deixando implícito que tanto Daniel como William são rebeldes. Felizmente, ninguém mais no bar ouvir aquela pequena frase... afinal, aquilo é um bar de soldados, pelo amor de Deus!

Também me orgulhei muito deste momento intenso, em que apanhei todos os jogadores de forma inesperada. William é apanhado completamente de surpresa ao ver-se desmascarado, ali, por aquele soldado, em frente à filha do próprio comandante das forças armadas! No entanto, antes que ele possa fazer algo, Daniel lança pelos ares a mesa na qual os três estavam sentados e atira-se a William. Finalmente, uma cena de pancadaria num bar, woo-hoo! Soldado e tenente acabam por ser separados pelos colegas, e William acaba por convencer Daniel a ir lá fora tirar aquilo a pratos limpos. É um clusterfuck brutal nos esquemas de William; a sua identidade secreta está em perigo, a sua missão está em perigo, a sua própria vida está em perigo. E é um soldado aparentemente louco que o detesta quem tem a faca e o queijo nas mãos.

Há um complexa troca de palavras, mas não de mais murros, felizmente. William é capaz de matar tanto Daniel como Rita, para proteger a sua identidade, e é mesmo isso que ele diz a Daniel. Os dois acabam por se afastar sem chegarem a nenhum entendimento; ambos caminham autêntica corda bamba que um ou outro podem cortar a qualquer momento.

Rita também não está nada contente com o teor da conversa. Ela agora já sabe a identidade de dois rebeldes infiltrados no exército, um dos quais ela não tem qualquer desejo de proteger mas que, por outro lado, é capaz de a matar a qualquer momento para manter essa informação secreta. Rita puxa as orelhas a Daniel assim que este regressa da sua conversa privada com William, e os dois acabam por ter uma discussão em que não demora a tornar-se política. Daniel até carrega nalguns dos botões mais sensíveis de Rita, acusando-a de ter tido uma infância privilegiada e ter sido protegida dos males do mundo e da Federação pelo seu pai; milhões de outras pessoas, como Daniel, aparentemente não têm esse sorte e é por isso que ele luta ao lado dos rebeldes, apesar de estes também não serem exactamente anjos inocentes.

Entretanto, William continua fulo com a revelação da sua identidade secreta e vai tirar satisfações junto do líder do seu movimento rebelde. Ninguém era suposto saber a sua identidade, muito menos um rebelde emotivo capaz de algum acto tresloucado, e muito menos ainda a filha de um general da federação! William exige que o líder tome providências para o proteger, e pode começar por arranjar maneira de ultrapassar a segurança reforçada do hospital militar e matar o soldado em coma que o pode mandar para a forca se acordar.

Cena seguinte. É uma cena pessoal, pedida pelo Jota, de um jantar relativamente íntimo entre o seu Tenente Viktor Ralek e a sua amiga médica, Nadja Romanova. "Dá-me um bang," pede o Jota, e eu tenho o prazer de obedecer de imediato. Baseia-se numa ideia que já tinha desde que o soldado que sabe a verdade sobre William ficou em coma, ideia essa que depois ganhou uma e definição e inevitabilidade quando William pediu à resistência para tratarem eles próprios “da saúde” ao dito soldado. Agora, ao ouvir este pedido do Jota, a última peça do puzzle encaixou-se e soube exactamente quando (agora!) e como concretizar essa ideia. Foi algo de instantâneo; é algo de mágico quando a inspiração nos ataca assim, quando menos a esperamos.

Então vamos lá ao nosso jantar entre Viktor e Nadja. Nadja parece triste e distante, bastante longe do seu eu habitual. Viktor tenta perceber porquê, e a médica desculpa-se com o trabalho e o cansaço. Depois do desastre no início do episódio, trabalho realmente não lhe deve faltar; os feridos são aos milhares. Mas será só isso? Viktor, com a falta de tacto de alguém que viveu toda a sua vida na tropa, desvia então o assunto para o que realmente lhe interessa mais: o estado de saúde do soldado em coma. Nadja explica-lhe que ele morreu há algumas horas atrás e depois desfaz-se em lágrimas, confessando-lhe tudo e mais alguma coisa.

