O meu primeiro UK Games Expo

Esta foi uma excelente experiência, com muito roleplay, alguns boardgames e tantas compras como aquelas que pudessem caber na mala para levar no avião de volta. Fiquei supreendido com quão cosmopolita a cidade de Birmingham é e essa mesma diversidade e dimensão não faltou ao UK Games Expo (UKGE).

Cheguei a Birmingham na sexta-feira já perto da meia-noite, mas no hotel Stratalhan onde fiquei - que fica a poucos metros do hotel Clarendon onde se realiza a UKGE - ainda se jogava em todas as salas disponíveis e até no bar. Logo à partida, vi muitos wargames - uma constante ao longo de todo o fim-de-semana - para além dos jogos habituais tipo Stone Age e Settlers. Confirmei aí as minhas suspeitas que a organização da UKGE tinha também reservado todas as salas deste hotel ao lado do Clarendon para o pessoal poder jogar a todas as horas. Estava alojado mesmo no sítio certo.

Na manhã de Sábado, começou a UK Games Expo propriamente dita e eu estava lá desde a primeira hora, pois é muito fácil entrar quando se está pré-inscrito. No site oficial, é possível não só comprar os bilhetes que se quiser como também associar a esse bilhete as reservas para os vários eventos em que se quiser participar, sejam esses sessões de RPG ou torneios de boardgames. Assim, à entrada recebi logo a confirmação das duas sessões que tinha marcado: Right Place Wrong Time (Feng Shui) e Fir Tofa (Carnage Among the Tribes com o autor Gregor Hutton). Entretanto, a Ana tinha já reservado lugar para mim numa sessão de Savage Worlds com a aventura Trouble In Crete feita pela empresa Triple Ace Games.

Nestas primeiras horas na UKGE, deixei-me levar pela já esperada corrida de gente a todos os expositores para ver as novidades e conhecer o espaço. O Clarendon é um hotel e um centro de conferências bastante peculiar com uma antiga decoração maçónica bastante evocativa de tempos em que o espaço seria usado pela maçonaria inglesa, com um pátio interior bem iluminado e um labirinto de corredores que levam a todo o tipo de salas em múltiplos andares do edifício. Tem também vários acessos ao parque exterior para o pessoal que tem de fumar regularmente e uma bela cantina no último andar, pelo que as condições são excelentes a todos os níveis.

A única coisa que me faltava era uma máquina onde levantar dinheiro, pelo que não pude ainda comprar nada e tive de sair por uma hora para ir até um banco e voltar. Entre isso e comer qualquer coisa, cheguei mesmo a tempo para a minha primeira sessão de roleplay onde estávamos eu, a Ana (Lady Entropy), um casal inglês amigo dela e dois ingleses muito divertidos. Jogamos Savage Worlds no modo mais Pulp possível conforme é suportado pela linha Daring Tales of Adventure feita pela Triple Ace Games. Foi uma das pessoas desta empresa que mestrou a sessão e fê-lo muito bem, preparando folhas customizadas das personagens pré-feitas, miniaturas em papel para todos os PCs/NPCs e hand-outs bastante realistas.

Esta sessão foi para mim a melhor jogatina deste meu fim-de-semana. Não só o mestre-jogo dominava o sistema com grande à vontade, como também o explicou rapidamente a todos os que não conheciam Savage Worlds e usou bem os "bennies" como recompensa para envolver toda a gente no tema Pulp deste jogo. Além disso, todos os seis jogadores apresentaram activamente a personalidade das suas personagens e contribuiram para que toda a gente se divertisse com todo o tipo de piadas in-character. Para mim, Savage Worlds é o tipo de RPG que quando lido dá-me a impressão "ok, é fixe, nada de especial" mas, quando jogado, ultrapassa positivamente as minhas expectativas.

