Onde anda o Roleplay em Portugal?

No seguimento de um texto que publiquei tendo como base o D&D, e por sugestão do Ricardo Madeira, republico um excerto do mesmo aqui para abrir a discussão e ouvir opiniões. A questão é simples: Onde anda o roleplay em Portugal? Porque é que a comunidade de roleplayers Portugueses aparenta manifestar-se tão pouco?

Gostava de saber a vossa opinião geral relativamente a este assunto.


Sérgio
Draconus Dictum - Roleplay, diários de campanha, comentários e não só.

Sim, porque é que mesmo naquele que parece ser o maior e melhor portal para RPGs em Portugal existe pouca expressão dos roleplayers?

Julgo que, em primeiro lugar, somos poucos, mesmo poucos.

Em segundo lugar, muitos daqueles que jogam constituem uma ausência estatística, da qual já falei no meu blogue.

Em terceiro lugar, o tema do RPG reúne menos conteúdo acessível a discussão do que qualquer outro hobbie. São muito mais as diferenças e os pontos de discórida do que os consensos e os pontos em comum. Fazer parte de uma comunidade de roleplay requer tolerãncia e capacidade de adoptar vários pontos de vista diferentes. Se já escrever num forum não é para toda a gente, ainda menos é neste caso.

  • Ar dos tempos; mesmo lá fora os RPGs estão a perder terreno para os boardgames. Porquê? Talvez o efeito novidade dos boardgames alemães, talvez os RPGs tenham estagnado, talvez os hobbies sejam um bocadinho cíclicos. Afinal, os RPGs também “secaram” os Wargames e depois levaram um rombo enorme dos CCGs.

  • Familiaridade; quase todas as pessoas sabem os princípios dos jogos de tabuleiro, que são tão velhos como a civilização. Quase ninguém percebe o princípio dos RPGs. Isso é uma enorme desvantagem à partida.

  • Acessibilidade e flexibilidade; os RPGs assentam, normalmente, no conhecimento profundo de um determinado setting, na preparação prévia das aventuras e são jogados durante meses com o mesmo grupo de pessoas. Isso exige preparação, esforço, empenho e regularidade. A maioria dos boardgames pode aprender-se em 5-30 minutos e joga-se entre 20 minutos e 3 horas, com o mesmo grupo ou grupos diferentes, sem necessitar de muita preparação.

  • Má aposta comercial; um RPG pode jogar-se com um livro, ou mesmo nenhum. O boardgame exige componentes, tabuleiros, regras, etc. Ou seja, os boardgames acabam por ser mais rentáveis do ponto de vista comercial e as empresas têm mais interesse na sua produção e divulgação. O próprio facto de serem mais imediatos permite que as pessoas possam comprar boardgames diversificados, enquanto que os roleplayers acabam muitas vezes por comprar só os suplementos de um único RPG.

  • Auto-suficiência; um RPG é um mundo com o qual se estabelece uma ligação e investimento emocional. Esse mundo não precisa de ser jogado: para muitos basta comprar e ler os suplementos e inventar aventuras.

  • Dispersão; o facto de haver tantos RPGs e tantos settings causa uma enorme dispersão, com cada jogador a ter o seu RPG favorito e, muitas vezes, ser a única pessoa do grupo a apreciá-lo. Isso gera também uma certa fragmentação da comunidade roleplayer. Porque, enquanto um boardgamer pode ter um jogo favorito e isso não inviabiliza que jogue e se interesse por outros boardgames, já um roleplayer, devido ao esforço que o seu hobby implica, ou se dedica ao seu setting ou tem de o pôr de lado, e, deste modo, acaba por ter mais dificuldade em estabelecer ligações e discussões com outros roleplayers que prefiram outros settings.

