[Rpg Tulana] Rpg de fantasia para crianças

Após muitos anos a pensar nisso comecei finalmente a jogar rpg com os meus filhos. No meu blog vou registar a forma como o jogo for decorrendo.

Antes de mais, os jogadores, M de 10 anos, V de 6 e J de 4. V é o único rapaz. J praticamente não jogou pois é demasiado pequena para ter uma participação activa.

O jogo decorre num contexto de fantasia standard, até porque lhes estou a ler há semanas o Hobbit, umas páginas de cada vez. Para me poupar trabalho limitei-me a seleccionar cenários na minha biblioteca de rpgs, tirando partido em particular da minha colecção de revistas Casus Belli (que pena ela ter acabado).

Como contexto básico recorri a um antigo livro da Midkemia, Tulan of the Isles. Esse livrinho detalha uma pequena cidade (cerca de 1000 habitantes), uma aldeia próxima e o que fica pelo meio. No meu jogo aumentei a escala geográfica mas mantive a dimensão das localidades. Quer dizer, a aldeia de Huxley passa a estar a 3 dias de Tulan e não 1. De caminho introduzi duas outras aldeias entre estas duas localidades. Além disso aportuguesei os nomes das localidades - Tulan passou a Tulana e Huxley a Ussela.

O jogo começou em Pomarçã, uma aldeia situada a 2 dias de Tulana e a 1 de Ussela. Pomarçã é uma adaptação da aldeia de Apple Lane, o velhinho cenário de introdução de RuneQuest 2. É habitada por humanos e fica na estrada à beira de uma floresta. Nesta vivem os anaios, um povo de pequenos humanos magros e feios (por padrões humanos) que mantêm uma relação conflituosa com os humanos.

Definido este contexto, tenho um conjunto de cenários para jogar por ordem. São eles:

Jeux d'enfants, um cenário retirado de uma Casus Belli.

Gringle Pawnshop, de Apple Lane.

The Rainbow Mounds, de Apple Lane.

The Silent Village, de Tulan of the Isles.

La peau, da Casus Belli.

Este primeiro ciclo de cenários vai permitir aos jogadores definirem os personagens e compreenderem o funcionamento do jogo. Os primeiros três centram-se em Pomarçã e os seus arredores. O 4º vai levá-los a Ussela. O 5º leva-os até Tulana. Depois de acabado este ciclo inicial passarei a um segundo ciclo centrado no contexto mais vasto e complexo de Tulana.

E quanto a sistema de jogo? Estou a utilizar o meu sistema de criação de personagens, bastante simples, por sinal. Depois poderei explicar o mesmo. Muito menos precisas são as mecânicas. Ainda não me decidi por umas mecânicas certas. Provavelmente vou utilizar uma variante sobre o RQ em que tenho andado a trabalhar. A ver vamos.

Eu tenho experiência zero sobre o assunto, mas, conhecendo nós os vários reports que costumam aparecer na rpg.net, dá-me a ideia que talvez estejas a fazer o jogo demasiado complicado? E não suficientemente centrado no playing character? Talvez uma maior dose de improviso fosse aconselhável.

Gostaria apenas de aplaudir um pai que lê O Hobbit aos filhos, e que tem paciência para "brincar" com eles ao ponto de tentar criar algo de fantasia para eles se entreterem. THE PSY diz: PARABÉNS! Cool

Quanto ao resto... bom, eu ainda não tenho filhos (pelo menos que eu saiba...) e como tal ainda não tenho percepção quanto ao facto de crianças de 4 e 6 anos conseguirem perceber o conceito de jogo de fantasia. Provavelmente conseguem... eu vi miúdos dessa idade a jogar Yugioh sem falar uma palavra de Inglês, e sabiam na perfeição o que as cartas faziam...

Não conheço as referências que fizeste (à revista e aos cenários), mas fico na dúvida se não será muita informação para os miúdos. Ou seja, demasiadas cidades?

Mas é uma boa iniciativa para apostar em força!

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Bem, eu já tenho alguma experiência e os meus filhos também. De há muito que lhes conto histórias livres (quer dizer, que eu vou inventando na hora) com imputs deles. Já tivemos uma experiência curta de roleplay com o excelente Gnomes do Olivier Legrand. Os miúdos conhecem fantasia, quer da tv e filmes, quer das minhas histórias, quer de jogos de tabuleiro. Já joguei com eles Donjontwister, Runebound e Wiz Wars.

Mas eu tenho um problema como MJ: sou mau a criar enredos e cenários. Foi isso que me levou a abandonar o jogo Gnomes. Ora a minha biblioteca de jogos tem imenso material para rpg de fantasia, o que me resolve o meu problema.

