Frade

"O QUÊ!? Era o que eu temia. Os sinais estão aí... As pessoas têm de ser avisadas o quanto antes!" — irrompe quase em fúria o Legado. E depois, dirijindo-se a ti: "Vejo que O Primeiro Pai depositou a Sua confiança em ti. Sabia que não me deixarias ficar mal." — coloca as suas mãos sobre os teus ombros — "Agora, irmão Lucius, alguém tem de ir a correr até ao centro de Emerson avisar as gentes. Se este é o tempo do Anjo Negro estamos perante a maior prova que O Primeiro Pai nos lançou desde há muito!"

"Legado… " - hesito em dizer apanhado num turbilhão de pensamentos - "Será sensato inquietar o povo de Emerson nesta altura tão sensível? Eu sei que parecerá uma mostra de arrogância e demasiado amor-próprio mas tendo eu a confiança d’O Primeiro Pai sobre os meus ombros não acha que eu deveria convocar os nossos governantes para uma audiência privada, onde poderei a pôr toda a nossa comunidade a ultrapassar esta crise num esforço conjunto?"

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

"E será sensato querer explorar A Sagrada Arca, precisamente numa altura em que O Primeiro Pai, na sua infinita sabedoria, nos envia uma mensagem tão clara!?" — vocifera o Legado, com as veias da careca a latejar! — "Será sensato deixar que as mesmas pessoas que pecam continuamente contra a Natureza, com a sua poluição constante, com o seu consumismo exacerbado, vá corromper o interior d'A Arca Sagrada!?"

Olha-te como se tivesses perpetrado o pior dos pecados:

"Eu digo-te o que é sensato, irmão Lucius, é apelar à mudança imediata nas acções da nossa gente! Porque O Primeiro Pai não será complacente por muito mais tempo. Não, Lucius." — sacode a barbela do Legado Muir, enquanto acena com a cabeça vigorosamente. "Foi em ti que desceu a sabedoria d'O Primeiro Pai — é TUA obrigação de ir avisar toda a gente sobre a vinda do Anjo Negro. Ou a população não nos perdoará quando o seu tempo chegar!"

“De certeza que podemos fazer chegar á razão ambas as partes, os governantes e os governados.” Digo tentando convencer o Legado com a minha capacidade persuasiva.

[Leia-se usar algo das mecânicas do meu personagem, a skill de Diplomacy por exemplo.]

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Ele acalma-se um pouco mas age como se não tivessses dito nada. Passados uns momentos diz, em tom reflectido:

"Irmão Lucius, temo que só conseguiremos reunir com o Conselho em igualdade de circunstâncias se tivermos um trunfo, por assim dizer, do nosso lado." — explica. "Daí que tenhas de usar da tua melhor retórica junto da população para que sejam eles mesmos a exercer, junto de quem detêm o poder, a influência necessária a uma verdadeira mudança de mentalidades."

Põe-te a mão nos ombros, massajando. E, indicando-te a saída, termina, dizendo:

"Se fizeres o que O Primeiro Pai Espera de ti e, principalmente, o que EU espero de ti, conseguirás atrasar a chegada do Anjo Negro. E, quem sabe, poderás ainda vir a ser um Prior da minha confiança...!"

Com efeito, o Legado Muir coloca nas tuas mãos a missão de ir avisar as gentes de que foste veículo duma visão d'O Primeiro Pai. E de que avistaste o Fantasma-do-Passado, prenúncio inegável da vinda do Anjo Negro.

Com a devida reverência e depois da confiança depositada em mim pelo Legado ausento-me em silêncio da sala. Decido tomar as providências necessárias para me dirigir à população.

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Tens então de escolher o local e a altura para te dirigires às gentes de Emerson.

Hoje começam várias iniciativas que dizem respeito à campanha para o referendo — umas pelo Sim e outras pelo Não — mas todas deverão juntar sempre algumas pessoas.

