O Rei da Montanha de Prata - Ano do Nosso Senhor de 1518

Portugal é senhor absoluto dos mares orientais. Naus e Caravelas partem todos os dias de Lisboa, rumo a uma longa viagem em busca de especiarias levando marinheiros cujo fim quase certo é a morte, seja por naufrágios, seja por doença ou mesmo pelos inúmeros inimigos que abundam a região. Apesar das dificuldades estes homens estão mais do que dispostos a correr os riscos por causa dos enormes lucros conseguidos. Os cofres do estado fervilham com as moedas oriundas da pimenta e do cravo.

Em meio a tanta euforia e tanta abundância, muitas e muitas léguas a oeste, jaz esquecido o paraíso terreno, a terra sem mal conhecida como Terra de Santa Cruz, cujos habitantes andam com suas vergonhas à mostras e devoram seus inimigos moqueados no fogo. Sua única riqueza, além da beleza estonteante, é o pau que anos mais tarde cederia seu nome à terra: Brasil.

Algumas poucas expedições oficiais se dignavam a tocar o sul da América. Entre cada aportagem passavam-se anos. Os únicos outros visitantes eram uns poucos comerciantes atraídos pela madeira vermelha e piratas franceses, revoltados por não poderem eles próprios comercializarem com os orientais.

Em terra, os únicos europeus eram aqueles que foram degradados ou que se quiseram degradar, e se viram obrigados simplesmente a sobreviver.

O Rei da Montanha de Prata fala sobre os primeiros anos da descoberta do Brasil. Fala sobre o dilema de não ter perspectivas já que tudo aquilo que a personagem considera importante, como o dinheiro e o sucesso, simplesmente não têm mais valor.

Fala sobre mudança, deixar de ser europeu e ser obrigado a tornar-se índio. Fala sobre a revolta de ter sido despojado de tudo e fala sobre conquista.

Fala sobre magia, os grandes sacerdotes indígenas, feiticeiros negros, ngangas africanos. Fala sobre os grandes maíres, seres imortais que vêem seu domínio invadido pelos perós.

Fala sobre O Rei da Montanha de Prata e a lenda que acalentou os corações de portugueses e espanhois durante vários anos. E mais do que tudo fala sobre RPG.

Coloquei mais uma actualização do PDF…

https://www.eduardofernandes.com/ordmdp/files/ordmdp_20060508.pdf

Coloquei também uma primeira versão da ficha de personagem

https://www.eduardofernandes.com/ordmdp/files/ficha.pdf

[quote=efernandes]O Rei da Montanha de Prata fala sobre os primeiros anos da descoberta do Brasil. Fala sobre o dilema de não ter perspectivas já que tudo aquilo que a personagem considera importante, como o dinheiro e o sucesso, simplesmente não têm mais valor.

Fala sobre mudança, deixar de ser europeu e ser obrigado a tornar-se índio. Fala sobre a revolta de ter sido despojado de tudo e fala sobre conquista.

Fala sobre magia, os grandes sacerdotes indígenas, feiticeiros negros, ngangas africanos. Fala sobre os grandes maíres, seres imortais que vêem seu domínio invadido pelos perós.

Fala sobre O Rei da Montanha de Prata e a lenda que acalentou os corações de portugueses e espanhois durante vários anos.[/quote]Ok, era exactamente isto que eu te estava a perguntar no outro post sobre o "sumo" do jogo. Agora sim começo a vislumbrar o que pretendes com isto. Embora ainda falte ver como é que pretendes desenvolver este tipo de cenário.

Contudo[quote=efernandes]E mais do que tudo fala sobre RPG.[/quote]esta é que me passou milhas ao lado, podias explicar um bocado melhor o que queres dizer com isto?


"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"

Não é para ser picuinhas, mas tens um til em cima do "N" de nome.

"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"

[quote=RedPissLegion][quote=efernandes]E mais do que tudo fala sobre RPG.[/quote]esta é que me passou milhas ao lado, podias explicar um bocado melhor o que queres dizer com isto?[/quote]

Não tens imaginação nenhuma, Red! :) Quase de certeza que tem algo a ver com ensinar/promover o "bom" roleplay.

Tive a ler o manual e o trabalho esta muito giro. Gostei particularmente do exemplo de tarefa complexa de viagem de barco.

Em relação ao sistema, acho devias sugerir o uso de autocolantes nos dados pq até aumentam o flavour. O limiar da fragilidade é engraçado e dá um gosto especial as acções.
O sistema já teve muito playtesting?

