Opera - Análise / Crítica

Finalmente com alguma disponibilidade de tempo, posso abordar a letra O da minha colecção para prosseguir com estas análises / críticas.
Entre quatro títulos possíveis, O Zoo le Mio, Odin's Ravens, Opera e Oshi, optei pelo Opera.
Fi-lo porque, além do BGG, o site internacional sobre este hobby que mais visito deve ser o Boardgamenews.com. Foi aí que vi os artigos de Hans van Tol sobre o processo de criação do Opera, desde a sua ideia inicial, nascida do fascínio por esta forma de arte que engloba tantas outras, até aos protótipos, testes, alterações e publicação final do jogo. Além disso, foi uma das minhas aquisições em Essen e isso traz-me recordações agradáveis.

Opera

Designer: Hans van Tol
Arte: Volkan Baga, Arenea Kunkeler
Edição analisada: Huch
página no BGG

Neste Opera os jogadores irão investir na construção de salas de espectáculos em cidades europeias, comprar obras dos compositores para aí apresentarem, ganhar dinheiro com isso para investir em salas maiores e novas cidades.
O jogo dura nove turnos, divididos por três períodos históricos ligados à música em geral e à ópera em particular, o Barroco, o Clássico e o Romântico.
No final de cada um destes períodos o jogador pontuará de acordo com a fama do compositor cujas obras apresenta nas suas salas principais, existindo um bónus crescente para o compositor do século em cada período. No final dos três períodos o jogador que tiver amealhado mais pontos de vitória é o vencedor.

Componentes:

Os componentes são excelentes. O tabuleiro é grande e espaçoso, quase demasiado se levarmos em conta que o mapa da Europa que domina a parte central do mesmo serve apenas para colocar uns três peões. As zonas circundantes estão todas aproveitadas com espaço para os belíssimos cartões de personagens na zona inferior, a área de investimento onde se determina também a ordem de turno à esquerda. Ao longo do topo uma linha para a contagem dos turnos e épocas. À direita fica o espaço para a tabela de fama dos compositores onde serão colocados retratos também muito bem feitos dos seis compositores, a saber, Beethoven, Handel, Monteverdi, Mozart, Verdi, e Wagner. Ao redor de tudo isto uma pista de marcação de pontuação.
Também existe dinheiro em moedas de cartão grosso, bem impressas e agradáveis ao tacto e à vista. Marcadores de cartão para as obras dos compositores onde também estão miniaturas dos retratos atrás mencionados, também em bom cartão. Também teremos peças que representam as casas de espectáculo onde estarão salas que iremos preencher com as peças dos compositores. Finalmente, pequenos biombos para cada jogador com uma cortina de palco à frente e alguma informação importante atrás. Estes serão talvez os elementos mais fracos dos componentes de papel e cartão, por serem mais finos, mas cumprem a função eficazmente.
Em madeira existem alguns marcadores para os jogadores, para marcar a pontuação e a posição na tabela de investimento e ordem de turno. Também uns marcadores para quando um jogador sai do turno de forma definitiva e os referidos peões para o Maestro, o Crítico e o Perito que serão colocados nas cidades europeias onde os jogadores pretenderem estes personagens exerçam a sua influência.
Para além disto, um livro de regras bem impresso e bastante ilustrado vem também na caixa que merece também uma referência pois está muito bem ilustrada, inclusive no interior, com uma escolha de cores que evoca o ambiente acolhedor das grandes salas de espectáculo que podemos encontrar em Paris, Londres, Berlim, Viena, Veneza, Roma ou Milão, as cidades representadas no jogo.

