Sim concerteza! Quem és?
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"Quem eu sou não é importante, Abraão. O que interessa é que sou uma Gama*, tal como tu. E, por isso mesmo, venho-te lembrar de que convém começares a delinear desde já o teu futuro. Pensa bem nisso." — ela levanta-se e faz tenções de ir embora.
* Gama: termo usado no Planalto para alguém que, tal como tu, tem mais que uma classe.
E por onde passará o meu futuro na tua opinião? O que me espera se te seguir?
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"Não precisas de me seguir, Abraão. Aliás, aconselho-te a que não o faças — para teu próprio bem, isto é: melhor será que não voltemos a ser vistos juntos, pelo menos por enquanto.
Quanto ao teu futuro, não te preocupes — voltarei a procurar-te... meu primo."
Nisto ela levanta-se e vai-se embora, atirando-te uma pedra para apanhares em pleno ar.
Tem escrito: «ela mente».
...Ela mente... detenho-me a reflectir sobre o porquê desta frase e só a consigo associar a Cayla. Também as suas palavras parecem claras... "Mas Abrãao, se fores abordado por alguém dos Primos Gama, tem cuidado! Tentarão iludir-te e, se fores fraco, conseguirão vergar-te."
Estou muito confuso e sem saber o quem fala a verdade...
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E é assim que regressas à tua cela: confuso.
Preparas-te para a Terceira Unção. Vestes o traje cerimonial. O sol começa a pôr-se. Diriges-te à Gruta. A calma aparente não consegue esconder o nervosismo generalizado entre os teus colegas neófitos.
A Primogénita dirige-vos algumas palavras antes da cerimónia, pedindo-vos o máximo de concentração.
O bi-luar iluminava todo o Planalto, mas nem uma réstia de luz entrava na Gruta. Os Primogénitos já se tinha dirigido aos seus Neófitos, exlicando o significado da escuridão, assim como o da própria Terceira Unção. Mas o Primogénito Alpha adorava discursar envolto na escuridão — acreditava que a luz abafava o eco:
“Foi no vosso primeiro solstício de Verão que recebestes a Primeira Unção – banhados pela luz clarificadora e pela água purificadora, nascestes aí para o Primeiro Pai.
"Na penumbra, recebestes a Segunda Unção – atingidos pela dúvida da sombra, o óleo vos presenteou com a dádiva da clareza e tornastes-vos Neófitos.
"Hoje, mergulhados no breu, terão que encontrar o caminho, e a vossa união com a natureza demarcar-vos-á como Filhos, dignos do Primeiro Pai.” — e continua:
“Tal como nem de toda a flôr nasce o fruto, nem todo o homem nasce Filho. Da mesma forma, enquanto o fruto verde é azedo se comido, a fruta madura cai ao chão, se em bom tempo não for colhida.” — faz uma pausa e, levantando a voz:
“Esta é pois a altura de uma fruta ser colhida e de outra esperar por amadurecer!” — apenas os seus passos pesados quebram o silêncio.
Faz sinal a um dos primogénitos para que vos indicassem os untórios.
“Deixem-me acrescentar apenas o seguinte: em apenas duas ampulhetas de tempo terão de encontrar em vós o equilíbrio e a harmonia necessários para que possam receber a Terceira Unção.
No final, só alguns serão colhidos pelo Primeiro Pai.”
Encaminhei-me para o untónio mas ao centro compenetrado e confiante de que seria eu um dos escolhidos.
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Os untórios, dispondo-se lado a lado, fazem parte dum grande heptágono escavado na pedra. A escuridão é mais patente aqui do que na grande caverna onde o Primogénito Alpha proferiu o seu discurso.
Vocês dirigem-se cada um ao seu untório e, pouco tempo depois, as portas de pedra fecham-se atrás de ti.
À medida que os teus olhos se tentam adaptar ao breu, o silêncio instala-se.
O secretismo à volta da Terceira Unção é de tal ordem que nenhum dos Neófitos tem noção do que realmente o espera – apenas que têm duas ampulhetas de tempo para que consigam ser merecedores de recebê-la.
Soa o gongo, marcando o início da Terceira Unção.
Resumindo: estás numa sala completamente às escuras, com cerca de 2m de largura, e tens dois quartos de hora (as tais duas ampulhetas de tempo) para descobrires o que tens de fazer.
E agora?
Pego nas ampulhetas e tento virá-las na horizontal para que o tempo pare
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Já me borrei todo de medo de estar tanto tempo na escuridão! :)
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Cada ampulheta de tempo representa algo como 15 minutos. Mas, claro está, a ampulheta está na sala exterior. Dentro de cada um dos untórios existe apenas escuridão…
Ainda assim, à medida que o tempo vai passando, quer-te parecer que o tecto (todo ele de rocha maciça) se vai iluminando, deixando entrever uns estranhos entalhes numa das paredes do untório.
Nisto, ouves um grito seco vindo, parece-te a ti, de um dos outros untórios.