Foi ela quem o matou, estão a ver? A médica que jurara há anos fazer tudo para salvar vidas assassinou o seu próprio doente. "Explica-me tudo desde o início," pede – ou talvez "ordena" seja mais adequado – friamente Viktor à mulher quebrada pelo arrependimento que está à sua frente. Em algumas breves frases, ela conta a sua história, explicando como começou a ajudar a rebelião desviando medicamentos e efectuando tratamentos a quem deles necessitava, e como a coisa começou a crescer até a devorar, culminando naquele acto contra tudo o que acredita porque a convenceram que seria um pequeno sacrifício a fazer para salvar dezenas ou centenas de vidas de rebeldes e suas famílias.

Viktor ouve tudo isto impávido, e depois diz a Nádia para tirar uns dias de folga e sair do planeta enquanto ele arranja "uma solução". Como a dita "solução" ficou por especificar, todos os outros jogadores e o produtor estão a fazer apostas em como esta solução de Viktor/Jota envolve denunciar Nadja às autoridades antes ou depois de a usar para prender os rebeldes em troca de um perdão pelos seus actos de traição. Viktor/Jota pode acabar por não fazer isso, mas todos nós temos a certeza absoluta de que foi a primeira coisa que lhe passou pela cabeça e que só não vai ser a opção final dele se acontecer algo realmente importante que o faça mudar de opinião.

Isto lembra-me uma das intenções do jogo Sorcerer RPG, que é exactamente arranjar um termo de medida (a mecânica da Humanidade) para poder comparar a forma como os diferentes jogadores/protagonistas lidam com problemas de teor semelhante. Só que neste caso não há mecânica nenhuma, é mesmo algo que se pode ver facilmente a olho nu. De um lado temos a Raquel e a cabo Rita Jamieson, convictas do propósito maior da Federação mas que mesmo assim deixam que o amor e a amizade as impeçam de denunciar um traidor como Daniel Fishburne; do outro lado temos o Jota e o Tenente Viktor Ralek, que apesar de conhecerem bem o lado podre da Federação estão ainda assim dispostos a cumprir o seu dever para com ela, não deixando que algo tão emocional como amor ou amizade os impeçam de entregar Nadja Romanova às autoridades.

Engraçado, não é? E extremamente temático, também! Por isso, embora não tenha sido um pináculo de originalidade ou criatividade colocar a médica a despachar o doente ao seu cuidado, foi decididamente um dos muito momentos altos do jogo!

Enquanto isso, William Jefferson (personagem do Paulo) continua a espumar pela boca. Abrimos então uma cena com ele a instalar-se em casa de Veronica Johanssen, filha do senador que fora raptada, junto com o seu pai, no episódio anterior. O pai de Veronica fora assassinado pelos rebeldes, de modo que ela herdara aquele cargo praticamente vitalício; isto diz bastante do quanto a Federação está podre por dentro, quando um cargo supostamente democrático passa por hereditariedade... orgulhei-me bastante de ter introduzido este pormenor curioso no último episódio! Fora William quem a resgatara pessoalmente no episódio anterior, e os dois haviam engraçado com o outro (de tal modo, que ela substituiu um dos contactos na folha de personagem dele). William até já estava a começar a relaxar quando a Veronica lhe releva que o chamou ali para mais do que “socializar”: ela e outra pessoa querem falar com ele....

