Paleio de Guico - Equilíbrio

Equilíbrio
a 2009-12-31 por Mallgur

Um dos defeitos muitas vezes apontado a alguns jogos é o desequilíbrio. Daqui se deduz que o equilíbrio é uma característica importante dos mesmos, que um jogo deve ser equilibrado para ser bom... Será mesmo assim?

Creio que, mais uma vez, esta questão não tem uma resposta definitiva. Que o valor do equilíbrio varia de jogo para jogo e de jogador para jogador.

Para mim há certos jogos, ou tipos de jogos, que devem dar as mesmas chances de vitória a todos os seus jogadores. Normalmente exijo isto a jogos em que o planeamento e a estratégia são importantes, em que espero que a minha capacidade de análise e preparação de jogadas seja premiada. Isto ainda é mais importante quando o jogo é longo.
Não me satisfaz jogar se todo o planeamento que se faz durante duas horas pode ser destruído ou seriamente prejudicado por um lance de sorte na última ronda. Acho igualmente desagradável um jogo em que ser o primeiro ou não é determinante para a vitória e em que não há forma de influenciar a ordem de turno.
Já não me importo que jogos de duração curta tenham um factor elevado de sorte ou que ser terceiro na ordem de jogo dificulte as coisas... Nos jogos que jogamos em vinte minutos, o desequilíbrio pode até ser divertido.

Isto não quer dizer que não possa apreciar um jogo mais longo em que existe um claro desequilíbrio nas possibilidades dos jogadores. Nos jogos mais próximos de simulações esse desequilíbrio pode advir das circunstâncias reais que o jogo tenta retratar e, nessa perspectiva, torna-se quase indispensável. Creio que em nenhum outro género como no dos jogos de guerra este desequilíbrio pode ser uma fonte de gozo e prazer na fruição da experiência lúdica (ena... estou a falar caro!). Não sou um perito neste género (ou em qualquer outro), mas as experiências que já pude ter e observar em jogos de guerra, mesmo nos mais leves, demonstram que por vezes dá gosto estar em desvantagem, fazer o esforço extra para tentar superar circunstâncias adversas. Seja superioridade numérica, maior mobilidade ou posições mais vantajosas dos nossos adversários, dá uma grande satisfação o desafio de procurar implementar as melhores tácticas e estratégias para, mesmo assim, vencer. Quando o jogo permite depois trocar de lado e comparar a performance de cada um dos jogadores nos diferentes lados do conflito esse desequilíbrio acaba efectivamente por desaparecer e se tornar apenas uma fonte de gozo.

A importância do equilíbrio também muda de jogador para jogador. Se a mim não me custa perder uma partida de um jogo rápido devido a este ser desequilibrado, desde que com isso me diverta na mesma e passe alguns minutos agradáveis em convívio, há outros que não suportam perder, nem que seja a feijões. Por vezes este espírito competitivo pode prejudicar a experiência de jogo, não só aos que se "aferroam" com facilidade como aos que com eles participam no jogo.
Não pretendo dar lições de moral a ninguém, ou criticar qualquer tipo de atitude perante os jogos. Apenas penso que um espírito demasiado competitivo pode ser prejudicial à apreciação dos jogos e que esse exagero, quando existe, pode dar a impressão de que um determinado jogo é desequilibrado e às vezes nem sequer é assim.

Assim, ficam aqui os meus votos lúdicos para o ano de 2010. Joguem muito, apreciem todos jogos que puderem jogar e divirtam-se!
Os outros votos já conhecem, saúde, prosperidade e que 2010 vos corra melhor ainda que aquilo que desejam.

GoldenClaw disse:

Votos para que 2010 "desequilibre" a favor dos boardgames (e dos seus jogadores).

31 Dezembro 2009 - 13:10


 

Hélio disse:

Valorizo os jogos que oferecem diferentes estratégias passíveis de serem vencedoras desde que bem usadas. Tive pena de constatar o desiquilibrio, mais ou menos evidente, da estratégia da caravana no Yspahan e do peso das cartas no Stone Age. Mas são jogos ligeiros e bem-dispostos, pelo que nunca me importo de os voltar a jogar.

Também me lembro de muito choramingo em como o jogador que começa no centro do mapa do Antike está em desvantagem...

02 Janeiro 2010 - 20:16


 

vch disse:

Tambem prefiro ter mais sorte em jogos curtos do que em jogos mais longos: assim não ficará um sabor amargo. O meu ideal é jogos com pouca sorte, pequena o suficiente para o melhor planeador ganhar, mas não nula para aquele que joga pela primeira vez, ter alguma hipotese. E tambem para o jogo não ser um exercicio previsivel à la Caylus.

Excelente artigo.

04 Janeiro 2010 - 14:49