Bem… eu fiz uma pesquisa histórica razoável sobre o período e confesso que me apaixonei tanto pela cultura tupinambá, que os menos informados chamarão simplesmente indígena, de 1500. Além disso acho muito interessante as histórias dos primeiros portugueses e seus feitos inacreditáveis, tanto pela estupidez inacreditável de alguns quanto pela grandiosidade de outros, e das lutas intensas contra os franceses.

Há histórias belíssimas como por exemplo a de um naufrago portugues que, pelos idos de 1518, atravessou toda a américa a pé… ele conseguiu vir desde o Canadá até chegar a região onde hoje é São Paulo e encontrar outros portugueses já meio louco. Nem mesmo em uma história de ficção eu poderia imaginar um homem a realizar tal feito mas houve um português que o fez, em pleno século XVI.

Há também a questão do Rei da Montanha de Prata, uma espécie de El Dorado português. Havia na época antiga uma coisa chamada Peabiru, que era uma estrada que ligava o impérico Inca até o sul do Brasil, ramificando-se até o estado de São Paulo e ainda mais ao sul, em território dominado pelos índios charruas, bem diferentes dos índios que temos o costume de ouvir falar.

Houve um português, cujo nome agora não me recordo, que descobriu junto a estes índios um bastão feito de pura prata e ouro. Em conversas ele descobriu que os Charruas conheciam um rei em uma terra distante que se assentava em uma montanha feita de prata. Esta notícia vazou para a Espanha.

A costa do sul do Brasil é a maior costa do mundo sem locais seguros de aportagem, mais de 600km sem portos naturais, o que a tornava muito difícil de percorrer. No final desta imensa costa estava o estuário do rio prata que sobe até o Peru.

Durante os primeiros anos do Brasil não havia nenhum interesse português na região (não… o pau brasil não era assim tão importante para Portugal) e os poucos que se aventuravam ali o faziam em busca desta lenda, deste rei de prata.

Houve alguma disputa para ver que conseguia alcançar este El Dorado primeiro e os portugueses quase o fizeram, não fosse por um naufrágio, mas quem saiu vencedor foi mesmo o espanhol Pizzarro que chegou ao Peru dominanto o rico imperador Atahualpa.

Fora isso eu busco inspiração nas divindades tupinambás: Mére-Mair, Sumé, Tupã, Yara, Anhanga, Boitata, e transformei-os em uma raça mística, a semelhança dos shides e dos leprechaus celtas, os Maíres.

Usei os grandes e poderosos caraíbas, homens que podiam transforma-se em animais, matar com simples palavras e comandas os espíritos e estou a transpô-los para o RPG.

Estou a usar o mito da terra sem mal, que foi um dos principais mitos tupinambás do século XVI.

Envolvi também santos, com seus milagres. Os santos são os personagens mais poderosos do jogo embora creia que a grande dificuldade em interpretá-los garantirá que poucos jogadores os queiram usar.

Feiticeiros fugitivos também serão encontrados, assim como ngangas, que são sacerdotes africanos…

Mas o fio narrativo que unirá estas linhas já está mais ou menos criado e é por isso que o tenho passado para livro. Neste momento entretanto estou mais interessado nas regras em si pois acertar com elas é muito complexo…

[quote=efernandes]Mas o fio narrativo que unirá estas linhas já está mais ou menos criado e é por isso que o tenho passado para livro. Neste momento entretanto estou mais interessado nas regras em si pois acertar com elas é muito complexo...[/quote]

Quanto à parte das regras não te posso ajudar muito, como disse não tenho tempo para ler aquele pdf todo, para além disso este tipo de regras muito específicas não é algo que me interesse muito, ou são funcionais e não intreferem com o correr do jogo ou não, e este tipo de análise acho que só pode ser feito em testes de jogo.

Estou mais interessado nas regras de construção de histórias, como vais transpor para tema de jogo todas aquelas inspirações que falaste, como é que se relacionam jogador e GM, como é que os personagens interagem com o mundo, como é que os jogadores interagem com os personagens, e pronto este tipo de coisas menos "mecânicas", julgo eu. E já agora o que é que querias dizer com aquela última frase do post.


"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"

Junto fotos de algumas das raças existentes no livro

Franceses

Portugueses

Tapuias

Tupinambás

Nortenhos

Judeus

Italianos