O Ricardo levantou também a questão, pertinente, de RPGs tradicionais versus RPGs Online. Começo a aperceber-me que o que o Rick Danger diz é verdade. Somos mesmo muito poucos. Não há sangue novo a entrar no hobbie e aqueles que têm o minimo interesse preferem a comodidade dos jogos online. São mais bonitos, mais atraentes, e dão menos ‘trabalho’. Tudo isso explica, de certa forma, porque é que não há um renovado interesse no género.

De qualquer forma, mesmo sendo poucos, estamos activos, certo? Isto é, há ainda quem jogue, quem tenha campanhas regulares seja de que sistema for. Compreendo a questão das ausências estatísticas, mas isso não faz 100% dos jogadores. Não faz sentido que assim seja. Porque é que não vemos mais dessas pessoas a mobilizarem-se neste tipo de ambiente? Ou será que o pouco que vemos acontecer aqui o Abre o Jogo é, de facto, o total do expectável da comunidade global de roleplayers activos Portugueses?

Curiosamente, tenho levantado uma questão parecida, que é a de que ultimamente o portal mais parece a versão tuga do BoardGameGeek, o que não é necessariamente mau, antes indicador da dura verdade que os camaradas de forum já apontaram.

O camarada Mariano teve um esforço, que infelizmente se revelou inglório, que foi o de espicaçar a rapaziada para a construção de um rpg para possível publicação. A minha ideia para isso foi uma aproximação aos card games, por ser um formato que é facilmente reconhecível por todos, pode vender-se em todo o lado, e bom, iria ao encontro do que já foi aqui apontado por vós. Infelizmente também o deixei para trás, por preguiça, crónica.

Que é se calhar o mal que temos todos; a malta dos boardgames facilmente vem para cá mandar o seu bitaite, reunem-se para jogar semanalmente, vão a Espanha dar porrada nos gajos, e são muito mais activos. Nós, remetemo-nos ao nosso cantinho, auto-ostracizamo-nos (isto existe?) e pensamos que temos um hobby que ninguém percebe, que é uma chatisse ensinar, que somos geeks e nerds e uma carrada de outros termos giros...

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To crush your enemies, to see them driven before you, and to hear the lamentations of their women.
-Noddy, Lord of Darkness

Uma coisa é verdade, como já disse o Rick Danger, os Roleplayers do norte são na sua maioria alérgicos a forums. Consigo contar 6 que mais ou menos regularmente postam aqui: eu, Rick Danger, kabukiman, Aramoro. Warman e um que agora faz parte do grupo do Rick e do Palinhos, mas cujo nome me escapa.

Quantos RPers conheço no norte? Bom, para os muito activos conheço no minimo dez. Se puxar muito pela cabeça, e incluir gajos que jogaram comigo e gajos que gostavam de jogar e não têm tempo, consigo subir o numero para 30. Pessoas de quem ouvi falar e “iniciados” ausentes, erguem o numero para perto de 50.

Nada mau, hã? Então porque é que só cerca de uma décima parte posta? Porque como já disse, postar em forums é uma arte – e um risco. A minha melhor amiga, e jogadora activa tem fobia a forums. A unica razão pela qual o Rick a consegue convencer a postar aqui é no forum privado do jogo de Requiem deles e só porque ela sabe que mais ninguém lê os posts dela tirando o GM e o outro jogador (acho mesmo que ela deixava de postar se soubesse que os Admnins conseguem ler os posts dela, mas adiante). Em forums expões as tuas ideias e opiniões, e expões uma parte talvez vulnerável, abres-te a criticas. Para bicharocos de casca grossa como eu, com muitos anos de forumisses, não faz diferença nenhuma e dou tanto como recebo, mas há gente que não se quer sujeitar a isso.

Depois, há aqueles que jogam para se divertir, escolhendo settings que preferem ou usando RP como forma de estar com os amigos (custa menos dinheiro que ir ás discotecas e chateias-te menos), mas que não estão para perder tempo a debater argumentos sobre teorias de jogo. Preocupam-se com as suas personagens, e o resto são cantigas.