Pontuação: 5/5

Regras:

Um turno de Opera começa com um leilão pela ordem de turno, que ao mesmo tempo define o valor que cada jogador está preparado para investir nos personagens disponíveis. Os jogadores escondem na mão um determinado valor que será revelado em simultâneo. De acordo com a ordem resultante do turno anterior (aleatória para o primeiro turno) o valor licitado é acrescentado ao orçamento actual do jogador na tabela de investimento. A peça do jogador sobe para o valor total e encosta-se à esquerda da tabela de orçamento / ordem de turno, fazendo-se o mesmo para os jogadores seguintes. A partir daqui cada fase de acções é iniciada pelo jogador que estiver na posição mais elevada e mais à esquerda na tabela. Se no final de uma fase o jogador ainda estiver nesta posição, voltará a ser ele o primeiro.
A fase acções vem logo a seguir. Conforme a ordem de turno o primeiro jogador pode escolher um dos personagens e, descendo na tabela de orçamento/ordem de turno, pagar o valor necessário para o usar. Algumas personagens dão aos outros jogadores a possibilidade de também executarem a acção em causa, normalmente por um valor mais baixo.
Os personagens são:

A Signora - Custa 2 na tabela de orçamento e permite colocar uma peça de um compositor no palácio não podendo, contudo, existir aí duas peças do mesmo compositor ao mesmo tempo. O jogador que o fizer pode receber ou pontos iguais à fama do compositor (1 a 6) ou esse valor dobrado em dinheiro. Os outros jogadores podem também fazer a acção pagando 1 na tabela de orçamento.

O Arquitecto - Permite ao jogador comprar/construir casas de espectáculo. Apenas uma casa por cidade, sendo que pode, no máximo, comprar duas partes de edifício (os edifícios têm varias partes), começando por uma parte principal e só se a tiver poderá comprar as extensões ao mesmo. Para o fazer desce dois ao seu orçamento e paga dois ducados, do seu dinheiro disponível (não do orçamento) por cada sala que adquira nas várias partes de edifício que compre. O jogador que escolhe o arquitecto paga 2 de orçamento, dois ducados por sala nas peças que adquirir e ganha dois pontos por sala. Os restantes jogadores podem acompanhar a acção, pagando apenas 1 no orçamento por cada peça comprada e dois ducados por sala. mas não ganham pontos.

O Empresário - Permite adquirir obras dos compositores. Custa 3 de orçamento usar este personagem e as peças custam um valor em ducados igual à fama do compositor. Podem comprar-se até duas peças. De notar que usar este personagem é a única forma de modificar as obras apresentadas nas casas de espectáculo dos jogadores. Nunca podem estar duas obras do mesmo compositor na mesma casa de um jogador numa cidade. Os outros jogadores também podem comprar peças, mas fazem-no pela ordem de turno tendo assim menos escolha, embora paguem apenas 1 de orçamento por cada peça comprada.

O Maestro - Por 2 no orçamento, é colocado numa cidade, se existirem espaços disponíveis e dobra o valor de rendimento de todas as casas de espectáculos dessa cidade. Note-se que pode beneficiar mais que um jogador.

O Crítico - Custa 3 no orçamento. É colocado numa cidade, havendo espaço para isso, e pode mudar a fama de um compositor até dois níveis para baixo ou dois níveis para cima.

O Perito - É colocado numa cidade, mais uma vez limitado à existência de espaço livre para isso. Os jogadores que recorram a este personagem podem pontuar a sua casa de espectáculos de acordo com a fama dos compositores. A desvantagem, para além de custar 4 no orçamento, é que terão que perder a peça mais valiosa que aí detiverem. No caso de quem escolhe a personagem originalmente para o jogador que for em último na pontuação, nos outros simplesmente descartando essa peça.

Depois de estas acções serem feitas, ou de todos os jogadores passarem definitivamente, vem a fase de rendimento. Os jogadores ganham ducados de acordo com o número de peças nas suas casas de espectáculos. O rendimento é calculado de acordo com a sequência de Fibonacci, (1 peça - 1 ducado; 2 peças - 3 ducados; 3 peças - 5 ducados; etc.)

Finalmente a fase de reposição para os turnos normais. São descartadas as obras que não foram vendidas, reordenada a fama dos compositores conforme estão mais representados nas salas dos jogadores e outros pormenores.