Parece que vai haver um simulacro hoje à tarde, na praça central, promovido pelos Voluntários de Gaia.

Amanhã chegam as jangadas das minas ao cais comercial do Distrito Primário.

Depois de amanhã é dia de celebração no templo d'O Primeiro Pai.

Passo o dia em contemplação juntando forças para me dirigir à população no dia de celebração.

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

E vais frequentando as Horas ou deixas-te ficar em reclusão na tua cela?

Horas - vários momentos ao longo do dia em que os membros da ordem paternal recolhem ao templo em oração.

Um pouco absorto e desconcentrado mas vou frequentando as Horas.

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

A primeira Hora a que assistes foi presidida por um Prior alto e magro. Era uma celebração algo fugaz em que lembravam a acção d'A Mãe e o seu contributo para guiar A Arca a bom porto.

A ti, pouco te dizia A Mãe... Tinhas visto A Arca Sagrada e isso, pelo instante, era só o que interessava.

Enquanto entoas os cânticos, juntamente com os outros Frades e Acólitos, olhas os vitrais que encimam o altar e deixam entrar a luz do sol, nos seus mais variados espectros e colorações, no interior do templo.

Aí se representa, muito claramente, O Primeiro Pai rodeado de crianças. Sempre com o seu fato-macaco vermelho, símbolo do trabalho árduo com que sempre se lançava em todas as tarefas. A sua tez côr de chocolate, mostrando a palma da mão, mais clara, lembrando que ele é O Pai de todas as crianças, de todas as cores. A sua careca iluminada pelo sol, que nos faz reflectir que é da Natureza que vem todo o sustento.

Reflito sobre a melhor maneira de me dirigir à população de Emerson. Inspirado pela figura do vitral decido dirigir-me aos operários da cidade primeiro pois as suas vidas são exemplos claros da bondade e sensatez d’O Primeiro Pai.

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

O Legado Muir tinha aprovado a tua decisão, chegando mesmo a providenciar um riquexó para te levar até ao Hexágono. Pareceu-te muito animado com a tua determinação.

À saída, está um grupo de acólitos a entrar que passam por ti em silêncio. Traziam um semblante carregado, e pareceu-te mesmo ouvir alguns a dizer frases soltas, como: "raio de dia mais cansativo" ou "lá vamos nós outra vez para as horas" ou mesmo até "este deve ter a mania". Mas sabias que era só a tua imaginação a levar a melhor — os acólitos votam-se ao silêncio durante longas temporadas — não iriam querer usar a voz para frases tão frívolas.

Sobes para o riquexó. O condutor solta as rédeas do deinocavalo. Seguem viagem. O condutor lá vai cantarolando, como quem não pensa muito nas coisas da vida — nunca adivinharia que os tempos do Anjo Negro estão para chegar...

Passam a ponte sobre o rio Carson e seguem pelo Distrito Primário até à zona industrial, sem passar pelo centro de Emerson. No campo, algumas pessoas apanham a hortaliça. O condutor lá continua a cantarolar baixinho. Mas parece-te ouvi-lo dizer: "ai que gaja tão boa ali nas couves!"

Confiante na missão a que me propuz tento-me não distrair com a beleza nos campos.

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Talvez tenhas a força mental necessária para resistir às tentações carnais mas começas a sentir-te invadido por uma data de pensamentos lascivos, bastante descritivos e visuais, que fazem o teu coração acelerar.

Sentes-te invadido porque não reconheces esses pensamentos como sendo teus. São de outra pessoa... do condutor! Sim, são do condutor! Ele que continua a cantarolar baixinho.

Reconheces claramente a cara dele quando se/te aproxima(s) da agricultora e lhe rasga(s) a roupa e a empurra(s) para cima das couves... Ela fica surpresa mas logo lhe/te lança um sorriso aprovador e puxa-o/te com força contra si... Ele/tu mete(s)-lhe dois ded... "PARE! Pare imediatamente!" — gritas-lhe ofegante.

