Oi, :)
Vou então tentar organizar as minhas ideias.
Em primeiro lugar, há imensa gente que não gosta de PTA, pelas mais variadas razões. Uns acham o conceito de narração partilhada completamente contra-natura, vá-se lá saber porquê. Outros não gostam de agressive scene framing. Outros ainda curtem é Step On Up (gamism), coisa que, realmente, o PTA não tem. That's just fine, nem toda a gente tem que gostar da mesma coisa.
Em segundo lugar, estou cada vez mais convencido que de Narrativista, PTA tem pouco. Tem muito mais de Simulacionista, do ponto de vista de realmente recriar o conceito de uma série de televisão, o que consegue com um sucessso mais ou menos inquestionável.
Em terceiro lugar, as tuas razões:
[quote=Rui]Porque eu como jogador não gosto de saber onde a historia vai parar, gosto de andar à descoberta, de me assustar com os monstros, de não saber se vou ou não acertar no meu nemesis.[/quote]
Erm... hmm.... olha, bleagh. Ya, é isso mesmo, não colam. PTA é O jogo onde ninguém sabe onde é que a história vai parar (embora, para isso realmente se tornar óbvio, seja preciso jogar pelo menos um episódio inteiro). Por outro lado, é um jogo em que, como cada roll de dados realmente interessa (em oposição a, por exemplo, saber se aquele quarto To Hit entrou ou não), o pessoal realmente assusta-se com os stakes que são postos em cima da mesa. E nem sequer consegui parsar a frase "saber se vou ou não acertar no meu nemesis".
Não ponho em causa que PTA possa não ser para ti. Ponho em causa que talvez possas não estar a ser complementamente honesto contigo mesmo acerca das razões que te levam a não gostar. (Ou então apenas não conseguiste expressar correctamente os problemas que tiveste.)
Para além disso, recomendo que não descartes o conceito de Narrativismo com base em meia sessão de um jogo que nem sequer é bem representativo desse modo de jogo (na minha humilde opinião).
Dexia-me, no entanto, particularizar. Tu dizes que gostas de andar à descoberta. Isso quer dizer que gostas da descoberta em si, ou do [i]desafio[/i] de tentar descobrir o que se está a passar? É que do primeiro, o PTA tem aos magotes, mas do segundo, tem basicamente zero.
Num contra-comentário, disseste ainda o seguinte:
[quote=Rui]Repara no seguinte: tu preparas um grande plot twist durante 5 sessões, deixando hints aqui e ali[/quote]
Pois. Mau exemplo. Se tentares fazer isto em PTA, vais pura e simplesmente estar a fazer batota, a jogar contra as regras. Já agora, o teu plot twist preparado com tanto amor e carinho pode passar completamente ao lado dos interesses dos jogadores, que se podem estar nas tintas para o verdadeiro autor do atentado chupa-chupa, querem é saber o que aconteceu aquela jornalista bueda cute que estava lá mas, sabe-se, não morreu. (Er... isto assumindo que o verdadeiro autor [i]não[/i] era a jornalista... you get my driuft.) (Ah, e já para não falar dos jogadores que [i] nem sequer reparam[/i] que houve um plot twist, para quem os acontecimentos parecem completamente normais, ou porque têm brilhantes poderes de dedução, ou precisamente o contrário...)
Já agora, não há nada contra misturar plot twists com Narrativismo. Se, de facto, gostas de plot twists, recomendo que experimentes Sorcerer.
Ah, e comentei o teu exemplo de MnM no outro thread sobre railroading. Pareceu-me mais apropriado ali do que aqui.
Por último, não confundir Indie e Forge com Narrativismo. O meu Project Senate, por exemplo, tem pretensões de vir a ser Indie, é claramente nascido do meu seguimento da Forge, e é tudo menos Narrativista.
Agora, vou comentar alguns comentários...
[quote=jpn]acho que o problema é que os jogadores em PTA sabem exactamente, ou decidem na hora, as motivações dos NPCs e os seus segredos obscuros. Em vez daqueles momentos em que se descobre que o sacana-mor anda a lixar a vida à irmã do PC desde há 4 sessões, o PC decide na hora que é isso que o sacana-mor anda a fazer[/quote]
Ah sim? E porque é que é [i]esse[/i] jogador que está a decidir isso em particular, e não outro qualquer? Porque é que tem que ser o GM e não outro jogador qualquer que não o dessse PC a lançar a bomba para a mesa e apanhar o jogador desse PC totalmente nas curvas?
O meu ponto: eu sempre achei que PTA [i]não[/i] é o jogo para jogar com GM mais dois, quanto mais com GM mais um. Pelo menos um producer e três jogadores, para permitir boa rotação de história e evitar vícios de narrativa. (Sei que pelo menos a Raquel e o Ricardo discordam de mim neste ponto.) De qualquer modo, quantos mais gajos houver à mesa, maior a probabilidade de um deles te surpreender. PTA tem potêncial para ter pelo menos uma surpresa por sessão de jogo, coisa que nos jogos tradicionais acontece de quando em vez.
Por último:
[quote=jpn]O "Project Senate" do JMendes parece-me um exemplo de um tipo de jogo diferente, que realmente se foca num assunto raramente coberto por regras de RPG (só me lembro do Aria) mas que é realmente muito vasto.[/quote]
Whoa! Isso é talvez o comentário mais fixe que alguém alguma vez fez a respeito do jogo! :D :D Curto particularmente o facto de comparares o meu jogo com o Aria. :) I'm flattered and rejoiced. Obrigado! :)
P.S. Fiz o preview desta coisa e [i]não cabe no meu monitor de 19"[/i]!!! Bah. Eu avisei...