Puerto Rico. O boardgame que se tornou a definição do que um eurogame deve ser. O boardgame que se tornou emblemático de um hobby. E um dos melhores boardgames tipo-Alemão alguma vez feitos.
Este é um boardgame que incorpora vários tipos de mecânica, e todos com sucesso. Mas o mais badalado é a ordem de turnos variável.
Este boardgame, publicado pela Rio Grande Games em inglês, serve para jogar até 5 jogadores.
Primeiro, a apresentação. É boa, o cartão sendo de boa qualidade e as peças de madeira sendo coloridas. A assinalar que a caixa contem slots para todas as peças, o que é muito bom. Dera a mim todos os boardgames terem uma caixa tão organizada como esta.
De que se trata Puerto Rico? Bem, trata-se de ter a supremacia económica. Trata-se de saber que plantações e edificios construir e saber tirar o melhor proveito deles. O tema é simples, somos donos de plantações em Puerto Rico, e queremos vender os nossos bens produzidos pelas plantações ao mesmo tempo que construimos uma cidade com edificios que nos tragam vantagens.
O tema é engraçado e cola bem, realmente parece que estamos a gerir uma plantação em Puerto Rico.
As regras são simples. Temos uma acção a escolher no nosso turno. A acção toma forma como um role. Estes roles são 8 no total, e quando um jogador escolhe um role, todos os outros jogadores, em ordem clockwise, executam também esse role. Por exemplo, o builder permite a construção de um edificio. Se um jogador escolhe o builder, então esse jogador escolhe o que quer construir e depois o jogador à sua esquerda escolhe também até todos os jogadores terem jogado. Este role fica fora de jogo e cabe ao próximo jogador escolher o role seguinte. Isto acontece até todos os jogadores terem escolhido um role. Os roles englobam construir edificios, plantações, vender bens, trazer colonos, etc.
Claro que há manhas, e uma delas é que o jogador que escolhe o role têm um incentivo, tem um bonus, como por exemplo no builder pagar menos um ouro pelo edificio.
Depois, conforme o role, o jogador pode expandir a cidade, a plantação, produzir bens, vendê-los, ou mandá-los para o velho mundo. Ganha quem tiver mais pontos no fim.
E como é que se ganha pontos? Simples, de duas maneiras, com os edificios, que valem pontos no fim do jogo, e mandando os bens produzidos pelas plantações para o velho mundo. Esta, de facto, é a única maneira de ganhar pontos durante o jogo.
E, resumidamente, isto é a mecânica principal do jogo. Mas como este boardgame é profundo! Este jogo é realmente o tipo de jogo em que todas as nossas acções têm consequências, em que tudo o que fazemos conta. É um jogo onde ficamos com a nitida sensação de querermos fazer mais do que o que podemos fazer. Basicamente, é perfeito.
O dinâmismo deste jogo é estonteante. Há sempre qualquer coisa para fazer e, embora não haja muita interacção directa entre os jogadores, excepto em coisas como escolher os roles e vender os bens no mercado, isso pouco importa porque tudo o que fazemos acaba por influenciar os outros jogadores de uma maneira ou outra. Nenhum dois jogos são iguais, este jogo muda sempre que é jogado, há sempre uma estratégia nova a experimentar. De facto, duvido que exista uma verdadeira estratégia de ganhar a este jogo, tão profundo e variado que ele é.
Este jogo é quase pura estratégia e pouca táctica. Neste jogo não compensa pensar a curto-prazo, mas antes a longo-prazo. Será que a plantação de café me irá beneficiar? E um large warehouse valerá a pena para todas as vezes que o Captain role é escolhido? É um eurogame virado para a estratégia, o que é refrescante ver.
De facto, este boardgame é a definição perfeita de um Gamer’s Game. É pesado, mas as regras são fáceis de explicar e compreender. Quando alguém tenta definir um Gamer’s Game, é provável que use este boardgame como exemplo. É pesado, mas passado uns tempos a jogá-lo começa a parecer bem leve. É um jogo em que a experiência atenua o peso do jogo. Isto não quer dizer que seja um mau jogo para introduzir a novatos. Até não é, mas devido ao seu peso pode-se tornar demais para alguém que nunca jogou um boardgame. É um jogo em que claramente ter experiência com baordgames é uma vantagem. Mesmo assim os novatos que joguem irão acabar por gostar do jogo. Não vi ainda ninguém que não gostasse.
A sorte neste jogo é quase nula. Só aparece na forma das plantações a serem escolhidas para cada vez que o Settler role é escolhido, de resto não tem sorte, uma mais-valia para um boardgame já de si brilhante.
Quanto a uma pessoa fartar-se de jogar a este jogo, dúvido que isso alguma vez aconteça. Este jogo agarra-nos pela garganta e não larga mais. É viciante num sentido que poucos boardgames conseguem alcançar. Como existe sempre uma estratégia nova a experimentar, os jogos nunca se tornam repetitivos e iguais, há sempre qualquer coisa que muda. De facto, já joguei ao boardgame umas 40 vezes e o meu grupo ainda não se fartou.
Eu adoro este boardgame. É lindo. É quase perfeito. É a minha definição do que um Gamer’s Game deve ser. É um prazer jogá-lo sempre e uma pessoa nunca se farta dele. Tem um design que raramente aparece, um design sem falhas, onde tudo se encaixa perfeitamente. O boardgame não é uma revolução, é antes uma evolução enorme na direcção certa, uma evolução que acabou por fazer evoluir de forma positiva todo o mundo dos boardgames.
Para mim, existe dois tipos de boardgamers, os colecionadores e os jogadores. Para um colecionador há jogos que é necessário possuirem como o Diplomacy, o Acquire, etc. Para um jogador há jogos que têm mesmo que jogar, como o Civilization da AH, o Euphrat&Tigris, o El Grande, etc. O Puerto Rico é um jogo que deve ser obtido e jogado. Um colecionador e um jogador não se podem afirmar como tal enquanto não tiverem este jogo na sua coleção. É um boardgame obrigatório de se ter, um pedaço de história dos boardgames.
Há tanto por onde gostar deste boardgame que é dificil enumerar suas qualidades. E defeitos quase não tem nenhum, excepto o facto de algumas caixas trazerem colonos a mais e outras trazerem colonos a menos. A minha cópia tem mais 7 colonos do que devia.
Comprem este boardgame, comprem-no agora, é essencial. É, para mim, a quase perfeição de um eurogame, suplantado só pelo Stephenson’s Rocket. Tem mecânicas originais, tem um bom tema, é dinâmico, é viciante. Que mais se pode pedir de um boardgame?
(Como um aparte, comprem a expansão. Aumenta a profundidade estratégica do jogo inserindo novos edificios e fazendo com que os tipos de edificios que entram em jogo sejam sempre diferentes. A expansão torna um jogo brilhante melhor ainda, e só custa 5 euros. É dificil fazer pior que isso.)
19 de 20.


