La Citta

Quem não acha que construir uma cidade é fascinante? Não há nada melhor que construir uma cidade e vê-la interagir com outras cidades e ver o tabuleiro mudar com a progressão do jogo. E é isso o que o La Citta é, um boardgame sobre construir uma cidade, tirando o máximo de vantagens dos recursos naturais pertos da cidade e roubando cidadões a outras cidades.

Este jogo em termos de apresentação é do melhor. Para começar, o jogo traz muitos, muitos, muitos mesmo bonequinhos de plástico que representam um cidadão cada. Depois, a caixa do jogo está bem organizada, com slots para todas as peças. Ao contrário de algo da Winsome, aqui as peças ficam bem organizadas.

As regras são fáceis de ler e não apresentam problemas. Em termos de apresentação, este jogo está como tudo deveria ser, tudo arrumado e com peças de boa qualidade.

Expliquemos o jogo. É simples, no principio colocamos ao acaso os recursos naturais, água, trigo e pedra, e depois começa o jogo. Isto faz com que o tabuleiro seja semi-modular e nenhum jogo seja igual ao último. Depois há que começar a construir as nossas cidades. Para tal existem vários edificios, desde banhos públicos a hospitais, e cada um alberga exactamente um cidadão. Se o edificio ficar sem o cidadão, o edificio é abandonado e retirado do jogo. Cada edificio precisa de certos recursos, os banhos não funcionam sem água ao pé por exemplo, mas mais importante cada edíficio contribui para o aumento dos desejos dos cidadões. No fim de cada turno, são reveladas cartas que determinam os desejos dos cidadãos. Quando tal acontece vai haver emigração em massa, na medida que as pessoas mudam-se de uma cidade para outra que satisfaça mais os seus desejos. Isto produz uma dinâmica interessante de jogo, pois não se trata só de construir uma cidade, há que sabê-la mantê-la perante os nossos vizinhos. O jogo é na sua essência um jogo de equilibrio, pois queremos construir a nossa cidade mas não muito rápido e que não atraia muitas pessoas pois quantas mais pessoas estiverem na cidade, mais comida consomem, o que significa que população a mais vai originar uma situação de fome, o que é muito mau.

Passemos à análise.

Este jogo tem um bom tema. Como todos os boardgames tipo-Alemão, o tema não cola tão bem como devia colar, mas neste caso o jogo acaba por parecer menos abstracto do que o normal. Isto não é nenhum Clans ou Masons. Os jogadores acabam por ficar com a ideia que as cidades que constroem são realmente cidades e não pedaços de cartão sem significado temático nenhum. Em relação ao tema, este boardgame é melhor que o habitual.

A sorte neste jogo está presente principalmente em duas situações. No setup, onde colocamos os recursos, e no fim dos turnos, onde as cartas revelam o desejo das pessoas. Também as cartas que o jogador pode adquirir durante o jogo são sacadas ao acaso. A sorte está presente neste jogo, mas torna-o mais desafiador e interessante, ou seja, não é excessiva, é exactamente com a medida certa, pouca mas fundamental para os planos estratégicos de longo-prazo. A sorte neste jogo tem o nivel certo, não é intrusiva e é um bom exemplo de como usar o factor sorte num boardgame.

O peso do jogo é, diria, perfeitamente middleweight. Não é um jogo pesado mas também não é algo que se jogue só para matar tempo. É um jogo que se joga como o jogo da noite e não é um filler, mas ao mesmo tempo está muito longe de ser um gamer’s game. É um caso de middleweight perfeito. Como se joga em menos de noventa minutos, acaba por não ser chato e não se tornar repetitivo.

Este jogo está dotado de uma vertente estratégica muito interessante. Há que planear como queremos que as nossas cidades evoluam e se queremos entrar em conflicto de imigração com os nossos vizinhos. As cartas de desejo não deixam que uma pessoa planeie a muito longo-prazo, mas isso é comultado com a construção de edificios que satisfaçam todos os desejos de forma global. O jogo também é bem táctico, mas a vertente do jogo centra-se mais na estratégia do que na táctica. Portanto, eis um jogo que recompensa planos a longo-prazo, sem descurar de uma boa dose de táctica.

A interação entre jogadores é feita de forma passiva mas directa. A imigração entre cidades é a única interação entre jogadores na forma de conflito de interesses entre jogadores. Esta interacção, sendo passiva, ou seja, é a mecânica do jogo que obriga a fazê-la no fim dos turnos sem acção directa nossa, é directa, pois é graça às nossas acções que as pessoas das cidades emigram para outros sitios ou ficam onde estão. Fora isto, os jogadores não têm interacção, mas pouco importa, o jogo não sofre por isso.

A replayability do jogo é grande. Para começar, o tabuleiro é semi-modular, logo o jogo parece sempre diferente. Depois existem várias maneiras e feitios de construir cidades e muitas estratégias a adoptar. Este jogo têm uma longevidade admirável e é uma das razões pelo jogo ser tão apelativo e bom. Existem edifícios suficientes para dar um grande toque de variedade ao jogo, sem que ele estagne durante uma sessão. O tempo de jogo é o certo, acaba quando as cidades se tornam grandes e quando o jogo começa a ficar menos competitivo. Estes aspectos dão um grau elevado de replayability ao jogo.

