Groo: The Game

Groo, uma criação de Sergio Aragones, é um bárbaro com duas katanas acompanhado pelo seu fiel cão que destrói tudo o que toca, de maneira literal. O homem é um desastre ambulante, destruindo cidades inteiras de uma só vez. Não admira, então, que ele seja temido por onde passa. E agora é a vez de nós tentarmos evitar ter a atenção do Groo.

Groo: The Game é um cardgame onde nós temos que construir uma cidade e um exército que destrua as cidades dos outros jogadores, ao mesmo tempo que tentamos evitar que o Groo passe pela nossa cidade. Aviso já que este jogo tem uma expansão e que tal expansão é absolutamente essencial para se jogar este jogo de maneira decente. O jogo base sem expansão é demasiado sem interesse. Logo a minha review é do jogo com a expansão.

Neste jogo nós construímos uma cidade e um exército, e para tal temos que saber que resources a gente vai ter. Para tal rodamos uns quantos dados que nos dizem que recursos recebemos para a ronda e, mais importante, dizem para que cidade o Groo vai. Depois disso, o jogador pode comprar com os recursos que saíram edificios ou tropas. Cada vez que compra terá que eliminar os dados usados. O que sobrar passa para o jogador seguinte, e assim por diante. Os edificios muitas vezes têm poderes especiais, o que pode gerar combinações de edificios para ficarmos com poderes interessantes. O exército é somente usado ou para defender a nossa cidade ou para atacar as cidades dos outros jogadores. Ganha quem atingir um determinado número de pontos primeiro. De salientar que existem cartas de Groo, que implica que se forem compradas o Groo provoca um pequeno cataclismo na cidade onde está, pelo que é importante livrarmos-nos do Groo o mais depressa possivel. Pensem num jogo de passar a batata quente a outro.

O número de jogadores é até seis, e neste jogo quanto mais melhor.

Passemos à análise.

Em termos de apresentação este jogo é bom. Vem numa embalagem muito pequena onde cabem as cartas e os dados. As regras são simples e facilmente lidas. As cartas é que não são da melhor qualidade, mas também não são muito más. As ilustrações vêm directamente da mão do autor do Groo e são engraçadas, dando uma boa ideia de como é a BD de onde o jogo é baseado. Os dados são dados normais onde colamos autocolantes que indicam os recursos nas faces. Nada a salientar no que respeita a apresentação, é prático, cómodo e sem nada que o destaque dos outros cardgames.

Este jogo têm um tema muito bom que pega bem. Estamos a construir uma cidade e não queremos o Groo nela a todo o custo. O tema pega também graças à arte das cartas que ajuda-nos a visualizar o mundo do Groo. Neste caso não é um jogo abstracto, sem tema nenhum, este jogo consegue, e muito bem, transmitir o tema sem problemas. Ficamos fascinados com os nossos edificios. Mais, ficamos ligados a eles e quando os destroem sentimos-nos mal por uns momentos e depois decidimos atacar o jogador que o destruiu. Portanto em termos de tema este jogo tem sucesso nessa área, o que é comendável.

Em termos de sorte, este jogo tem e muito. Para começar a sorte existe na distribuição das cartas para os jogadores e no sacar cartas, logo aqui temos o factor sorte típico dos cardgames. Estamos dependentes do que sacamos e, neste jogo, se sacarmos uma má mão é quase impossivel fazer algo decente dela. Logo aqui temos um ponto negativo do jogo, não permite a um jogador com uma má mão fazer algo dela. Depois o factor sorte é exponenciado pelo rolar dos dados que determinam os nossos recursos. Estas duas variáveis quase que transformam o jogo num luckfest. Quase. Apesar disto o jogo corre supreendentemente sem muitas discussões sobre como a sorte foi madrasta. Embora o jogo tenha uma tonelada de sorte em cima, joga-se bem e a sorte não intrefere tanto no jogo como uma pessoa possa supor. Mas quem não gosta de sorte em excesso não vai gostar deste jogo. Pessoalmente, não me importo com o factor sorte deste jogo, neste caso torna o jogo mais divertido que frustrante.

A interacção entre jogadores é activa e directa. Os jogadores podem-se atacar uns aos outros na sua ronda, o que implica que as acções que nós fazemos influenciam directamente os outros jogadores, e é directa pois os jogadores estão a atacar-se entre si. Mesmo que não se ataquem os jogadores podem jogar Groo cards, que fazem com que o Groo provoque um desastre, o que é mais um aspecto da relação directa entre jogador no que respeita à interacção. Fora estes casos, a interacção é maioritariamente passiva mas directa.

Quanto a estratégia e táctica, este cardgame é quase absolutamente táctico. Se o Groo não estivesse presente, este jogo teria uma boa dose de estratégia, mas com o Groo e como não sabemos onde o Groo irá parar na próxima ronda é escusado fazer planos de longo-prazo pois o mais provável é, se o Groo vier para a nossa cidade, então a nossa cidade ser completamente destruida. Isto é frustrante pois este jogo pede que uma pessoa faça estratégias boas mas infelizmente o Groo torna qualquer estratégia invariavelmente inválida. Mais, se o Groo não estiver na nossa cidade podemos ser alvo de um ataque do exército de outro jogador. Sendo assim eu diria que este jogo é maioritariamente táctico com uma pitada de estratégia. A imprevisibilidade de planos a longo-prazo é um aspecto que tira valor ao jogo em vez de dar, e é uma pena. Só podemos jogar o que está na mão e tentar combinações engraçadas se a nossa cidade não sofreu nenhum desaire, mas fora isso não compensa pensar que vamos ter a cidade de pé no próximo turno.