É a deixa para Jan Van Meyer entrar na sala com uns cocktails para toda a gente. Jan é alguém com peso no Special Branch (os serviços secretos da Federação), e é um dos contactos do personagem do Paulo. A Senadora e o Mestre dos Espiões têm uma proposta para William. Há uma terceira força a puxar os cordelinhos em Éden, para além da Federação e da Rebelião. São pessoas em cargos importantes que acham que a Federação precisa de um abanão, mas que não estão dispostos a deixar que a ralé anarquista tome conta dos destinos de planetas inteiros. São pessoas que andam a jogar um jogo perigoso, atirando os outros dois lados daquele triângulo um contra o outro para os tentar enfraquecer o suficiente antes de tentarem tomar conta das rédeas e dos destinos do universo conhecido. São pessoas que precisam de homens como William, dispostos a fazer o que é preciso, quando é preciso, sem problemas de consciência. São, quem sabe, as mesmas pessoas que desencadearam o atentado bombista no início do episódio-piloto e o atribuíram aos rebeldes; afinal de contas, o culpado era nem mais nem menos que um dos homens de Van Meyer, que acabou morto por uma bala certeira do próprio Van Meyer, antes de ter oportunidade de confirmar se realmente era um rebelde infiltrado. São também, talvez, as mesmas pessoas que planearam e organizaram o desvio da nave espacial que destruiu o edifício governamental no início deste episódio matando milhares de pessoas com um só golpe.

E são também as pessoas ao lado das quais William Jefferson quer estar, pelo menos por agora. Afinal, ele é um animal que pensa acima de tudo em si e na sua sobrevivência. São só Veronica e Jan têm pinta de pertencer ao lado que vai sair vencedor como ele próprio está algo queimado tanto dentro do exército da Federação como dentro da própria rebelião. A cena acaba como um brinde a três, às coisas boas que o futuro com certeza trará. Que tocante!

Esta coisa de o Jan Van Meyer estar a jogar ao mesmo tempo em dois campos (quais dois, três! ele tem espiões na Rebelião, trabalha para a Federação e está a brincar com um terceiro lado aos jogos de poder) é algo que já me tinha ocorrido desde que o Jota o criou. Esta coisa dos agentes secretos e espiões tem sempre contornos sinistros e nada é o que parece à primeira vista. Eu sei, eu via o The Agency no AXN! Daí que eu tenha desde logo, no episódio-piloto, aproveitado para plantar essa pequena semente com o traidor bombista (um dos homens de Jan), a fugir e a ser convenientemente morto por uma bala certeira de próprio Jan (os outros jogadores acertaram-lhe em pontos não-vitais).

Quanto à Senadora, também tenho um podre sobre ela que há-de ser revelado quando a altura certa surgir. Jan e ela estão bem um para o outro, e William Jefferson aparentemente também é perfeito para eles. Vamos ver no que dá esta sociedade improvável!

Para acabar o episódio, temos uma cena da Raquel. Estava toda a gente desejosa – há já para aí um ou dois episódios – para ver a Rita e o Daniel na cama, e finalmente parecia chegada a altura. Os dois ainda ficaram com muita coisa por discutir, e combinam um encontro num local discreto para colocarem tudo em pratos limpos... o local discreto não por acaso é um quarto de hotel de terceira categoria onde ninguém faz perguntas e o check-in é anônimo. Depois de mais uns puxões de orelhas de Rita a Daniel, que parece mais calmo, aquela magia no ar começa a formar-se... quase que conseguimos imaginar os nossos telespectadores a aproximarem-se do ecrã, fazendo figas para ver se é desta que Rita e Daniel se beijam e ultrapassam aquela tensão sexual entre os dois.

E acontece mesmo! Desta vez Daniel não foge nem desvia a cara, e os dois beijam-se finalmente, com Daniel a retribuir o gesto de Rita. Mas, também, que homem é que resistiria a uma mulher tão bonita e feminina como Rita Jamieson, agora que ela não está coberta de nódoas negras e, especialmente, minutos depois de ela lhe ter dito para ter juízo antes que ela o entregasse ao pai dela para o enforcar como um traidor da Federação? Eu sei que nessa situação de certeza que não diria que não, e vocês? :)

