Entrevista no BEJRPG – “Bom é jogar RPG além-tejo”

No verão fui entrevistado por uma excelente comunidade de jogadores de RPG que têm a vista a divulgação do RPG nos seus aspectos mais apelativos e positivos. Fica desde já o meu agradecimento pelo interesse demonstrado.

Para quem tem realmente uma curiosidade mórbida ou de gosto questionável segue de em seguida a entrevista que me foi feita pela Campanha BEJRPG

Foi feita a entrevista com João Mariano, um jogador e mestre de RPG de Portugal, o qual teve contato com a Campanha Bom é Jogar RPG através da internet e os parceiros aqui no Brasil, mostrando assim que além de o RPG ser um jogo sem fronteiras é também uma forma de fazer inúmeras amizades em todas as partes do mundo.

Qual é seu nome e idade?

João Mariano e tenho 30 anos de idade

Com que trabalhas?

Sou Professor de Inglês e Português

Como conheceu a campanha Bom é jogar RPG?

Bem há já uns anos que vou entrando em contacto com a cena brasileira do RPG. Comecei por descobrir a Rederpg, e daí fui seguindo para outros sites e blogues.

Comecei a conhecer melhor o BEJRPG através dos twitters dos autores da Paragons para qual agora colaboro e fiquei bem impressionado com a vossa reportagem em direto ao vivo durante a RPGCon (a melhor convenção organizada em menos tempo que conheço).

O que você espera da Campanha Bom é Jogar RPG?

Eu espero que a Campanha consiga divulgar o RPG no Brasil e noutros países de expressão portuguesa, como sendo uma atividade criativa, social e de baixo custo, onde a contextualização do saber possa ser aplicada de maneira não tipificada e por descoberta.

Em Portugal não temos problemas com a exposição nas Mídias, porque ele por cá é virtualmente desconhecido, à parte de algumas reportagens em revistas semanais ou há largos anos quando o AD&D (Advanced Dungeros & Dragon) foi lançado em fascículos semanais de um jornal. Por isso espero que o BEJRPG ajude a divulgá-lo também cá em Portugal como um fenômeno internacional que leva as pessoas a divertir-se usando a imaginação.

Então, a imprensa em Portugal é bem mais aberta e acessível ao RPG?

O uso das potencialidades da Web 2.0 deveria criar um precedente cá por Portugal para avançarmos na uso da redes sociais da internet e juntar todos os grupos isolados uns dos outros. Por vezes cá em Portugal joga-se um específico jogo de RPG e não RPG em geral. A imprensa em Portugal é aberta porque não conhece o RPG. Presumo que se alguma vez o RPG crescer em popularidade possa acontecer o mesmo que o que aconteceu no Brasil.

Se houver tentativas de divulgação organizada perante os Mídias, como já houve com os jogos de tabuleiro, não duvido que não nos dêem atenção. Os jogos de tabuleiro já foram a programas diários na televisão estatal com demonstrações e algum tempo de antena. Cá temos o problema de sermos uma pequena população de jogadores e muito fragmentada ao contrário da vossa iniciativa que demonstra ser um grupo mais coeso

O que estaria faltando para o RPG ser mais divulgado em Portugal?

Bem existem muitas teorias, as duas mais populares é que se deviam organizar mais eventos de jogo com demonstrações para mostrar o RPG como uma atividade social e gratificante e que deveria existir também um RPG em Português publicado em Portugal.

Eu acho que essas duas teorias dificilmente passarão à prática devido a haver poucos fãs de RPG e/ou com interesse de organizar eventos de RPG ou até comprar material nacional, mas acho também que se devia começar por algum lado.

Não existem editoras interessadas em publicar RPG em Portugal?

No momento não existem editoras interessadas, não. A Devir tem uma sucursal cá, mas não edita nada a nível nacional a não ser comics e jogos de tabuleiro.

Qual a dificuldade de achar material de RPG na língua portuguesa?