O dinâmismo do jogo é interessante. Além da imigração de pessoas, temos também a gestão de recursos. O jogo têm um dinâmismo muito equilibrado e colorido. O jogo é dinâmico e nunca é estático, embora as cidades não possam mudar de sítio, estão sempre em crescimento ou recuamento. No fim, dá uma boa sensação de que o jogo consegue manter um dinâmismo vital para o interesse do jogo.

O problema de analysis paralysis pode-se dar com este jogo. Como as jogadas não são tão obvias, um jogador pode ficar um ou dois minutos a pensar no que fazer, mas não é nada de grave. Há jogos muito piores com este problema, e este jogo flui bem e sem grandes pausas.

Quanto ao aspecto de introdução a novatos, tenho as minhas dúvidas. Por um lado, o jogo é fascinante, fácil de ensinar e aprender e sem grandes regras complexas que dificultem o raciocinio a quem não está habituado a isto. Por outro lado, a densidade estratégica do jogo pode afastar os novatos, pois eles acabam por não saber bem o que fazer. Não tenho grandes certezas quanto a recomendar este jogo a novatos. Neste caso, o melhor é deixar tal decisão ao discernimento do dono do jogo. Pode funcionar bem como pode não funcionar. É dificil analisar este aspecto.

As mecânicas do jogo são simples, construção de items, gestão de recursos e uma espécie de area majority em que a area é substituida por desejos. Esta combinação de mecânicas produzem um jogo muito bom de se jogar.

O visual do jogo é bom, mas podia ser melhor. No fim, os edificios são hexágonos de cartão e uma pessoa fica a pensar se os edificios fossem de plástico este jogo seria o jogo visualmente mais espectacular alguma vez feito. Mesmo assim ver os cidadãos de plástico por todo o lado ajuda a criar um visual interessante.

E é esta a análise.

Para mim este jogo é dos melhores jogos de construção de cidades existentes. Melhor que o Big City, melhor que o Attika, melhor que muitos jogos. É um jogo muito bom que dá um vicio tremendo. O meu grupo achou o jogo muito interessante e extremamente bom, o que é bom sinal.

Este jogo têm um equilibrio perfeito o que o torna muito apetícivel de jogar. A importância do aspecto estratégico do jogo torna-o muito interessante para quem gosta de mais estratégia do que táctica, e este jogo é perfeito para jogadores estratégicos. De facto, é um dos melhores jogos estratégicos da minha coleção. É um jogo que, acima de tudo, é divertido de jogar, e isso num boardgame acaba por ser o maior objectivo que um jogo se pode propôr a alcançar.

Não só eu recomendo este boardgame, como eu diria que é uma compra obrigatória para qualquer boardgamer sério que queira uma experiência diferente de jogo. Apesar de estar out-of-print, a Rio Grande Games vai fazer o reprint do jogo este Verão, logo aproveitem essa oportunidade para comprar o que, no fim, se revelou ser um grande boardgame.

Comprem o mais depressa possível.

17 de 20.

https://www.boardgamegeek.com/game/554

Boa review. Parabéns.
Eu tenho este jogo há já alguns meses e ainda não o testei porque vão sempre aparecendo coisas novas e o LA CITTA vai ficando para trás. Mas isso vai ter que acabar. Arranjei este jogo através de um geek italiano e está em perfeito estado. Já li as regras (ainda que que brevemente) e de facto não me pareceu que fosse um jogo tão complexo quanto eu pensava. Os mecanismos do jogo parecem-me também muito interessantes e dinâmicos, para além da gestão de recursos, paraceu-me particularmente estimulante o equilíbrio que é preciso manter entre população existente/seus desejos ou necessidades/capacidade de alimentar a população existente. Espero testá-lo em breve.

Mais uma vez, parabéns...

 

https://oblogdocosta.blogspot.com

Obrigado! :smiley:

Realmente o La Citta é um grande jogo. É viciante, colorido e dá prazer a jogar. Aconselho-te a jogá-lo o mais depressa possivel, mas com quatro jogadores, com cinco o jogo sofre um pouco. Mas seja como for, continua a ser um grande jogo.


I know this: if life is an illusion, then I am no less an illusion, and being thus, the illusion is real to me. I live, I burn with life, I love, I slay, and am content.

Também comprei este jogo (usado - estado de conservação razoável) à pouco tempo e estou particularmente interessado na possibilidade de ser jogado a 2.

Ainda não o experimentei, mas qualquer dia calha.

Resta dizer que também comprei o Big City e já tinha o Attika (do qual gosto bastante) o que be deixa bastante curioso para experimentar este.

[quote=hmocc]Também comprei este jogo (usado - estado de conservação razoável) à pouco tempo e estou particularmente interessado na possibilidade de ser jogado a 2.

Ainda não o experimentei, mas qualquer dia calha.

Resta dizer que também comprei o Big City e já tinha o Attika (do qual gosto bastante) o que be deixa bastante curioso para experimentar este. [/quote]

A 2 não é mau, certamente há muito jogo pior no mercado. Mas o La Citta brilha realmente a 4.

Experimenta o La Citta, é mesmo muito bom e muito divertido, do melhor.


I know this: if life is an illusion, then I am no less an illusion, and being thus, the illusion is real to me. I live, I burn with life, I love, I slay, and am content.