Por fim, não existe quase divulgação nenhuma. Não existem revistas da especialidade onde possamos publicitar “Rpers unite”. A informação passa-se por informação de boca. Durante muito tempo, eu andava caida nos forums oficiais dos meus jogos favoritos (white wolf, witchcraft, etc) e nem sabia da existência de forums nacionais. Por acaso descobri o forum portugues de Vampire… sem o qual, eu nunca teria descoberto o Abre o jogo (anteriormente O turno da Noite) porque o menino ricmadeira foi para lá publicitar-se.

Por isso, recapitulando:

Falta de Informação + Falta de Vontade de Escrever + Timidez para Escrever Em Publico = Nº reduzido de pessoas a postar.

É preciso coragem e conhecimento para escrever reviews - é sempre um risco que alguém aparece para me dizer “Mas que &%%/ estás prai a dizer? N sabes do que falas”. Eu poucas escrevo porque quero conhecer o sistema por dentro e por fora para fazer as minhas GBUs. Preciso de saber os pontos fortes e os pontos fracos. Dissertar sobre teoria de jogo ainda é pior (por isso é que o evito como a praga). Fora isso, que há para falar? Discussão da mentalidade/personalidade de uma personagem? Isso só interessa aos jogadores ligados ao jogo aonde a personagem se insere e na maior parte das vezes, ninguem reaje\lê posts que estejam ligados a uma campanha específica a n ser os próprios participants.

Acaba por ser mais fácil falar de jogos de tabuleiro: joga-se uma vez, aprende-se o sistema, está-se à vontade para falar e discutir e fazer perguntas. Com muitos jogadores a jogar para estar com amigos ou para disfrutar de um setting, debates mais “teoricos” acabam por ser indiferentes ou pouco interessantes.

Para ir à raiz do problema penso que somos poucos, dispersados, nada regulares nas nossas sessoes e muito fechados nos nossos grupos pessoais.
Muitas campanhas morrem prematuramente e não se fala das mesmas, joga-se pouco seja porque a malta está a ficar mais velha e a vida real lá fora entranha-se no que adoramos fazer.
Depois se não se espalha o que gostamos é normal que o mesmo não seja conhecido, de cada vez que falo que jogo Dungeons & Dragons, a maioria das respostas de quem conhece (minimamente) o nome é logo que é de um jogo de computador (BaldursGate, Neverwinter) ou pasme-se um TCG (“Não é aquilo com cartas que se vê os putos a jogar”).
Online conheço um forum dito de D&D em Portugal, mas que por ser tão pouco frequentado me fez ir procurar outros ares, aqui por exemplo encontro um nicho para ir pondo resumos da campanha (mesmo que estes nao sejam comentados… HINT! HINT!)
Para dar um exemplo do quão desligados e afastados estamos, foi preciso eu sair dos Olivais e ir morar para a Amadora, para num site descobrir que mesmo ao pé da zona onde eu morava (na Portela) há um DM novato em D&D que faz sessões e até gostava de falar mais do jogo e afins…

União precisa-se, eu falo da parte de D&D, mas claro que muita coisa aplica-se ao RPG em geral.

Ou seja, resumindo e concluíndo, NMSO, é uma questão de mentalidade consubstanciada pela própria natureza do hobby.

