Saudações!
Começo por dar os parabéns a todos pela estimulante conversa.
Já estou registado no Abre o Jogo há uns meses mas é a primeira vez que abro a boca, isto porque nunca consegui acompanhar muito o site. É um overload colossal de informação... Tem demasiadas cores e demasiadas colunas e demasiados textos para um info-excluído / tecnofóbico como eu! :)
Vou tentar dar um pequeno contributo para o tópico (ou tópicos...) em discussão. Não que tenha muito a acrescentar, mas tentarei ver se sai alguma coisa decente.
Ainda neste fds estive à conversa com o Philip (da Runadrake, e que faz parte do meu grupo de D&D) sobre um tema semelhante a este: o facto de as comunidades de jogos em Portugal serem tão insípidas.
Somente há coisa de 5 meses é que consegui começar a jogar D&D mais a sério, isto apesar de já ter contacto com o jogo desde 1997. Simplesmente, durante todo o tempo de faculdade passei por sucessivas desilusões como já alguns aqui enunciaram: ao fim de três ou quatro sessões os grupos dispersavam e as campanhas nunca continuavam... Tentei jogar em 2ª edição, e quando saiu 3ª, e o resultado foi sempre o mesmo. Desde a saída de 3.5 que não pegava em D&D (aliás, nem cheguei a experimentar 3.5). Felizmente, há alguns meses, um amigo meu lançou-se o desafio de reunir um grupo para jogar D&D. Fiquei entusiasmado com a perspectiva e... “alea jacta est”. Até à data tem corrido tudo bem, já vamos a caminho da 10ª sessão e parecemos estar de vento em popa, com um grupo bastante motivado, sempre a pedir mais sessões e a dar mil e uma ideias (isto apesar de eu – o DM – ser o único que percebe zero das regras!).
Mas voltando ao assunto: comentei com o Philip que no Brasil existem dezenas de fãzines digitais. Publicações – algumas com bastante qualidade – feitas pelos próprios jogadores. Isto para além da aposta de várias editoras em revistas oficiais e produtos de BD, entre outros. Ora, nós por cá... nem uma única revista oficial temos, quanto mais fã/magazines de jogos... Quando a Runadrake abriu as portas em Setembro passado eu sugeri ao Philip que a loja avançasse com um projecto de uma newsletter que tivesse alguns artigos diversificados e participados pelos próprios jogadores. Voluntariei-me para dar apoio para Legend of the Five Rings (um CCG), visto ser aquilo em que estou mais imerso, mas de bom grado escrevia algumas histórias e/ou textos de fantasia e D&D. Infelizmente a ideia não singrou por falta de tempo e recursos.
Por isso, acho que este seria a primeira “root of all evil”: o facto de não haver uma publicação dedicada a jogos. Bem sei que já houve várias tentativas (Oráculo, Portal, etc...) infelizmente... todas morreram na praia. :( Nem mesmo com a forte aposta em Magic The Gathering conseguiram ganhar terreno.
Existe outro elemento muito “inibidor” que é o facto de: para se jogar RPG ser preciso LER, algo que as pessoas hoje em dia cada vez mais parecem ser ineptas para fazer. Para “bater ainda mais no ceguinho”, o material disponível é caro e está... em Inglês.
Houve recentemente um “Kotei” de L5R em Portugal (Kotei = Mega torneio integrado num lote de 50+ torneios a nível mundial. Uma espécie de championship anual), na sequência do qual troquei algumas ideias com jogadores de Espanha. Existem neste momento em Portugal menos de 35 jogadores de L5R (todos espalhados pelo país, o que ainda mais complica), enquanto que em Espanha... estimam para cima de 1200... Sim, não coloquei nenhum número a mais. Quando lhes perguntei a razão para tal “boom”, a resposta foi peremptória: “O jogo existe em Expanhol...”
Para enterrar ainda mais o ceguinho... espaços de jogo. Em Portugal existem poucos, são pouco divulgados e “parece que estão escondidos no fim do mundo”.
E por fim aquela que para mim talvez seja a “main root of all evil”... o tabu! Quer queiramos, quer não, este tipo de jogos (RPG, CCG) são tabu.
“Cartas? Isso é para putos! – Dragões? Dados? Miniaturas? Que palhaçada é essa!!”
É uma triste realidade, estes jogos são muito marginalizados, a maioria das pessoas ainda olha para eles de lado pensando que só os putos idiotas e meio geeks é que os jogam.
Em suma (e lamentem este post gigante...):
- Pouca gente, poucos espaços, nenhuma divulgação, preguiça, língua, tabu e “o facto de as pessoas estarem cada vez menos aptas para comunicar sem estarem à frente de um ecrã de computador”.
Eu diria que estes são os “sete pecados mortais” que sufocam o cenário – não só de RPG – mas de tudo o que possam ser comunidades de jogos de estratégia.