Aqui eu decidi terminar a cena e o episódio com um último conflito. O issue de Rita Jamieson é auto-afirmação, de modo que fiz pontaria para isso e lhe coloquei os stakes à frente: se ela ganhasse o lançamento, Daniel sentia-se genuinamente atraído por ela e não havia ali nada de discordante; se ela perdesse, a coisa não seria tão clara... de que maneira? Bom, isso eu não quis especificar e preferi guardar a surpresa. :)

Eu investi os cinco pontos máximos de orçamento neste roll, que eram também os últimos cinco pontos de orçamento que me restavam. Se vos disser que o meu orçamento começou com nove pontos, podem facilmente julgar a importância que este conflito tinha para mim: investi mais nele e nesta cena do que nos conflitos do resto do episódio juntos! A pobre Raquel só conseguiu reunir dois ou três dados, contando com Fan Mail; é duro ter o Screen Presence a 1 e chegar ao fim do episódio com poucos cartuchos, não é? Eheh.

Ganhei o conflito facilmente, e também a narração. Agora podia largar a minha surpresa em cima da Raquel. Deixei a cena desenrolar-se, mantendo o suspense: os dois personagens continuaram agarrados um ao outro, a explorarem-se apaixonadamente, com as suas roupas a voarem pelos ares à velocidade máxima com que as conseguiam despir. Corta para mais tarde, com os Rita e Daniel deitados na cama, já depois do acto. Daniel parece genuinamente feliz por estar com Rita, e isso deixa-a feliz a ela; ele parece estar alegre e confiante, de uma forma como ela não o via há muito tempo, e isso deixa-a a ela alegre e confiante. Parece que ambos estão num pequeno paraíso só deles naquele planeta árido e hostil que alguém chamou, como ironia de muito mau-gosto, Éden.

Daniel levanta-se da cama, veste-se e diz que vai buscar comida para ambos. Depois despede-se de Rita com um “Até já, Christine” e sai do quarto completamente alheio ao facto de que acabou de chamar o nome errado à mulher de quem está supostamente enamorado... Ouch!

Vamos somar 1 + 1? Então é assim, Daniel era o acompanhante de Christine Sanders quando no episódio 1 da série ela foi vista a falar com criminosos a propósito do rapto do Senador Johanssen e da sua filha Veronica. Depois temos a cena em que ele causou um escarcéu com William Jefferson por causa de este ter morto a mesma Christine antes que esta tivesse oportunidade de ser torturada pela Federação e comprometer o movimento rebelde. Depois temos o facto de ele ter andado triste e retraído desde o último episódio (em que Christine morreu); nem sequer o seu aniversário o alegrou. Por fim, é reveladora a forma inesperada como ele evitou aquela primeira tentativa de Rita para o beijar. Pois é, amigos, aparentemente o Daniel e a tal Christine eram bem mais que camaradas no movimento rebelde! Irmão, se calhar? Estão a ficar perto, mas ainda não estão lá. Continuem a tentar, eheh!

Não vos vou contar a cara da Rita/Raquel quando Daniel disse aquelas três inocentes palavras e fechou a porta atrás de si. Não dá, é simplesmente indescritível com meras palavras; tinham de ter lá estado. Foi algo de incrível. Temo pela sanidade mental da Rita, e especialmente pelo bem-estar físico do Daniel... se o olhar matasse, ele tinha sido desintegrado como se uma bomba atómica tivesse explodido nas suas costas! Ficou toda a gente em pulgas para ver o que é que se vai passar entre eles no próximo episódio!

Este foi, para mim, o grande momento dos muitos e constantes momentos grandes que houve nessa sessão. Como podem ver, não é nada do outro mundo. Um gajo a fugir a um beijo de alguém o ama, porque quer manter-se um bom amigo e não tornar-se um amante. Um gajo que troca, sem sequer se aperceber, o nome da actual companheira pelo nome da mulher que realmente tem no coração. Um amigo(a) que se revela um traidor(a), etc.

