Knight Six: Episódio-Piloto - Opening Moves

Foi com um grande sorriso nos lábios que abandonei as instalações da Devir Arena de Lisboa esta sexta-feira passada, após ter “produzido‿ o episódio-piloto de uma nova série de Primetime Adventures! No comando dos protagonistas da série tinha dois magníficos jogadores: o Joaquim (The_Watcher) e a Raquel (Eowyn).

O Joaquim não tinha experiência em PTA (“só‿ tinha devorado o livro e todo o material de PTA que encontrou aqui no site), mas a Raquel já era croma nisto após de uma temporada inteira a jogar a sua Rita Jamieson em Dirtside. No entanto, olhando para eles, era impossível notar qualquer diferença: ambos estavam com o à-vontade de tinha feito isto a vida toda. Eu só tive de tocar o acompanhamento, manter o ritmo, e foi vê-los e ouvi-los solar por aí fora. A Raquel será sempre a Raquel, se bem que desta vez não lhe forneci o material que realmente a faz explodir, e o Joaquim foi incrível, incrível mesmo, uma verdadeira surpresa!

Cada vez me sinto mais livre no formato de PTA. Não sei como é que os jogadores me acharam, mas do meu lado a coisa correu sobre uma engrenagem tão bem oleada que parecia magia. Os pedaços encaixavam todos, os improvisos não resultavam em becos sem saída, os pormenores e detalhes visuais porreiros apareciam sozinhos.

A cena de abertura foi muito porreira. Afastei-me do formato meu conhecido de “mostrar o problema e continuar a partir daí‿; desta vez comecei com os jogadores embrulhados no meio da acção, tal como achei que ficava bem a operacionais deste calibre. De um lado, Teri saltava os muros de uma mansão e infiltrava-se pelos jardins sem ser vista pelos guardas; do outro lado, Jason fazia passar-se por um dos mafiosos que regularmente visitavam a mansão do seu chefe e enganava os guardas para o deixarem entrar, tudo sem sair do conforto do seu BMW último modelo.

Estavam ali para localizar e recuperar os planos de uma arma de fogo ultra-secreta do exército dos EUA, que haviam sido roubados e que se desconfiava que estavam na posse do chefe mafioso que os ia vender a agentes externos. Enquanto Teri se imiscuía no escritório e entrava no computador, Jason ia ter uma conversinha com o chefe da máfia. Eis senão quando soa um alarme e a confusão se instala. Agora sim, é que o problema central que ia ser o motor do episódio inteiro começava.

O chefe mafioso estava morto, uma mulher coberta de sangue fugira da cena do crime (logo depois de manchar Jason com sangue, que assim teve de se esforçar para não ser abatido logo ali pelos guardas), e aparentemente uma terceira pessoa (que se veio a descobrir ser um antigo operativo da Knight) levara com ela os planos da arma.

Foi um início promissor, sem dúvida, que envolveu directamente os protagonistas, deu origem a um conflito, que por sua vez me permitiu gastar um pouco do “orçamento‿, gasto esse que permitiu inaugurar a “pool‿ de Fan Mail que pode então começar desde logo a ser atribuído pelos jogadores um ao outro sempre que algum deles fazia algo de especialmente interessante ou porreiro.

Todo o episódio correu sobre rodas. Ninguém bloqueou, o ritmo foi sempre de partir o pescoço, os pormenores porreiros, ideias e sugestões nasciam constantemente entre todos os participantes. Foi a primeira vez que joguei na Devir, e devo dizer que foi muito agradável. Não sei como será ao fim-de-semana, mas naquela sexta à tarde havia gente o suficiente para que não nos sentíssemos sozinhos mas não tanta que nos deixasse incomodados por falta de espaço e ruído a mais. O fresquinho que nos chegava da ventoinha tornava o espaço num abrigo ideal do calor que se fazia sentir na rua. O jogo só parou uma vez, para irmos buscar uns refrescos ao café do lado já que a máquina das bebidas da Devir não tinha nada de nada.

