O que é popular pode passar para dentro dos RPGs? Ou dos RPGs para fora?

Talvez este seja um assunto já conhecido por alguns, mas acho que nunca o discutimos por aqui. Já repararam que aquilo que é popular nos media, nos livros, cinema, séries de televisão, etc. não é popular nos RPGs - aliás até chega a ser considerado estranho e alternativo?

Vejam, por exemplo, as comédias românticas que se mantêm em permanente exibição nos cinemas e os livros amorosos que enchem as prateleiras das FNACs. Este é um tema de comprovada populariedade em todos os meios de entretenimento, mas quando o romance passa para dentro dos RPGs, temos coisas como Breaking the Ice ou Kagematsu que ficam desde logo arrumadas no extremo oposto à populariedade, sendo considerados jogos esquisitos com um tema supostamente muito alternativo. Temos também o grande caso de populariedade dos CSI e de outras muitas séries policiais, cujo reflexo nos RPGs sobre a forma de jogos como Serial Homicide Unit são considerados independentes e experimentais.

Por outro lado, aquilo que é obviamente popular nos RPGs - a fantasia medieval - practicamente não passa para fora ou, quando parece que passa, dá mais a ideia que essa fantasia é inspirada na literatura (ex: Lord of the Rings) do que nos nossos jogos.

Esta suposta impermeabilidade dos RPGs aquilo que é popular, nesta época em que todos os conceitos são reaproveitados e refeitos em todos os meios possíveis e imaginários - sendo cada vez mais comum fazer-se o jogo de computador da série, do filme, do livro, da banda desenhada, etc. - é bastate peculiar. Será que é mesmo assim? Será diferente no futuro?

Talvez o apelo seja inversamente proporcional a quanto é disseminado um dado género de história e à maior quantidade de expressões passivas do mesmo. :slight_smile:

sopadorpg.wordpress.com - Um roleplayer entre Setúbal e Almeirim

Só para mencionar as excepções para tirar isso do caminho: - Buffy RPG; - Firefly RPG; - Conan RPG; - Starship Troopers RPG; - etc.

Até existem alguns pontos bastante em comum de filmes ou séries adaptados para RPG. Julgo que os pontos em comum nestes casos é o grande foco na acção e num universo onde facilmente se constroem história de aventura/acção.

De um modo geral o mundo dos RPGs, desde o seu inicio, sempre rodeou muito este tipo de histórias, com personagens heróicos ou no mínimo sobre-normais e universos recheados de material para "fazer aventuras", por isso parece-me natural que outros temas, mais comuns noutros meios, como romances ou comédia, sempre foram mais "uma coisa que podia fazer parte" do que propriamente o foco principal dos jogos.

Já de dentro para fora, relembro também que a maior parte dos temas iniciais dos RPGs eram eles próprios baseados em literatura (LoTR, Ficção Científica, etc.) que também passaram para o cinema, televisão, etc.. Aliás isto até me leva a perguntar se existe algum tema, actualmente, em RPGs que se possa considerar "original", no sentido de já não existir noutros formatos à muito mais tempo.

"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"

Mas repara, o mesmo se passa com os jogos de computador ou com os jogos de tabuleiro.

Parece-me que a dificuldade é em parte de natureza estrutural. As séries têm uma estrutura narrativa ou dramática que é difícil passar para um jogo. Os rpgs constroiem-se com pequenos episódios independentes (o encontro aleatório ou não, a sala do dungeon ou equivalente). Normalmente as componentes dinâmicas de um encontro esgotam-se com esse encontro, não passam para os seguintes (os rpgs comportam-se assim mais como competições do que como narrativas). Já nas narrativas estão presentes ao longo de várias cenas.

Isto é assim porque é muito mais fácil gerir um jogo baseado em episódios autónomos do que gerir um baseado em cenas fortemente interligadas. Não é apenas uma questão logística, é também uma questão conceptual e de capacidade de design: é bem mais difícil conceber um bom enredo do que conceber as componentes que o compõem; e é bem mais difícil trabalhar um enredo «aberto» do que um enredo linear.

Sérgio Mascarenhas

[quote=RedPissLegion]Só para mencionar as excepções para tirar isso do caminho: - Buffy RPG; - Firefly RPG; - Conan RPG; - Starship Troopers RPG; - etc.[/quote]Curiosamente, os RPGs de material licenciado não são propriamente casos de sucesso.A Eden Studios eclipsou-se pouco depois de ter dado tudo por tudo no Angel e na Buffy. A WotC, quando tudo faria pensar que tinha uma galinha de ouro nas mãos, desistiu da licença de Star Wars. A Margaret Weis Productions, com a mania de fazer tudo à base de Cortex System, vai-se agarrando a todas as licenças que pode só para se manter à tona de água.

Claro que tens casos como os de Mouse Guard ou do Dresden Files que está para sair, mas pegar numa licença bem sucedida noutros media não é propriamente uma garantia de popularidade nos RPGs.

Há sempre o exemplo contrário do Call of Cthullu, ou será a excepção à regra?

Pode-se até dizer que os casos de sucesso são os jogos construídos em torno de uma licença sem referência a esta. O D&D tornou-se um sucesso ao tirar partido da popularidade da obra de Tolien, o World of Darkness foi um êxito ao aproveitar a popularidade da revisão do mito vampírico iniciada por Anne Rice, só para mencionar os casos mais flagrantes.

Sérgio Mascarenhas

De acordo, mas eu estou a falar de popularidade ao nível das telenovelas e do futebol, não de replicar nos RPGs os nichos de fãs que existem noutros domínios. Não sei se existe algum RPG sobre futebol - talvez algum hack a partir de Carnage Among the Stars? - mas, se existir, tenho a certeza que é considerado um jogo estranho/alternativo/independente, mesmo quando estamos à beira do Mundial e quando dar pontapés numa bola é uma das coisas mais populares na história da humanidade.

[quote=smascrns]Parece-me que a dificuldade é em parte de natureza estrutural. (...) Não é apenas uma questão logística, é também uma questão conceptual e de capacidade de design: é bem mais difícil conceber um bom enredo do que conceber as componentes que o compõem; e é bem mais difícil trabalhar um enredo «aberto» do que um enredo linear.[/quote]Também acho que isso é um desafio importante, até porque os jogos de computador já estão a tentar ultrapassá-lo com consolas como a Wii, séries como o Guitar Hero ou jogos como o Buzz já disponível em português. Trata-se de conseguir dar a qualquer pessoa as ferramentas para facilmente poder brincar com aquilo que é reconhecido como popular.

Poderá haver "uma Wii" para os RPGs?

Vê o meu antigo blog sobre isto:



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Em breve coisinhas novas!

Líder inconsciente do ultra-secreto grupo anti-D&D (mas só na edição 5.3)

É pá, a memória tem destas coisas, lembrei-me da ideia mas já não sabia onde a tinha visto. Também ainda não consegui jogar Carnage, mas curtia experimentar este hack por ocasião do Mundial.