Istanbul - Primeiras Impressões

Istanbul
Istanbul

Istambul é um jogo em que representamos mercadores que percorrem espaços da cidade onde recolhem ou vendem mercadorias, aumentam a sua capacidade de carga, libertam familiares da prisão, e muitas outras actividades com o objectivo de obter rubis. O primeiro a obter um determinado número de rubis será o vencedor.
 

A cidade de Istanbul é representada por um tabuleiro modular em que cada espaço corresponde a zonas da cidade onde os mercadores podem realizar acções. Não sendo exaustivo, existem espaços que permitem recolher mercadorias para o nosso carrinho, outros onde se podem trocar essas mercadorias por dinheiro ou por jóias (uma espécie de mercadoria adicional), onde se pode aumentar a capacidade do carrinho, onde obter cartas de bónus, onde obter benefícios ou habilidades, etc.

Esta modularidade garante variabilidade ao jogo, existindo três configurações de base além da possibilidade de algum arranjo aleatório dentro de alguns limites.

 

A mecânica principal do jogo assenta na forma como o mercador é representado por uma pilha de discos. O mercador tem que ser movimentado um ou dois espaços ortogonalmente e depois a acção será realizada.

Se não existe ainda neste espaço qualquer disco deste mercador, este tem que deixar um, se já existe, recolhe-o. Isto faz com que o número de acções seja controlado pois um mercador não pode realizar a acção por si, necessitando de deixar ou recolher um disco. Faz também com que o principal desafio do jogador seja estabelecer um percurso pela cidade por onde vai deixando ficar discos e depois ir recolhendo os mesmos numa sequência que lhe permita ir realizando acções de forma a conseguir vir a obter os rubis que darão a vitória.

Existe um espaço especial na cidade onde o mercador pode libertar um "disco" adicional que pode nesse momento fazer a acção de um qualquer espaço. A questão é que este mesmo "disco" especial só voltará ao espaço da cadeia pela acção de outro jogador e com recompensas adicionais ao mesmo, ou seja, podemos fazer uma acção com liberdade maior que o habitual mas tal beneficiará os adversários.

 

Também temos no jogo as cartas de bónus que permitem ter benefícios adicionais em certas acções ou mesmo contornar as regras habituais. Também aqui a utilização destas cartas tem que ser pensada em relação ao benefício que tal pode trazer aos adversários pois as cartas usadas ficam disponíveis para serem adquiridas pelos adversários pelo que o benefício que obtemos estará agora disponível para os outros.

 

Alguns personagens da cidade estão lá pelo tabuleiro e fornecem benefícios a quem for a esses espaços, depois serão movidos para um outro espaço. Por vezes pode ser interessante visitar um certo espaço, mesmo que a acção em causa não nos seja essencial, para obter mercadorias extra ou mesmo cartas de bónus.

 

Procura-se combater a utilização de estratégias comuns, além do facto de existirem múltiplos caminhos para vencer, pois um jogador terá que pagar aos outros se se deslocar para um espaço onde este já estejam. Ou seja, andar atrás de outro jogador e fazer o mesmo que ele terá custos e será mesmo impossível fazê-lo se não se tiver dinheiro para pagar.

 

A simplicidade do turno - mover a pilha um ou dois espaços, deixar ou recolher um disco e realizar a acção - faz com que o jogo flua com rapidez. Claro que, por vezes, um jogador pode ficar com algumas dúvidas acerca da melhor opção e introduzir algum AP mas, regra geral, o jogo corre rapidamente.

 

O jogo é uma corrida, percebe-se logo pelo facto de vencer quem conseguir primeiro o número de rubis necessários, mas também em relação a muitas das acções disponíveis pois os custos para obter aquilo que lá se consegue vão crescendo, por exemplo as habilidades especiais ou os espaços onde se obtém um rubi por dinheiro.

 

Este aspecto de corrida pode desagradar a muitos e, em certa medida, é um pouco anti-climático pois a construção que fazemos de um motor (ou sequência de acções) de geração de recursos que culminam na obtenção do rubi pode estar a começar a funcionar na perfeição quando outro jogador entretanto termina o jogo... E nós gostávamos de ver o motor funcionar. Dava vontade que o jogo continuasse mais um par de turnos.

E isto é sinal de que nos envolvemos, de que aquele motor, aquele plano, ganharam significado para nós.

 

Parte deste "problema" advém um pouco de o jogo não ser muito intenso em termos de interferência entre os jogadores. Sim, podemos ter que lhes pagar se estiverem num espaço que queremos muito usar, sim podemos mandar o disco adicional deles para a cadeia, sim podemos usar cartas que eles usaram antes, etc. Mas não fazemos nunca com que "andem para trás", no sentido de que o progresso que eles vão conseguindo é inexorável e será melhor que nos concentremos no nosso jogo ao invés de tentar prejudicar o dos outros.