Todos somos exemplos disso. O ricmadeira, no post original do spmb, no blog dele, falou do caso da demo de Vampire: The Requiem que corri, dia 31 de Março, onde apareceram apenas duas pessoas que queriam experimentar o jogo e uma delas foi arrastada para jogar pelo simples facto de que se encontrava na loja. A falta de adesão entusiasta não foi para mim o facto evidente pois a pouca publicidade que se fez (no site e na loja) e os ânimos contidos que o Vampire provoca depois do seu "remake" é que levaram a isso. O problema é que depois de jogarmos e não conseguirmos acabar a história existem poucas probabilidades de mantermos este grupo de jogo ou de espontâneamente se ter adquirido mais 3 jogadores de RPG (ou deste RPG em particular). Eu por exemplo, já tenho um grupo de pessoas com quem jogo (ou porque partilham do meu gosto específico, ou me estão perto e são familiares) e tenho tempo de qualidade limitado. Os outros, sem motivação externa (minha ou de outros entusiastas que conheçam), difícilmente pegarão num livro e recrutam um grupo de jogadores. E isto deve-se somente aos jogadores? Não, é a natureza privada, auto-suficiente e exigente do hobby que o origina.

Existem vários casos como este em que é o próprio hobby que cria e fomenta dificuldades para a sua propagação. E o hobby providencia tantas dificuldades como facilidades, alguma delas já enumeradas aqui.

Existem duas soluções: ou se muda a mentalidade consubstanciada pelo hobby para que este se torne mais divulgado, mais acessível e mais jogado (apesar do que já existe) ou se mudam os veículos do hobby (os jogos) para impulsionarem uma mudança de mentalidade. Como a segunda é extremamente difícil em Portugal pelas dificuldades em se criarem/publicarem jogos de RPG resta-nos a primeira.

A ideia consensual é que só a formação/educação pode mudar mentalidades. Uma mensagem informativa e construtiva diferente daquela que tem sido transmitida até hoje tem que ser passada. De que este é um hobby estimulante, social e criativo cujo custo é barato e as possibilidades de entretenimento são enormes. E temos que mostrar que todas as palavras-chave desta última frase são efectivamente verdade, cada uma delas. Ensinar e formar, incluir e propagar.

Hmmm... E como raio vamos fazer isto? :D

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Isso não passará, talvez, por uma maior exteriorização daquilo que, de facto, consiste o fenómeno de roleplay? Muito foi falado aqui sobre a discussão de elementos de sistemas regras e por ai fora. Tudo isso é relevante, mas algo volátil quando estamos a tratar de sistemas flexíveis e que deixam muito em aberto para o gosto de quem o joga. Já para não dizer que são discussões, à partida, complexas.

Coloquem-se na posição de um indíviduo que não percebe nada do assunto e caí “misticamente” aqui no meio do “Abre o Jogo”. Acham mesmo que discussões de regras e técnicas bastam para o estimular? São úteis, claro, mas à partida estamos a falar de alguém que não conhece nada sobre o hobbie. E começar a construir uma casa pelo telhado não é, obviamente, a melhor solução.

Sou jogador regular de D&D, como sabem, e esse é o meu domínio. Conheço outros sistemas, mas gostava de os experimentar mais a fundo, só não o tenho feito porque há sempre colisões com as minhas sessões habituais. Então como é que eu conheço os sistemas?
Pelas regras, claro. Pelos rulebooks que consulto.
Mas não devia ser assim. Eu devia conhecer os sistemas, o hobbie, pelo real conteúdo. Por aquilo que acontece em cada sessão, pelo resultado final de todas essas regras e sistemas que perdemos o tempo a discutir. E o acesso a esse tipo de conteúdo é rarissimo.

Como é que se divulga o hobbie e se dá a conhecer o que ele tem de bom? Que tal começar por divulgar aquilo que é passível de ser realmente interessante para a pessoa “comum”? Ninguém quer saber de livros enormes de regras que regulam algo que não compreendem à partida. No entanto, as pessoas estão muito mais abertas a ler/ouvir uma boa história.

Não acham?

[quote=smpb]
Como é que se divulga o hobbie e se dá a conhecer o que ele tem de bom? Que tal começar por divulgar aquilo que é passível de ser realmente interessante para a pessoa “comum”? Ninguém quer saber de livros enormes de regras que regulam algo que não compreendem à partida. No entanto, as pessoas estão muito mais abertas a ler/ouvir uma boa história.