Este jogo não é um gamer’s game, nem de longe, mas também não é um filler. Demora demasiado tempo a jogar para ser um filler e as regras são complexas a mais. O jogo também cria situações onde é necessário constantes decisões do jogador, o que não acontece frequentemente em fillers.

O peso do jogo é um Light Middleweight sem dúvida. Não é um jogo pesado mas também não é algo leve que se jogue num instante. Este jogo requer um compromisso dos jogadores e, como tal, necessita de algum tempo para ser jogado.

O que me traz ao aspecto negativo mais marcante deste jogo. A duração de jogo. Embora digam que este jogo demora menos de 40 minutos a ser jogado, a verdade é que este jogo pode-se prolongar por horas e horas. Um jogador pode estar à frente e é completamente dizimado pelo Groo ou pelos outros jogadores, e isto repete-se várias vezes. O que poderia ter sido um jogo divertido prolonga-se desnecessáriamente durante muito tempo até que chega uma altura em que é uma agonia continuar a jogar. Este é um jogo que beneficiaria claramente de um tempo curto de jogo, mas tal não acontece. De facto se o jogo for jogado por um grupo agressivo não me admiraria que este jogo chegasse às 3 ou 4 horas de jogo. Um ponto negativo que desvaloriza o jogo e em muito. Além de não podermos fazer estratégias o mais provável é termos a nossa cidade e exército destruidos e lá temos que começar tudo de novo. Isto assim não tem graça.

Quanto à longevidade do jogo, é fraca. As primeiras sessões com o jogo serão um sucesso, não tenham dúvidas, mas a natureza repetitiva do jogo cedo se fará notar e em pouco tempo deixarão de ter interesse em querer jogar a este jogo. Uma longevidade muito fraca que em nada ajuda o jogo. Este jogo é para realmente ser-se jogado uma ou duas vezes por ano.

O dinâmismo do jogo é excessivo. As cidades e exércitos estão sempre em constante mudança para melhor ou pior, o que provoca um dinâmismo excessivo e faz com que os jogadores tenham sempre que estar atentos a todos os outros jogadores, em toda a altura do jogo. O jogo, no entanto, obriga os jogadores a tomarem decisões a todo o instante, mesmo que as decisões nunca sejam tensas, o que indica que este jogo requer total concentração por parte dos jogadores. De salientar que existem uma ou duas cartas que estragam o jogo completamente. O orfanato impede o Groo de atacar a cidade com esse edificio, o que implica que quem sacar o orfanato e o jogar é praticamente o vencedor do jogo se os outros jogadores não o atacarem de imediato. E quem tiver o dragão no exército pode, basicamente, matar o que quiser num instante. Ponto importante neste jogo é que as cartas de exército usadas, tanto a atacar ou a defender, são sempre descartadas no fim da batalha, portanto o exército torna-se um aspecto mais temporário do jogo.

Quanto a introdução a novatos, este jogo é bom se e só se for jogado num grupo que não seja agressivo. Se forem agressivos, esqueçam, os novatos irão sair do jogo com má impressão. O tempo de jogo também pode ser um mau factor, pois não sabe nada bem a alguém passar 4 horas a repetir sempre as mesmas jogadas. Portanto é um bom jogo para novatos se tiver as condições certas, caso contrário nem pensem em usar este jogo com novatos.

O problema de analysis paralysis é quase inexistente. Por ser um jogo fortemente táctico não se ganha nada em fazer planos a longo prazo, logo um jogador sabe o que jogar quando é a sua vez. É muito raro um jogador ficar mais que 20 segundos a pensar o que fazer quando é a vez dele.

Em relação a downtime entre jogadas, este jogo tem um downtime relativamente alto, principalmente se for jogado com seis jogadores. No entanto como os recursos não usados são passados para o jogador a seguir, o downtime acaba sempre por ser mitigado de maniera relativa.

Em termos de visual, este jogo é decente. Quando um jogo acaba é sempre engraçado ver a disposição e a arte das cartas e ver como as cidades ficaram formadas no fim. Mas apesar disto este jogo não é nenhum Big City, pelo que non-gamers não acharão muito interesse neste jogo.

Em termos de mecânicas, temos mecânicas de set collection, hand management, conflicto e passar a batata quente a outro. O jogo implementa e executa de maneira adequada estas mecânicas, pelo que não há nada a salientar quanto a isso. Não oferece nada de novo mas é sólido a executar o que oferece, especialmente na mecânica de passar a batata quente, para a qual este é o melhor jogo que já vi a implementar essa mecânica.

E é isto.

Este jogo é quase puramente táctico, pelo que para quem goste de doses elevadas de táctica num jogo é um jogo obrigatório. Os jogadores tácticos vão adorar este jogo, disso não tenho dúvidas. No entanto o tempo excessivo de jogo irá afastar muitos jogadores deste jogo, pois o jogo acaba por se tornar muito chato ao fim de uma hora e meia de sessão.

Pessoalmente não acho o jogo grande coisa, mas também não é um jogo própriamente mau, é simplesmente um jogo aborrecido que se joga bem uma vez ou outra mas que não é para jogar continuamente, senão o grupo nunca mais jogaria a isto.

Apesar disso, eu até gosto de jogar ao jogo uma vez por ano, quando se joga é divertido, provoca boas conversas e gargalhadas entre o grupo. Não é um mau jogo, simplesmente sofre de alguns problemas que o tornam pior do que na realidade merecia ser.

Recomendado a quem goste de táctica nos seus jogos e de quem goste de construir algo do nada. Se não gostam nem dum nem do outro, então não vale a pena arranjarem o jogo.

De salientar que se querem mesmo comprar o jogo, comprem a expansão ou esqueçam mesmo, o jogo sem expansão é muito pior do que com expansão. Portanto a minha nota é do jogo com a expansão.

12 de 20.

https://www.boardgamegeek.com/game/194