É tudo simples. Tudo coisas que estamos fartos de ver na TV, no cinema, de ler nos romances que temos na mesa de cabeceira. Mas já pensaram que a razão porque os vemos tantas vezes é, simplesmente, porque realmente são gestos/eventos universais, que retractam coisas que já todos sentimos, e que trazem com eles uma enorme carga emocional? Vocês não precisam de descobrir a pólvora outra vez; só têm de lhe dar um aspecto novo e evitarem cair na previsibilidade. Nem sequer nenhum dos issues dos nossos protagonistas é original: auto-afirmação, lealdade, vingança... todos, em particular o último, já estão tão fartos de ser tratados e retractados que já deviam estar mortos de cansaço por esta altura. No entanto, povoam o nosso imaginário desde o início dos tempos, e continuarão a fazê-lo até deixar de existir uma civilização.

É uma questão de timing e sensibilidade. Timing para saber quando aplicar a pólvora: normalmente quando o jogador está com a atenção focada noutro problema. É por isso que as séries de aventura/acção e desenvolvimento de personagem que o PTA procura emular são um material tão bom; porque, por definição, a parte da aventura/acção dá-nos automaticamente algo com que distrair o jogador e pô-lo a olhar para um lado da estrada enquanto o camião TIR que de facto o vai atropelar está a aproximar-se vertiginosamente a 300 à hora por trás dele. Sensibilidade, para saber como aplicar essa pólvora de modo a explorar melhor a vulnerabilidade do jogador e evitar a vulgarizar o momento. Ter o Tenente Viktor Ralek a descobrir por acaso, por portas e travessas, que a sua amiga/apaixonada é uma traidora à Federação nunca seria, de longe, tão poderoso como ele descobrir apenas porque ela própria, que pelos vistos confia nele para a julgar e tomar a melhor decisão por ela, lhe veio confessar tal abominação coisa a ele, lavada em lágrimas e arrependida até ao fundo da sua alma. A prova cabal disto é que o Jota [u]não[/u] a mandou prender de imediato! Na verdade, até lhe disse para abandonar aquele planeta por uns tempos (possivelmente para ele se esquecer que ela existe e, por consequência, que é uma traidora que ele devia mandar prender).

Enfim, resumindo, foi outra sessão de PTA espectacular. Este grupo de jogadores e produtor está com uma química explosiva que não vos conto!

Próximo Domingo, temos o episódio spotlight do Paulo / William Jefferson, com Screen Presence a 3. O seu issue é a Vingança que ele quer obter a todo o custo pelo que fizeram à sua mulher e criança. Todos os Next Week On criados no final deste episódio lidam directamente com esse issue, ou pelo menos com o William Jefferson. À partida, vejo duas grandes hipóteses: ou ele de facto obtém a sua vingança não importa o custo, ou encontra dentro dele a capacidade de perdoar ou compreender o acontecimento de forma a que a possa finalmente deixar descansar em paz os espíritos da sua mulher e criança sem que tenha de haver mais derramamento desnecessário de sangue. A minha função vai ser tornar ambos os caminhos atractivos/difíceis por igual para criar realmente um dilema significativo no jogador... neste momento, parece que nada se pode colocar entre William e o seu desejo cego de vingança. Já deu para ver que nada parece ser forte o suficiente meter entre ele e os seus objectivos. Mas ainda assim eu vou tentar dar-lhe um desafio... vamos ver se consigo!

De resto, nesse episódio a Raquel vai ter Screen Presence a 2, pelo que a história dela também vai levar um pontapé para a frente, até porque o episódio seguinte vai ser o spotlight dela! Já o Jota, com Screen Presence a 1, provavelmente ficará mais pelas sombras, mas vamos também tentar que o seu Viktor tenha mais para fazer do que se limitar a ser um sidekick... porque quando chove, troveja, e cai pedra e granizo, deve ser para todos! ;)

Portanto Domingo, 16:00 da tarde, não percam mais um fabuloso episódio de [url=https://www.abreojogo.com/dirtside]Dirtside[/url] na vossa televisão!

