os PDFs ajudam os RPGs?

Partindo do tópico "O mercado do RPG em Portugal":

[quote=Rick Danger]Parafreseando os Buggles, "Internet killed the RPG star".[/quote]

[quote=Tiago]O problema que o Rick sugeriu também deve ser um dos factores, com a internet muitos destes jogadores sacam o pdf e não compram material, ao contrário dos board games que apesar de possível são um pouco mais difíceis de "piratear".[/quote]

[quote=Lord Sauron]Realmente para ter mercado, precisa da oferta.... e se continuar havendo PDF´s disponíveis, aí é k não ah mesmo mercado!!! os próprios jogadores podem acabar com um mercado que nem começou, e reclamam depois![/quote]

[quote=jrmariano]Não acho que os PDFs levem o mercado do RPG à ruína. Quem descarrega os PDF ilegalmente da Internet provavelmente nunca iria realmente comprá-los ou deseja fazer uma compra informada e aprecia a prévia completa. Além de os PDF terem permitido muitos criadores independentes lançar os seus jogos sem grandes custos.[/quote]

[quote=Lady Entropy]Não podia concordar mais com o mariano em relação a isto, e já tive discussões ad nauseam com o Rick sobre o assunto. Pirataria não vai matar o RPG. A crise talvez, mas não a troca legal (e ilegal) de PDFs. Para começar, relembro que recentemente um grupo ingles independende realizou um estudo (para DVDs e musica acho) que comprovou que os "piratas" são o grupo com mais tendencia de comprar o original depois de downloadarem uma copia ilegal.[/quote]

Acho que é difícil saber ao certo qual é o efeito da livre disponibilização de conteúdos digitais sobre o mercado dos RPGs. Se, por um lado, é relativamente fácil de contar o número de vendas que se conseguiram fazer porque o cliente pôde ver o material no seu computador - por outro lado, é bastante difícil de saber quantas vendas se perderam porque o cliente considerou que imprimir/visualizar o PDF era suficiente.

Recentemente, a famosísssima Wizards of the Coast declarou estar preocupada com a crescente pirataria no hobby e que, por cada cópia que se venda de um livro, há dez cópias que são pirateadas (podem ouvir esta entrevista no podcast TGTT).

Agora, é certo que, para os autores independentes, os PDFs são uma benção caída do céu, permitindo-lhes publicar os seus jogos com muito menos investimento de capital e uma muito maior margem ganha por cada livro descarregado.

O que é que vocês acham?

Cito um outro artigo que li hoje sobre o assunto:


" However, when it comes to P2P, it seems that those who wave the pirate flag are the most click-happy on services like the iTunes Store and Amazon MP3. BI said that those who said they download illegal music for “free” bought ten times as much legal music as those who never download music illegally. “The most surprising is that the proportion of paid download is so high,” the Google-translated Audun Molde from the Norwegian School of Management told Aftenposten. "


E agora outra passagem do artigo que me parece ilustra muito bem a questão do RPG:

"Which means that when the music industry targets “the worst offenders” in its legal campaigns against downloaders, the people they’re attacking are the ones who are spending the most on music.


“Now, does this mean that downloads end up interfering with sales of music, or not? My guess is that it’s a little of both. As Tim O’Reilly wrote, Piracy is Progressive Taxation. Obscure acts probably get more sales than they lose. Modestly well-known acts probably lose and gain about the same. Very famous performers probably lose a little. This has been the conclusion in the quantitative studies in music and books to date, and it makes sense to me.”



RPGs são um “acto desconhecido”. Totalmente. Sobretudo os indies.



Poder-se-á dizer que grandes casas como a Wizards e a White Wolf podem ser prejudicadas… mas vamos ser francos. Eles regurgitam toneladas de material. Quem tem dinheiro compra (e não deixa de comprar por ter PDF), porque já tinha interesse e quer coleccionar, é uma questão de “honra”, gosta do aspecto dos livros etc. etc. Quem não tem dinheiro, não ia comprar de qualquer forma, por isso a Wizards não ia receber nada e não. A unica diferença é que agora os “pobretanas” tem acesso à informação – mas a Wizards não perdeu dinheiro, porque nunca o iria receber. Nalguns casos, a Wizards ou a White Wolf não vai receber o dinheiro de alguns fãs que só iriam comprar o suplemento porque “tem duas páginas sobre a minha classe preferida”. O que, aliás, é um truque que eles fazem muitas vezes, que é meter um nadinha de coisas boas numa pilha de caca… e obrigar os fãs a pagar um monte de dinheiro só para que possam ler meia duzia de regras novas.