Não acham?[/quote]

Acho, acho. A questão é, se o objectivo é só “ler/ouvir uma boa história” é muito mais fácil/cómodo/prático/barato/eficiente comprar um bilhete de cinema ou comprar um livro ou requisitá-lo na biblioteca municipal ou jogar um videojogo ou contar anedotas com os amigos ou ver televisão ou ir ao teatro, etc.

Porque o facto é: se o objectivo é apenas de consumir uma história, então os RPGs têm a pior relação investimento/esforço/tempo/recompensa que se possa imaginar (entre comprar manual, ler manual, escrever aventura, criar personagens, marcar encontros, jogar a história toda, etc.).

Para a maioria das pessoas que só quer “passar o tempo” e “conviver com os amigos” é um investimento inútil.

Só para aqueles que se entusiasmam com determinada história/personagem/setting/ambiente e se põem logo a imaginar diferentes possibilidades narrativas para o mesmo é que os RPGs fazem sentido.

Obviamente, concordo. Mas estava a referir o factor de “consumo” de uma história meramente como elemento introdutório. De divulgação. É algo mais agradável e acessível do que começar logo com regras e restricções. O importante é passar a noção de que há uma história e que essa história não é estática. É de construcção interactiva.
O “como” da questão é que, inicialmente, pode ser deixado para segundo plano.

Mas em geral essas são as pessoas que já conhecem RPGs e, provavelmente, os jogam. O importante aqui é despertar, criar, esse gosto e interesse em pessoas que à partida não sabem que o têm. Dai o facto de eu enfatisar que é importante dar mais relevância aos aspectos de construção de uma história do que de regras.

Pois, mas outra questão é se essas pessoas terão a energia e motivação para continuar a jogar por si, sem serem incentivadas, coisa que eu duvido.
Eu, por exemplo, já joguei com várias pessoas, a maioria gostava de jogar e alguns até se entusiasmavam e falavam em comprar o manual. Mas a partir do momento em que eu não deixava de mestrar, as pessoas simplesmente desligavam-se dos RPGs. Porque embora gostassem, não tinham a energia de continuar por si ou não tinham um grupo de amigos que também jogasse.

Isso não acontece só nos RPGs, a maioria das pessoas vai ao cinema com os amigos ou joga videojogos que os amigos arranjam ou lê livros “que toda a gente já leu”, mas boa parte não vê um filme porque “gosta do realizador”, porque seja fanático dos videojogos ou porque “adore ler”.

Ou seja, a maioria das pessoas precisa de um impulso social para fazer estas coisas. E precisa também que essa coisa sejam compensadora e exija um esforço mínimo de aprendizagem (para canseiras entediantes já basta estudar, trabalhar e criar filhos). Ora, os RPGs é só barreiras: os livros são enormes, caros, em inglês, exigem trabalho activo da parte de quem os lê e não se sabe se a aventura vai correr bem ou não.

No dia em que haja um RPG à “boardgame alemão” (cujas regras e setting sejam simples e acessíveis e caibam numa página A4 - incluindo ilustrações -, que possa ser explicado em dois minutos, se possa começar a jogar em cinco e o jogo acabe em menos de uma hora e meia com 60% de hipóteses de toda a gente se ter divertido) então vais ver que se torna muito mais fácil divulgar o hobby.

Li o resto do post que meteste no teu blogue e simpatizo totalmente contigo relativamente à parte de tentar explicar o hobby de RPGs a outras pessoas, foi precisamente por não saber como o fazer que recrutei o Sr. JRMariano para escrever uma série de artigos precisamente com esse intuito. Com eles espero conseguir mostrar à pessoas um pequeno preview do que um RPG pode ser e como pode funcionar. Espero que algum dia se tornem úteis hehe.

