Para aqueles que não sabem, RPG Live Action (LARP) é uma modalidade de roleplay bastante interessante, mas dificil de conseguir, onde os jogadores em vez de se reunirem em volta de uma mesa com dados, folhas de personagens, etc. se vestem como as personagens para jogar, e actuam quase como se fosse um teatro de improviso.
É obvio que este tipo de jogo requere jogadores e GMs experientes, histórias bastante especiais (já que jogar uma cena de batalha em LARP é proximo do impossível), um sistema de resolução rápida (para n interromper as cenas), e talento para produzir fatos e acessórios(sobretudo num ambiente tão específico como o de L5R). L5R tem uma tradição já de LARPS, por isso não foi grande surpresa quando decidiram por cá para fora um livro de LARP.
PRIMEIRA IMPRESSÃO -
É um livro bonito (simulando um livro em pergaminho e com a imagem do Doji Kurohito na capa) e prático, no já conhecido formato A5 (tamanho mais comum dos livros de LARP, para poder ser manejado e transportado facilmente durante os jogos).
Aqui acabam as coisas boas… porque quando viramos o livro e vemos o preço ($ 24.95), quase temos um chilique - ainda mais porque o preço em euros geralmente é aumentado com os IVAS, etc etc. O preço é absolutamente ABSURDO, tendo em conta que é um livro A5, com menos de 200 páginas. Um livro de LARP deste formato e mesmo número de páginas que fosse vendido pela White Wolf (criadores de Vampire, e a firma mais forte no mercado do Live Action) custaria cerca de 15/16 dólares - e sem as margens vazias e enormes.
APRESENTAÇÃO -
Bom, depois de recuperar do choque do preço, passamos a folhear o livro: são 200 páginas, infelizmente todas com aquelas margenzinhas irritantes (se bem que já as fizeram maiores) que ocupa bastante espaço da página, e que se as removessem fariam com que o livro fosse bastante menor (e provavelmente mais barato). A formatação é aceitável, se bem que se encontram demasiados erros ortográficos, alguns deles completamente ridículos. O livro está dividido em 5 capítulos, cada um deles introduzido pelas várias partes da história "Blood And Honour".
A divisão de capítulos seria boa se não fosse pela separação desnecessária da informação (para se saber algo sobre os clãs e familias têm que se ir para o capitulo 3, quando esta informação deveria estar no capítulo 1, que contém a história e a descrição do setting – enquanto que no capitulo 3 a informação devia ser reduzida e directa). O material de construção de personagem também está (inexplicavelmente) dividido entre o fim do capitulo 2 e o ínicio do 3. O capitulo final também é um poco desnecessário pois esta informação poderia facilmente estar contida nas outras áreas do livro, nomeadamente na do setting (podendo-se reservar este capitulo final para tabelas, resumo de construção de personagem, etc.
Introduction: Define LIVE ACTION, e apresenta a divisão do livro.
Chapter One - History of Rokugan: Basicamente, o capitulo melhor do livro, contendo um resumo excelente do setting de rokugan, incluindo tradições, história, costumes, etc. etc. Falta a informação sobre os clãs (que vem erróneamente incluida no capitulo 3)
Chapter Two - Mechanics: Apresenta o sistema utilizado para o jogo (que usa cartas de um baralho em vez de dados).
Chapter Three - Character Building: Traz todos os dados uteis para fazer uma personagem, incluindo Vantagens, Desvantagens e uma lista extensa de Spells para shugenjas.
Chapter Four - Bloodspeakers, Ronins & Minor Clans: Informação sobre a taint e como fazer personagens tainted, ronins e de outros clãs. Também apresenta um pouco do mundo para além das fronteiras de Rokugan.
A nota negra máxima vai para o facto (INADMÍSSIVEL) que se esqueceram de incluir a folha de personagem no livro (tiveram que depois a por disponível no próprio site da AEG)
SISTEMA DE JOGO -
O sistema de jogo é simplificado e baseado no sistema original: existem 5 aneis, e cada anel têm duas habilidades (uma mental e uma fisica), com excepção do anel de Void. Existem igualmente várias habilidades, que englobam de tudo desde lutar com espadas até saber trabalhar com pólvora, e têm um valor que vai de 1 a 10.
O factor sorte geralmente introduzido pelos dados é substituido por um baralho de cartas de jogar, que representam o seu valor - cartas de figuras valem 11, 12, 13. Se sair um Joker, tira-se uma outra carta e duplica-se o seu valor.
