Frade

Lucius acorda algum tempo depois, sem saber muito bem o que se tinha passado consigo. Parecia-lhe estar a acordar de um sonho horrível. E, com efeito, o cenário onde se encontrava parecia tirado de um pesadelo: encontrava-se deitado no chão, despido, e rodeado de sete paus de incenso que ardiam lentamente, libertando um odor característico. O que se teria passado? A última coisa de que se lembrava era de ter entrado nesta sala para vestir o novo hábito e meditar um pouco antes que se tornasse Prior. Lembrava-se disso e, muito vagamente, do tal pesadelo que tivera enquanto dormia — imagens de um casulo, de uma criatura a saltar lá de dentro, de se sentir a sufocar, de abrir uma porta e ver um espectáculo grotesco do outro lado... "o... in-cen-er-er-er-sooo ZSHHH-BEEP"

De repente, Lucius olha em seu redor e apercebe-se de que se encontra na mesma sala, com as mesmas duas portas e, à excepção do incenso, tudo o mais era igual! "AH! Mas..." — grita, ao avistar a carcaça da criatura, com os oito braços estreitos e compridos abertos de par a par, com a cauda enrolada e ressequida e o tentáculo tombado sobre o ventre. O mesmo tentáculo que, ainda há algumas horas, tinha tentado entrar à força pela garganta de Lucius,... sufocando-o.

Isto era demais para Lucius! Aquela criatura... e o incenso. O incenso era a prova provada de que o Legado Muir sabia o que se estava a passar. De que os outros priores tinham entrado ali e o tinham despido e lavado... Mas a criatura estava para ali num canto, já sem vida. O que significava tudo aquilo!?

Nisto, sente a dor mais forte que alguma vez sentira! Uma dor lancinante! Leva as mãos ao peito. Mal se aguenta de pé. Outro pico de dor, abrupto e agonizante! Lucius tenta aguentar-se de pé. Dá uns passos em direcção à porta do claustro interior. Mas uma terceira pontada fá-lo parar outra vez. E, rasgando o seu peito, levanta-se de dentro de si uma criatura serpenteante, toda ensanguentada como um recém-nascido, que logo sai velozmente do interior de Lucius e se põe em fuga, deixando-o com o seu último suspiro, num sofrimento esclarecedor.

"Foi Ele que eu vi..." — foram as suas últimas palavras.


E como diria o Hugo: "É tramado, mas o jogo está terminado."