Eu quero desenhar um RPG!

Olá a todos, :)

Talvez este cenário vos pareça familiar.

Eu: "Eu estou desenhar um RPG. Eu quero que o jogo seja realista, e por isso, preciso de ajuda nas regras de escalada."
Tu: "Hmmm... ok, o teu jogo é acerca de quê?"
Eu: "Bom, é um jogo realista. Quero que os jogadores possam tentar qualquer coisa que lhes venha à cabeça, e o GM tenha uma boa ideaia de como resolver a coisa realisticamente. Neste momento, estou a trabalhar na parte da escalada."
Tu: "Hmmmmok, mostra-me o que já tens."
Eu: "Bom, tenho regras de rapel, regras de escalada com via, regras de escalada sem via, regras acerca dos materiais das cordas, e regras para cravar pitons. Agora precisava de ajuda sobre os tipos de fadiga física, emocional e intelectual que existem. Ah, e além disso, tenho aqui este skill Persuade, que serve, sabes, para convencer a tua namorada a ir escalar contigo, ou convecer as autoridades a deixarem-te escalar aquela vertente."
Tu (com voz de Charlie Brown): "Good grief!..."

Curiosamente, quase toda a gente que eu tenho apanhado a dizer "vou escrever um RPG" comete este mesmo erro, de uma maneira ou de outra... Toda a gente quer escrever um RPG, mas ninguém sabe por onde é que há de começar. Por isso, pegam nos aspectos dos RPGs que conhecem e que acham que conseguem emular. Num exemplo recente, como nos RPGs há skills, é preciso fazer uma lista deles.

"Eu quero lá saber da teoria, o que eu quero é jogar."

Ok, tudo bem, como jogadores, é uma atitude razoável. Afinal de contas, há muito pessoal que gosta de espectáculos de magia e querem é ver os efeitos da ilusão, estando-se nas tintas para como é que o Luís de Matos faz aquilo. (Aliás, para muitos, se soubessem o que está por trás, deixaria de ser divertido ou interessante.) Isso está tudo muito bem.

Para jogadores. Para game designers: bullshit.

O desenho de jogos é uma arte e uma técnica, e os RPGs não são especiais no mundo dos jogos nesse aspecto. Querem desenhar um RPG? Tudo bem. Não têm tempo para tirar um curso universitário sobre desenho de RPGs? Também tudo bem. No entanto, pelo menos, estejam dispostos a fazer um mínimo de trabalho de casa.

"Mas há tanta coisa por aí e eu nem sequer sei por onde começar. Existe aquela coisa da Forge, mas são todos uma cambada de elitistas pomposos que falam num linguajar ininteligível e são 20,000 posts de teoria e eu não percebo nada daquilo!"

Fair enough. Para quem realmente está interessado em desenhar RPGs, em recomendo vivamente esta lista de links: [url=https://socratesrpg.blogspot.com/2006/03/socratic-design-anthology-1.html]Socratic Design Anthology[/url]

São de um blog de um gajo, são todos escritos por ele, e são um bom começo para organizar o processo de desenhar um RPG.

E para quem acha que não tem tempo e/ou paciência para ler aquilo tudo, deixem dizer-vos que mais de 90% do trabalho de criar um RPG vem depois de o texto original estar escrito. Eu já vou na quarta versão do Project Senate, já vou com mais de cinquenta horas de playtesting em cima, e ainda nem sequer comecei a fazer o trabalho a sério, que é [i]escrever as regras[/i].

Se não têm tempo e/ou paciência de levar o vosso projecto a sério, eu até não me importo de trocar umas impressões convosco sobre a vossa brincadeirita, mas por favor, não me peçam a mim para ser eu a levar o vosso projecto a sério...

That's your job!

Cheers,
J.

Duas das coisas que eu mais admiro no João são a sua paciência de santo para discutir alhos com o pessoal que lhe responde em bugalhos, e o facto de ele não ter papas na língua. Eu não tenho a primeira, e da segunda ainda tenho todo aquele Cerelac que comi em criança cá dentro, por isso admiro como ele consegue provocar as pessoas e mostrar-lhes que há outras formas de encarar o que se passa à mesa de jogo.

Grande post/rant! Sinto-me aliviado só de ler. Regras de escalada? LOL. Será que já passou a moda das regras de Queda & Afogamento e ninguém me avisou? Pode ser que o autor do RPG Drowning and Falling ("Will you drown or will you fall? The choice is yours! The world of Drowning and Falling is a mist-choked fantasyland of dark moors and verdant forests, craggy crags and crumbling castles. There is magic, and there are monsters - monsters that can make you fall! Or drown!") faça um suplemento de Climbing, eheh; assim os personagens podem subir para depois cair de ainda mais alto!

