Depois de ler algumas coisas sobre Redes Sociais pensei em como as redes sociais de jogadores de RPG afectam não só a experiência de jogar como também a disseminação e divulgação do hobby.
A teoria diz que os grupos de pessoas e a sua transmissão de ideias, confiança e afinidades pode ser comparada a uma rede em que cada um das pessoas é um “nó” que se liga a vários outros “nós” fazendo-se mostrar como sendo uma tapeçaria em forma de comunidade.
E como é que isto se relaciona com o RPG?
Bem acho que para alguns, os roleplayers, enquanto comunidade de jogadores de RPG (quer sejam mestres de jogo ou jogadores de personagens) assemelha-se mais a um caldo primordial de células que esbarram de vez em quando umas nas outras e de vez em quando criam seres pluricelulares. Considerando o Mestre de Jogo o núcleo da célula pois os demais jogadores do grupo de jogo gravitam à sua volta, “atraídos” por uma historial de jogo que em muitos casos é maior que a soma das experiências colectivas de jogo e centrado na autoridade criativa do mestre atribuída pelos restantes bem que esta analogia até possa fazer sentido. Complementando o facto de que a experiência de jogo ser única para cada grupo e de difícil de comparar entre grupos de jogos mesmo quando jogam o mesmo RPG não é difícil de perceber que a diferença entre “nós” da rede não crie comunidades maiores e mais permanentes, as “espirogiras” da metáfora.
Contudo se considerarmos os roleplayers como fãs de RPG em todos os sentidos e não só como elementos de grupos de jogo semelhantes aos que descrevi, cuja orgânica seja originária da natureza do jogo que jogam ou de outros factores (maior conhecimento de causa de um dos jogador face aos outros, responsabilização selectiva da capacidade de entretenimento, dinâmica social, etc.) a imagem que nos é relatada pela teoria da Rede Social assenta que nem uma luva. A questão é como ligar todos os nós entre si e maximizar estas ligações de maneira a criar uma comunidade que cresça de maneira sustentada e sem grandes custos de modo a que eventualmente abranja a cidade onde moro, Almeirim, e me permita ter um grupo de jogadores à disposição.
A primeira hipótese é a Internet 2.0, e o seu potencial de troca de conteúdos, com redes sociais já bem estabelecidas no domínio público tais como o Hi5, Facebook, MySpace, e tal. Nesse sentido decidi reforçar a minha presença na Internet como roleplayer criando grupos de interesse de RPG a nível nacional nessas redes ou postando anúncios acerca da minha disponibilidade e interesse em jogar ou explicar em grupos locais mas sem foco definido (tipo o grupo “Almeirim” no Hi5). Sei que sem grandes referências e explicações do que raios é o RPG e com a inevitabilidade deste ser interpretado como um CRPG (Computer Roleplaying Game) ou um MMORPG vai ser mais difícil converter o meu esforço em jogatanas efectivas.
Já há uns quantos anos que sou colaborador activo de uma comunidade on-line portuguesa de RPGs e Boardgames, o Abre o Jogo. Esta comunidade usa a plataforma Drupal, baseia-se nestes princípios do 2.0 e contribuiu muito para a troca de ideias e contactos entre roleplayers o que culminou em encontros públicos e alguma iniciativas de sensibilização ou criação de novos grupos. Por outro lado o que Abre o Jogo me tem mostrado e depois constatei noutro site ainda maior sobre o RPG, o RPG.net é que a pequena percentagem de roleplayers que contribuem em fóruns e tal é ela própria uma fracção marginal de todos os roleplayers. Depois de inquiridos num thread sobre quantos elementos do seu grupo de jogo eram membros activos na internet a maioria dos utilizadores eram os únicos a fazê-lo. O site do Abre o Jogo já me o havia demonstrado exactamente isso desde que comparei mentalmente a lista de membros que são roleplayers e os restantes jogadores de RPG que conheço que não participam no site mesmo conhecendo-o ou não.
A Internet tem um grande potencial de aproximação mas não pode ser a única opção pois é apenas mais um meio de comunicação, uma espécie de passa-palavra (“bate-boca”) glorificado, com direito a alguma distorção e “ruído” se efectivamente tivermos em conta a tensão causada entre ideias diferentes na sua dinâmica social muito própria. Tudo na internet é elevado à 22ª casa!
Mas as ideias replicam-se e espalham-se e espero que quando estas são postas em prática o acto de jogar RPG (quer tenha em vista o entretenimento sublime ou não) também o seja fácil de replicar e ganhar vida própria. Vou tentar não só mostrar o RPG ao máximo possível de pessoas desta zona que se mostre interessada (sei que nunca serão sempre muitas pois o “espécime” roleplayer é um animal muito específico e isso será tema de outra entrada neste blogue) como também de maneira rápida e sem grande compromisso pô-las a jogá-lo mesmo que não o conheçam ou sequer tenham consciência do que o estão a jogar.
Vítimas insuspeitas desta conspiração serão os meus alunos que numa actividade pedagógica irão experimentar algo sugerido no interessante site brasileiro Narrativas Interativas e Construção de Conhecimento (site acerca do “desenvolvimento de materiais didático-culturais a partir da sistematização de conhecimentos em formas interativas de exposição.”). Esta actividade, baseada no RPG “Terra de Og” editado pela Devir (o original é o “Land of Og” da Wingnut Games) levará os meus alunos a representarem os papéis de homem pré-históricos do altura do degelo que acabaram de descobrir a linguagem e usando o número limitado de palavras teram de cooperar para superar vários obstáculos. Pretendo não só reforçar a aprendizagem contextualizada dos conteúdos relacionados com as origens históricas e antropológicas da linguagem humana como também proporcionar-lhes uma experiência lúdica que os apresente à ideia do RPG mesmo sem a formalizá-la.
Logo postarei os resultados dessa e outras iniciativas. A ver…