Quanto à divulgação, bem eu e o Sr. JRMariano estamos a tentar trabalhar nisso com a nossa Abreojogo Demo Tour por enquanto tem sido ainda muito pouco divulgada, por que andamos a testar ainda um bocado as águas, a ver o que funciona e não e dai para a frente fazer mais publicidade, espero para o próximo mês começar a colocar flyers em algumas universidades e ver se aparecem mais pessoas, especialmente novatos ou veteranos à procura de jogos novos.

O problema das conversas sobre RPG são estas, a meu ver:

- Se falamos profundamente sobre a estrutura de como funciona a actividade de roleplay ou conseguimos ter um diálogo profundo sobre isso ou gera-se uma troca de palavras poucos construtivas e ninguém chega a lado nenhum (normalmente é a segunda);

- Se falamos profundamente sobre a estrutura de jogos em específico, sobre como funcionam bem ou falham no seu objectivo ou o que for, ou conseguimos ter um diálogo profundo sobre isso ou gera-se uma troca de palavras poucos construtivas e ninguém chega a lado nenhum (normalmente é a segunda);

- Se falamos profundamente sobre os eventos e estrutura de uma sessão de jogo, especialmente no funcionamento e relacionamento entre todos os jogadores e o jogo/sessão em causa ou conseguimos ter um diálogo profundo sobre isso ou gera-se uma troca de palavras poucos construtivas e ninguém chega a lado nenhum (normalmente é a segunda);

- Resta por isso diálogos superficiais sobre os eventos de jogo do ponto de vista do que se passou no espaço imaginário, que embora não gerem trocas de palavras pouco construtivas também dificilmente geram o que quer que seja porque só têm significado para as pessoas/PCs que estavam presentes;

- Pode haver também ainda discussões sobre regras e eventualmente settings, contudo estas são limitadas ao universo de pessoas que conhecem um dado jogo e enquanto o pessoal não partir à descoberta de novos RPGs ou jogar uma maior variedade de coisas esse universo será sempre necessariamente restrito.

Normalmente isto não acontece nos Boardgames porque o universo dos jogos deles é muito mais directo e especificado, enquanto os RPGs são um bocado mais fuzzy e apenas se tornam mais claros com as discussões que enumerei em cima, o que é uma pescadinha de rabo na boca.

Gostava contudo de relembrar uma coisa, nem todos os RPGs são bichos enormes de 7.000 cabeças, carregados de coisas complicadas e trabalho, vê o exemplo de algo que me aconteceu nestas férias (aproveito para chular a publicidade que quase metade dos tópicos no forum de Actual Play são meus hehe), onde corri uma sessão de algumas horas sem livro de regras do RPG (que já agora só tem 72 páginas) à mão e usando apenas a folha de personagem para ilustar o sistema, foi quase [quote=neonaeon]regras e setting sejam simples e acessíveis e caibam numa página A4 - incluindo ilustrações -, que possa ser explicado em dois minutos, se possa começar a jogar em cinco[/quote]jogar apenas 1h30 não me parece o suficiente para criar algo com o mínimo de significado, mas aceito todas as surpresas que a vida me quiser dar hehe.

"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"

Tanto o que o neonaeon diz e o que o tu dizes faz sentido. Sempre tive a perfeita noção de que os RPGs clássicos são algo complexo, não trivial. Acho, no entanto, a comparação com boardgames injusta. É um paradigma diferente. Um contexto díspar de RPGs. É dificil de comparar. Só tracei a ligação inicial relativamente à mobilização das respectivas comunidades, não tanto entre os hobbies em si.

Porque, na verdade, uma das coisas que me continua a fazer confusão - e vou-me repetir aqui um pouco, mais uma vez - é a falta de mobilização da comunidade. Tudo bem que é complexo enveredar por um discurso quase de evangelização onde se apregoam as maravilhas dos RPGs e que toda gente e as suas mães deviam joga-los. Aceito perfeitamente que não é para todos. Mas no fundo, numa perspectiva egoista de interessado na matéria, o que eu gostava era de ler mais sobre aquilo que se faz em Portugal neste campo. Mas não há quase nada para consultar.