senta-se com as pipocas à frente da televisão e começa o zapping

Não está a dar nada de jeito hoje… click *click click
Olha, fixe, Dirtside está a começar…

lê o post de fio a pavio

Muito bom! Só não consigo distinguir se é o jogo que é bom ou se é o playgroup que é excelente. Não existem conflitos nas sessões entre os jogadores e um ou outro que se sinta mais posto de parte? Se o jogador com mais screen presence tiver um roleplay desinteressante os outros não apanham uma seca? Por outro lado, se houver um participante particularmente espectacular no seu roleplay, os outros não se encostam e ficam a apreciar o espetáculo?

Basicamente, acho que a minha pergunta é de que forma é que PTA ajuda os jogadores a fazerem a sessão interessante?

Sim, estou mesmo a precisar de ler o livro ^^

Aqui tens a beleza do sistema em acção! O jogo mexe-se para a frente em cenas, e as cenas são chamadas, à vez, por cada uma das pessoas em redor da mesa (jogadores e produtor) por igual. Portanto é impossível alguém ficar posto de parte… só tem de “pedir” uma cena com ele (e os outros PCs, se assim o entender) metido bem no meio da acção. Ou então, se estiver de momento a decorrer a cena de outra pessoa onde ele não está a participar mas queria muito, pode gastar um dado de Fan Mail para o seu personagem aparecer de imediato nessa cena (ou então pedir aos “donos” da cena se pode aparecer). Simples!

Mecanicamente, o Screen Presence apenas afecta o número de dados que rolas e dá-te prioridade na ordem de pedir as cenas. De resto, supostamente determina que este personagem ou aquele tem hoje ou amanhã o seu spotlight episode, em que é suposto a coisa girar um pouco mais em redor dele. Se os outros jogadores estiverem a achar a coisa desinteressante e não conseguirem dar-lhe a volta criando cenas brilhantes que tragam ao de cima o que de melhor há no outro jogador, bom, só têm de criar o tipo de cenas que gostam, com os personagens que gostam. Ninguém os obriga a deixar o foco só em cima do outro jogador.

A melhor coisa é que se cria um ambiente muito colaborativo, com sugestões de todos para todos, ideias a voarem de um lado para o outro a transformarem-se e a evoluirem através de feedback… mesmo que um dos jogadores não seja grande espingarda neste campo, o mais certo é que os conselhos, sugestões e feedback dos outros participantes o ajudem ser mais interessante e criativo.

Têm essa opção, eheh. Neste tipo de jogos, a sensação de ser tanto um criador, como um participante, como um espectador é muito forte. O gozo vem dos três lados ao mesmo tempo, e cada lado reforça os outros dois e torna a experiência mais abrangente e potente.

De qualquer maneira, cruzar os braços é impossível. Têm de continuar a pedir cenas para mexer a trama. No máximo ficarão tão entusiasmados com a prestação de outro jogador que poderão pedir cenas que provoquem esse jogador a novos desempenhos brilhantes, em detrimento de fazerem os seus personagens brilhar um pouco mais. Estão no seu pleno direito para fazerem isso; a série não deixa de ser interessante e, se eles se querem divertem assim naquele momento, é deixá-los! No entanto, imagino que mais cedo ou mais tarde a malta começa a ver que este personagem já esteve em destaque várias cenas seguidas logo é preciso deixá-lo descansar porque senão aquilo perde a graça. :slight_smile:

Basicamente, estimula o espírito colaborativo. Toda a gente dá ideias, seja a sua cena ou não, e mistura daquilo dá cenas frequentemente brilhantes!

Outra coisa, não corta as pernas a ninguém! És jogador, achas que o episódio está um pouco seca… no máximo esperas dez/quinze minutos que chegue a tua vez de pedir uma cena e pedes algo envolvendo um tiroteio brutal com homens armados! E vice-versa… achas que não dilemas morais suficientes? Tu próprio podes introduzi-lo e depois o Produtor que continue a partir daí. Queres mais romance? Força, ninguém te impede de criar uma cena mais íntima!