Entretanto, fiz a minha primeira ronda de compras entre a grande banca de dados da DiceShop (por ter mais variedade que a Chessex) e a Leisure Games onde me decidi enfim por comprar o livro de Dread já que ainda não está disponível o .pdf (nem me parece que alguma vez vá estar). Passei também pela Collective Endeavour onde vi já à venda o Remember Tomorrow do Gregor Hutton (que a Ana acabou por comprar) e pela Pelgrane Press onde fiquei convencido a eventualmente comprar o .pdf de Esoterrorists e fiquei interessado no Mutant City Blues. Encontrei vários exemplares do Warhammer Fantasy Roleplay em vários expositores, mas o preço era pouco atraente - uma constante que se manteve em relação a tudo o que estava à venda na UKGE que não fosse antigo ou em segunda mão. Reparei que Dungeons & Dragons não estava com grande destaque nas bancas, mas tinha uma presença muito forte através de demonstrações que se faziam no pátio interior com encontros a serem corridos sempre de hora em hora e uma grande sessão que se desenrolava numa masmorra montada a três dimensões com belas miniaturas (isto para além das sessões que se passavam nas salas mais privadas em conjunto com outros RPGs).

Em relação aos boardgames, estavam lá todos os títulos novos, famosos e mais obscuros, mas é pelas novidades que eventualmente o UKGE pode valer a pena, não pelo preço. Aí tinham, como seria de esperar, dois jogos novos sobre futebol em grande destaque ao lado do World Cup: o Tactico (não tem página no BGG??) e outro que já não me lembro do nome. O género que ocupava quase uma sala inteira em demonstrações eram os jogos abstractos como o Retsami e outros tipo damas em três andares ou um que era uma variação do xadrez chamada Shuuro. Também gostei de ver uma outra sala inteira só com jogos grandes para crianças onde a ganapada sozinha ou com os pais andava entretida. Curiosamente, do outro lado dessa sala tinham um espaço para jogos de computador e consola, mas esses juntavam pouca gente.

Naturalmente que os wargames ganham o prémio das mesas mais impressionantes de toda a exposição, com todo o tipo de cenários clássicos, futuristas, urbanos, com miniaturas ou edifícios gigantes, dentro de portas ou fora de portas, na terra ou no espaço, de papel ou de plástico, com soldados, tanques, mechs, monstros, arqueiros, cavalos, naves espaciais, carros, zombies e ainda mais zombies. O único jogo que reconheci foi o Warmachine, sendo que tudo o resto parecia ser produção nacional. Foi, de facto, nos wargames e nos RPGs que notei uma diferença ainda abismal entre o que podemos encontrar aqui em Portugal e o que se passa lá fora - enquanto, nos boardgames, não estaremos assim tão atrás.

Fui jantar com a Ana e o tal casal amigo e, para a noite, já tinha marcado então uma sessão de Feng Shui, esta já no hotel Stratalhan. Nesta noite de Sábado, os gamers vindos do Clarendon ocuparam todos os recantos deste hotel vizinho, transbordando para lá das salas reservadas e ocupando o bar, sala de jantar, hall de entrada, etc. Tinha escolhido jogar Feng Shui para relaxar um bocado ao fim do dia com umas cenas loucas de porrada cinematográfica, mas tal não aconteceu. Infelizmente, o mestre-jogo não conhecia nem queria conhecer as regras do jogo e também não estava muito interessado no ambiente original, a não ser pela parte de ser possível viajar no tempo. Assim, acabei por jogar uma espécie de RPG de investigação em que as nossas personagens ganhavam quase automaticamente todos os eventuais combates. Em certas partes, foi estranhamente fascinante mas, em geral, foi uma seca. Tarde fui-me deitar, pois tinha uma sessão de Carnage Among the Tribes no dia seguinte de manhã e ainda queria acabar de reler o seu RPG antecessor (Carnage Among the Stars) para melhor entrevistar o seu autor para o Jogador-Sonhador.

No Domingo, esta sessão com o Gregor Hutton foi óptima - foi "Great!", como diria o entusiasmante escocês - com o autor e mestre-jogo a apresentar-nos o ambiente desta nova versão do seu Carnage Among the Stars e a guiar-nos ao longo da criação da nossa tribo e das nossas personagens. As regras foram sendo introduzidas ao longo da sessão dando sempre prioridade à descrição do mundo e das personagens, já que o sistema - apesar de integrar alguma abstracção táctica - é relativamente simples e sempre ligado ao que acontece dentro de personagem. Éramos quatro jogadores e toda a gente parecia ser um roleplayer já experimentado com facilidade tanto em pegar nas regras como em criar flashbacks para a personagem ou em descrever as suas acções. Não só isso como - até mais do que na sessão de Savage Worlds - não houve um único momento de silêncio desconfortável com toda a gente a dar sugestões e ideias uns aos outros. Como mestre-jogo, o Gregor esteve sempre em movimento, quase sempre de pé e a expõr tudo o que se passava com gestos e vivacidade. Naturalmente que tinha também as regras na ponta da língua, bem como a resposta antecipada a quaisquer dúvidas que pudéssemos ter.

