Monopoly

[quote=Pedro Espiga]nao há jogos que não dependam da sorte.[/quote]

Desculpa lá, mas existem até muitos.

O problema aqui não é a existência de sorte no jogo. Muitos dos jogos que jogo, e gosto, têm um factor sorte associado. O problema é quando a mecânica central do jogo assenta na sorte e o jogo tem uma duração média que torna isso, para mim, inaceitável.

O Monopólio não é o único a sofrer deste problema. Por exemplo o Talisman, que até vai na quarta edição e está na posição 473 no rank do BGG que tem uns milhares de títulos colocando-o certamente nos primeiros 10% de jogos, tem exactamente o mesmo defeito.

A questão põe-se a um nível mais simples, se quiseres. O que, principalmente, decide a minha prestação no jogo são as minhas decisões ou lançamento dos dados (ou cartas ou outro factor aleatório)? Tanto no Talisman, como no Monopólio, a resposta está no factor aleatório.

Essa regra é também um problema. Repara que esta regra limita a possibilidade de, através da negociação, um jogador ir preparando o resultado futuro. Se todos os jogadores têm que esperar que todas as propriedades estejam vendidas para começarem a negociar, isso coloca, mais uma vez, a negociação em segundo plano em relação ao resultado nos dados.

As propriedades serão (tipicamente) vendidas a quem cair nelas antes de poderem ser negociadas, um jogador que tenha a felicidade de cair nas casas necessárias e de adquirir um Monopólio durante esta fase pré-negociação estará em claríssima vantagem em relação aos outros, não por mérito próprio ou capacidade negocial mas simplesmente pelo acaso. Pode até acontecer que um jogador seja eliminado ainda antes de poder negociar seja o que for. Além disso, se a parte negocial, como defendes, é o que torna o jogo mais interessante, esta regra serve de mecanismo de atraso à entrada do jogo na fase interessante. Ou seja, o jogo impede-se a si próprio de se tornar interessante mais cedo.

Como contra-exemplo, o Chinatown tem dois factores aleatórios. Por um lado as propriedades, por outro os negócios que lá podes colocar. Todos os jogadores recebem, logo no primeiro turno, um conjunto de propriedades e um conjunto de negócios. Nesse mesmo turno começam a negociar. Tudo. Podem trocar todos os bens em jogo (propriedades, negócios e dinheiro) como entenderem. Depois vem a parte que sustenta (e justifica) a negociação. Há que colocar os negócios nas propriedades e a adjacência entre negócios iguais aumenta a sua rentabilidade... Portanto, todos tentaram conjugar as suas posses da melhor forma, através da negociação, único meio disponível, pois dificilmente lhes irá calhar a propriedade que precisam mesmo. Pode acontecer, é certo. E por vezes isso faz com que o jogo seja menos interessante por dar vantagem a um jogador específico por sorte. Ou seja, o Chinatown não é, também, isento de problemas. Mas como o jogo se joga em cerca de 45 minutos e todos estão envolvidos até ao fim, não é tão grave... Pode logo jogar-se outra partida a seguir que, provavelmente, correrá de outra forma.

Uma partida de Monopólio dura várias horas. Estar à espera de um lançamento de dados específico para poder começar a negociar durante tanto tempo (possivelmente) quanto se demora a jogar uma partida inteira de Chinatown, que nos põe logo a regatear? Prefiro, obviamente, jogar logo este último se negociar é o que me apetece.

"têm que esperar que todas as propriedades estejam vendidas para começarem a negociar" : mas na fase de compra, há leilões, etc...

"um jogador que tenha a felicidade de cair nas casas necessárias e de adquirir um Monopólio durante esta fase pré-negociação estará em claríssima vantagem": a regra é que para fazer conjunto de cores é preciso negociar. É raro isso acontecer por si só, a não ser que se jogue com poucos jogadores. Como já disse, este jogo a dois nao tem interesse.

"Pode até acontecer que um jogador seja eliminado ainda antes de poder negociar seja o que for.": Não estou a ver como.

"Além disso, se a parte negocial, como defendes, é o que torna o jogo mais interessante, esta regra serve de mecanismo de atraso à entrada do jogo na fase interessante. Ou seja, o jogo impede-se a si próprio de se tornar interessante mais cedo." : Concordo.

No chinatown jogam todos até ao fim? Fixe. Quanto à espero no Monopoly, bem, é certo que é uma fase um pouco chata, mas que dá para irmos pensando no que havemos de fazer, e criar expectativas.

abraço

de facto tb aprecio um jogo que nao dependa exclusivamente de desgaste cerebral. Mas o monopolio nao é arbitrario ou dependente apenas da sorte.

abraço.

[quote=Pedro Espiga] mas na fase de compra, há leilões, etc...[/quote]

Os leilões só ocorrem se quem lá cair optar por não comprar, ou não tiver dinheiro para o fazer (que será relevante mais abaixo...). Não comprar é sempre uma má opção. Nem que seja pela possibilidade futura de usar essa propriedade numa negociação. Portanto, os leilões são uma ocorrência rara ou uma manifestação da possibilidade de alguém já estar próximo da falência antes de se iniciar a fase de negociações.

[quote] a regra é que para fazer conjunto de cores é preciso negociar. É raro isso acontecer por si só, a não ser que se jogue com poucos jogadores. Como já disse, este jogo a dois nao tem interesse. [/quote]

Sim. Ocorrerá pouco, mas é uma possibilidade plausível. Especialmente se tivermos em conta a facilidade com que se vai parar à cadeia...