Notem que eu não encharquei os miúdos em informação. Eles não fazem ideia do que eu estou a utilizar ou tenho em carteira, isso é para mim. Dei-lhes um resumo genérico do ponto de partida (uma pequena aldeia) e pronto, partiram para o jogo. A criação de personagem da minha autoria é muito simples, depois explico.

Quanto a o jogo ser centrado no playing character, para mim é um falso problema. O PC não existe isolado, sem um universo coerente e consistente não há PCs que sobrevivam e tenham hipótese de se «revelarem». Além disso os meus miúdos estão habituados a terem as suas personagens activas e sob o seu controlo, nas histórias freeform que eu criei no passado eles foram sempre participantes activos e centrais. O que eu preciso é de plots para oferecer aos PCs e se estes já estiverem criados, tanto melhor.

Eles têm uma grande capacidade de improviso mas que acaba frequentemente no vale tudo, o que não é bom. Uma das minhas tarefas é precisamente limitar essa tendência para eles compreenderem que a vida das personagens (a deles?) tem dificuldades que não se desvanecem nem apagam com um simples acto de vontade.

Como MJ é também interessante para mim pegar em materiais dispersos, independentes e integrá-los num todo coerente com um mínimo de esforço. Isso é algo que esteve sempre por detrás dos meus esforços como designer de jogos e é bom ver se a minha abordagem funciona.

Sérgio Mascarenhas

A minha experiência com o meu primo de 4 anos resultou em:

Eu: "A lava está a subir cada vez mais e tu ainda estás preso às correntes! O que é que queres fazer?"

Ele: "Errr... acho que estou a ficar com medo..."

Mas estou ansioso por ouvir mais dessas tuas histórias e da tua forma de criar personagens! Quando me falaste no teu método achei-o muito interessante(!) e sempre queria ver como é que a tua miudagem se desembrulhou com isso...

Não o referi mas a minha filha mais nova tem 4 anos e não entrou no jogo. Ela lá criou uma personagem mas mais com base nos imputes dos irmãos do que nos seus. Andou à volta do jogo a brincar e a ouvir mas não participou.

Quando os meus filhos eram mais novos eu contava-lhes histórias e como não tinha paciência para ler sempre as mesmas passei a ir inventando. Naturalmente, nessas histórias as personagens centrais eram miúdos da idade deles e eles foram identificando-se com essas personagens. Por isso têm o essencial do conceito de rpg adquirido. Parece-me que esta abordagem é melhor e mais natural. As crianças conhecem histórias, acedem a eles em todos os lugares. Têm também a tendência natural para se identificarem com as personagens. Daí até assumirem uma personagem em termos de rpg é um passo mas é preferível deixá-las dar esse passo ao seu ritmo.

O difícil é colocar limites e regras, introduzir o sistema e as suas mecânicas. Isso interessa-me em termos também pedagógicos. As crianças têm de aprender a medir aquilo que podem e não podem fazer ora numa actividade puramente narrativa é muito fácil cair no vale tudo. Aliás, é esse o exemplo que recebem na maior parte da ficção a que acedem hoje em dia, sobretudo na tv. Há sempre uma solução miraculosa para qualquer situação. Ou melhor, uma solução medíocre e mal cozinhada em termos narrativos.

Outra razão pela qual quero introduzir mecânicas é porque é uma forma de os treinar em termos de raciocínio lógico e de praticarem matemática elementar.

Sérgio Mascarenhas

Err, jackjaques... podias ter guardado essa para ti. O puto estava a ver se guardava esse pequeno pormenor da sua vida até à campa.

Lol - Depois falas com ele Wink

---JDSGomes---

Fiquei com a ideia que este era o primeiro contacto com qualquer coisa de RPGs e por isso é que achei ser demasiado complexo. Assim, está muito bem, mas, quando falo de tentar centrar o jogo no PC, referia-me principalmente à criação da personagem/setting.

A criança pode querer ser um princípe, ter um cavalo, ser amigo de um feiticeiro, ter uma armadura de dragão e uma espada mágica, ou ter sido criado pelos elfos ou pelos hobbits ou viver numa grande cidade ou ter ficado na sua aldeia para ajudar a defendê-la dos goblins e tem um cão, etc., etc., etc. Naturalmente que é bom aprender como se desenrola uma história e que há limites e consequências, mas o ponto de onde se começa pode ser perfeitamente flexível e é importante para motivar o jogador.

[quote=jackjaques]Ele: "Errr… acho que estou a ficar com medo…"[/quote]Bom, quem dera a muitos mestres-de-jogo ter uma reacção emocional dos personagens quando o jogo não é só sobre ultrapassar desafio após desafio. Já assisti a outras situações semelhantes em que são justamente os jogadores mais novos que instantaneamente e de forma natural entram dentro de personagem. Por exemplo, vejam esta história a partir do 2:40 no youtube.