Os testes fazem-se somando HABILIDADE + SKILL + 1 carta, e os niveis de dificuldade são os mesmos (5-10-15, etc) se bem que os Raises apenas acrescentam +2 à dificuldade final (ao contrario dos +5 no jogo original). As penalidadas por feridas são apresentadas como numeros negativos subtraídos ao resultado final.
Falharam completamente na criação do sistema, pois as probabilidades foram completamente baralhadas, e as alterações foram feitas desnecessariamente, pois bastaria que se utilizasse este sistema com baralhos sem jokers nem figuras (só cartas de AS a 10), para se conseguir manter o sistema original. Ou seja, não simplifica em quase nada o sistema de combate (que é sempre o mais dificil de tratar), e consegue mesmo tornar o sistema em geral mais complicado.
Apesar da formula H+S+C parecer simples , acaba por se revelar estupida, porque a igualidade dada a Habilidades e Skills pode ser facilmente chulada, já que é muito mais barato aumentar Skills do que Habilidades (ter uma habilidade a 3 [todos os jogadores começam com todas as traits a 2] custa 9, enquanto que comprar 3 niveis a uma skill custa 6)
Vejamos: Compro Agility 3 e Iaijutsu 3, o que me custa 15 pontos. O meu lançamento para combate seria 3+3+1 carta.
Se eu mantivesse o Agility 2 inicial e gastasse esses 15 pontos em Skills apenas, poderia comprar 5 de Iaijutsu. Ou seja, o meu lançamento para combate seria 2+5+1 carta. Para se ter um lançamento de 2+4 (igual ao primeiro) gastarse-ia apenas 10 pts.
Estão a ver a falha aqui?
CONSIDERAÇÕES FINAIS -
Pelo preço que pedem, não vale a pena – o sistema necessita de ser completamente revisto, e adeptos de L5R não encontrarão nada de novo neste livro, se bem que contém o melhor tratado resumido do mundo de Rokugan.
Podem encontrar a folha de personagem e um artigo muito util sobre como fazer roupas Rokuganesas, no site oficial https://www.l5r.com
The Good: a Cornucópia de informação sobre tudo e mais alguma coisa resumida e simplificada até só ter o que verdadeiramente importa.
The Bad: o sistema de jogo - precisa de ser muito melhorado e os loopholes das regras são facilmente chuláveis.
The Ugly: a arte. Ainda não consigo parar de me rir quando olho e vejo fotos do Rich Wulf e seus amiguinhos (e namoradas dos amiguinhos) vestidos de… ahem… "samurais". Ficam francamente ridiculos (deveriam ter seguido o exemplo da White Wolf, que ao menos consegue modelos interessantes), com destaque para o entusiasmado Crab jogador de "crocket" (crocket é um jogo inglês que se joga com um martelinho de madeira, para tentar fazer passar umas bolas de madeira através de uns aros plantados no chão). Em vez de se armarem em egocêntricos, deviam ter pedido aos fãs que enviassem fotos suas vestidos a rigor e selecionavam as melhores para usar (e como pagamento, tinham o nome mencionado no livro). O unico oriental que aparece no livro (e que fica bem) apenas tem direito a uma imagem, ainda n percebi porquê.
É pena a AEG ter falhado nesta tentativa de um corebook de LARP, mas é um género que tem bastantes especificidades e sobre o qual gostaria de ouvir falar mais aqui no site.
Alguém sabe alguma coisa sobre Call of Cthulhu LARP?
Bom, eu tenho os livros todos menos a recente 3a Edição… hmm… como é de esperar, não os li ainda, eheh… só li a 1a Edição, já com bastante anitos.
É uma coisa com muito potencial, algo mais semelhante a uma produção teatral ou de cinema do que propriamente a um daqueles LARPs de “todos contra todos” (desses já fiz uns quantos e são espectaculares!). Tem um potencial incrível, claro, e arranjar props e criar ambiente é o menos, especialmente se forem como eu e preferirem um jogo right here right now… o problema são os NPCs. Para colocarem um grupo de jogadores a jogar, basicamente precisam de ter um grupo de NPCs/assistentes a trabalhar convosco e isso traz uma série de problemas. Ser NPC não é tão interessante como ser PC, e aqueles amigos e excelentes roleplayers para quem vocês se imaginam a correr uma coisa destas, são exactamente os gajos a quem teriam de dar um papel de NPC para fazer a coisa resultar em grande… os PCs seriam pessoas mais desconhecidas para vocês o que, francamente, no meu caso não é muito atractivo. Se eu fosse montar um espectáculo destes, seria para proporcionar algo de inesquecível às pessoas de quem mais gosto, não para lhes dar algum trabalho e papeis maioritamente secundários.