Pendragon

Aviso já: este é um dos meus RPG’s favoritos. O sistema é d20. Joga-se num séc. VI baseado na “Mort d’Artur” de Sir Thomas Mallory com inúmeras outras influências literárias (Chretiens de Troyes, etc), na corte do rei Artur.

As personagens tem uma série de características (destreza, aparência, força, enfim o costume), e skills (espada, cortesia, falcoaria, etc), tudo adaptado ao período. O que já é mais invulgar são as personal traits: traços de carácter que tem sempre um oposto dividindo-se de 0-20 (coragem 14, cobardia 6). E são 13 pares de traits (misericordioso/cruel, casto/luxurioso, etc)! As personagens devem jogar de acordo com os seus triats (no começo excepto um par deles decidido pelo jogador, são todos muito equilibrados, mudando-se com as forma de jogar). Existem também as paixões: sentimentos muito fortes que se tem por algo/alguém (amar a esposa, o seu senhor, odiar os saxões) e quando é apropriado, lança-se um dado e se correr bem, temos um bónus numa característica (o que dá muito jeito em combate), mas se falharmos, a nossa característica sofre (é como se tivéssemos entrado em depressão). Temos também as características de honra, e glória: cada acto que fazemos (salvar uma donzela, combater num torneio), dá pontos de glória. Quantos mais tivermos, mais conhecidos somos e mais honras temos (os senhores disputam-se para nos contratar).

Jogam-se cavaleiros. Através de umas tabelas faz-se toda a família (começando pelo avó, até nós, o que significa que se tivermos sorte temos imensos primos e irmãos que são um excelente apoio, se tivermos azar como um colega meu, temos sucessivas gerações de filhos únicos). Se o GM for generoso começamos com um feudo (que nos sustenta a nós e família próxima e dá um certo status), ou então começamos como cavaleiros mercenários que tem de partir à aventura.

Cada cenário é suposto representar um ano. No final da aventura recebemos os “checks”, e mais uns pontos que colocamos onde queremos (aumentar skills, características, paixões, etc). Começa-se aos 21 anos e a partir dos 32 anos começamos a sofrer a usura do tempo e temos de fazer lançamentos para ver se perdemos características físicas. E daí vem uma outra parte importante: se casarmos e tivermos filhos, podemos continuar com a próxima geração; de preferência casar bem (uma herdeira rica) deixando os nossos bens e parte da glória ao rebento (“olhai sir K, filho de Sir F, como ele é parecido com o pai! E fabulosamente rico segundo dizem”), se bem que se tivermos filhos bastardos em última análise serve (com algumas penalizações). Se nem isso tivermos, pode-se sempre jogar um irmão ou um primo (numa das campanhas que joguei, sendo os filhos de um personagem meu ainda menores, tive de jogar primos, já que os irmãos tinham morrido). As mulheres tem um carácter ambivalente. Tem de ser muito bem tratadas (regras do amor cortês obrigam) oficialmente, mas depois são negociadas de uma forma fria (casei uma irmã minha com um outro jogador para assegurar o seu apoio e a sua fidelidade).

Deste modo, a morte de uma personagem não implica um regresso ao zero, e tem-se a sensação de se construir uma dinastia, ao longo de sucessivas gerações.A componente social é fundamental: não basta ser um guerreiro forte para se subir. De facto um jogador que seja invencível em combate se for uma nulidade social, quando estiver na corte e se fizer uma triste figura arrisca-se a ser alvo de risota e ver bloqueadas quaisquer possibilidade de ascensão… e saber cantar ou tocar um instrumento também dá glória e é bem menos arriscado do que enfrentar uma horda de saxões (como no mundo real).

O jogo é bastante completo: tem um excelente background (como em sengoku, tem tabelas de preços, NPC’s de todas as classes, uma gestãi incipiente de terras), regras básicas ou avançadas conforme a preferência, uma vintena de cenários prontos a utilizar. Ou seja, só com o livro de regras, tem-se material para um anito. Quanto a tornar-se cavaleiros da távola redonda… isso exige longos anos (em termos de jogo). Mas ao menos vai-se convivendo com Lancelot, Merlim, Galahad, Perceval, Mordred e outros que tais. E para os egos dos jogadores, é mais aliciante ser recebido por Artur em Camelot do que por Jor III do reino de Ix. O jogo tem muitos suplementos (ficam para outra vez).