Enfim, já foi dito muito aqui e já foram dadas muitas e boas razões. Começo-me a sentir a entrar num discurso circular e isso não é nada produtivo ou útil. Fica a mensagem de que aquilo que eu realmente gostava de ver, pelo menos numa fase inicial, era um maior empenhamento daqueles já envolvidos no hobbie para partilharem as suas experiências e darem-nos a sua visão do que é roleplay. Logo ai acho que seria uma grande contribuição.

E concordamos todos contigo nesse aspecto. Venham essas contribuições e muito obrigado a todos que já as fazem!

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Sem referir que mesmo as pessoas que jogam não gostam de falar sobre isso, mesmo que sejam com outras pessoas que jogam e do mesmo grupo.

Por vezes, quando tento analisar o meu estilo de jogo (ou o do grupo onde estou), e tirar daí conclusões, sou arremetido para um canto com palavras como “isso não interessa para nada, eu quero é jogar”. Quase como falar sobre futebol apenas mencionando o nome dos jogadores, não falando de tácticas, esquemas, faltas, árbtitros, penalties, etc etc etc e mais etc.

Esta discussão é gira, faz-me perceber que não percebo o nosso hobby. :smiley:

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To crush your enemies, to see them driven before you, and to hear the lamentations of their women.
-Noddy, Lord of Darkness

[quote=smpb]Acho, no entanto, a comparação com boardgames injusta. É um paradigma diferente. Um contexto díspar de RPGs. É dificil de comparar. Só tracei a ligação inicial relativamente à mobilização das respectivas comunidades, não tanto entre os hobbies em si.[/quote]Mil perdões, minha falha, como vi uns ramos da conversa a comparar os hobbys achei por bem dar aquele comentário para se perceber que são universos muito distintos e, tal como dizes, não vale a pena perder tempo a compará-los em profundidade.

Quanto às actividades, acho que era de bem finalmente levar para a frente a eterna ideia de fazer uma espécie de convenção/encontro nacional de RPGs, onde arranjando um espaço se pudesse marcar demonstrações de vários jogos e dar o pessoal a conhecer-se uns aos outros. Se tiveres real interesse em levar isto para a frente é apenas uma questão de recrutar pessoal para a organização (como o Sr. JRMariano ou o Sr. Ricwood, entre outros interessados) e começar a planear isso, eu pelo menos tenho todo o interesse em ajudar nessa actividade.

Entretanto, se quiseres ir lendo sobre as actividades bloguistas de outros jogadores de RPG, deixo-te o link para o blogue do Sr. JMendes, que eu considero muito interessante e com coisas relevantes sobre as quais vale a pena perder tempo a pensar.

"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"

Este tópico floresceu em diferentes direcções, todas merecedoras do seu próprio thread:

  1. A falta de participação por parte dos roleplayers no abreojogo.com, tendo em conta a quantidade deles que já estão registados.
  2. Porque motivo parece haver mais participação de boardgamers do que de roleplayers no site.
  3. A falta de popularidade do RPG em geral e o que fazer para ajudar a levar o hobbie mais longe.
  4. A maior adesão popular que existirá em relação aos boardgames do que aos roleplaying games.

Quanto à primeira questão - da qual já falei na minha primeira resposta - acho que a dificuldade essencial, provocada pela extrema heterogeneidade do hobbie, começa logo na linguagem. Como é que é possível escrever sobre qualquer coisa se a comunidade não chega a acordo sobre o que significa? Logo à partida, muita gente não se considera um roleplayer, não sabe se aquilo que joga tem a ver com o que os outros chamam de RPG nem quer saber. Tem o seu grupo, a sua leitura das regras, as suas personagens com os seus amigos e mais nada. Escrever sobre quê?