E nesse artigo, alguém fez um comentário do genero: “Eu downloado musicas para conhecer novas bandas. Se gosto mesmo a sério, então compro os originais porque acho que vale a pena.”



E eu concordo. Saquei muitos PDFs porque queria saber se “valiam a pena”. Alguns nunca mais toquei. Outros, descobri que eram bestiais e que queria sem duvida comprar e experimentar. Tenho uma lista enorme de RPGs que quero que, até ver um pdf ilegal, não sabia que queria (e em alguns casos, achava mesmo que não tinha nada a ver comigo e que eu não ia comprar). Case in point, Artesia. E eu até tenho uma versão impressa do PDF ilegal. A cores. E ainda ando à caça do original, porque achei que o livro é espetacular e vale a pena.



“HOUSE FLAMBEAU - where you teach your apprentices by pissing them off until their will to set you on fire overcomes the stactic paradigm”

“I still miss my ex-wife, but my aim is improving!”

[quote=LadyEntropy]Poder-se-á dizer que grandes casas como a Wizards e a White Wolf podem ser prejudicadas... mas vamos ser francos. Eles regurgitam toneladas de material. (...) O que, aliás, é um truque que eles fazem muitas vezes, que é meter um nadinha de coisas boas numa pilha de caca... e obrigar os fãs a pagar um monte de dinheiro só para que possam ler meia duzia de regras novas.[/quote]

Sim, isto tem a ver duas outras questões sobre a qual já te falei:
- os autores terem menos oportunidades para criar e vender material de fraca qualidade;
- o material deixar de poder ser vendido todo ao mesmo preço independentemente da sua qualidade.

Basicamente, como o cliente tem acesso a todo o material antes de o comprar, põe logo de parte aquilo que é mau. Um exemplo foi a estreia do Wolverine que não correu tão bem quanto se esperava, pois os fãs já sabiam que o filme não era grande coisa - apesar da grande promoção de marketing que foi feita.

Desculpa Rick, mas isso é treta, propaganda enganosa, e choradinho idiota das empresas.

Tomando o teu exemplo como exemplo: Utilizando os números públicados no IMDB, “X-Men Origins - Wolverine” rendeu na primeira semana de exibição $85,058,003. Após 3 semanas (ou seja, no fim de semana de 16-17 Maio) tinha já rendido um total de $150,993,169.

Cento e cinquenta milhões de dólares. Apenas nos Estados Unidos. Segundo o próprio IMDB, mundialmente o filme já rendeu $299,753,737. Practicamente o dobro, TREZENTOS MILHÕES DE DOLARES

Chris Aronson, vice-presidente da Fox responsável pela distribuição domestica do filme, revelou que o filme custou cerca de 130 milhões. Dado que nos custos de um filme se incluem ordenados de actores e de todas as pessoas que lá trabalharam, o estudio arrecadou pouco mais de 160 milhões de dólares de puro lucro em 3 semanas.

Nada mau hein?

Voltando ao assunto dos RPGs

Gostava muito de ver o estudo destes senhores. Tal como tamanho da amostra estatística, local onde o estudo foi efectuado, gama de idades entrevistada, etc etc etc…
Mas infelizmente não tenho nada disso. Hmmmm será que é porque tais estudos não existem, e quando são feitos são falaciosos?
No entanto tenho de admitir, é uma linha de propaganda fenomenal: “Tenham pena de nós, por cada livro que vendemos são pirateados 10”… até se subentende que só estão a ter 10% dos lucros que podiam ter… o que é mentira, como a LadyEntropy já exemplificou.

O verdadeiro problema, meus senhores, é que vivemos numa idade em que a qualidade não interessa, mas sim a quantidade. As empresas de RPGs “regurgitam toneladas de material”. Talvez 10% dele seja útil ou interessante, enquanto os restantes 90% são uma ofensa à floresta amazónica. Acrescentando a isto o facto que obter PDFs de elevada qualidade é cada vez mais fácil, e temos uma panorama em que apenas os produtos com uma enorme base de fans sobrevive… a par dos produtos REALMENTE bons, que são descobertos através dos mesmos PDFs que tanto se critica.