 

Compreendo de onde vêm toda este impulso crítico acerca de game design já que estás actualmente a escrever um que parece suficientemente diferente para ser original e diferente e de que te deste conta que não estás sozinho neste site.

Contudo discordo da tua posição pois acho que qualquer tipo de desenho requer técnica e a técnica advém da repetiçáo e emulação.  Efectivamente não estamos a falar de engenharia ou arte mas sim de design de RPG. Claro que também há a questão do talento e da atractividade mas isso advém da execução e da singularidade do jogo.

As "Grandes Teorias" da Forge são interessantes até certo ponto como catálogos de possibilidades mas não providenciam automaticamente artifício no desenho dos RPGs. Apenas ajudaram à sua desconstrução e permitiram exponenciar os paradigmas de jogo para toda a gente. O artifício ganha-se com a experiência e a sua partilha.

Eu estou numa atitude de encorajar e partilhar coisas até com quem anda a fazer alguma coisa nisto de "escrever RPGs" mesmo só porque anda a querer emular o que conhece sem ter em conta a sigularidade e o alcance maior que o que está a realizar poderia ter. E penso que este caso não é único.

Mas é melhor é passar à frente esta atitude do "eu sei coisas que as outras pessoas não sabem" por que senão daqui a pouco estamos a dar apertos de mão secretos e a usar o dado dourado e a ficha sagrada de personagem num ritual qualquer com mais de 30 anos.

"Vale, irmãos jogadores!" :)

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

[quote=jrmariano]Efectivamente não estamos a falar de engenharia ou arte mas sim de design de RPG.[/quote]

Não fosse o design de RPG um misto de engenharia com arte e estarias certo em tudo o que dizes! ;)

 

And BTW, as teorias da Forge sempre tiveram como último propósito a criação de novos RPG's. A sua deconstrução e exponênciação dos paradigmas (lol, estas linguagens!!) não passam de meios para isso mesmo. 

Epá efectivamente é algo que é difícil de delinear: será que design de rpg é engenharia e arte? Bem se se considera design (o gráfico pelo menos) arte, acho que também é.

O que as Teorias da Forge são é uma bela fonte de memes agradáveis e úteis. Vão-se replicando e ajudam as pessoas a visualizar a experiência de jogo de uma maneira abrangente. Acho que em última análise esse prepósito de que falaste tem vindo a ser conseguido mas indirectamente.

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Ahey, :)

[quote=jrmariano]Compreendo de onde vêm toda este impulso crítico acerca de game design <...> Contudo discordo da tua posição[/quote]
Hmmm. Ya, ok, dado que eu concordo integralmente com tudo o que tu disseste no teu post, das duas uma: ou eu de facto não percebi nada do porquê é que tu discordas da minha posição, ou tu não percebeste nada da minha posição.

A) Este jogo é acerca de quê?
B) Neste jogo, o que é que os personagens fazem?
C) Neste jogo, o que é que os jogadores fazem?

Qualquer design que não seja capaz de responder imediatamente e com clareza a estas três perguntas vai necessariamente ser um mau design. Isto para mim é não negociável.

Nota que estas perguntas não têm nada a ver com Big Model nem GNS nem Forge Theory. São perguntas básicas que vão ao âmago do que é "design: to create or contrive for a particular purpose or effect"! (dictionary.com)

Não me pareceu que as tuas razões para discordar estejam de facto em desacordo com isto.

[quote=jrmariano]Eu estou numa atitude de encorajar e partilhar coisas até com quem anda a fazer alguma coisa nisto de "escrever RPGs"[/quote]
Obviamente, esta é a atitude certa para ter.
[quote=JMendes]Se não têm tempo e/ou paciência de levar o vosso projecto a sério, [i]eu até não me importo de trocar umas impressões convosco[/i] sobre a vossa brincadeirita[/quote]

Só que para quem quer que o seu design seja algo mais do que uma brincadeirita, então há algo mais para discutir. Por exemplo, caso não seja imediatamente aparente, as três perguntas acima têm implícitas um obstáculo que pode ser mais ou menos inultrapassável: há quem não consiga diferenciar a pergunta B da pergunta C! Daí que é preciso haver uma base de referência, e daí eu ter posto aquele link no meu rant.

Dado o que tu escreveste no teu post, acho mais ou menos difícil ver onde é que tu discordas da minha posição. Mas enfim, anything's possible...

Ok. Substituir “não concordo” por “não compreendo mas gostava de perceber pois penso estar em desacordo”. My bad! :wink:

Devia estar num dia de antagonismo, sorry.

