Pressupostos: capacidades das personagens

O Mariano tentou criar duas personagens tomando a série Rome como inspiração e defrontou-se com dificuldades na definição dos atributos. Compreendo que assim seja. O meu jogo pressupõe outra inspiração, a série do Alix, e aí as coisas funcionam de forma diferente, logo levam a resultados diferentes.

No Alix não há grande variação entre os atributos das personagens, nem a sua hierarquização é determinante. De facto, as personagens podem incluir uma criança (Enak, o companheiro de Alix), um velho (Josah, pai adoptivo de Enak), mulheres, deficientes, etc. E todas elas podem interagir em tais termos que a que aparentemente está em desvantagem é quem leva a melhor. Na prática, todas as personagens têm pontos fortes e pontos fracos pelo que se equivalem em grande medida. O que «decide» o resultado é a capacidade de jogar os pontos fortes e minimizar os pontos fracos. (Pus decide entre aspas porque todos sabemos que no fundo o que decide é o autor...)

Sendo assim, o sistema de jogo tem de representar os factores salientes na série, mas tem também de os manter em escalas com pouca variação (grosseiramente granulares) pois é assim que as coisas funcionam na série. Por exemplo, não há escalas finas de capacidades físicas, há basicamente personagens médias e umas poucas que se destacam para mais ou para menos, mas que se destacam de forma marcante.

Em termos de inspiração em outros rpgs, isto levou-me para o francês Maléfices. Neste jogo todas as personagens são perfeitamente equilibradas em termos dos valores quantitativos dos atributos, não há personagens melhores ou piores. É uma abordagem de que gosto e que acho que se adequa bastante à série de Alix. Há uma influência do Maléfices na forma como estruturei os atributos.

É claro que isto significa que o sistema não se ajusta com facilidade a ficções que funcionem com base noutros pressupostos. Digamos que em certa medida há aqui um confronto entre a ficção «à americana» com a ficção «à francesa». Estou a simplificar, como é evidente, mas se a ficção se constrói a partir de pressupostos anti-super homem, é claro que um jogo que seja fiel a esse pressuposto não serve para jogar super homens. Ora a maior parte da ficção americana corrente pressupõe uma hierarquia onde os protagonistas são super homens, logo o meu jogo não é para isso...