Retalhos da vida de um jogador - Dirtside II

[acidfree:566 style=image align=right]Quanto a RPGs, os mais atentos terão notado pela respectiva galeria de fotos que o a segunda season de Dirtside (a nossa campanha de Primetime Adventures) arrancou pouco depois da tentativa abortada que foi o assunto deste meu artigo neste blogue (o último antes deste intervalo de dois meses sem escrever). A sessão não alcançou o nível de orgasmos psicológicos por minuto de vários dos episódios da primeira season, mas foi ainda assim uma sessão de alto nível (foi certamente a melhor sessão de jogo em que participei desde então, com a possível excepção de uma sessão de Kult incrível, a abordarei depois). Infelizmente, e por ausências alternadas ora desta ou daquela pessoa, ainda não foi possível ir além do episódio piloto.

Tenho alguns comentários a fazer sobre o episódio-piloto. O primeiro é para a prestação do recém-chegado à série António "Plasmas" Padeira: o homem que é famoso em certos círculos pelo seu powergaming inteligente, que é chamado (com afecto) por alguns de "munchkin", revelou-se um jogador nato de PTA. Usou as regras na perfeição e de modos que outros dos meus jogadores ainda hesitariam hoje em fazer; criou problemas interessantes para si e para os outros a torto e a direito. Foi quase perfeito; se o deixássemos, até contava a história toda sozinho, eheh. Diz ele que prefere e se diverte mais com outros sistemas de regras, mas à mesa de jogo ninguém daria por isso. Tenho pena que o sistema de jogo não seja 200% do seu agrado, mas ei, a estadia dele no elenco é proveitosa para todos nós... e para ele também, espero!

De resto, fiquei um pouco abatido com os comentários negativos do Jota sobre o PTA. Ele apanhou uma overdose do jogo (a jogar/mestrar várias campanhas em simultâneo) e quer é dedicar-se a outro tipo jogos. Sei que o Jota está em Dirtside de corpo e alma, e não apenas por boa-vontade, mas mesmo assim um Produtor fica um bocado inseguro ao ouvir pela décima vez nessa tarde o quanto ele está farto de PTA. Acho que foi essa a principal razão para não termos continuado a série logo num dos fins-de-semana seguintes; quando finalmente recuperei a confiança, já era um bocadinho tarde porque revelou-se sistematicamente impossível reunir os jogadores. Mas pronto, agora que o Jota já regressou da sua estadia nos Açores e já está quase a ver a luz ao fim de um túnel cheio de trabalho para fazer e apresentações para entregar, espero finalmente regressar a Dirtside outra vez. Se bem que a verdade é que nunca saí de lá...

Isto porque todas as semanas, eu e a Raquel temos continuado a jogar Dirtside online, através do chat do MSN Messenger. Estamos apenas a explorar em mais detalhe a vida pessoal da personagem dela, claro, tentando não jogar nada em que os outros jogadores adorassem participar também. Os resultados das nossas sessões de chat estão compilados neste enorme texto aqui, que está mesmo enorme (e ainda não tem lá incluído o texto da sessão da semana passada!). Se não acabamos com isto depressa, ainda escrevemos um livro inteiro.

O texto produzido não é algo que prenda o interesse de mais ninguém excepto eu e a Raquel, mas divertimo-nos como doidos a criá-lo. A coisa começou como um género de ficção escrito a dois, mas praticamente só a Raquel é que acabou por participar nessa parte... depois vim eu e quis jogar o resto da cena por chat, comigo a controlar os NPCs e com surpresas e "bangs" na manga, e com a Raquel a controlar a sua personagem tentando esquivar-se, defender-se, ripostar, etc, a tudo o que eu lhe ia atirarando para cima. E atirei-lhe muita coisa!

O que eu gosto nos nossos chats é exactamente como consigo, graças ao tempo que tenho para pensar e reflectir antes de escrever, em cada conjunto de dois ou três parágrafos (que deve ser o tamanho mais comum de cada uma das nossas jogadas, antes de passar a vez um ao outro) meter sempre uma farpa/surpresa para picar a Raquel e/ou a sua personagem. É exactamente quando deixo de conseguir meter farpas (ou pior, quando começo a cair no erro de repetir algumas) que a cena deixa de me interessar e a tento encerrar o mais depressa possível, para passarmos a outra.