Mais qualidade! Menos Lixo! E assim pode ser que obtenham mais lucros!!! (e até cortam nos custos… afinal de contas, imprimem menos :wink: )

BTW, fontes:

https://www.zooped.com/2009/05/04/x-men-origins-wolverine-weekend-gross-160-million-worldwide/

[quote=LadyEntropy]E nesse artigo, alguém fez um comentário [snip] E ainda ando à caça do original, porque achei que o livro é espetacular e vale a pena.[/quote]

Já vi este argumento relacionado com o Warcraft 3 (o jogo de estratégia para PC). Na altura em que o jogo saiu, foi publicado um artigo relativamente à queixa da Blizzard em como a pirataria prejudicaria as suas vendas. Ora, no artigo, o autor propunha que quem queria mesmo jogar o jogo, os fãs, comprá-lo-iam de qualquer maneira. Quem o sacava por P2P eram: A) as pessoas que em primeiro lugar já nem fazia tenções de o comprar, logo o dinheiro nem sequer ia entrar nas contas da Blizzard ou, B) as pessoas que queriam primeiro ver se o jogo era bom e, caso o fosse, iam comprá-lo às lojas.

No meu caso, acontece o mesmo que à Lady Entropy. Primeiro saco um PDF ilegal e, se gosto mesmo, compro o livo que é muito mais cómodo. Isto aconteceu-me com um sem número de RPGs sendo os dois mais recentes o Savage World of Solomon Kane e o Trail of Cthulhu. Tenho os dois livros e não me arrependo da compra mas primeiro quis certificar-me que o dinheiro era bem empregue. Desculpem mas as reviews que andam por aí não são suficientes para eu gastar dinheiro num livro embora sejam úteis para me motivar a sacar o ficheiro.

Quanto aos grandes (leia-se Wizards ou White Wolf e outros) andarem a queixar-se que a pirataria prejudica as suas vendas, não estou muito bem a ver a razão de tal queixa. O D&D 3.x vendeu milhares de unidades e o D&D 4 está a vender bem e é bastante popular. Os livros de Savage Worlds andam a transitar na net mas, no entanto, a Pinnacle continua a publicá-los uns atrás dos outros. Não estou a ver as vendas do Exalted ou World of Darkness a decairem. A julgar pela lista do que já foi publicado e pelos livros anunciados a publicar. Todas essas linhas de jogos estão bem de saúde e recomendam-se aos fãs.

[quote=Aramoro]Nada mau hein?[/quote]Não haja dúvidas que o lucro continua lá, mas quem quer sempre fazer o máximo de dinheiro possível não gosta de saber que houve gente que já não foi ver o filme porque o sacou da net e não o achou grande coisa. As produtoras e as distribuidoras querem continuar a poder criar blockbusters através da poderosíssima máquina de promoção que têem montada, mas a internet em geral e a pirataria em particular estão a afectar-lhes esse controlo sobre o comportamento dos consumidores.

No geral, eu acho que a pirataria na indústria do entretenimento está a apontar para um caminho onde as empresas de grande dimensão não têem tantas vantagens graças ao seu tamanho quando comparadas com as pequenas empresas ou autores independentes.

Pah… se o filme tivesse dado prejuizo… ainda acreditava.
Mas o facto é que não deu.

Aliás, nestas coisas de piratarias, versões pre-release que são colocadas online e afins, há sempre que considerar a hipotese de ser uma “fuga” planeada. Ou seja, uma forma de sondar os consumidores de forma a efectuar um melhor plano de mercado quando o produto for realmente lançado. Isto já aconteceu no passado…

Existem formas muito simples de travar pirataria e todas tem a ver com a relação conteúdo/custo. Eis alguns exemplos:

a) Extras físicos: miniaturas ou mapas em livros de RPG, BDs em packs especiais de DVDs. Normalmente são lançados ao mesmo tempo das versões standard, por um preço superior… mas compensa.

b) Extras digitais: Apenas disponíveis em formatos digitais (dvd/cd/blueray). Falo por exemplo de “easter-eggs” e Extras em DVDs… do genero que vale mesmo a pena, tais como entrevistas e cenas cortadas. Não trailers de outros filmes…

c) Preço reduzido: Mesmo produto de sempre, a um preço mais amigo.

d) Cookies: Cupões de descontos em produtos da mesma linha de jogos.

enfim, tantas coisas que não se obtem em versões piratas. Mas reduz-se sempre ao mesmo:

Conteudo vs custo

E claro:

Qualidade vs lixo

Já agora, recomendo a visita ao fórum do jovem movimento para a criação do Partido Pirata Português, onde até podemos encontrar lá o nosso saudoso B0rg.