Aliás é bastante difícil até comprar e encomendar o próprio material brasileiro deles. Um exemplo é a existência de apenas duas cópias do Mundo das Trevas e Vampiro: o Réquiem na loja de Lisboa (que pelo que parece não existem em mais lado nenhum do país). No caso do material de Devir deve haver também com o custo proibitivo e dificuldades de importação que mantém esta situação

Quando foi o seu contato com o RPG?

O meu primeiro contacto? Há mais de 15 anos tinha um amigo de um amigo que jogava AD&D 2ª edição e que depois de eu ter mostrado algum interesse devido a conhecer e jogar os livros das Aventuras Fantásticas da Editora Verno (Fighting Fantasy em Portugal) e os jogos de computador de aventura e RPG convidou-me para experimentar o AD&D no cenário de Ravenloft. Como a sessão foi improvisada acabei por jogar com as características de uma folha de personagem copiada de um personagem do universo de Dragonlance! (risos) Joguei com um feiticeiro e tentei matar uns lobisomens e a sessão não correu muito bem mas fiquei com o “bichinho” do RPG. Mais tarde consegui pôr a mão na Caixa Vermelha de D&D que tinha sido traduzida e publicada em Portugal pela Império (uma empresa que faliu pouco tempo depois) e para quem não conhece é conhecida nos Estados Unidos como a edição Metzer de 1983.

Daí saltei para o Shadowrun através de um livro fotocopiado (xerox) e depois experimentei Vampire: The Masquerade 2nd Edition, o ínicio do meu grande interesse pelo Mundo das Trevas, em especial o Dark Ages. O meu primeiro RPG livro comprado foi o Call of Cthulhu 4th Edition e foi uma aventura ir comprá-lo de propósito a Lisboa pois sou de Setúbal, uma cidade a 50km de distância, e a viagem de comboio de 1h30m era um grande saga para mim na altura…

Você e um professor, você usa ou pensa usar o RPG em suas aulas?

Eu tento sempre usar o RPG na aulas sempre que posso. O RPG permite, segundo Vigotzky, um teórico da psicologia e educação, uma contextualização do saber ou seja contrariar o facto de por vezes os conhecimentos serem adquirido sem um enquadramento do real devido às limitações das salas de aula.

Como, por exemplo, transpôr o universo das Descobertas para uma sala cheia de cadeiras e carteiras e um quadro branco (que substituíram só os pretos de ardósia há pouco tempo)? No ensino do Inglês os professores aprendem durante a sua formação, a usar a atividade do RPG mas esta passa mais pela dramatização de diálogos do que propriamente a representação e jogo.

Na minha opinião, num RPG os jogadores são igualmente autores e audiência, não existindo propriamente necessidade nem razão para a existência de um palco defronte de uma audiência fora da experiência de simulação e representação ou até as restrições de uma avaliação formal por observação que não estão propriamente interessadas no caráter lúdico do RPG e das suas mecânicas de negociação de input criativo.

Algum dos teus alunos chegou-te a perguntar o que era aquilo que eles estavam a fazer em sala de aula e posteriormente se interessou pelo RPG?

Sim, claro. No seguimento de um actividade que lhes propus tendo como base o RPG mostrei o Dungeon & Dragons 4th Edition Basic Set e o da 3ª Edição também. Ficaram logo curiosos com a imagística de fantasia, das miniaturas e mapas. Contudo é muito difícil partir de um interesse momentâneo para uma demonstração e depois para a fundação de um grupo de jogo. Os alunos provinham de locais longe uns dos outros e tinham ir além dos seus problemas normais de acessibilidade e da existência de um conjunto de atividades que competem pela sua atenção tais como videojogos, cinema, redes sociais e tudo o mais.

O interessante é que a atividade que desenvolvi foi com base no trabalho do site brasileiro Narrativas Iterativas (https://narrativas.incubadora.fapesp.br/portal) que tenta trazer mais pedagogia ao RPG e vice-versa. Aliás, escrevi duas entradas no meu blogue sobre isso.