É algo de extremamente divertido! A única coisa que sinto falta é mesmo do suporte de regras do PTA para me apoiar e ajudar a criar um jogo mais divertido; faltam-me os conflitos com dados, por exemplo. É uma sensação do outro mundo colocar os stakes na mesa e deixar a decisão entre dois caminhos igualmente interessantes ser tomada pelos dados, vendo os jogadores de coração nas mãos investirem os seus recursos para apoiar a sua alternativa favorita de forma directamene proporcional à importância que o desfecho da situação tem para eles. Tenho de ver se arranjo algo semelhante às regras de Screen Presence e Traits para poder usar em chat; a única dificuldade é mesmo que as regras de SP e T estão feitas para serem usadas uma campanha inteira e nós por chat jogamos no máximo algumas cenas. Preciso de algo que se possa gerir, gastar e renovar dentro desse tempo de jogo.

Gostava também de experimentar roubar a fabulosa mecânica de "hacking" do RPG-por-chat Code of Unaris, em que o jogador pode, num número limitado de vezes, trocar uma palavra do texto que o GM acabou de escrever por outra qualquer à sua escolha. Não parece nada de especial (e provavelmente vai ser difícil lembrar a Raquel de que pode usá-lo) mas acreditem, é incrível a diferença que trocar uma única palavra pode ter.

De resto, a outra coisa que faz falta são os restantes jogadores, a participarem activamente na cena, e/ou  a darem sugestões e ideias, e a servirem de audiência, aplaudindo, rindo, simpatizando, etc. Mas isso espero ter muito em breve (talvez já este fim-de-semana), no próximo episódio de Dirtside II.

Nos próximos posts falarei da mini-campanha de Kult do Miguel que joguei nestes meses de silêncio aqui no blogue, e do início da campanha de Mutants & Masterminds 2a Edição do Rui onde participo como jogador.

[quote=Ricmadeira]De resto, fiquei um pouco abatido com os comentários negativos do Jota sobre o PTA. Ele apanhou uma overdose do jogo (a jogar/mestrar várias campanhas em simultâneo) e quer é dedicar-se a outro tipo jogos. Sei que o Jota está em Dirtside de corpo e alma, e não apenas por boa-vontade, mas mesmo assim um Produtor fica um bocado inseguro ao ouvir pela décima vez nessa tarde o quanto ele está farto de PTA. Acho que foi essa a principal razão para não termos continuado a série logo num dos fins-de-semana seguintes; quando finalmente recuperei a confiança, já era um bocadinho tarde porque revelou-se sistematicamente impossível reunir os jogadores. Mas pronto, agora que o Jota já regressou da sua estadia nos Açores e já está quase a ver a luz ao fim de um túnel cheio de trabalho para fazer e apresentações para entregar, espero finalmente regressar a Dirtside outra vez. Se bem que a verdade é que nunca saí de lá...[/quote]

Pá, sinceramente acho que o PTA farta depressa. Primeiro, o sistema é simples por isso não podes brincar com ele. Mais tempo sobra para te focares no role-play, dirias tu. Mas, como a história está completamente nas mãos dos jogadores, falta-lhe o factor X de imprevisibilidade. Para vocês isso é um bónus, o roleplay vai para onde vocês querem. A mim aborrece-me.

Posto isto, o conceito por trás do PTA (principalmente a criação e introdução de elementos no setting) é muito engraçado e merece ser revisitado de tempos a tempos.  Já não jogamos Dirtside há tanto tempo que estou preparado para outra "short season" :)

JP 

[quote=jpn](...) acho que o PTA farta depressa. Primeiro, o sistema é simples por isso não podes brincar com ele. Mais tempo sobra para te focares no role-play, dirias tu.[/quote]

No meu caso não é essa a vantagem. Amber, por exemplo, já tem um sistema "simples" que deixa a qualquer um lugar para se focar no roleplay.

Não, o que eu mais adoro em PTA é que o primeiro sistema que não só posso como de facto quero usar 100% do tempo (seja como GM ou jogador) sem interferir com mais nada; aliás, estou a mentir, o sistema interfere bastante com o jogo: torna-o mais intenso, divertido e imprevisível. É bem melhor que jogar um pseudo D&D cujas regras os participantes têm de estar constantemente a ignorar para não estragar o tipo de diversão de que gosto. Do meu ponto de vista, PTA tem muitas vezes mais sistema em jogo do que qualquer outro RPG que eu tenha jogado/mestrado nos últimos anos. Isso é que me dá a volta à cabeça! ;)