O que é que queremos de uma Review?

À semelhança do que já fiz no tópico sobre Actual Play, queria agradecer a todos os que vão escrevendo as suas séries de Reviews, pois graças a vós podemos consultar aqui já umas boas dezenas de artigos originais e em português sobre todo o tipo de RPGs.

Este tópico serve então para reunir opiniões sobre o que é que gostamos de ler nestas Reviews e, a partir daí,

  • o que é que gostariamos de ver mais e
  • o que é que poderia suscitar mais comentários.

Talvez assim possamos ficar com algumas sugestões que nos ajudem a escrever uma Review tendo em conta as expectativas de quem as lê.

Entretanto, uma questão que costuma ser sempre levantada em relação a este tipo de artigos é: a Review deverá ser mais descritiva de como o jogo funciona a partir do que vem nele escrito ou deverá ser mais opinativa a partir da experiência pessoal do autor? Já agora, uma Review é válida mesmo se o seu autor apenas tiver lido o livro e ainda não o tiver jogado?

Pessoalmente eu prefiro que uma review seja maioritariamente descritiva com uma nota pessoal no fim.

Com nota não me estou a referir a estrelinhas ou escala de números ou o que for, nunca ligo a essas pontuações. Estou sim a falar da opinião pessoal do reviewer em relação ao jogo, ao que sentiu quando o jogou, se achou que as mecânicas funcionavam bem ou mal, qual o foi o sentimento que as pessoas com quem o jogou ficaram, etc.

Considero válida uma review que se baseie apenas na leitura do jogo, mas eu prefiro joga-lo antes, sendo ainda mais geek, gosto de joga-lo como player e como GM, para ver os dois lados da coisa. Se calhar é por isso que tenho tão poucas reviews hehe.

"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"

Este assunto foi discutido em 2008, mas é sempre bom voltar à carga, dando assim oportunidade àqueles que ainda não conheciam o AoJ de se manifestarem.

https://www.abreojogo.com/blog/johnnybegood/2008/05/o_que_se_espera_de_uma_review

«Mais vale estar calado e julgarem-te um idiota, do que abrir a boca e dissipar todas as dúvidas.»

Assumi é que aqui estão a falar de RPGs.

Uma review é uma review. Podiamos estar a falar de Cinema, Teatro, Frigoríficos ou outra coisa qualquer.

«Mais vale estar calado e julgarem-te um idiota, do que abrir a boca e dissipar todas as dúvidas.»

Estás a dizer que uma review de um frigorífico segue a mesma estrutura, linguagem, tamanho, detalhe, etc que uma de um jogo?

Ceeerto... vou trabalhar.

Julgava que para bom entendedor... meia palavra chegava!

Estava mesmo a ser irónico, mas devias ver a revista da Deco onde fazem artigos sobre electrodomésticos, alguns batem aos pontos algumas reviews de jogos, na estrutura, tamanho e detalhe e também no etc (vá-se lá a imaginar!).

Vai trabalhar!

«Mais vale estar calado e julgarem-te um idiota, do que abrir a boca e dissipar todas as dúvidas.»

[quote=JohnnyBeGood]

Julgava que para bom entendedor... meia palavra chegava!

[/quote]

Exacto. Onde é que eu disse que as reviews de frigoríficos são más? Smile Não percebi onde querias chegar, devo ser impermeável a tantas "meias palavras" e "ironias", mas ok.

Mais uns posts e posto um chimpanzé para oficializar o de-railing.

(trabalhar? tá quieto, isso era só para impressionar.)

Pelo que me toca, nas críticas que escrevi para a RPGnet tive sempre em mente as análises de equipamentos (vá lá, não foi de electrodomésticos, foi mais de carros ou computadores) num aspecto particularmente importante e que faz correr rios de tinta quando se fazem críticas de rpgs: com teste de jogo ou sem teste de jogo.

Nas minhas críticas não há teste de jogo, mas há benchtesting, tal como nas críticas de equipamentos em meios de comunicação especializados. As revistas de carros e de computadores têm (ou tinham, as coisas mudam) três tipos de abordagens:

Informação de divulgação quando um carro sai, basicamente baseada na informação de fábrica e umas impressões iniciais «a olho».

Análises baseadas em benchtesting, onde as revistas submetem os equipamentos a um conjunto de testes padronizados que simulam o comportamento do equipamento em condições reais, mas que não correspondem a uma efectiva utilização.