Abordar a segunda questão permite-me continuar a responder à primeira. Um boardgame, em comparação a um RPG, é um produto real, o cliente sabe que compra uma experiência de acordo com o que está escrito na caixa. É preciso alguém ter graves problemas mentais ou sociais para conseguir estragar, por exemplo, uma simples sessão de Carcassone ou Tsuro. Mesmo que, no limite, a pessoa saiba absolutamente zero de estratégia/táctica, não é difícil escolher o tilezinho do monte e encaixá-lo onde os lados fazem sentido. Se compararmos isto a um RPG, o produto em si é completamente irreal, ou seja, a distãncia entre o que vem escrito no livro e aquilo que eventualmente, se correr bem, se consegue jogar é, por vezes, gigantesca. Sendo algo fatalmente dependente dos jogadores e da dinãmica do grupo, ninguém sabe o que é que vai sair dali até se experimentar. Por isso acontece que dez pessoas compram o mesmo RPG e têem dez experiências diferentes com ele. Isto não acontece com um boardgame e por isso é que é bastante mais fácil falar deles, fazer críticas e dar conselhos que servem a toda a gente.

Quanto à terceira questão, este é um assunto que ciclicamente abordamos aqui no site. O meu blogue faz várias referências ao assunto. A minha última iniciativa foi o grupo Jogo Procura Mestre. Podem lá encontrar uma das mais participadas discussões sobre RPG das últimas semanas.

Quanto à quarta questão, houve já um interessante tópico aberto pela xIn3s sobre o futuro do roleplay, que merecia pelo menos metade da participação que este teve. Nele admito que é bastante provável a gradual aproximação entre RPGs e BGs, no sentido de roleplay:

  • com menos tempo de preparação
  • com princípio, meio e fim
  • com algo de concreto que se possa ver e agarrar

[quote=Rick Danger]

  • com menos tempo de preparação
  • com princípio, meio e fim

[/quote]

Portanto um RPG viral como este?

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

[quote=neonaeon](...) a maioria das pessoas precisa de um impulso social para fazer estas coisas. E precisa também que essa coisa sejam compensadora e exija um esforço mínimo de aprendizagem (para canseiras entediantes já basta estudar, trabalhar e criar filhos). Ora, os RPGs é só barreiras: os livros são enormes, caros, em inglês, exigem trabalho activo da parte de quem os lê e não se sabe se a aventura vai correr bem ou não.

No dia em que haja um RPG à "boardgame alemão" (cujas regras e setting sejam simples e acessíveis e caibam numa página A4 - incluindo ilustrações -, que possa ser explicado em dois minutos, se possa começar a jogar em cinco e o jogo acabe em menos de uma hora e meia com 60% de hipóteses de toda a gente se ter divertido) então vais ver que se torna muito mais fácil divulgar o hobby.[/quote]

Ora cá está para mim a verdade. No fundo as pessoas não conhecem ou não jogam porque é preciso investir muito tempo nos RPGs. Se eu tivesse mais tempo, estaria em 3 ou 4 campanhas ao mesmo tempo. Mas como tenho a vida, vejo-me á rasca para fazer 1 sessão semanal. Demorei mais de um mês a conseguir arranjar um dia para fazer sesões com o meu grupo, e mesmo assim há alguns que não podem vir de vez em quando. Se uma sessão de RPG demorasse 1h ou 2h, seria muito mais simples, mas como é preciso sempre 3h a 5h para ficar completa, horarios tornam-se dificeis. E depois vem a questão das regras. Como são enormes,quem tem tempo para as ler na totalidade vai logo ter 1 vantagem sobre os outros jogadores e estar mais á vontade. É frustrante para o jogador ocasional, que nem o livro base tem. Por isto mesmo apoio o que o neonaeon disse. E surpreendemo-nos (jogadores de RPG) que os boardgames estão com mais força. Quando o investimento é menor e o resultado quase o mesmo, é natural que haja mais gente interessada e activa.


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