A primeira sessão do jogo com os meus filhos consistiu numa adaptação de um cenário publicado no nº 57 da revista francesa Casus Belli. O cenário é muito interessante e original. Concebido para DD, destina-se a personagens... sem nível, crianças! Escusado será dizer que me pareceu particularmente adequado para jogar com crianças, embora o original fosse para ser jogado pelo jogador de DD típico, adolescente ou adulto.
O cenário é simples e linear, o que é bom para introduzir jogadores. Basicamente os PCs são crianças de uma pequena aldeia situada próximo de uma floresta. Uma bruxa quer à viva força recuperar um mcguffin do feiticeiro da aldeia mas este está ausente, pelo que o chefe da aldeia expulsa a bruxa. Esta lança uma maldição sobre a aldeia e no dia seguinte todos os homens adoecem. Se o feiticeiro não voltar, a aldeia está em perigo. Embora febril o chefe toma as suas medidas: envia um grupo de adolescentes chamar o feiticeiro. A aventura consiste nessa busca e nos acidentes que decorrem ao longo da mesma.
Na minha adaptação comecei por inserir a aldeia num ponto adequado do mapa da região de Tulan of the Isles, visto, como disse, este módulo me fornecer a base do jogo. Quanto à aldeia em si e também como já disse, transformei-a na aldeia de Apple Lane do módulo de introdução para RuneQuest 2.
Os meus filhos escolheram a família das suas personagens de entre a lista de famílias da aldeia que eu lhes apresentei. Depois da criação das personagens que foi rápida (falo disso na próxima entrada no blog) partimos para o cenário. Respeitei a estrutura do cenário da CB mas simplifiquei algumas coisas pois pareceu-me que tinha que ser mais ligeiro do que para adultos. Basicamente consistiu numa série de encontros:
As crianças foram enviadas à procura de um caçador residente na floresta que lhes poderia dar indicações sobre a localização do feiticeiro. Partiram de tarde pelo que dormiram na floresta. Aqui as minhas limitações com MJ começaram a aparecer. Não tenho grande talento para animar as coisas. Mas isso poderá vir com o tempo. A noite foi bem menos animada do que poderia ter sido.
No dia seguinte encontram um cão que coxeia e foge deles. Tentam apanhá-lo para o ajudarem e caiem num buraco tapado, uma armadilha. Inventam vários esquemas para sairem mas nenhum deles é aplicável. Eventualmente aparece o caçador que colocara a armadilha e a quem pertencia o cão, obviamente saudável. O caçador retira-os da armadilha e promete dar-lhes indicações para encontrarem o feiticeiro.
Entretanto soa o alarme de outra armadilha. Vão com o caçador ver o que se passa e encontram um anaio pendurado por um pé. Os anaios são um povo de homens pequeninos e conflituosos, frequentemente at odds com os humanos, mas não sempre. Vivem na floresta e em lugares ermos. O caçador deixa ao critério das crianças se deviam matar o anaio, castigá-lo ou soltá-lo. O anaio ouve a conversa e pede misericórdia. O rapaz propõe-se dar-lhe uma sova e libertá-lo mas a rapariga, tentada por essa hipótese, acaba por decidir soltarem-no. O anaio foge e o caçador nada diz.
Com as indicações do caçador, as crianças partem em busca do feiticeiro. No caminho são embuscados por um bando de anaios numa clareira. Após breve combate, são capturados. De caminho feriram vários anaios e o rapaz sofreu várias feridas.
Os anaios levam-nos para a sua aldeia e propõem-se matá-los. Nesse momento intervém o irmão do chefe, por coincidência o anaio que eles tinham libertado.
Graças e esta intervenção eles são soltos e partem em busca do feiticeiro. Acabam por o encontrar e regressam à aldeia onde ele desfaz a maldição.
As crianças são os heróis do momento na aldeia mas nem tudo correu bem. O rapaz, filho do guarda da aldeia (em rigor chefe da milícia local) viu a espada ancestral que o pai lhe tinha confiado ser perdida para os anaios. Será que terá uma oportunidade de a recuperar? O futuro dirá.
Ao longo da aventura respeitei basicamente o cenário CB, excepto quanto a alguns detalhes. Naquele cenário há um passo intermédio que eliminei (depois do caçador os PCs têm de encontrar um xamã e é este que os encaminha para o feiticeiro), assim como eliminei a cena final, um combate com a bruxa. Eliminei estes passos para simplificar o cenário pois as crianças têm um tempo de concentração mais curto do que os adultos. A passagem pelo xamã pareceu-me redundante, acrescentando pouco à história. E não me pareceu que eles estivessem em condições de enfrentar a bruxa. Esta fica para futuros desenvolvimentos. Outra alteração foi eliminar o país das fadas. No cenário CB é aí que se encontra o feiticeiro mas eu não quero um país das fadas no meu universo de fantasia, quero um jogo mais terra-a-terra.