Senti-me mesmo bem, a jogar ali, com estes dois grandes jogares! A sessão demorou cerca de duas horas e meia; deveria ter-se prolongado um mais, mas estava tudo a correr tão bem que, por mais paradoxal que isso possa parecer, quando vi surgir a oportunidade para terminar a série a aproveitei logo ali e terminei enquanto a coisa ainda estava fabulosa e enquanto ninguém começava a olhar para o relógio e a dizer que se estava a fazer tarde. Isto embora ainda pudesse explorar a trama bastante mais (não se chegou a explicar a subtrama da amante ensanguentada do chefe mafisoso, por exemplo) e o episódio ainda tivesse pano para mangas.

Ao longo destas duas horas e meia os personagens ganharam músculo, e o setting passou de algo muito vago (reduzia-se literalmente a duas ou três frases!) para as fundações de algo bem mais concreto e intrigante. Acho que, novamente, o setting vai ser instrumental em originar dilemas porreiros para atirar aos protagonistas. Vai ser um mundo completamente pintado em tons de cinzento escuro; o Jota com certeza haveria de apreciar. Gostei especialmente quando a chefe que manda na equipa, que é uma autêntica cabra, comentou assim de passagem, como se não fosse nada de importante, que tinham cortado os analgésicos da rapariga baleada e operada de urgência para a poderem interrogar. Wooha, eles são mesmos maus! :slight_smile:

Em tanta coisa boa, só faltou uma coisa: os issues dos personagens. Nenhum dos dois foi um daqueles directos, como o Self-Worth da Rita Jamieson da Raquel em Dirtside, que eu conseguisse arranjar maneira de introduzir instintivamente, quase sem ter de pensar, numa qualquer cena de acção pura. De modo que houve muita acção, muito mistério, muito suspense, muita cena fixe, mas não houve nenhum dilema daqueles que nos atinge como um murro no estômago.

No entanto, agora que já passou o stress criativo de ter nas mãos dois protagonista que nunca tinha visto mais gordos a mexerem-se num setting e numa trama colados com cuspo, inevitavelmente as boas ideias e os planos maléficos para torturar os meus dois jogadores começam a surgir. O próximo episódio de Knight Six vai com certeza melhorar neste aspecto! Agora que tenho uma melhor ideia do setting e das pessoas que se mexem nele, vai ser mais fácil conseguir focar-me em trazer dilemas e questões importantes para a mesa.

Outra coisa que podia ter sido melhorada foi a apresentação do elenco secundário. Metade dele não fez qualquer aparição nem teve qualquer menção ou referência: o pequeno mafioso amigo de Jason, a amiga de Teri, o contacto de Teri na CIA, nenhum deles existe ainda para os espectadores. Não me recordo bem dos “Cenários Pessoais‿ dos protagonistas (um era a cantina, o outro não sei), mas acho que também não foram devidamente apresentados.

Não me lembro o que é que o livro de PTA diz a propósito do episódio-piloto, mas provavelmente será esta lição que aprendi: que no episódio-piloto que inaugura a série se deve manter em mente a apresentação do elenco secundário (não acho que deva ser obrigatória, porque uma pessoa pode ficar com uma sensação de estar ali apenas a cumprir calendário) e a apresentação dos issues (que, esta sim, deverá talvez ser obrigatória; afinal, são a coisa mais importante da série!). Há sempre aqueles momentos num episódio em que um jogador não sabe que cena chamar (o facto de isso não ter acontecido neste episódio prova o que eu disse sobre tudo ter corrido excepcionalmente bem), por isso não há nada melhor que ter uma autêntica lista de alternativas na manga, ali mesmo, disfarçadas na folha de personagem.

Bom… em resumo, foi uma tarde espectacular. Temos de regressar a Knight Six mais vezes!