Gladius Lucis, Gladius Deorum

Folium X

Depois dessa batalha, olhámos em volta. Lá estava, ainda presa à rocha, a espada sagrada de Paladino. O Karol e o Aprendiz nem se atreveram a tocar-lhe: já tinham tido experiências anteriores desagradáveis com um simples medalhão de Mishakal, e decerto que esta espada lhes causaria dissabores bem maiores. Mas eu peguei nela, eu arranquei-a da rocha e guardei-a para mim. Voltámos ao templo principal, o templo do Sol. Continuávamos à procura de alguma coisa, mas não sabíamos bem do quê. Voltei à sala de Paladino, e devolvi-lhe a espada. Mas nada aconteceu. E no entanto, posso jurar que quando tornei a pegar nela a estátua se riu para mim! Paladino riu-se para mim! Só posso assumir que é o próprio Deus, ou algum outro que o substitua, que fica contente por eu a levar. Desde então, assumo que a Espada de Cristal é um presente para mim dos meus deuses, mas um presente com uma missão: é um instrumento que eu tenho de honrar com a minha valentia.

Em termos práticos, esta é a melhor arma que eu podia desejar. Dou-me bem com armas ligeiras e manejáveis, consigo usá-las com grande eficácia. A espada mais tradicional de cavaleiro ainda é muito pesada para mim e não consigo lutar eficientemente com ela. Mas esta adapta-se ao meu estilo de luta, ágil e movimentado. Fiquei contente, e desde então sinto-me mais completa no campo de batalha.

Vagueámos ainda bastante pelo templo, até que simplesmente saímos, desanimados por não descobrir nada sobre as Lágrimas de Mishakal, nem sobre a Chave que tínhamos por missão proteger. Estávamos convencidos que era aqui que ela tinha de ser usada, e eu abri por diversas vezes a caixa de música. Mas não houve efeito nenhum. E quando finalmente voltámos ao recinto exterior, percebemos porquê: de novo a rapariga que nos apareceu no acampamento dos Mikku se nos mostrou. Desta vez as suas palavras foram mais claras: disse-nos que o Fragmento de Luz que tínhamos encontrado no templo (sem dúvida, a minha nova espada) seria um guia no caminho que nós tínhamos sido escolhidos para percorrer, por entre as ruínas de uma cidade que em tempos não conhecera o medo mas que agora vivia sob um manto de fogo e cinza.... ou algo assim parecido.

Não nos levou muito tempo a descobrir que devia ser uma cidade de Kenders, mais exactamente, Kendermore... na Desolação. Preparámo-nos para partir de novo, e deixar a Maldição de Hurim para trás, sem ter ainda nenhuma ideia de como a poderíamos levantar. Como agora ia usar a espada de cristal, decidi dar a espada do Capitão ao Aldor. Só sabia que ela era mágica, mas ainda não sabia o que ela fazia. De qualquer modo, Aldor tinha preferência por espadas longas, e era uma pessoa em quem se podia confiar: partilhava os mesmos ideias que eu, e por muitas vezes, ao longo do caminho, conversei com ele. Em particular, cheguei mesmo a pedir-lhe aconselhamento espiritural: como seguidor de um deus padroeiro da minha Ordem, e na verdade, o meu deus preferido, recorri a ele para aliviar as minhas dúvidas sobre o correcto proceder em certas situações difíceis. Em todo o caso, como dizia, a espada ficava-lhe bem.