Como autor, o Gregor foi também muito receptivo ao meu pedido para uma entrevista, isto já na sequência de o ter contactado inicialmente por e-mail quando soube que ele estaria presente a mestrar esta sessão. Gostaria de ter tido mais tempo com ele para a gravar, mas fomos primeiro comer qualquer coisa e o Gregor tinha estar na banca da Collective Endeavour num espaço de meia-hora, pelo que falamos do essencial e da evolução entre o 3:16 e o AD 316 (outra versão que também estará para sair). Quando me despedi dele na Collective, também aproveitei para comprar um mini-RPG chamado Hell 4 Leather que usa um baralho de Tarot - algo que já me estava a faltar na colecção.

A minha segunda ronda de compras neste dia foi mais comedida, incluindo uma t-shirt da Misktonic University, ainda mais dados e um battlemat da Chessex (daqueles mais baratos por terem defeito). Também dei uma volta à procura de componentes para D&D - nomeadamente meeples, cubos, cilindros, discos e essas coisas - mas a variedade era pouca e demasiado cara. Ainda considerei comprar a caixa do RPG Dr. Who, mas optei por não arriscar apertar demasiado o espaço na mala.

Entretanto, reecontrei-me com a Ana e gravamos as nossas impressões sobre a UKGE para um próximo episódio do Jogador-Sonhador. Conheci também um amigo dela canadiano que também estava de visita à exposição e tinha ganho uma cópia de um Carcassone Hunters & Gatherers num torneio. Como nunca tinha experimentado esta versão, acabamos por fazer algumas partidas, dali fomos jantar e passamos para o habitual hotel Stratalhan onde ainda continuava a haver gente a jogar.

Aí, entre Carcassone e umas partidas de Dominion, ainda conheci por acaso os autores do jogo abstracto Numerix - que têem também um RPG chamado Backswords & Bucklers - bem como o autor do blog jmcl63.blogspot.com, tudo gente muito simpática que tanto é capaz de organizar torneios de Combat Commander como de andar ocupada a adaptar as regras de Hero System para uma campanha baseada em Warhammer 40k. A naturalidade com que conversavam e desconversavam sobre todo o tipo de boardgames, wargames e RPGs - e a casualidade com que partiam do pressuposto que eu também conhecia toda esta multiplicidade de jogos - foi refrescante e surpreendente.

A segunda-feira foi dia de montar cuidadosamente a mala e regressar a Portugal, com pena de este grande fim-de-semana não poder durar mais. Para o ano, se tudo correr bem, lá estarei outra vez.

Melhor ainda do que eu esperava. Espero para o ano poder ir também! :slight_smile:

Ah, e despacha-te com o podcast. :stuck_out_tongue:

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Espectáculo, uma TARDIS em ponto grande! :slight_smile:

E pelo que vejo a Triple Ace Games tratou-vos mesmo bem. :stuck_out_tongue:

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[quote=jrmariano]E pelo que vejo a Triple Ace Games tratou-vos mesmo bem.[/quote]É verdade, foi uma sessão bastante envolvente com "bennies" a rolar a alta velocidade, cientistas a jacto, minotauros mecânicos e camiões usados como arma Laughing

[quote=Rick Danger]É verdade, foi uma sessão bastante envolvente com "bennies" a rolar a alta velocidade, cientistas a jacto, minotauros mecânicos e camiões usados como arma Laughing[/quote]

Portanto, o normal numa sessão de Savage Worlds.

Para ficar o relato completo, também fica aqui o registo áudio do evento.

Para o ano, quem está lá?

…gostava de ir. Se culminar com o feriado outra vez, ainda melhor. :slight_smile:

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