P.S.: Que tal fazeres essas três perguntas à pessoa que originou esse rant acerca do seu jogo? Thanks.

“Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência.” Fernando Pessoa

Hoy, :)

[quote=jrmariano]Que tal fazeres essas três perguntas à pessoa que originou esse rant acerca do seu jogo?[/quote]
[url=https://www.abreojogo.com/forum/publicacao_de_um_rpg_portugues/2006/03/seculo_xvi#comment-2260]Tipo isto?[/url] ;)

Ok, tou a ser mauzinho. Não foi [i]o jogo dele[/i] que iniciou este rant, até porque eu acho que, se ele de facto conseguir fazer o que quer, até vai ficar bastante giro. Só que a onda dele acerca das três perguntas, e de facto, acerca dos meus posts todos, apesar de completamente justificada (sejamos honestos, eu fui um bocado anal naquele thread), foi [i]exactamente igual[/i] à de virtualmente [i]todos[/i] os gajos que eu já vi a quererem desenhar RPGs sem de facto saberem o que estão a fazer* [i]incluindo eu próprio há cinco anos atrás[/i]. Aquele thread foi só a gota de água.

(*) Sem pôr em questão a existência ou não da experiência e know-how do Eduardo, as quais não estão, [b]de todo[/b], sob avaliação.

P.S. Já agora, Eduardo, se estás a ler isto, aproveito para pedir desculpa por ter sido tão pomposo no teu thread.

[quote=jrmariano]P.S.: Que tal fazeres essas três perguntas à pessoa que originou esse rant acerca do seu jogo? Thanks.[/quote]

Posso ter percebido mal, mas acho que o motivo de toda a rant é precisamente que a dita pessoa ou pessoas nem a essas perguntas básicas conseguiu oferecer uma resposta directa.

Das duas vezes q me passou pela cabeça "criar" um RPG, não começei c o pensar duma lista de skills, começei por criar uma história q me parecia gira p o universo e evoluir (ou detalhar) apartir dai. Pronto, dps deste pequeno momento patrocinado pelo minha necessidade de auto-congratulação perante as demais pessoas, queria fazer a pergunta chata, qual a diferença entre o ponto B e C? o B é definir as capacidades dos personagens e cm interagem c o mundo, ou seja, as motivações e tds as questões relacionadas c acção in-game, sendo o C as capacidades dos jogadores de interagirem c os seus personagens e c o desenrolar da história, questões out-of-game?

"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"

Oi, :)

[quote=RedPissLegion]qual a diferença entre o ponto B e C?[/quote]
[url=https://socratesrpg.blogspot.com/2006/03/socratic-design-anthology-1.html]Socratic Design Anthology[/url]

Mais especificamente: [url=https://socratesrpg.blogspot.com/2005/12/what-are-big-three.html]What Are The Big Three[/url]

Camaradas, desculpem se o que trago para a mesa não ajuda à discussão, mas queria deixar aqui 2 exemplos de jogos que acho brilhantes, que não faço ideia onde no GNS se encaixam, que tinha prometido ao JMendes mostrar, e que julgo que poderão, no meio de tantas rollercoasters, mostrar o que se pode fazer quando se descreve com piada uma acção.

Wushu e There Is No Spoon

O 1ª abre realmente no site do bicho (onde se podem ver todos os pdf's até agora e vários exemplos), o 2º abre para a crítica no rpg.net, mas de lá podem sacar o pdf.

Oi, :)

[quote=Rui]jogos que acho brilhantes, que não faço ideia onde no GNS se encaixam[/quote]
Ya. Eu também não. É daquelas coisas que só se podem ver jogando, já que GNS [i]diz respeito a sessões de jogo[/i] e não a jogos ou jogadores.

Posso especular, no entanto. Ambos os sistemas me pareceram suportar bastante melhor o Simulacionismo que qualquer outra agenda.

O Wushu eu já conhecia e sim, é mais ou menos cool. Recompensa claramente o agir dentro dos parâmetros do que é um filme de trolha, pretendendo recriar esses filmes.

O TINS, infelizmente, o PDF já não está disponível porque o provider "filled for company dissolution"... Não consegui perceber pelo review o que é que o jogo recompensa, mas pelo que o reviewer escreveu, parace-me que o que se pretende é recriar o Matrix.

Mas, ya, way cool! Rui, obrigado pelas referências.

Este post (https://www.indie-rpgs.com/forum/index.php?topic=16996.0) ajudou-me a especificar melhor as ideias q já tinha escrito no post anterior, thanks.

E tb são mt uteis, ajudaram-me a definir melhor as ideias q já tinha mais ou menos estruturadas p os jogos q tinha pensado.

"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"