Ele, surpreso, vira-se para trás e: "Pronto, não canto mais... Não precisa de se exaltar."

Ficas uns instantes em silêncio.

Seria este um teste d'O Primeiro Pai? Porque te daria ele o condão de lêr os pensamentos de outrém? Seria um dom? Ou estarias a ficar louco...?

O condutor continua como se nada fosse.

Já tu, aos poucos, vais testando a tua teoria: serias mesmo capaz de lhe ler os pensamentos?

E, com efeito, passado mais uns instantes de concentração, consegues captar-lhe os pensamentos. Algo como: "deve estar é doido, o raio do frade" ao que, instintivamente, lhe respondes: "se eu sou doido tu és um tarado".

Nisto, de um só salto, o condutor sai do riquexó e, arrastando os pés, vai-se afastando. Ao que te aponta o dedo: "Foi você que falou para mim, não foi? Mas foi dentro da minha cabeça... Você não disse nada!" — e, agarrando-se à cabeça, abana-se como que a tentar sacudir a tua voz para fora; e sai a correr para o meio do mato.

Sorris. Lá terás de ser tu a conduzir o riquexó o resto do caminho, longe dos pensamentos pecaminosos daquele pobre louco.

Durante a viagem, vais reflectindo sobre as implicações que esta dádiva d'O Primeiro Pai poderá acarretar. Mas sentes a confiança necessária para acreditares que não o desapontarás.

Ao chegar, finalmente, à zona industrial — demoraste três vezes mais do que se tivesse sido o condutor a trazer o riquexó — deparas-te com um cenário caótico. Ouves longas sirenes e vês uma alta coluna de fumo a subir. Parece que um dos edifícios está a arder e os trabalhadores estão todos a correr para o pátio exterior.

Seria isto obra do Anjo Negro?

Invocando a sagrada glória d’O Primeiro Pai em voz alta tento convencer a multidão de trabalhadores em fuga a pararem. Mantenho uma tom sereno mas incisivo, dirigido principalmente ao que parecer ser o líder do grupo para os organizare em dois grupos de trabalho: um grupo para combater as chamas e outro para ajudar as vítimas a sair do edifício.

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

O pessoal rapidamente acalma sob as tuas indicações e, também, porque se apercebem que o fogo ainda não alastrou a grande parte do edifício.

No entanto, se a maioria das pessoas corre das instalações para o exterior, há dois tipos que irrompem por ele adentro!

Os bombeiros, entretanto, já se organizaram e abrem mais bocas de incêncio. Parecem admirados por te vêr ali a dar força mas mostram-se mais confiantes.

Pouco tempo depois, um estalo ruidoso — como se de um forte choque eléctrico se tratasse — abala o edifício com um clarão.

Rezo uma oração em altos berros enquanto faço gestos para toda a população ir para detrás dos meus braços abertos.

“Abençoado Primeiro Pai, protege-nos destes tempos de caos e inequidade…” recita repetitivamente Lucius tentando encontrar ordem na cadência das suas palavras.

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Mesmo sem o quereres, dentro da tua cabeça ouves os pensamentos dos operários, assustados: "deixei as minhas chaves lá dentro..." ou "um frade, aqui?" ou ainda "o Primeiro Pai nos acuda!".

A sair do edifício, consegues ver três pessoas. A do meio arrasta-se um bocado...

 


Passo a explicar como funciona isso de leres os pensamentos alheios.

 

Telepathy: Consegues detectar pensamentos (como o feitiço detect thoughts) e projectar os teus próprios em forma de discurso a uma distância de 9m. Um lançamento de protecção (Will) bloqueia o acesso a uma mente durante 1h — ainda consegues detectar a presença dessa mente, mas não aceder aos seus pensamentos nem projectar-lhe uma mensagem. (1/ronda)