[quote]Não estou a ver como.[/quote]

Imagina que o jogador A comprou uma das três propriedades antes do Estacionamento Livre. Na jogada seguinte, Calha numa das casas de Sorte ou Caixa de Comunidade e vai parar à cadeia. Na seguinte, ao sair da cadeia cai numa das outras propriedades do mesmo conjunto. Compra. Já tem duas. Na jogada seguinte, calha na casa "Vá para a Cadeia". Ao sair compra a terceira. Pode espalhar-se isto por mais jogadas e outras combinações, evidentemente.

Agora suponhamos que a última propriedade demora muito tempo a sair, uma vez que depende tal de que alguém caia aí e a compre para se começar a negociação. Se o jogador A colocar casas e hotéis no conjunto que comprou, não é possível que um outro jogador acabe por ficar sem dinheiro ainda antes de se começar a negociar?

Será, talvez, uma possibilidade remota, mas é uma possibilidade, certo? Resulta da regra que provoca o atraso nas negociações.

[quote]No chinatown jogam todos até ao fim? Fixe. Quanto à espero no Monopoly, bem, é certo que é uma fase um pouco chata, mas que dá para irmos pensando no que havemos de fazer, e criar expectativas.[/quote]

Muito bem. São gostos e opiniões. Eu não retiro o mesmo prazer dessa fase do Monopólio e acho-a demasiado longa para uma possibilidade de negociação posterior que continuo a achar não fazer sentido, mas isso já expliquei porquê antes. Aqui estou a falar como se fizesse para ilustrar problemas mecânicos que estão à parte disso.

pois, de facto um jogador pode construir casas antes da negociação, e com isso lixando os outros.

[quote=Mallgur]

A questão põe-se a um nível mais simples, se quiseres. O que, principalmente, decide a minha prestação no jogo são as minhas decisões ou lançamento dos dados (ou cartas ou outro factor aleatório)? Tanto no Talisman, como no Monopólio, a resposta está no factor aleatório.

[/quote]

Pois mas isso já depende somente do calibre do jogador. Tal não implica que o jogo dependa básicamente/principalmente da sorte.

Também empatei e ganhei uns tantos jogos de xadrez graças ao factor sorte. Isso não significa que o jogo dependa básicamente/principalmente da sorte.

Cumprimentos.

[quote=Pedro Espiga]

pois eu aconselho a jogarem com as regras.

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Não me parece :p

eu gosto de ver pagar juros dos empréstimos(hipotecas) que se fazem.

[quote=Pedro Espiga]

tb nao se pode fazer negocios antes de todas as propriedades vendidas.

[/quote]

Isso vem nas regras?

A primeira impressão que tenho disso é negativa, mas como não testei..pode ter méritos.

E além disso isso parece que vai estender a duração do jogo.. ora eu gosto de fomentar decisões rápidas.

Porque é que me vêm à cabeça os Mass-Media norte-americanos(FOX e afins...) onde a distorção e especulação fazem o mote da (des)informação?....

[quote=npl]Também empatei e ganhei uns tantos jogos de xadrez graças ao factor sorte.[/quote]

Obviamente, a tua definição de sorte não coincide com a minha. Não há qualquer factor aleatório no Xadrez.

no xadrez não há factor aleatório, mas há a sorte.

para mim sorte há em tudo.

Quando as coisas começam a entrar em questões de fé, não me meto... Esses "mistérios" não são para mim e trocar ideias sobre coisas indefinidas nunca leva a lado nenhum.

Have fun!

Pergunta retórica: uma figura de estilo sob a forma de uma pergunta feita pelo seu efeito persuasivo sem se esperar resposta (https://en.wikipedia.org/wiki/Rhetorical_question).

Se queres dizer que o que escrevi é distorção, especulação e desinformação diz, não te ponhas com perguntas retóricas. Mas, já agora, vê lá se sabes o que estás a dizer. Há distorção ou desinformação quando se faz passar por verdade o que se não sabe se é verdade ou mentira. Ora eu fui claro que estava a especular (não preciso que mo venhas dizer, eu já tinha sido claro quanto a isso, a palavra está lá na minha entrada).

Quanto aos mass media (não precisa de maiusculas) norte-americanos, que saiba quem os vê mas parece-me pura distorção, especulação e desinformação considerar que são todos desinformativos, especulativos e desinformativos (e não, o "Fox e afins..." entre parentesis não reduz a carga geral da acusação).

Voltando ao Monopólio, eu conheço uma tonelada de gente inteligente e articulada que jogou Monopólio e joga se houver oportunidade. Muita dessa gente não terá paciência para aprender e jogar um jogo dos mais leves dos que fazem as delícias do pessoal dos jogos de tabuleiro e nunca lhes passaria pela cabeça jogar aqueles mais para os fãs dedicados. Acho estúpido chamar estúpidos a este tipo de pessoas porque gostam do Monopólio e daqueles jogos que se vendem nas grandes superfícies e no Toys R'Us. Há razões para uma catefada de gente capaz gostar destes jogos "da treta" e não dos jogos "como deve de ser", sem remetermos este pessoal para a geração rasca.

Outro exemplo, há aquele programa na tv do Nuno Rogeiro onde a apresentação é ele e outro maduro a jogar Risco. Eu não conheço o NR nem sou propriamente seu admirador mas suspeito que ele conhece mais do que o Risco e podia ter posto outro jogo qualquer. Não foi por ser limitado na sua capacidade de jogar jogos de tabuleiro dos verdadeiramente estratégicos que ele fez a escolha que fez.

Em suma, as escolhas de jogos, como de tudo na vida, são pessoais e não se baseiam só numa dimensão nem se pode medir tudo por essa dimensão.

para um jogo que não se joga nos encontros, torna se muito falado :)

:)))