Não sei o que dizer, parece simplesmente fixe, adicionando ao artigo que o JR colocou aqui é decididamente mais um jogo para adicionar à lista.

Agora vou começar é a fazer as minhas reviews antes que o ricmadeira te dê o trono do Portal e nos ponha todos na rua hehe.

P.S.: O jogo Hero's Banner é muito parecido com este, a ideia também é criar uma dinastia de Heróis sendo que cada sessão de jogo representa a vida de cada um deles.

"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"

[quote=RedPissLegion]P.S.: O jogo Hero's Banner é muito parecido com este, a ideia também é criar uma dinastia de Heróis sendo que cada sessão de jogo representa a vida de cada um deles.[/quote]Ainda não joguei exactamente Pendragon, mas daquilo que experimentei do sistema em Sengoku e daquilo que já vi acho que é um clássico dos RPGs que faz falta em qualquer prateleira.

Algum heroi está a pensar jogar a grande campanha arturiana?

A grande campanha não digo, mas um cenário podes pedir um dia ao palinhos para mestrar.

[quote=RedPissLegion]

Não sei o que dizer, parece simplesmente fixe, adicionando ao artigo que o JR colocou aqui é decididamente mais um jogo para adicionar à lista.

Agora vou começar é a fazer as minhas reviews antes que o ricmadeira te dê o trono do Portal e nos ponha todos na rua hehe.

P.S.: O jogo Hero's Banner é muito parecido com este, a ideia também é criar uma dinastia de Heróis sendo que cada sessão de jogo representa a vida de cada um deles.

"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"

[/quote]

Já descobriram o meu plano? Bolas, e eu que achava que estava a ser discreto! Pronto, vou ter de recorrer à violência directa.


Olá, boa análise, mas deixa-me corrigir-te três coisas:

o que dá muito jeito em combate)
E não só! As paixões poderão ajudar-te em qualquer situação de conflito ou drama em que estejam envolvidas pessoas pelas quais se nutrem sentimentos fortes.

características de honra, e glória: cada acto que fazemos >(salvar uma donzela, combater num torneio), dá pontos de >glória. Quantos mais tivermos, mais conhecidos somos e mais >honras temos (os senhores disputam-se para nos contratar).
Acho que fizeste aqui uma pequena confusão. Sim, a glória dá a medida em que o cavaleiro é conhecido. Honra é uma coisa muito diferente: aquilo que distingue os cavaleiros dos campónios armados. É a paixão (literalmente) ou empenho que o cavaleiro tem em cumprir a ética de cavalaria (proteger os fracos, defender as damas, obedecer ao suserano…) Um tipo pode ser muito honrado e ninguém o conhecer de lado nenhum ou ser conhecidíssimo mas ninguém lhe comprar um cavalo usado (Mordred?).

Tem de ser muito bem tratadas (regras do amor cortês >obrigam) oficialmente, mas depois são negociadas de uma >forma fria (casei uma irmã minha com um outro jogador para >assegurar o seu apoio e a sua fidelidade).

Não há nada de contraditório nisso. O casamento é um negócio e o ideal do romance de cavalaria é casar por interesse e ter um paixão arrebatada por uma mulher casada (com outro).

E deixa-me acrescentar que não mencionaste aquilo que, na minha opinião, é o mais interessante do Pendragon: o potencial para conflito interior: quando os PCs são confrontados entre os seus códigos de ética e as suas paixões: escolher entre dar azo ao instinto da luxúria e não ir para a cama com a Morgana, entre obedecer ao senhor vingativo e obedecer aos princípios cristãos, entre ser leal ao melhor amigo e ter de disputar com ele a mesma donzela…

Não diria que não…

Ainda bem que estás a completar o meu post (que aliás já era um bocadinho grande, neste andar ainda sou corrido!).