No caso de estarmos na última ronda de cada período, os jogadores fazem o cálculo da sua pontuação de acordo com a fama dos compositores que estão nas salas principais das suas casas de espectáculo.

As regras são relativamente acessíveis e estão escritas de forma clara, ainda que eu não goste muito da sequência em que estão organizadas. Existem alguns pormenores que são relativamente fáceis de esquecer, o que pode influenciar um pouco o jogo.
Por outro lado, o livro de regras está bem ilustrado e impresso. Enfim, não são más mas podiam ser melhores.

Pontuação: 3/5

Jogabilidade:

Opera é um jogo interessante. Não é um jogo difícil ou complexo e apresenta algumas decisões interessantes. A interacção entre os jogadores escapa um pouco ao início, mas depois de algumas partidas podemos ver que é conveniente prestar alguma atenção ao que fazem os adversários.
Também fico com a sensação que é um pouco definido demais em termos de progressão. As primeiras rondas são dedicadas a garantir o rendimento financeiro e depois cada um tenta maximizar os valores pontuais que pode obter. Saber em que ronda mudar a nossa prioridade é importante pois o dinheiro tem pouco ou nenhum valor no final.
Já o experimentei com números diferentes de jogadores e até agora a experiência pareceu-me melhor a dois.

Equilíbrio:

Ainda que o jogador mais experiente tenha vantagem, o jogo é suficientemente acessível para que mesmo quem o joga pela primeira vez tenha hipótese de vencer e perceba rapidamente qual a opção mais adequada.
É um jogo equilibrado em que normalmente as diferenças pontuais no final não são muito grandes.

Sorte:

Pouca. O principal factor aleatório será a sequência em que as obras dos compositores aparecem no mercado. Nessa altura podemos ter preparado um turno de compra e surgirem poucas obras que nos interessem comprar. Tirando isso, quase tudo o resto é manipulável pelos jogadores.

Pontuação: 4/5

Estratégia / Táctica:

É um jogo estratégico, pois os jogadores deverão preparar a sequência de turnos com algum cuidado. Uma ronda que implica despesas deve ser precedida de uma que maximize os rendimentos monetários. A preocupação com o dinheiro deve ser moderada pelo objectivo final dos pontos. Por outro lado, a escolha dos papéis e as implicações dessas escolhas na sequência de turno introduzem aspectos mais tácticos.

Conclusão

Foi interessante ler a forma como este jogo evoluiu de apreço pela arte e desejo de fazer um jogo sobre a mesma para um jogo propriamente dito e depois jogá-lo para perceber até que ponto essa arte e esse ambiente sobreviviam à necessidade inevitável de abstracção que um jogo implica.
Isso veio reforçar a minha opinião acerca da importância do tema nos jogos e ajudou a consolidar a forma como penso no jogos enquanto temáticos ou não.
O Opera é temático? Sim. Mas o tema do Opera não é o espectáculo em si, não é o cheiro do pó do palco ou o som dos aplausos. O tema do Opera é o trabalho dos que, durante os tempos áureos desta forma de arte, procuravam o lucro e o prestígio de colocar em cena e trazer ao público algumas das mais incríveis obras musicais, e também cénicas, de sempre. E esse trabalho não é muito diferente do de quem produz outra coisa qualquer e a vende estando sujeito a oscilações de mercado.

Assim, este Opera é um jogo interessante que não me arrependo de forma nenhuma de ter comprado e que creio ter ainda lugar na minha colecção. Se é um jogo que vos recomendaria, depende... Não me parece um jogo que deva constar das primeiras aquisições de uma colecção e, dependendo do conteúdo de uma colecção já razoável, tanto poderá ser bom para satisfazer alguns nichos como poderá ser pouco mais que uma reinvenção de coisas que já se viram noutros jogos.

Pontuação Geral: 12/15