E é também por isto que ali pus problema entre aspas. Na realidade acaba por ser uma enorme vantagem por ser precisamente o contrário daquilo que me pareceu um verdadeiro problema na análise ao Quantum. Aqui não haverá casos de estarem todos mais preocupados em impedir alguém de ganhar do que em ganharem eles próprios.

 

Os componentes são da alta qualidade a que a Pegasus já nos habituou com uma arte adequada e funcional.

 

Ao fim de uma só partida, este Istanbul é um jogo que facilmente recomendaria e que provavelmente entrará na minha ludoteca se o encontrar a um preço interessante. Se o puderem experimentar, aconselho.

O rating do BGG andará algures acima do 7, com tendência para ir até um 8.

 

-_-_-_-

 

Esta é uma série de análises / críticas a jogos feitas após a primeira partida.

Normalmente é má ideia fazer este tipo de exercício após uma só partida. Muitos jogos exigem maior experiência para nos apercebermos quer dos seus aspectos positivos mais difíceis de ver, quer dos seus possíveis defeitos.

No entanto, com o ritmo a que vão saindo jogos e tendo em conta o facto de que bastantes deles acabam por ser jogados uma só vez, as primeiras impressões são muitas vezes as mais importantes.

Adicionalmente, após ter jogado mais de 600 jogos diferentes em mais de 3000 partidas e de andar pelo BGG há 10 anos a ler sobre jogos quase diariamente, creio ter alguma "bagagem" que me permite apreciar jogos com mais facilidade do que faria quando comecei a interessar-me por eles. A ideia é que essa "bagagem" possa assim ser útil aos outros ao emitir o que, em última análise, é apenas uma opinião pessoal.

 

Portanto, tenham em conta estes dois factos (ser uma opinião pessoal emitida após uma só partida) na apreciação deste texto e lembrem-se de que mais importante do que quer que eu possa escrever aqui é a vossa experiência com o jogo.

Joguei isso no fim de semana passado e tenho a dizer que gostei.



Entretanto ganhou o Spiel des Jahres para jogo "pesado" e parece-me contudo que é demais.

Encaro-o como um light/family game… para mim.



É um jogo que se joga muito bem. Regras simples mas mesmo assim com alguma estratégia/táctica.



A tua análise está muito boa (as usual).

Obrigado.



Fui dar uma vista de olhos nos nomeados para o Kennerspiel des Jahres e creio que se percebe porque é que este ganha.



Gosto mais do Concordia e talvez o Rococo me tenha parecido menos original (mecanicamente falando) pelo que este estará no meio nas minhas preferências.

Mas os três são bons jogos e este será talvez o mais leve deles.



Uma vez que quem ganha o Spiel des Jahres é o Camel Up (muito, muito levezinho), o salto para Concordia ou Rococo talvez fosse demasiado grande na perspectiva do júri…

Sabe-se lá o que pensam estes Alemães! wink

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[quote=Mallgur]Sabe-se lá o que pensam estes Alemães! wink[/quote]



A meu ver o problema é que muitos dos gamers não sabem o que é o Spiel de Jahres evilgrin



… eu diria que ler ISTO iria ajudar a perceber o que estes alemães pensam wink



P.S. - Por falar nisso já estive numa loja fisica com mais de 200 jogos e num "café" de jogos surprise

… vou tentar jogar este jogo na próxima 4ª feira. Para já estou curioso, mas depois de o experimentar darei a minha opinião.

[quote=tmgd]A meu ver o problema é que muitos dos gamers não sabem o que é o Spiel de Jahres evilgrin[/quote]



… acho que isto diz muito sobre o prémio::

 

"… the bottom line is that if you're active on BoardGameGeek, then the Spiel des Jahres award is not intended for you. Most likely, you know more about games than the "average" person; you know how to interpret rules; you have experience with dozens or even hundreds of games. Spiel des Jahres, as noted on the SdJ website, is "intended to promote games as a cultural asset to encourage gaming amongst family and friends and to provide an aid to selecting the best games from a wide range of products on offer", with "best" meaning best for the average person on the street."

 

(retirada de uma entrevista disponível AQUI)

Após ter jogados 3 partidas de Istanbul posso dizer que gosto do jogo embora considere que fica na fronteira do "nem é carne nem é peixe", isto é, tem demasiadas regras para ser um filler e tem uma profundidade baixa para ser um gamer's game. Para mim, um jogo interessante mas apenas para ser jogado ocasionalmente.