Tendo lido um pouco mais sobre o assunto, fico contente com a mudança de paradigma suscitada pela "pirataria" em particular e pela livre difusão digital de conteúdos em geral. No entanto, tenho as minhas dúvidas se aquilo que parece ser bom na música, nos jogos de computador, nos filmes, nos livros, etc. será bom no caso dos RPGs. Não sei até que ponto estaremos errados em põr tudo no mesmo saco.

Há semelhança do que acontece com os outros conteúdos, a partilha em massa dos livros em formato digital tem para nós a vantagem de podermos conhecer inteiramente o RPG antes de o comprarmos. Além disso, os jogos são mais baratos e, em geral, temos acesso a muito, muito mais material do que tínhamos antes de os .pdf aparecerem. Algo de semelhante acontece do ponto de vista dos autores dos jogos: nunca na história dos RPGs tantos títulos estiveram à venda (ex: RPGNow.com) como agora.

Agora, vamos supõr, por exemplo, que, na sequência desta nova era tecnológica, eu tenho no meu computador 500 RPGs, 500 músicas, 500 filmes e 500 livros. Parece-me a mim que o valor de ter centenas de RPGs é muito menor do que aquele que obtenho dos outros tipos de conteúdo. Música, por exemplo, é algo que posso ouvir a toda a hora, mas de pouco me vale ter 500 RPGs se não os consigo jogar (a menos que eu só os queira ler).

Além disso, como é um conteúdo de usufruto tão pouco imediato, é practicamente impossível filtrar centenas de RPGs e escolher os meus preferidos - aqueles que eu afinal vou comprar. Serem 500 ou 50 é indiferente, não tenho tempo para absorver e experimentar toda essa variedade. Por isso, acabo por fazer as minhas escolhas seguindo o velho processo que sempre existiu antes dos PDFs: analisar e tomar uma decisão a partir das críticas de outras pessoas, da publicidade, dos previews divulgados, das notícias, etc.

Assim sendo, meter os RPGs no mesmo saco que os filmes, músicas, jogos de computador e livros é enganador, pois ignoramos o quão diferentes estes nossos conteúdos são. Será que então a era do .PDF não poderá ser prejudicial para o RPG? Será que os roleplayers - que já à partida estão tendencialmente pulverizados e isolados - beneficiam de um mercado com centenas de autores independentes, cada um com o seu jogo?

Além do mais, era suposto que o surgimento da indústria digital permitisse o aparecimento de muitos pequenos produtores competindo com grandes (Wizards of the Coast), médias (White Wolf) e pequenas (Chaosium) empresas de RPG. Na verdade, parece-me que houve apenas uma substituição: as pequenas empresas fecharam e os seus trabalhadores tornaram-se autores independentes.

Talvez o PDF seja ao mesmo tempo um problema e uma solução. Provavelmente, o seu potencial positivo ultrapassa alguns aspectos negativos - por isso será interessante assistir ao seu desenvolvimento nos próximos anos. O que não devemos é esperar que os RPGs sigam exactamente a mesma linha que os outros conteúdos.

O problema da seleccao e' o mesmo, sejam rpgs, livros ou musica. Os rpgs podem exigir maior envolvimento mas os outros produtos tem uma oferta muito maior.

Eu nao vejo uma diferenca de fundo grande entre pdf e conteudo impresso para alem a imensamente maior acessibilidade. Quando comecei nestas coisas dos jogos tinha que esperar que alguem fosse ao estrangeiro ou arriscar uma encomenda internacional. Hoje, com um download de um pdf tenho a coisa imediatamente. A impressao pode ser pior mas isso e' de somenos.

Sérgio Mascarenhas