Que esperas para os próximos anos nesta área do RPG?

Bem, duas coisas principalmente: inovação no paradigma do texto de jogo e nas mecânicas. Quanto ao primeiro, posso dizer-te que sou um grande fã do novo e diferente e tenho acompanhado a (agora “velha”) nova vaga dos RPGs “indie” americanos tais como o Dogs in the Vineyard, o Primetime Adventures, o Burning Wheel e o The Shadow of Yesterday.

A maioria das inovações mecânicas que eles anunciaram eram técnicas que todos os MJ já usavam informalmente nas suas mesas mas nunca tinham sido introduzidas diretamente no texto de jogo. Alguns pressupostos tradicionais do RPG também foram demolidos face à experimentação por ela própria: a ausência de Mestre de Jogo num jogo onde todos têm direitos de narração criativa, a definição de terminologia tornada mecânica durante o próprio jogo e tudo o mais.

Eu espero que estas novas ideias (ou, pelo que parece, velhas ideias numa roupagem bem mais vistosa) que são interessantes apareçam cada vez mais nos jogos de RPG. Algumas delas já apareceram nos jogos mais vendidos tais como o Vampire: The Requiem, ou no novo D&D que deixou de lado o aspecto “vamos simular tudo e mais um par de botas”. Uma coisa que espero é que o livro deixe de ser o meio de transmissão de regras. Os japoneses já andam a pôr manuais de regras na Nintendo DS num jogo em cartucho que até corre os combates pelo MJ e já se pensa em usar os novos Smartphones para fazer coisas ainda mais futuristas como usar Realidade Aumentada através da câmara de vídeo embutida. Espero que um dia as regras sejam verdadeiramente de licença aberta e os conteúdos fictícios e mais literários sejam Propriedades Intelectuais comerciais mas não as implementações inovadoras das regras que serão distribuídos gratuitamente com a possibilidade de qualquer pessoa os desenvolver.

Qual recado você deixa para os jogadores de RPG de hoje e a próxima geração?

O recado? O RPG como atividade humana lúdica e até artística nunca irá acabar mas sim transformar-se, quer isso passe por uma atividade artesanal com distribuição gratuita, por um hobby caro e de luxo só para alguns velhotes como eu ou para se transformar noutro hobby totalmente diferente como espero que o novo MMO do World of Darkness seja: um mistura de RPG de mesa e eletrônico mais perto um do outro que até então. Eu estarei cá para o jogar, ler e discutir e espero que todos vocês também o estejam. Pois uma vez que o bichinho te “morda” ele pega-te para sempre!

Aonde podemos te achar na grande rede?

Blogue pessoal em https://sopadorpg.wordpress.com
Blogue onde escrevo sobre material original com o Rui Anselmo: https://ideonauta.blogspot.com
Sou colaborador do https://www.abreojogo.com, o único site da comunidade portuguesa de RPG e sou colaborador do https://www.paragons.com.br.

Bom esta foi a entrevista com nosso amigo João Mariano que também esta aqui conosco no Bom é Jogar RPG, aqui.

Que tal os comentários no site do BERPG? Entre os vários links brasileiros que encontro, este parece ser dos mais interessantes. Eles também fazem os seus próprios artigos? Suponho que estão na parte do Blog.

Apenas um comentário acerca de insistir com a Devir para divulgar e distribuir melhor o RPG.

De qualquer modo obrigado pelo interesse. Acho que tenho de formatar melhor a entrevista que está quase ilegível.

Acho que o blog deles é o repositório de artigos. Vais dar um cheirinho da tua graça por lá? :wink:

sopadorpg.wordpress.com - Um roleplayer entre Santarém e Almeirim
ideonauta.blogspot.com - Viajando pelos mundos do RPG!
www.paragons.com.br

[quote=jrmariano] Vais dar um cheirinho da tua graça por lá? ;) [/quote]Já lá estou. Registei-me agora.