Depois, como não tem “palha” nenhuma nas regras permite-me como GM concentrar-me no mais importante para mim, que é arranjar batatas quentes para pôr nas mãos dos jogadores (os Issues facilitam isso, e de que maneira!). Nem preciso de preparar uma trama; basta ter uma ideia vaga de como começar e acabar o episódio (e se no episódio passado tiveste Next Week On então sabes bem que assuntos se vão abordar no episódio) e o resto faz-se sozinho com os jogadores a ajudarem a cena.


“You can choose just who you are.”

[quote=Rick Danger]Muito bom! Só não consigo distinguir se é o jogo que é bom ou se é o playgroup que é excelente. Não existem conflitos nas sessões entre os jogadores e um ou outro que se sinta mais posto de parte? Se o jogador com mais screen presence tiver um roleplay desinteressante os outros não apanham uma seca? Por outro lado, se houver um participante particularmente espectacular no seu roleplay, os outros não se encostam e ficam a apreciar o espetáculo?

Basicamente, acho que a minha pergunta é de que forma é que PTA ajuda os jogadores a fazerem a sessão interessante?[/quote]

Eu acho q a participação dos jogadores é altamente incentivada pelo sistema de chamar cenas rotativamente. Tenho mais 2 grupos de PTA, em ambos os casos tinha um jogador altamente apático que ganhou bastante mais interesse pelo que se passava na mesa (nem q fosse para chamar cenas para os outros).

JP

Acho que isto mostra que temos uma premissa forte no Dirtside. O que é que te interessa mais, a tua lealdade (Viktor Ralek), as relações pessoais (Rita Jamieson) ou a ambição (William Jefferson)? É engraçado como montámos a premissa e respondemos questões em apenas três sessões de jogo :slight_smile:

Mas… Tenho que confessar que o Narrativismo baseado nos personagens talvez não seja para mim, pelo menos quando o foco é nas relações pessoais. E sei que é problema meu porque toda a gente se está a divertir, tanto que eu prefiro usar as minhas cenas para pôr conflitos aos outro personagens que aos meus :slight_smile: Ou seja, prevejo a minha participação futura no Dirtside mais como co-GM e personagem secundária que como protagonista.

Agora, o Narrativismo baseado no setting… Dêm-me decisões sobre traír ou não a Federação, isso é fixe :slight_smile:

JP

Hey, :slight_smile:

Well. Faz disso o teu issue e começa a criar cenas sobre isso, e vais ver que num instante tens isso em cima da mesa. :slight_smile:

Cheers,

J.

[quote=JMendes]

Well. Faz disso o teu issue e começa a criar cenas sobre isso, e vais ver que num instante tens isso em cima da mesa. :)[/quote]

Pois. Adivinha qual é o meu issue e qual o foco das cenas que tenho criado :stuck_out_tongue: Podes ver na folha de personagem e nas descrições das sessões.

A questão é que isso, em PTA, não chega. Tu podes chamar uma cena mas a sua evolução depende principalmente do produtor, e ele tem puxado para as relações pessoais, ou seja, o foco tem sido amizades/amor vs lealdade. É isso que eu não quero explorar, o q eu quero explorar é lealdades divididas a entidades/ideais :slight_smile:

Agora, eu podia começar a impor os meus próprios conflitos, mas considerando que o resto da malta (a audiência) acha isso aborrecido e está a adorar o jogo como ele é agora, eu estaria a ir contra o espirito do jogo, não? No mínimo recebia menos fan mail :wink:

O que eu queria dizer é: reconhecendo que a minha opinião sobre a natureza dos conflitos é minoritária, parece-me mais correcto por agora usar as minhas cenas e o meu protagonista para sublinhar os conflitos pessoais dos outros protagonistas, e se quero dar um rumo diferente ao Dirtside, esperar pelo meu “spotlight episode”. Ou seja, evitar ser “prima donna” - excepto quando as regras mo permitirem :wink:

JP

Chefe, esquece isso tudo! Atira-te ao tipo de cenas que queres, nem que seja só para me/nos mostrar o tipo de caminho que queres seguir. E queres saber uma coisa? O tipo de cenas que tens em mente provavelmente vai estimular o animal que há no Paulo! :slight_smile: Além de que, sejam lá elas o que forem, o mais certo é darem-me lenha para queimar a Raquel - ela tem ligações fortíssimas tanto à Federação (é só a sua famelga toda!) como à Rebelião (o namorado).

Não estamos tu e eu aqui fartos de dizer aos virgens-PTA que neste jogo é praticamente impossível alguém se aborrecer porque só tem de esperar a sua vez para fazer uma cena porreira? E agora vens dizer que não queres fazer isso para não aborrecer os outros? Eles não se aborrecem, isso é garantido! :slight_smile:

Anyway, a culpa disto é capaz de ser só minha; quando te vi tão entusiasmado em juntar-te à rebelião decidi, como podes ler algures por aqui, tornar a Rebelião o mais negra possível para a decisão de te juntares ser um dilema maior. Afinal tu querias é ter um pé em cada uma das facções para depois colocar o setting produzir-te dilemas a cada passo. Não percebi isso na altura, sorry! Mas vamos corrigir isso.

De qualquer maneira, não te inibas… por favor! Como disse, aposto que o tipo de cenas que desejas são perfeitas para queimar os também, ao mesmo tempo, os outros jogadores. E não me fiques à espera do teu spotlight; esse vai ser o último episódio da série! Além disso, provavelmente haverá cenas ultra-poderosas que podemos conseguir se tivermos o cuidado de ir preparando o terreno para elas… portanto, não deixes para amanhã o que podes fazer hoje! No mínimo, usa o teu poder para me lembrar/mostrar o tipo de cenas que queres e eu vou-lhe apanhando o jeito.

Bom, mas agora que tens três facções no terreno a competir e tens ligações ou simpatias com todas as três, isto é que vai ser uma fartura! Vamos ver se consigo aproveitar isso!


“You can choose just who you are.”

Jota, bacano:

Eu confesso que tenho tendência a puxar o RP que faço para as emoções e as relações pessoais. É assim que conheço as minhas personagens e aprendo a andar na pele delas. Mas isso não quer dizer que eu não goste do resto - e aliás, as próprias personagens têm várias camadas (quando a coisa corre bem) e podem viver a vida (ou o RP) de várias maneiras.

E eu também gosto de conflitos :wink:

O que quero dizer com isto tudo é: força! Inicia aí um imbróglio Federação vs Rebeldes vs Outros (ainda não foram baptizados, que lapso o nosso!) à vontade! Tu divertes-te mais e eu (como Rita) vou ficar num grande assado.

É que se vamos a falar de lealdades, como o Ricardo bem apontou, não nos podemos esquecer que:

  1. por um lado a Rita foi educada para acreditar a 100% na Federação, tem toda a família nas forças armadas, e agora que combate ela própria pela Federação ainda sente o dever, responsabilidade e camaradagem que deve aos seus companheiros de armas;
  2. por outro lado a Rita apaixonou-se por um tipo dos Rebeldes e não quer que nada de mal lhe aconteça, nem quer sair queimada com o Pai, a família e a Federação de toda esta teia de espionagem/terrorismo.

Se é por mim, estás mais que à vontade para mudar a tónica da série, nesse aspecto. Acho que não me vou divertir nem um átomo a menos :slight_smile: Continuo com um issue para resolver, relações potencialmente perigosas e decisões difíceis para tomar. Não podia pedir mais de Dirtside :wink:

E já nem falo pelo Paulo, que está até ao pescoço nas politiquices das três facções…


A Mestrar: Amber Diceless
A Jogar: Vampire: the Masquerade (PBEM e Tabletop), PTA (Dirtside)