Império RPG - Personagem: Joana de Monforte

"Perdoai-me, Padre, pois pequei."

"Fala, minha filha, o Senhor escuta-te."


O Padre Álvaro já dissera aquela formula milhares de vezes desde que fora destacado para a paróquia de Madragoa à alguns meses. Tivera que deixar a sua antiga paróquia no Porto porque os seus negócios podiam ser melhor conduzidos de Lisboa, e os seus superiores haviam acomodado os pedidos das pessoas importantes com quem Àlvaro mantinha relações muito cordiais.

A jovem mulher que falava do outro lado era um enigma, no entanto. Não teria muito mais que vinte anos, no entanto, vestia de forma sóbria, severa mesmo, de veu negro sobre os olhos, o que lhe dava um ar muito mais velho. Começara a vir à missa ali à mais ou menos uma semana, e o Padre havia-a notado porque poucas eram as jovens que se levantavam a horas para a missa da alvorada -- mas ela estava ali todos os dias com uma pontualidade britânica. Era das primeiras a chegar e das ultimas a sair, ficando frequentemente para a confissão. Álvaro já era velho demais para desenvolver ardores por uma carinha laroca, mas a mulher intrigava-o. Fizera então perguntas: chamava-se Joana de Monforte, era filha de um medico importante e ficara viuva muito jovem... em vez de casar outra vez, dedicara-se em vez disso a acompanhar e cuidar do pai que era, ele também, viúvo. Era moça muito devota, atestando pelo tempo que passava nas missas, e conhecida por muita gente.

Após esta reflexão, o Padre Álvaro apercebera-se que estivera distraído e havia perdido o inicio da confissão. Começou então a ouvir o que ela dizia...

"... encontrei-me então com o Conde de Almeguir, quem já desconfiavamos que estava a trabalhar com os Alemães e os Espanhois. Foi aí que ouvimos falar da Operação Félix pela primeira vez... tive que o torturar durante três horas, mas por fim falou. Aliás, estava tão ansioso por falar que não consegui apanhar alguns dos detalhes. No entanto, consegui apanhar o detalhe que faltava - o nome do correio do Porto, o agente que os Espanhois estavam a usar para roubar as nossas obras de arte sacra... mas mais importante, para falsificar certidões de baptismo, casamento, até mesmo de funerais -- a forma perfeita de criar uma identidade nacional para espiões estrangeiros. Dediquei-me então a seguir a rede até encontrar o Attaché Britânico bem no centro dela -- quem diria, hã? Parece que os Ingleses sobrestimaram a sua capacidade de detectar espiões no seu meio. Mas não faz diferença: por causa da imunidade diplomática, não podemos tocar no inglês... mas podemos avisar os superiores dele, e temos a certeza que eles se dedicarão a resolver o problema de forma... permanente."

Padre Álvaro começara a suar, mas tentando recobrar o sangue frio, murmurou: "Mas.... minha filha... eu sou apenas um pobre padre... apenas fiz o que me mandaram e se já têm o que procuram -- qual é a utilidade que um velho como eu pode ter? Todos os nomes que vos poderia dar, já os têm..."

Houve uma pausa do outro lado da rede, e depois uma gargalhada suave fez-se ouvir: "Padre, entendeu-me mal... eu não estou aqui para o interrogar ou torturar..."

Álvaro deu um suspiro de alivio mais alto do que desejaria, e pareceu-lhe ouvir o suave sussuro de seda a mover-se do outro lado da divisória.

"... estou aqui para acabar com a rede e assegurar-me que demorará muito, mas muito tempo a reconstruir-se. Tenho que mandar uma mensagem aos seus superiores, aqueles que não conseguimos apanhar -- para que se apercebam que não compensa tentarem o seu negócio aqui. E para isso.... tenho que eliminar _todas_ as pontas soltas."

O velho padre saltou quando a porta confessionário se abriu de repente, e viu a contra-luz uma silhueta feminina. Encolheu-se, instintivamente, e sentiu de subito um arrepio de frio na garganta, imediatamente seguido por uma onda de calor que parecia deslizar-se pelo pescoço abaixo. Tentou engolir em seco, mas foi aí que percebeu que não conseguir. A mulher inclinou-se para lhe sussurar ao ouvido:

"Relaxe, padre. Eu sei o que estou a fazer."

Uma dor intensa no peito por um momento... e depois, nada.

***

Bendita seja a Feira do Livro que nos dá livros interessantes a preços modestos (sim, falo dos caixotes das promoções, o resto é para fugir).

De todas as formas, dei ao nosso Rick Danger um livrito de historinhas de espiões que se poderia perfeitamente passar no Império RPG. Ele, em troca, pediu-me que tentasse fazer uma personagem (já que os outros meninos não mostraram grande entusiasmo).

Por isso, aqui está.

Agora, ganhem vergonha e façam as vossas personagens também.

 

Joana de Monforte

Joana de Monforte apresenta-se sempre como uma mulher devota e severa, e apesar da sua juventude tem uma aura de respeitabilidade inegável. Filha de um médico, conhece intimamente a anatomia humana e o tempo que dedica à religião dá-lhe uma rede de contactos impressionante.

 

Características:
Vontade (nervos de aço) 8
Inteligência (resolução de problemas) 5
Físico (saudável) 7

Talentos:
Profissão (médico) 7
Jeito (literatura) 5
Sorte (conhece as pessoas certas) 8

Treino:
Contacto (igreja) 5
Combate (armas brancas) 7
Operações (assassinato) 8

Trunfos:
Foi casada com um inglês por quem se apaixonara enquanto estivera a estudar em londres-- mas na noite de nupcias, ele desapareceu sem deixar rastro.
Vive com o pai que é o lider de uma das repartições dos serviços secretos em Lisboa, e medico pessoal do presidente.
Passou a sua mocidade a viajar e a estudar pela europa -- tendo amigos e conhecidos em todas as grandes capitais.