[quote=Rui]Porque eu como jogador não gosto de saber onde a historia vai parar, gosto de andar à descoberta, de me assustar com os monstros, de não saber se vou ou não acertar no meu nemesis.[/quote]
Aqui tenho dificuldade em perceber ao que te estás concretamente a referir, porque essas razões, quando apresentadas nesta forma tão simples não fazem grande sentido para mim. Isto porque: 1) como a história é criada na hora, nasce à vez de várias cabecinhas pensadoras, e é alterada radicalmente (ao contrário de um jogo tradicional) por cada lançamento de dados/cartas, ninguém ali faz puto de ideia sobre o que raio vai acontecer a seguir; 2) não sei o que te assusta nos "monstros" mas (excluindo o facto de os montros te poderem matar e obrigar a fazer um personagem novo antes do final da campanha, que também é algo que me parece excluído da forma como conduzes os teus jogos de M&M) parece-me que isso pode ser reproduzido em PTA ajustando Cor, Situação e Stakes aos teus gostos; 3) se vais acertar no teu nemesis ou não, aqui também não sabes... até quem tem controlo da narração (ou o Produtor, ou quem ganhou o conflito se estivermos nessa fase) decidir isso mesmo, eh eh. ;)
E dito isto, obviamente estarás a referir-te a problemas que existem de facto e que não são só produto da tua imaginação. Tal como eu sinto terrivelmente a falta do PTA quando jogo noutros sistemas, acredito perfeitamente que alguém com outros gostos sinta a falta de "algo" quando joga PTA.
[quote=Rui]Depois disso, andei a investigar outros jogos deste género (Dogs in the Vineyard, My Life With Master...), e pareceram-me todos do mesmo. O jogador perde essa designação, passa ele também a ser narrador, e o GM perde um pouco o seu lugar de Mestre de Jogo, passando a ser Moderador da Narrativa. Se calhar ainda estou mal habituado a estas coisas, se calhar a Revolução anunciada desde os anos 80 não seja assim tão revolução e mais Movimento Paralelo. O que interessa para este ponto é: para já, o tal tipo de jogo Narrativo não é para mim.[/quote]
Não confundas meras mecânicas de partilha de narração (que eu, por exemplo, acho que é das melhores inovações trazidas aos RPGs, mas é tudo uma questão de gostos, claro) com jogos Narrativistas. Não têm nada a ver (excepto estar na moda usar este tipo de mecânicas para todo o tipo de jogos indie, que são na sua maioria narrativistas). Tens jogos Gamist e Simulacionistas com partilha de narração, tal como tens jogos Narrativistas com mecânicas de resolução perfeitamente tradicionais (atributos, skills, etc.)... o Sorcerer é um exemplo, tal como o próprio DitV (tenho quase a certeza que não inclui, como dizes, narração dos jogadores no seu sistema de resolução).
Não, o que caracteriza um jogo narrativista é as mecânicas/setting/conselhos de utilização por si só suportarem e criarem dilemas e decisões difíceis: no PTA isso é da conta dos Issues (quanto lhes dás em cima, é provável que origines uma decisão difícil... e todo o jogo é só sobre dar em cima dos Issues), no Sorcerer é da conta da mecânica da Humanidade, no Dogs in the Vineyard é da conta da mecânica "Cala o bico ou põe a tua vida onde tens a boca" de resolução de conflitos (mas também do processo de preparação para as sessões), etc.
De resto, não é propriamente uma revolução. É um tipo de jogo que está lá (tal como o G e o S) desde que o hobby ganhou uma identidade própria e o qual alguns jogos antigos suportavam e estimulavam... um dos jogos que fez alguma gente importante jogar consistentemente este tipo de coisa foi algo tão prosaico como um Champions 2a Edição (um dos primeiros, ou mesmo o primeiro, e mais conhecidos RPG de Supers), antes de os autores do sistema lhe irem aos poucos desviando o ênfase para outras paragens. O que é revolucionário é que hoje em dia muitos jogos são criados de raiz para suportar este tipo de jogo, abandonando todos os preceitos e dogmas que se mantiveram durante décadas (como aquele de que todos os RPGs têm, "obviamente", de ter na sua base atributos, skills e talvez alguns poderes/feats/whatever). Nunca antes houve uma variedade tão grande de designs!
PS - Nada disto (neste post ou no anterior) se destina a invalidar ou refutar as tuas opiniões e observações. Apenas a oferecer algum contexto e clarificações. Já se sabe... gostos não se discutem! ;)