As impressões de utilizador, normalmente alguns tempos depois de o equipamento ter sido posto no mercado, o que dá para um especialista ter uns meses (ou mesmo anos) para poder formular uma opinião a partir da utilização no dia-a-dia.

Como é evidente, e tomando a RPGnet como referência, o primeiro tipo corresponde ao entendimento da capsule review, sem teste de jogo; o terceiro tipo corresponde ao que deve ser uma playtested review. A RPGnet não tem qualquer previsão para o segundo tipo.

Ora se olharmos para as críticas de equipamentos, as mais detalhadas e as mais bem fundamentadas correspondem ao que eu chamei benchtesting.

É por isso que eu quando critico um jogo opero com uma metodologia inspirada nesse tipo de análises: crio algumas personagens e ponho-as em acção em algumas situações de jogo padronizadas. Como sou um amador, faço-o sosinho e de forma muito limitada. Mesmo assim, isto parece-me mais correcto e informativo do que a capsule review sem teste de bancada; ou do que a playtest review onde o teste de jogo se fica por um par de sessões que pouco dizem, na verdade, do jogo.

Sérgio Mascarenhas

Dass tu e a Abelha tão sempre pegados, mais parece amor! Um diz uma coisa o outro não espera 2 minutos para vir mandar postas de pescada!

E tu ou tens ciúmes ou gostas de fazer de velinha. E eu sei qual delas é. Kiss

Já que perguntas, a diferença em relação aos jogos de tabuleiro é que a grande parte dos RPGs têem todos a mesma estrutura de jogo - à parte casos como My Life With Master ou In a Wicked Age, RPGs que o Red recentemente apresentou. Isto significa que a Review pode não ter de gastar tanto texto a explicar como é que o jogo funciona, podendo ir directamente aos pontos em que o RPG em causa se destaca dos outros.

[quote=smascrns]É por isso que eu quando critico um jogo opero com uma metodologia inspirada nesse tipo de análises: crio algumas personagens e ponho-as em acção em algumas situações de jogo padronizadas. Como sou um amador, faço-o sosinho e de forma muito limitada. Mesmo assim, isto parece-me mais correcto e informativo do que a capsule review sem teste de bancada; ou do que a playtest review onde o teste de jogo se fica por um par de sessões que pouco dizem, na verdade, do jogo.[/quote]É um método interessante, mas será que se pode aplicar benchtesting a conceitos abstractos? O exercício intelectual de construir o teste até inconscientemente já está a prever os resultados que vai obter nele, não é? Estes preconceitos inconscientes não afectam logo à partida a forma como os testes são construídos? Suponho que não é possível ter um conjunto de testes cujos procedimentos possam encaixar em todos os RPGs e, assim, não requerendo adaptação caso-a-caso onde a objectividade se perde.

[quote=Rick Danger]

É um método interessante, mas será que se pode aplicar benchtesting a conceitos abstractos?[/quote]

Quanto a poder-se aplicar benchtesting a conceitos abstractos, claro que pode. É o que fazem os designers de todo o tipo, os informáticos, quem trabalha com sistemas.

[quote]O exercício intelectual de construir o teste até inconscientemente já está a prever os resultados que vai obter nele, não é? Estes preconceitos inconscientes não afectam logo à partida a forma como os testes são construídos? [/quote]

Isso acontece em qualquer domínio. Nós trabalhamos sempre a partir de pré-conceitos (há uma infindável bibliografia sobre isto nos campos filosófico, psicológio, etc.). Sendo um processo inevitável, é possível lidar com ele de duas formas:

Assumindo os preconceitos, logo assumindo que a crítica é limitada pelas suas premissas de partida e não dá resposta a tudo;

Aplicar a metodologia crítica e, depois, exercer a crítica da metodologia para procurar ultrapassar as suas limitações.

Uma crítica de rpg não difere de uma crítica seja do que for de um ponto de vista conceptual e metodológico.

[quote]Suponho que não é possível ter um conjunto de testes cujos procedimentos possam encaixar em todos os RPGs e, assim, não requerendo adaptação caso-a-caso onde a objectividade se perde.[/quote]

Claro que não há testes universais, no entanto é preferível conseguir-se uma objectividade limitada do que objectividade nenhuma. Além de que uma abordagem metódica, ao revelar o que há de comum e comparável entre os vários jogos, facilita também a determinação do que têm de diferente e não se encaixa no modelo, logo permite precisar melhor o que cada jogo traz de novo e potencialmente inovador, criativo, etc., ao hóbi.

Sérgio Mascarenhas