Histórias de Quando Começamos a Mestrar

Foi há muito tempo atrás que se sentaram pela primeira vez à mesa como mestres-jogo? Lembram-se de como foi que aconteceu, quem estava lá e o que jogaram? Foi uma experiência que correu mal e nunca mais quiseram mestrar ou foi o salto de que precisavam para gostarem ainda mais de roleplay?

Por este site fora, ás vezes falamos desta altura por alto, mas não é costume contarmos estas histórias com o detalhe que muitas vezes pode interessar a quem também está a começar e, se calhar, enfrenta as mesmas dificuldades ou goza dos mesmos primeiros momentos.

Como é que foi então? A vossa primeira vez como GM lançou-vos numa sucessão de campanhas ou foi só um acidente de percurso? Descobriram o RPG que é o vosso "Santro Graal" ou gostam de mestrar jogos diferentes? Começaram sozinhos ou contaram com a ajuda do vosso mestre-jogo?

Este thread fica aberto ás vossas primeiras experiências. Descontraiam, olhem para trás e contem-nos como foi.

Foi há 20 anos atrás, quando tinha 12 (sim, 12) anos e decidi comprar a primeira edição de AD&D, com a classe dos assassinos.

Juntei um grupo de amigos e eu GM pela primeira vez durante umas valente quatro horas. Sem ajudas nem nada, a minha primeira vez fui eu a GM sozinho sem nunca ter GM antes nem saber como se fazia.

Foi lindo. Fiquei logo apanhado e nunca mais quis saber de mais nada.

Foi uma iniciação dura, mas valeu bem a pena, pois aprendi da maneira mais dificil, e é só dessa maneira que se aprende a sério.

20 anos mais tarde, cá tou eu, com 6 grupos diferentes e a apreciar ser-se GM. Não há nada melhor. (excepto talvez jogar ao Civilization)


No moon is there, no voice, no sound
Of beating heart; a sigh profound
Once in each age as each age dies
Alone is heard. Far, far it lies
The Land of Waiting where the Dead sit,
In their thought’s shadow, by no moon lit

Eu comecei logo por mestrar. Iniciei-me practicamente sozinho por voltas de 1996/97, graças aquela maravilhosa invenção que foi a Internet e o facto de, na altura, a Devir Arena Porto ainda suportar os RPGs.

Apesar de não ter contactado com ninguém que jogasse roleplay, esta combinação de factores deu para que lê-se umas coisas na net, ficasse interessado com a nova edição revised de Vampire: the Masquerade e encontrasse o livro na Devir.

Eu só sabia que queria experimentar aquilo, por isso reuni dois amigos mais o meu irmão, compramos o livro (seis contos, na altura!) e fomo-lo passando entre nós para o ler. Depois de estarmos mais ou menos elucidados, eu preparei a minha primeira campanha e, a partir daí, nunca mais parei.

Entretanto, depois de comprar o livro, já tinha começado a tentar entrar em contacto com quem jogasse e tentei assistir a algumas sessões. Conheci vários mestres-jogo diferentes e tentei aprender com aquilo que gostava acerca da sua maneira de mestrar. Acho que, nos primeiros tempos, é normal questionarmo-nos constantemente, sem saber se estamos a "fazer isto bem" - especialmente se não temos qualquer experiência nem estamos inseridos num grupos que já jogue.

Não me lembro exactamente da minha primeira sessão, mas recordo-me que quis criar tudo de raiz e, por isso, preparei uma campanha para se desenrolar mesmo na cidade do Porto. Assim começamos a jogar e cedo me apercebi das dificudades em integrar aquilo que tinha preparado com aquilo que as personagens eram e o que os jogadores queriam fazer.

Por outro lado, também me apercebi que a sessão não avançava assim tão depressa na história que eu tivesse de ter tudo calculado vinte jogadas à frente. Cedo aprendi que tinha tempo para ir adaptando as minhas ideias durante a sessão. Mais à frente, com a campanha já em velocidade de cruzeiro, aprendi também que era relativamente fácil improvisar com base nos acontecimentos que se iam acumulando.

Recordo-me também que certamente tivemos dificuldades no início para, digamos, entrar dentro do esquema. Quer as cenas que eu fazia, quer os comportamentos das personagens, pareciam despropositados e sucediam-se um bocado "no ar". Felizmente que conseguimos ter paciência uns com os outros, jogar com regularidade, conversar sobre o que fazíamos e concentrarmo-nos nas cenas fixes que queriamos experimentar :)

Acho que o maior gozo nestes casos é mesmo o jogar pela primeira vez algo que se vai descobrindo como funciona e cujas hipóteses são ilimitadas.

As consequências da minha primeira aventura como GM foram jogar e mestrar cada vez mais. Cedo encontrei coisas de que não gostava em V:tM, por isso procurei outros jogos, com outras regras e settings. Acho que tive sorte em no início me ter saído bem sozinho, pois fiquei com a pica para me arriscar em outros RPGs sem me preocupar se tinha alguém que mos explicasse. Criei um certo vício em descobrir coisas novas, compará-las com o que experimentei dantes e explorar o que mais haverá.

Foi há, possivelmente, 10 anos.
Internet gratias, tinha o sistema de regras do Fudge, tinha o setting de Allansia, o universo dos livros-jogo Aventuras Fantásticas, tinha um grupo de quatro jogadores com quem costumava jogar em conjunto os ditos livros, tinha uma aventura inventada por mim.

O que poderia correr mal?

Tudo.

Os jogadores apanharam uma seca monumental a criar os PCs, baralhei-me com as regras, gaguejei na história, enganei-me no enredo, as personagens eram de cartão fino, o setting inexistente, um jogador estava com uma notória cara de frete e, a meio da aventura, todos os jogadores decidiram por unanimidade largar o jogo a meio e ir fazer qualquer outra coisa (estilo: estudar, ir olhar para a parede ou enfiar a cabeça na retrete).

Apesar do desastre, não desisti. Passado um ano arranjei um grupo novo, comecei como jogador em Vampire, the Masquerade, comecei a descobrir outros universos e sistemas de regras, comecei a mestrar aos poucos e acabei por, penso eu, ganhar um bocadinho de rodagem e desde aí não voltei a ter tais desastres (fora uma vez, mas fica para outra oportunidade).

Foi há uns dez anos atrás mais coisa menos coisa, era eu viciado em Magic e já a pensar que tinha de arranjar outra coisa que sugasse menos dinheiro do meu bolso, eis que na Alternativa Ilimitada (a saudosa) vejo uma caixa à venda com cds contendo os Cores books e n livros de classes e opções de AD&D.
Troca das minhas mais valiosas cartas de Magic por esse material mais uma certa caixa vermelha, imprimo os livros, devoro as regras, junto os meus amigos (a minha casa já era o local onde a malta jogava jogos de tabuleiros e afins) e toca de jogar.
Lembro-me ainda da 1ª decisão que tive de improvisar como DM.
Descrevi a entrada de um castelo com restos de armadura encostados à porta, quando um dos pcs abre a porta, deparam-se com 2 gnolls num patio, um dos pcs resolve agarrar a armadura e lançar sobre os monstros e pimba, primeira improvisao.
Lembro-me ainda que isso acabou com a wizard de serviço a derrotar o ultimo gnoll com a espada do fighter (tombado no chão inconsciente) e a levar depois dali o figher e o rogue que tambem tinha tomado nessa luta inicial
E o resto é história.
Comecei uma campanha em AD&D só interrompida pelo advento da 3ª Edição
DM desde o inicio e como adoro sê-lo :slight_smile: