III. O Fuzileiro Espacial

[Cá está, a parte final da minha trilogia de sessões que ainda faltava rever e comentar! Parte I aqui, e Parte II aqui.]

Depois de ter passado a noite a pé a jogar PTA, Domingo não era dia para descansar os dados. Era a tão aguardada estreia da campanha de 2300AD do Jota!

Inicialmente, eu só estava à espera de um jogo de regresso aos velhos tempos, com pancadaria e táctica e estratégia. Ia saber bem variar; há anos e anos que não jogo nada de parecido. Mesmo as sessões ocasionais que tenho jogado ao longo deste anos com ênfase em pancadaria nunca apelam por aí além à táctica e a estratégia, o que me deixa mais ou menos indiferente. Desde os meus tempos de Shadowrun/D&D que não se planeiam durante horas estratégias de batalha para combates que só vão demorar minutos.

E depois… Ficção Científica militarista, com bichos/ETs aos magotes para matar enquanto a civilização colapsa à nossa volta… o que é que é preciso mais? Uma onda de Starship Troopers ou um remake da Battlestar Galactica, é mesmo o que o médico receitou! Surf’s up, pal!

Para bem ou para mal, o Jota começou a ficar com ideias de grandeza: Bangs, Kickers, R-Maps, Narrativismo, enfim, os chavões todos! De modo que não consegui resistir… o meu plano inicial evoluiu também de um personagem descartável e construído apenas segundo regras do jogo para um dos meus conceitos habituais. Até escrevi um background e tudo!

Portanto agora estou naquela situação em que espero muito mais do que rolar uns dados, lançar uns mísseis e tentar superar desafios potencialmente letais usando um bom sentido de táctica (ou apenas confiando nos dados para fazer o impossível). Até o sistema de criação de personagens conspirou contra mim; eu era suposto ser o soldado a tempo inteiro, experiente como uma prostituta, rijo como cabedal, e mau como as cobras, mas acabei por ficar com o personagem mais jovem de todos, que fica bastante atrás de toda a gente (excepto a personagem da Raquel) no que toca a disparar uma arma e acertar em alguma coisa. Agora tenho mesmo de arranjar outras coisas para fazer, eheh!

Curiosamente, as ideias que tinha esboçado no meu background, assentavam que nem uma luva ao que o Jota estava a pensar. Como podem ler aqui, criei um personagem durão, que estava encarregue pelo pai (um político rico de renome) de encontrar e trazer para casa a sua filha tresloucada que fugira – outra vez – de casa para se tentar afirmar de alguma maneira. E não é que o Jota já tinha nos planos uma missão tresloucada a território inimigo dirigida por uma jovem tresloucada que ainda tinha muitas lições difíceis para aprender da vida? Perfeito. Agora era só garantir que o meu personagem não arruinava a missão e que, antes pelo contrário, se juntava a ela para garantir que nada acontecia à rapariga antes de ter oportunidade para a trazer de volta ao pai. Combinado isso, aí vamos nós! Um soldado pragmático, teimoso, insensível e com um ódio de morte ao inimigo, numa missão liderada por uma jovem teimosa e inocente ao ponto de querer tentar comunicar com, e fazer amigos entre, o inimigo… vai haver ali muitas turras, vai! E é mesmo assim que o meu povo gosta.

E foi com estes planos que a sessão começou no Domingo. Para grande alegria de todos, tenho a certeza, tivemos duas caras novas à mesa: o Rodrigo (que está aqui inscrito como Wheels) e o seu sidekick (parece que é a divertida relação tradicional entre os personagens dos dois) Duarte. Eles moram em Oeiras, mesmo ali ao lado, de modo que já há uns tempos que andava a tentar organizar algo entre eles e o meu grupo habitual, para ao menos nos ficarmos a conhecer uns aos outros. Era uma pena que, num hobby com tão poucos adeptos, dois grupos de jogadores jogassem regularmente a dois ou três quilómetros uns dos outros sem se conhecerem nunca! Presentes estiveram também o António “Plasmas‿ Padeira e a Raquel “Éowyn‿, além do Jota (o GM), claro. Do gang habitual só faltou o Paulo, que está de férias em Paris. Acho que se desenvolveu uma química óptima entre toda a gente, e que todos nos divertimos imenso na companhia uns dos outros.

Quanto à sessão, a primeira coisa a fazer era criar os personagens. Mesmo eu, que era a única pessoa com um conceito já discutido com o GM e até um background completo, não tinha nada feito no campo das regras do jogo. De modo que lá metemos mãos à obra. Com apenas um livro de regras para partilhar por todos, acho que a coisa demorou três horas, será? Eu achei divertido e engraçado, mas o nosso GM achou que aqui o sistema abusava um pouco da complexidade. No final, acabámos por saltar a fase da “compra do equipamento‿ para apressar as coisas e começar a jogar de imediato sem mais demoras.

A coisa correu extraordinariamente bem, e sem grandes soluços ou demoras. Os personagens reuniram-se pacificamente e com espírito de colaboração plena ao fim de, literalmente, alguns minutos de jogo e a partir daí foi sempre a andar em frente. Nem sequer demorámos mais do que uns minutos, quando a altura surgiu, a chegar a acordo sobre a táctica de aproximação à missão. Perfeito!

Houve cenas de socialização entre PCs e NPCs porreiras e que vão de certeza dar pano para mangas. Mas, antes que se fizesse demasiado tarde para continuar a jogar, chegou a altura do primeiro combate, a primeira prova de fogo aos números na folha de personagem e ao sistema do jogo! Foi o que se podia querer: relativamente rápido, entusiasmante, sem momentos mortos… pelo menos para o nosso lado, já que do outro lado eles caíam que nem moscas… moscas muito grandes! Bom, mas isto sou eu a exagerar… tivemos sorte em sair de lá todos com vida e com apenas a perda dos nossos veículos de transporte a lamentar. Não há dúvida que o Jota tem jeito para este mestrar este tipo de situações e não as deixar cair na rotina do agora disparo eu, agora dispara ele, agora sou eu, agora é ele, ele já está morto portanto agora disparo para o número 2, e agora é o número 3, etc.

Foi uma boa sessão, divertida e agradável, e terminou numa nota curiosa. O Jota, inspirado pelo PTA, pediu-nos que fizéssemos um Next Week On cada um. Eu, com a prática de fazer isto todas as semanas, nem sequer hesitei e atirei-me de cabeça. Introduzi uns segundos de filme onde jaz no chão, morto, um dos nossos soldados (um dos homens do António, eheh, só para o chatear) e onde estão presentes o meu personagem e a herdeira tresloucada: ele segura-lhe na cabeça e obriga-a a olhar para o que, segundo ele, “é culpa dela e das suas ideias estúpidas‿. Eheh, pode ser que isto a convença finalmente de que não é possível sermos amigos de baratas gigantes e sádicas! :slight_smile:

Enquanto o GM estava a considerar a melhor maneira de fazer isto acontecer para a semana e os outros jogadores estavam a pensar em possíveis Next Week On, o António entra em campo e surpreende toda a gente. Ele coloca “no ar‿ uns segundos de cena com a nossa herdeira tresloucada a vaguear sozinha, de noite, no bosque (ou pelo menos eu imaginei um bosque enquanto ele descrevia isto) quando de repente aponta a sua lanterna para o lado e ilumina, a para aí um metro dela, o rosto sedento de sangue de um Kafer! Cinco estrelas pela encenação visual da coisa, cinco estrelas pelo modo como entra em sintonia com o meu Next Week On oferecendo a provável explicação para a cena, e cinco estrelas pela forma quase telepática como descreveu os planos que o GM estava a considerar fazer acontecer por causa do que eu tinha descrito antes. Nice!

O Rodrigo preferiu não se aventurar ainda nesta arte, mas o Duarte criou um cena em que arrastava o Francês irritante (que lidera a expedição junto com a herdeira) todo borrado de medo para o meio do combate. A Raquel prometeu criar um NWO e colocá-lo online dali a uns dias e também já o fez. O Jota também criou um:

Eheh, a parte das “quintas” (e “aldeias” também, faltam as aldeias!) foi eu que acrescentei na altura (acho eu, a minha memória de longo-prazo anda muito má hoje em dia)… já estou a ver o dilema: seguir na maior das felicidades com a nossa missão, ou arriscar a pele e o dinheiro para proteger uns quantos aldeões idosos (e talvez as suas jovens filhas)?

De facto, esta campanha de 2300AD promete! Essa é que é essa, meus amigos! :slight_smile:

Ainda bem que gostaste :slight_smile:

O sistema de regras do 2300 ainda é muito engraçado para jogar “Gamist” táctico. As regras de combate são simples e fluídas, e fora de combate as regras são facilmente adaptáveis ao “conflict resolution”; ou seja, um roll e despacha-se mesmo a situação mais complexa, deixando mais tempo para o combate :slight_smile:

Agora, as regras têm alguns problemas sérios. Por exemplo, a criação de personagens leva horas e exige uma calculadora. E mesmo no “conflict resolution” entra-se por vezes num “ciclo infindável” de rolls: rola task - falhaste, rola mishap table, faz check à determinação - conseguiste, rola task de novo.

Neste momento estou com vontade de re-escrever uma parte substancial das regras :slight_smile:

Outro ponto fraco da sessão: não tive tempo de introduzir bangs quase nenhuns. Eu pensei em intercalar uma parte Narrativista com uma parte Gamist, mas percebi que um ou outro modo tem que dominar. Ou talvez domine em sessões alternadas, não sei - aceito sugestões.

Já agora, há novidades no site: uma descrição dos NPCs da expedição (para vos incentivar a explorarem a outra metade do R-map, deixem o Victor em paz pá! ;). Ricardo, dou a mão à palmatória: R-maps de 9 pessoas são demasiado grandes para uma única aventura…

Há também um poll: qual dos NPCs é que merece ser espancado pelos outros membros da expedição na semana que vem? Se vocês concordarem, os resultados do poll têm efeitos in-game :slight_smile:

Hehe, o Plasmas mostrou que domina os sistemas num instante e fez logo uma máquina de batalha imbatível :slight_smile:

Se queres fazer outras coisas com o teu personagem, sugiro adicionarmos-lhe uma nova carreira - troubleshooter. Fica mais de acordo com o background e dá acesso a um leque de skills mais diversificado - que tal?

Não sou eu - são as regras de 2300 :slight_smile: Acho que o ponto-chave está na mecânica de danos. Levar um tiro é tão mau que a malta tende a pensar em todas as tácticas que puder usar para destruír o inimigo antes que ele seja capaz de disparar.

No exemplo do Ricardo, o combate acabou no primeiro round, com 4 baixas para o inimigo. A partir daí foi o jogo do gato-e-do-rato com os 3 inimigos que sobraram. O tempo foi passado a discutir e experimentar tácticas para descobrir o inimigo; quando havia combate durava geralmente um round até o inimigo desaparecer ou caír morto - é o resultado de toda a gente ter canhões de plasma :slight_smile:

Talvez melhorássemos o combate se usássemos figuras, para ser ainda mais parecido com um jogo. Há uns bonequitos de Star Wars mto fixes para isso. Eh pá, será o bicho Gamist táctico a morder? :slight_smile:

Foi uma ideia fixe que resultou por acaso :slight_smile: Mas tenho uma sugestão para o PTA: quando alguém não se lembra de um next week on, que tal fazer aleatóriamente como fez a Raquel? Saca-se uma carta de um baralho normal para saber o assunto do acontecimento: paus=violência, copas=relações pessoais, ouro=dinheiro ou sexo, espadas=manobra política :slight_smile:

JP